O julgamento do mensalão e o ódio de classe da burguesia

A maioria dos dirigentes do PT, por meio da política de colaboração de classes com a burguesia, há muitos anos tem levado o partido à destruição. O mensalão e agora seu julgamento pelo STF demonstram o quão equivocada é a política de unir-se aos inimigos da classe trabalhadora. A burguesia afaga o PT com sua luva de pelica para depois, desembainhando o sabre, sangrar o partido até a morte.

A maioria dos dirigentes do PT, por meio da política de colaboração de classes com a burguesia, há muitos anos tem levado o partido à destruição. O mensalão e agora seu julgamento pelo STF demonstram o quão equivocada é a política de unir-se aos inimigos da classe trabalhadora. A burguesia afaga o PT com sua luva de pelica para depois, desembainhando o sabre, sangrar o partido até a morte.

O PT, fundado em 1980, é fruto das grandes mobilizações operárias e de massas contra a ditadura militar, contra os partidos da burguesia e pela construção do socialismo. Em sua origem, o PT foi um partido de massas com fortes traços de independência de classes. Mas, desde o início, esteve sob pressão para ser um partido de toda a sociedade e não um partido de classe, operário e sem patrões. Essas pressões do capitalismo e das instituições de seu Estado sobre a direção do partido encontraram eco nas ideias dos herdeiros das concepções reformistas e stalinistas. Com a diminuição do grau de radicalidade das lutas operárias, estes dirigentes foram se sentindo à vontade para aplicá-las mais e mais como uma política que, por não confiar na capacidade revolucionária e transformadora das massas, foi seguidamente desnaturando e aniquilando o programa e manifesto de origem do partido, até culminar na monstruosa capitulação que permitiu dar posse ao vice de Collor (Itamar Franco), que havia sido derrubado pela mobilização de jovens e trabalhadores.

Teve inicio assim um novo período, que ainda está por concluir-se em choque inevitável com as amplas parcelas das massas que, por suas ilusões e pelo que de fato o PT representou, ainda o enxergam como uma alternativa para resolver seus anseios, necessidades e aspirações. Isso faz com que a burguesia guarde em relação ao partido, às suas bases operárias e ao movimento popular, um profundo ódio.

A burguesia aliada ao PT e ao governo Dilma, irá bater até o fim, não apenas para condenar os dirigentes supostamente envolvidos no mensalão, mas principalmente para desmoralizar o partido, os petistas, os que votam no PT. A burguesia quer aniquilar qualquer possibilidade das massas se utilizarem deste instrumento que, embora deformado e desnaturado, pode ainda servir para a resistência aos ataques contra os direitos e abrir caminho para a reorganização da classe trabalhadora sob novas bases, retomando e superando o processo iniciado em 1980.

O Mensalão é uma farsa e uma fraude contra o PT

Recordemos que a eleição de Lula em 2002 se deu sob a égide dos compromissos a serem honrados com os capitalistas, o que foi expresso na Carta aos Brasileiros. Recordemos também que se anunciava a todo instante que o centro da atividade do partido era garantir uma base de sustentabilidade, de governabilidade, a Lula. Mas a burguesia temia e teme as massas, por isso não confia no PT e em seus candidatos, mesmo que em aliança de classes.

O financiamento das campanhas eleitorais do PT realizado com contribuições da burguesia ocorre porque foi perdida a conexão com a independência de classe. Adotada a colaboração, os métodos de sustentação financeira do partido passam a se dar em harmonia com essa linha política. O uso do método burguês de caixa dois financiada por capitalistas é o fruto podre da colaboração de classes.

Para a burguesia, desde sempre, a prática de caixa dois é uma coisa normal. A burguesia empurrou cada vez mais e mais dirigentes do partido para agirem como ela mesma sempre agiu. A burguesia faz o que faz e fica impune porque tem a seu lado as instituições do Estado e a grande imprensa.

Entretanto, o “mensalão”, a acusação de que o PT pagava parlamentares para que estes votassem a favor do governo, é uma farsa do começo ao fim. A corrupção enraizada no Congresso Nacional é feita de outra forma, através de leis, emendas liberadas, dos lobbys empresariais, isenções, desonerações, privatizações, etc. Os projetos dos governos do PT em aliança com a burguesia sempre beneficiaram os poderosos, os banqueiros e empresários. Qual o sentido de comprar parlamentares burgueses para votar em projetos de cunho e conteúdo burguês? A verdade é que nenhuma lei de interesse dos trabalhadores foi votada e aprovada. A mais polêmica das votações foi a Reforma da Previdência que retirou direitos dos trabalhadores, em especial dos servidores.

Aquilo que ocorreu no dia 14 de maio de 2005, quando a imprensa divulgou um vídeo onde Maurício Marinho, então chefe do DECAM/ECT, fazia suas tramoias com um falso empresário (o advogado Joel Santos Filho), teve como veículo principal que trazia a público a denúncia, nada mais nada menos que a reacionária revista Veja (envolvida agora no caso Cachoeira por meio de seu editor em Brasília). Quatro dias depois a mesma Veja estampava na sua capa: “O vídeo da corrupção em Brasília” e a principal matéria envolvia Roberto Jefferson, então presidente do PTB que, supostamente sob pressão, abriu o bico e denunciou que a base aliada do governo Lula recebia mensalmente recursos do PT em troca de seu apoio ao governo. O PTB e Jefferson eram aliados do governo Lula e do PT. Começava ali a monstruosa farsa.

O mensalão como parte da onda de criminalização dos movimentos sociais

Em maio de 2007, as fábricas ocupadas CIPLA e Interfibra, na cidade de Joinville, sofreram uma intervenção violenta. Os membros da Comissão de Fábrica foram demitidos e hoje alguns deles, dirigentes eleitos pelos trabalhadores, estão sendo acusados de formação de quadrilha e outros absurdos. Estão juntos na acusação, os empresários, o Ministério Público e os Tribunais de Justiça. A revista Veja, a mesma que denunciou a existência do mensalão, foi o instrumento que publicou matéria acusando que se fazia treinamento de guerrilha na fábrica. Provas? Nenhuma. A Fábrica Ocupada Flaskô está sob a permanente ameaça de ser leiloada. Seus dirigentes ameaçados de prisão, bloqueio de contas bancárias, penhora de patrimônios pessoais, etc.

O Ministério Público já demonstrou de sobra que odeia o MST. A revista Veja, a TV Globo, a imprensa burguesa em geral, trata os Sem Terra como vândalos, terroristas. Todos acusam os lutadores pela moradia de bagunceiros e aproveitadores. Vários sindicalistas, grevistas, estão sendo condenados e criminalizados.

Há de fato uma clara intenção de jogar a opinião pública contra os movimentos e o PT.

O ódio da justiça burguesa, dos procuradores, ministros, juízes, contra os trabalhadores não é de hoje. Protegeu os crimes da ditadura militar, condenou os movimentos, as greves, mandou prender vários sindicalistas e camponeses, lutadores pela reforma agrária. A Justiça protege os assassinos milionários, dá guarida e liberdade aos latifundiários que mandam assassinar trabalhadores rurais, aos que mandam matar sem terra e sem teto.

Mesmo os casos de corrupção, quando cometidos por sua gente, são encobertos e ficam impunes. É bom lembrar que Collor foi inocentado pelo mesmo STF e a Privataria Tucana, que virou best seller, foi ignorada pela grande mídia.  Isso pra ficar em dois exemplos, a lista seria imensa.

A sanha contra o PT é tamanha que o procurador geral da República, Roberto Gurgel, mandou, pelo Ministério Público, fazer uma cartilha para ser usada nas escolas, explicando o que é o mensalão. Faz lembrar as cartilhas da TFP denunciando os lutadores da época da ditadura como comedores de criancinhas e que os comunistas tomariam as casas de todo mundo!

No dia 2 de agosto começou o julgamento do mensalão. A tortura mais longa da história contra as bases petistas

Em agosto de 2012, o STF começou o julgamento de 38 acusados de envolvimento em formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta e evasão de divisas.

A imprensa dá um caráter épico para o acontecimento, fala de “julgamento do século” e de “maior caso de corrupção da história do país”. Exageros que beiram o ridículo.

A base do PT, durante mais de sete anos, vem carregando consigo algo que ela não teve a mínima participação e responsabilidade. Se Lula esteve ou não para cair, se ocorreu ou não um sórdido complô contra o PT e Lula, a verdade é que jamais a direção do partido chamou a militância para a luta contra o monstruoso ataque ao qual foi submetido não só o PT, mas toda a massa de pessoas que votaram em Lula e depois em Dilma. Agora mesmo, a direção do partido continua a crer na boa índole dos ministros do Supremo Tribunal, deixando que os inimigos dos trabalhadores julguem os acusados, apelando para o bom censo e sentimento de justiça da reacionária instituição.

Durante mais de sete anos a imprensa burguesa bombardeou o partido, desmoralizando e jogando na prostração milhares de honestos combatentes.

Os órgãos da justiça, a começar pelo STF, mantiveram a espada sobre a cabeça de vários dirigentes e parlamentares do PT. Na verdade, a espada presa por um fio (o fio da colaboração de classes) está sobre a cabeça de milhares de lutadores que deram boa parte de suas vidas para a construção de um projeto socialista que nada tem a ver com a colaboração com a burguesia e seu modo de vida baseado na exploração dos trabalhadores, através da manutenção da propriedade privada dos grandes meios de produção e da mais hedionda forma de corrupção: a apropriação de toda riqueza produzida coletivamente pelos trabalhadores!

A história ensinou a classe operária que ela não deve confiar na burguesia e em suas instituições

Após a morte de Lenin, a III Internacional iniciou um giro que levou o Partido Comunista Chinês a integrar o partido Kuomintang, burguês nacionalista liderado por Chiang Kai-shek, sob a linha da concepção da revolução etapista, na qual a burguesia seria aliada das massas operárias e camponesas contra o imperialismo, negando as teses da Revolução Permanente e de todos os ensinamentos do marxismo. A resultante dessa política culminou no massacre de Xangai onde foi destruída a principal parcela da vanguarda comunista brutalmente assassinada aos milhares no trágico episódio ocorrido em 12 de abril de 1927.

Na Espanha, em 1931, a esquerda sai das eleições tremendamente fortalecida. A Frente Popular, de aliança com setores da burguesia, ao se recusar a tomar o poder, deixou as portas abertas para o golpe fascista liderado por Franco, regime que massacrou anarquista e trotskystas, ajudados pela polícia secreta de Stalin, que assassinava inclusive comunistas que se recusavam a aceitar a colaboração de classes.

Na defesa da teoria da revolução em um só país e na suposta defesa da Revolução Russa, Stalin abandonou qualquer política independente e fortaleceu as teses da revolução por etapas, baseada na estúpida ideia de que a classe operária nos países atrasados deveria acumular forças se unindo aos setores liberais e nacionalistas da burguesia. O resultado dessa política foi a derrota completa dos revolucionários na guerra civil espanhola e a destruição de sua vanguarda.

Além destes dois exemplos, temos um mais recente ocorrido no Chile, onde a aliança com a ‘burguesia nacional’ levou ao golpe militar em 1973.

Os marxistas repudiam e não aceitam o Estado burguês e nem suas instituições. Lutamos para que os trabalhadores tenham a possibilidade de tomar o poder e eles mesmos construírem novas instituições. O PT deve ser a alavanca para esta luta, mas para isso deve romper a aliança de classes e fincar pé na construção de uma política independente, capaz inclusive de defender os dirigentes do partido contra os ataques da burguesia.

A base do partido deve defender o PT como seu instrumento de luta, deve adotar a luta de classes contra as reacionárias instituições do capital, contra a justiça do Estado Burguês. Ou isso ou o partido será varrido do mapa junto com os dirigentes que permanecerem presos à política de conciliação e colaboração de classes. A classe trabalhadora é quem deve acertar as contas com seus dirigentes e não o Estado burguês. Os algozes dos dirigentes de hoje, amanhã serão os algozes de toda a base do partido e de todos aqueles que lutam pelo socialismo.

Estamos nas batalhas sindicais e nas lutas da juventude, estamos na batalha eleitoral apresentando nossos candidatos e nosso programa, não temos nenhuma ilusão nas instituições e no Estado Burguês, nossa construção segue sendo a peça chave para ajudar a classe operária a se desvencilhar do passado e se lançar na direção da luta pelo poder.

Nenhuma trégua aos burgueses e às suas instituições!

Em defesa do PT, contra a colaboração de classes e pelo socialismo: junte-se a nós!