Nota de repúdio contra a violência da segurança do Metrô contra artistas

Nesta quarta-feira (17/10) a segurança do Metrô de São Paulo agrediu e até mesmo prendeu artistas que se apresentam nos vagões. A atividade que garante o sustento de tantos destes trabalhadores das artes é proibida. Sim, a arte é proibida no metrô. Tais artistas, portanto, atuam “irregularmente”, embora contem, de forma geral, com a simpatia dos frequentadores do metrô. O Metrô decidiu atribuir aos músicos o tratamento que já dá rotineiramente aos comerciantes ambulantes. A truculência foi enorme e há diversos vídeos que mostram a covardia da ação.

Um dos alvos foram  artistas do grupo Cantigas de Nylon. Num dos vídeos, há um músico aparentemente desacordado no chão enquanto o segurança exige os documentos daqueles que filmam, noutro um dos seguranças intimida claramente a pessoa que está filmando a ação, numa tentativa de impedir o registro da violência.

Pelas regras do próprio Metrô, quando os artistas são pegos pela segurança, são conduzidos até a saída e eles automaticamente perdem o direito da passagem, que pode ser readquirido a partir do momento em que se compra uma passagem nova. Porém, uma parcela  desses guardas abusa gritantemente de sua “autoridade”. Os relatos de alguns de nossos companheiros músicos envolvem desde apreensão e danificação de instrumentos, para além de agressões físicas e verbais, como foi o caso do pessoal do Cantigas de Nylon. Também não são raros relatos de surras em cantos escondidos das estações.

Alguns desses artistas, inclusive, já foram retirados da estação sem estar trabalhando, só por serem reconhecido pelos seguranças. Outros são impedidos de retornar à estação, quando retirados.

Num outro vídeo da ação desta quarta-feira, postado na página do SATED-SP (Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Diversão), um artista é levado pelos seguranças do Metrô até uma van, onde um deles informa que ele será conduzido até a Delegacia. Não foi possível entender se a ação contou com a participação da Guarda Civil Metropolitana ou Polícia Civil, visto que os guardas do Metrô não poderiam conduzi-lo desta forma.

 

Na CPTM, por sua vez, existe um corpo policial, a Polícia Ferroviária (PF), voltada a conter os “marreteiros” (vendedores ambulantes) e os artistas. Lá a violência é muito mais explícita. O Metrô parece ter decidido seguir seu exemplo.

Outra informação dada por músicos agredidos é que um dos seguranças gritava que “PT acabou” e citava Bolsonaro em meio a ação. Parece que a prefeitura de SP e o Metrô resolveram se valer da alta temperatura e do ódio insuflado pela candidatura de Bolsonaro para aumentar a repressão e a violência. Visam apoiar-se na campanha contínua da ultra-direita que chama artistas de vagabundos para tentar reprimir os mesmos sem maior oposição dos usuários do Metrô. Mas a questão não é tão simples. As imagens chocaram muitos dos usuários e começam a correr a Internet.

Num contexto em que o desemprego dispara e que a economia, de forma geral, está em crise, cresce o número de vendedores ambulantes, bem como aumenta o número de artistas que recorrem ao público dos vagões para garantir ou complementar sua renda. É urgente expressarmos nosso absoluto repúdio a esta ação, bem como organizar a resistência e a reação.

Mais que isso, os músicos e os artistas de forma geral precisam se reunir e exigir o fim desta violência e seu direito ao trabalho. O Sindicato dos Metroviários e as organizações da classe trabalhadora precisam apoiar esta categoria que, pela natureza de seu trabalho e pela informalidade, não dispõe de um sindicato próprio. O Sindicato dos Músicos deve também assumir seu lugar nesta luta, ainda que os músicos dos vagões não sejam assalariados.

Por fim, diante dos recentes episódios de violência, há uma responsabilidade especial do candidato Haddad, do PT, e do conjunto do movimento operário e popular de opor a estas agressões insufladas pelos discursos de Bolsonaro uma resistência baseada nos métodos próprios da classe trabalhadora. A linha de unir todos os democratas, a linha de paz e amor não é capaz de combater esta situação. É preciso colocar o bloco da classe trabalhadora na rua, de forma organizada e preparar a resistência. Os comunistas deverão estar nas primeiras fileiras deste combate.

Toda a solidariedade da Esquerda Marxista aos companheiros músicos e demais artistas do Metrô.