Marcha de trabalhadores acelera revolução na Venezuela

Trabalhadores vindos dos estados de Arágua, Portuguesa, Bolívar, Coredes, Carabobo, Miranda, Apure, Sucre, entre outros, integraram a caravana que se encontrou no Parque Carabobo. Estava convocada também para esse dia outra marcha em Caracas. Da praça Morelos saía uma concentração de trabalhadores em defesa da nacionalização da CANTV, do setor elétrico e da PDVSA, exigindo controle operário dessas empresas nacionalizadas.

Na altura da Avenida México, as duas manifestações se fundiram, tendo à sua frente a brigada de 1.000 trabalhadores e familiares da fábrica tomada Sanitários Maracay. Essa combativa brigada deu o tom à marcha. Os trabalhadores gritavam: “nacionalização, controle operário e revolução, nacionalização sem indenização”. À frente da mobilização estava a imponente faixa da Sanitários Maracay: ESTATIZAÇÃO E NACIONALIZAÇÃO DA SANITÁRIOS MARACAY, CONTROLE OPERÁRIO. Logo atrás estavam os dirigentes da UNT que assumiram essas lutas e essa jornada. Orlando Chirino estava entusiasmado em seu discurso. Defendeu o exemplo de luta que são os trabalhadores de Sanitários Maracay, defendeu a unidade na luta pelas nacionalizações e pelo controle operário.

Uma brigada das mulheres trabalhadoras da fábrica Gotcha de Maracay, outra da Inveval de Los Teques e outra de Invetex de Coredes ergueram juntas a bandeira da FRETECO pelas ocupações e controle operário. Orgulhosos de terem sido os iniciadores das batalhas por tomadas de fábricas.

Do Parque Carabobo a manifestação rumou para a Assembléia Nacional. Ali se realizou uma concentração, enquanto uma comissão entrava para falar com os deputados e entregar suas petições. No meio da concentração aparecia uma, duas faixas empunhadas pelos camaradas de Sanitários Maracay em solidariedade aos trabalhadores da fábrica ocupada CIPLA. Nos documentos que seriam entregues mais tarde no Palácio Miraflores (Presidência da República) estava uma carta pedindo que a PEQUIVEN envie matéria-prima para a CIPLA. Novamente os trabalhadores da Sanitários Maracay cumpriram seu papel metendo a carta da CIPLA nos envelopes entregues em Miraflores.

“Queremos Chávez!”

Saindo da Assembléia Nacional a Marcha rumou para a Avenida Urdaneta onde se encontrava a vice-presidência da República e ali realizou uma rápida parada, com uma comissão entrando para falar com o vice-presidente. Mas, os trabalhadores da Sanitários Maracay queriam mais. Queriam cumprir seu objetivo de ir até Miraflores: “Vamos fazer uma visita de cortesia ao Comandante Chávez, vamos até Miraflores”. A maioria dos trabalhadores acatou o chamado dos trabalhadores de Sanitários Maracay e seguiu adiante em direção à Miraflores.

A polícia metropolitana de Caracas foi pega de surpresa com essa decisão e saiu em louca disparada pela Urdaneta para montar um cordão de isolamento antes do Palácio, mas descuidaram das calçadas. Fomos nos esgueirando por elas e rapidamente a polícia estava envolta pelos trabalhadores. Retiraram-se.

Então, os trabalhadores montaram um exposição das peças produzidas pela Sanitários Maracay e gritaram: “Queremos Chávez”. A guarda presidencial isolou o acesso ao Palácio e entraram em negociação com os trabalhadores. Estes nomeiam uma comissão para entrar no Palácio. À frente da comissão estava o camarada Perez, da Sanitários Maracay. Foi ele quem introduziu o documento da CIPLA no pacote entregue em Miraflores. E com orgulho me enviou uma mensagem pelo celular: “Camarada, diga aos trabalhadores da CIPLA que a carta pedindo para a PEQUIVEN cumprir o Convênio está agora dentro do Palácio, nas mãos dos assessores do Comandante”.

Enquanto esperávamos a comissão, vários discursos foram sendo realizados. A tônica era uma só: “Chávez, estamos pelas nacionalizações e pelo controle operário, siga o exemplo de Sanitários Maracay, ali está uma poderosa demonstração de como se constrói o socialismo”. Novamente Orlando Chirino, da UNT, foi o mais ardente defensor das ocupações e do controle operário. Vários trabalhadores ficaram meio incomodados com isso. Chirino até pouco tempo atrás não estava convencido da necessidade de tomar fábricas e lutar pelo controle operário. Parece que os trabalhadores de Sanitários Maracay, com sua luta e seus argumentos, estão de fato movendo montanhas: “Viva Sanitários Maracay!”, gritavam outros dirigentes.

Fomos informados que a comissão que entrou em Miraflores ficaria por lá muito tempo. Os manifestantes tomam então a decisão de voltar para frente da vice-presidência onde estava a outra comissão. Novamente vários discursos, e se encerrava a concentração, com todos voltando para o Parque Carabobo em ruidosa caminhada. Cantos revolucionários de Ali Primera, vivas à revolução e a população saudando os manifestantes.

Ao chegar no Parque a Manifestação virou uma festa regada à cerveja, com muitas rodas de bate-papos alegres e descontraídas: “Da próxima vez vamos tomar muitas outras fábricas, fazer greve e parar o país…aí viremos visitar de novo o Comandante”. É o anúncio do que está por vir.

A FRETECO e a UNT devem se unir com a Frente Nacional Campesina Ezequiel Zamora e organizar uma Jornada Nacional de Tomada de Fábricas e de Terras, com greves e ocupações. Esse projeto já está em discussão na Sanitários Maracay e também na UNT Arágua. A revolução, com motores novos, vai se acelerar.

Mini-glossário:

CANTV – principal empresa de telecomunicações nacionalizada pelo Governo Chávez

PDVSA – estatal venezuelana de Petróleo

UNT – União Nacional dos Trabalhadores

FRETECO – Frente Revolucionária dos Trabalhadores de Empresas em Auto-Gestão e Ocupadas

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