Manifestação, Black Blocs, mortos e canos fumegantes

Da morte do cinegrafista à lei do terrorismo
O pior cego, dizem, é o que não quer ver. A página dos Black Blocs, do Rio, procurando “justificar” a morte do cinegrafista, lista quatro mortos nas manifestações, segundo eles, causadas pela repressão.

Da morte do cinegrafista à lei do terrorismo

O pior cego, dizem, é o que não quer ver. A página dos Black Blocs, do Rio, procurando “justificar” a morte do cinegrafista, lista quatro mortos nas manifestações, segundo eles, causadas pela repressão. O jornal O Globo, numa resposta indireta, cita 12 mortes nas manifestações e se declara convicto que nenhuma delas foi causada pela repressão, mas foram fatos da vida.

Não há condições de examinar os aspectos que envolveram cada uma das mortes, inclusive porque agora, depois que a grande imprensa pegou o osso de culpar os Black Blocs e os manifestantes por tudo, eles vão distorcer os fatos conscientemente. Mas, gostaria de voltar a falar de pelo menos quatros destas mortes – duas citadas pela Globo e não citadas pelos Black Blocs e outra esquecida pelos dois mas, não por este cronista.

Morreu o gigante. O gigante era um palhaço, anão, que sofria de problemas respiratórios. E foi atingido em uma das manifestações pelo gás lacrimogêneo. E faleceu poucos dias depois com problemas respiratórios em um hospital público do Rio. Talvez pelo seu tamanho foi esquecido pelos dois, Globo e Black Blocs, mas nós não esquecemos que foi a repressão que matou o gigante.

A faxineira do Pará, que o Globo relata que morreu de susto, também morreu como relatam os jornais de julho passado, de insuficiência respiratória causada por gás lacrimogêneo. E dois manifestantes que caíram da ponte em Belo Horizonte não caíram à toa, mas porque fugiam das bombas e do ataque da cavalaria, ou seja, também pela repressão. (ver FSP de 11/2 pág. C3) Então, pelo menos quatro mortes foram causadas pela repressão. Mas, nada disso muda a situação atual.

A partir da morte do cinegrafista, o vice-presidente do Senado, Senador Jorge Viana do PT, fala em colocar na pauta de votação a legislação antiterrorista que iguala terrorismo com manifestações. A página 12 do jornal O Globo, de 11/2/14, é dedicada a tentar mostrar uma suposta ligação de Marcelo Freixo, deputado do PSOL, com os Black Blocs. E destacam com estardalhaço que manifestantes presos ligaram para ele e para seu assessor que coordena uma rede de advogados que presta solidariedade a ativistas presos. Aliás, Freixo é da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e recebe dezenas de telefonemas de presos de todos os tipos para denunciar arbitrariedades policiais. Agora, querem criminalizá-lo por defender os direitos humanos?

Na pág. 14 do mesmo jornal, o Secretário de Segurança do Rio, Beltrame, defende um maior rigor nas leis de repressão, mudando o código penal. E o editor da Revista Exame, Diego Escosteguy, defende que tudo começa com os blogs dos petistas que atacam a grande imprensa, também na pág. 14.

Mais ainda: O Blog Brasil247 identificado com o governo Dilma está cheio de petistas e simpatizantes defendendo a maior repressão para os Black Blocs. Será que esta turma não aprendeu nada com a prisão de José Dirceu, Genoíno, Delúbio e João Paulo e acha que a repressão vai parar aí?

Não enxergam que esta lei antiterrorismo vai ser usada contra os trabalhadores e os jovens?

Qualquer morte é lamentável. As mortes causadas pela repressão foram grandes perdas. E como explicou um perito na Folha de São Paulo, do dia 11, um rojão “normal” não causaria aquele efeito. Mas, os Black Blocs (ver artigo de hoje) não têm a firmeza moral de contrapor-se à avalanche que sai da mídia e preferem se entregar nos braços da direita. O resultado – tendo ou não sido responsáveis pela morte – vão ser responsáveis por uma das maiores ondas de repressão que se prepara.

Os marxistas combatem contra a repressão. E não tem nenhuma solidariedade com os Black Blocs que se entregam à repressão e assumem a culpa de forma tão lamentável.