Luta pelo Transporte – Ato na Zona Sul em 23 de outubro – relato e reflexões

A falta de uma EFETIVA Comissão de Segurança e Autodefesa do Movimento deixa a manifestação fragilizada diante de provocadores que têm sido a porta aberta para a repressão brutal da polícia, assim foi no dia 23 no Ato pelo transporte no Grajaú, assim foi no Parque D. Pedro no dia 25

A falta de uma EFETIVA Comissão de Segurança e Autodefesa do Movimento deixa a manifestação fragilizada diante de provocadores que têm sido a porta aberta para a repressão brutal da polícia, assim foi no dia 23 no Ato pelo transporte no Grajaú, assim foi no Parque D. Pedro no dia 25

O Ato e o terrorismo da máfia dos transportes

O Coletivo Periferia Luta e o MPL promoveram entre os dias 21 e 26 de outubro vários atos por melhorias e respeito no transporte público e pelo Passe-livre.

No dia 23/10 foi realizado, próximo ao terminal Grajaú, Ato contra a humilhação coletiva vivida pelos trabalhadores no precário transporte provido pelas empresas privadas contratadas pela prefeitura. A luta é por mais linhas de ônibus, por conexões diretas com o centro de São Paulo, por mais trens na CPTM, pelo Passe-livre.

A concentração ocorreu a partir das 17 horas, na E.E. Carlos Ayres, Av. Belmira Marin, 595. Desde o início um estranho movimento ocorria do outro lado da rua. Quando os organizadores tentaram panfletar a essas pessoas eles foram recebidos com chutes por aqueles estranhos indivíduos. Eram bate paus enviados pelos donos das empresas de ônibus. Quando eu me aproximei fui ameaçado por estes sujeitos. Lembremos que em uma manifestação em junho em frente à prefeitura, o sujeito que quebrou os vidros da porta de entrada era filho de um dono de empresa de ônibus.

O ato começou por volta das 18 horas com aproximadamente 300 pessoas. No momento que adentramos a rua os “capangas” das empresas privadas e das cooperativas já vieram tentar barrar a manifestação. Eles estavam em 20 indivíduos mais ou menos e não conseguiram conter o ato. Este fato indica que haverá resistência posterior, e que além da repressão policial os manifestantes terão que também lidar com a máfia dos transportes na periferia. Temos que criar Comissões de Segurança e Autodefesa, identificados e indicados pelo movimento, todos de cara limpa e sem máscaras.

Movimentos Sociais e o Black Bloc

Depois disso a manifestação seguiu em direção à ponte do Socorro e parou no ponto chamado “Passa rápido” para decidir se continuariam a manifestação até o fim. Os organizadores do Coletivo Periferia Luta deixaram claro que não aceitariam quebra-quebras, não por pacifismo, mas por uma questão organizativa e dos objetivos da luta e do ato. O principal argumento utilizado foi: quem seguraria os B.O.’s no outro dia não seriam os Black Bloc’s ali presentes, mas o pessoal da comunidade. Criou-se um impasse.

O Movimento por Moradia do Anchieta tinha acabado de chegar e decidiu compor o ato. Contudo as lideranças do movimento se incomodaram com o “número de mascarados” que ali estavam. Fizeram uma breve plenária, exigiu-se que não houvesse “quebra-quebras”, isso poderia levar as mães e pais de família ali presentes para a cadeia ou hospital. Nesse momento, um “representante” dos Black Bloc’s percebendo que o Movimento sairia do ato, garantiu que nenhum dos Black Bloc’s quebraria nada, somente não tirariam as máscaras por questão de segurança. Depois disso o movimento continuou e explicou aso Blocs que se ocorressem quebra-quebras, sairiam da manifestação.

Quem provocou foi a polícia, não os manifestantes!

O ato continuou até a Ponte do Socorro, pela Av. Atlântica. No primeiro Posto de Gasolina, alguns manifestantes começaram a criar momentos de tensão nas lojas de conveniência, vale ressaltar, como combinado nenhum dos Black Bloc’s esteve metido nisso (alguns até tiraram as máscaras). A organização conseguiu conter os baderneiros, mas o Movimento Anchieta se retirou. Porém, o clima estava visivelmente instável, carros da Força Tática cercando a manifestação e a gota d’água foi a entrada de um carro da polícia NO MEIO da passeata. Teve seu vidro quebrado e visava provocar para inviabiliza o ato, e conseguiu.

Em seguida a Polícia Militar iniciou o uso de Bombas de Gás Lacrimogêneo e de Armas com Balas de Borracha, os manifestantes e a Comissão de Segurança (frágil e despreparada) perderam o controle, o ato foi completamente cercado pela repressão, mas seguia em frente. A cada posto de gasolina mais excessos por parte dos “manifestantes”, que já não podiam ser contidos. Fomos encurralados nos bairros próximos. A perseguição policia desencadeada foi brutal, bombas a cada esquina. Possivelmente, todos foram revistados e, de acordo com a página do MPL, 30 foram presos, incluindo menores que participavam da luta.

A falta de uma efetiva Comissão de Segurança

É importante deixar claro que a repressão da Polícia foi INACEITÁVEL! Se tivesse qualquer intenção de contribuir poderia dialogar com a manifestação, mas só sabem atirar balas de borracha e lançar gás “de efeito moral” contra os manifestantes, e das pancadas. Além disso, foram eles que desestabilizaram o ato!

Tudo o que ocorreu demonstra e nos ensina que cometemos um erro, o qual os organizadores estão repetindo direto e reto: não existe uma direção reconhecida e mandatada pelos manifestantes par coordenar  luta e dirigir os atos!

Uma direção possibilitaria a formação de uma Comissão de Segurança que realizaria uma contenção efetiva dos excessos, a percepção de que com 300 pessoas não há possibilidade de enfrentar a polícia e que esse método somente serviria pra destruir o ato e prender os manifestantes, como ocorreu.

Outro erro: o grupo se colocou como apartidário, isso é uma bobagem e implica geralmente em negar alguns métodos clássicos das organizações dos trabalhadores, como o Serviço de Ordem (Comissão de Segurança) e como se todas as pessoas que estão lutando e estão em partidos fossem iguais e responsáveis pelas safadezas e desmandos dos politiqueiros e governantes, como Dilma, Alckmin e Haddad. Faltou uma direção que fosse respeitada para organizar essas pessoas e para fazê-las entender que atacar as lixeiras, as vidraças, os ônibus, não ajuda em nada na luta contra o capitalismo.  A única coisa que eles conseguiram foi serem presos.

Esse não é um discurso moralista, muito pelo contrário. É um discurso de quem quer derrubar o capital e seus cães de guarda, mas para isso é necessário ter organização COLETIVA! Atacar a Polícia e depois utilizar a tática do “cada um por si”, é não só ineficiente como danoso às futuras mobilizações. Em uma manifestação, se todos se manifestam, todos devem se proteger, ORGANIZADAMENTE, em unidade CONTRA A REPRESSÃO!

O coletivo deve prevalecer sobre o individual

A Esquerda Marxista sempre rechaçou, sem hesitar, as prisões e a repressão brutal da polícia nos atos contra os Black Bloc’s e outros manifestantes. Contudo, a repressão policial é dada, a polícia obviamente é inimiga dos trabalhadores. A questão é: o que conseguimos, quais nossos avanços quando a enfrentamos a repressão em QUALQUER situação e de modo desorganizado? Para onde levam as quebradeiras? A LUGAR NENHUM E NÃO AVANÇAMOS EM NADA!

Sempre deixamos claro que DISCORDAMOS dos métodos da horizontalidade, da ação direta e quebra-quebras. Propomos uma organização de segurança dos próprios trabalhadores e da juventude que garantam que as deliberações do coletivo sejam respeitadas. Uma manifestação é um ato coletivo e ações de terrorismo individual, como os “quebra-quebras” tendem somente a desestabilizá-la e fazê-las perder seu caráter de transformação social, visto que isso não se dará pela vontade de um indivíduo, mas por de toda a comunidade organizada.  

A proposta do ato do dia 23 era ir sem conflitos desnecessários com a Polícia até a Ponte do Socorro, essa era uma das deliberações do coletivo tomada em plenária aberta. Mas, por conta de ações individuais o ato foi completamente dispersado, o individual novamente prevaleceu sobre o coletivo, NOVAMENTE por falta de organização.

Ato público é igual uma Escola de Samba ou um time de futebol. Basta um dos componentes errar para estragar tudo, descompassar e fazer cruzar a bateria ou fazer aquele falta desnecessária dentro da área do próprio time, e pronto, tudo vai por água abaixo. Porém, nesses dois exemplos há sempre um técnico estabelecido, no nosso caso podem ser vários e escolhidos livremente pela maioria dos lutadores, um REFERENCIAL, que garante a efetividade das deliberações que o coletivo se propôs a realizar. Falta exatamente esse componente nos atos.

Os movimentos sociais devem se unir aos partidos e coletivos sinceros que lutam pelo socialismo para garantir a efetividade dos atos com reais Comissões de Segurança!

Está claro que nas próximas lutas a repressão não virá somente da polícia, mas também dos corruptos mafiosos dos transportes, dos burgueses.

Precisamos nos unir nessa batalha, para demonstrar que somente com a derrubada desse sistema de exploração, o capitalismo, é que poderemos ter, de fato, transporte, saúde e educação, público gratuito para todos e a serviço da classe trabalhadora!