Lobby do aço nos EUA: “livre mercado” pra quem?

Os EUA, país que mais fala em “livre mercado”, impuseram pesadas proteções à importação de aço. Uma incoerência apenas na aparência.

Um dos mantras mais repetidos pelos economistas no mundo inteiro são as qualidades insuperáveis do “livre mercado”. Ou seja, quanto menos o governo intervir e mais liberdade for concedida aos empresários, maior será a riqueza gerada e o mundo ficará cada vez melhor. No Brasil, já cansamos de ouvir isso, sobretudo às vésperas de uma nova privatização de empresas públicas.

No entanto, parece que se esqueceram de espalhar a boa nova no centro nervoso do capitalismo mundial.  Em Washington, os senhores e senhoras do congresso e do senado norte-americanos renovaram as pesadas tarifas de importação sobre o aço importado do exterior. Em alguns casos, a taxação chegará aos 90% do valor do produto! A decisão já gerou ameaças de processos na OMC (Organização Mundial do Comércio) por parte de diversos países.

Tamanha proteção nem sempre existiu. Os EUA já foram os maiores produtores mundiais do produto, superando o resto do mundo por décadas. Mas após a desindustrialização iniciada nos anos 70, com a transferência de fábricas e investimentos para paraísos de mão de obra barata como México, Indonésia e China, a porcentagem da siderurgia mundial que corresponde aos americanos declinou.  Hoje, o aço ianque não figura nem entre os dez primeiros no ranking de produção anual.

Diante disso, o congresso, completamente dominado por lobistas de todos os tipos, chegou a conclusão que a siderurgia nacional deveria ser protegida da concorrência externa. Um dos motivos alegados para a adoção de tarifas são questões “estratégicas”, ou seja, a indústria de aço é um componente vital para a manutenção da posição econômica do país. Graças à essa proteção, o aço exportado para os EUA, inclusive o brasileiro, chega lá custando mais do que o produto local, ainda que seus custos de fabricação sejam bem menores.

Um argumento legítimo, muitos diriam. Afinal, a industria de aço de fato joga um papel central no parque industrial de qualquer país. Mas por que o congresso americano patrocina as ofensivas de Wall Street, líder mundial na destruição de indústrias nacionais, mas ignora o “livre mercado” quando se trata de seu próprio país? Onde está a coerência?

A resposta para essas perguntas é a mesma: o congresso americano serve ao imperialismo desse país. E imperialistas são iguais em qualquer tempo e lugar: querem lucrar sempre, às custas de quem for. Isso significa derrubar qualquer resistência à entrada dos monopólios ianques em todos os países e proteger partes suas que, devido às leis do próprio sistema, ficaram para trás. Livre mercado é só para os outros, ou melhor, para suas vítimas.

E os americanos não estão sozinhos nessa hipocrisia. Os franceses sustentam sua agricultura diante da concorrência externa através de fartos subsídios, que consomem uma porcentagem cada vez maior do orçamento público. Diante de tais exemplos, só podemos concluir que o tal “livre mercado” não passa de um pretexto imperialista para seguir saqueando os países dominados.

Na crise atual, diante da necessidade de recuperar os prejuízos, os donos do capital financeiro precisam ampliar ainda mais seu controle sobre todos os setores da economia mundial. Isso passa por reduzir as poucas indústrias dos países atrasados a um papel ainda mais insignificante. Ou seja, a coro do “livre mercado” vai continuar ressoar pela TV, pelos jornais, pelas universidades…