Juventude protesta na França: “Nem o banqueiro, nem a racista”

Desde quinta-feira, 27 de abril, estudantes e jovens em Paris, Rennes, Nantes, Toulouse e outras cidades na França têm realizado manifestações e marchado nas ruas das cidades. Os protestos são contra a nacionalista de direita Marine Le Pen e o liberal Emmanuel Macron, que estão se enfrentando no segundo turno da eleição presidencial.

No total, mais de 3 mil estudantes secundaristas tomaram as ruas carregando cartazes exclamando “nem o banqueiro, nem a racista!” e “os verdadeiros antissistema somos nós!”. Slogans políticos podiam ser ouvidos nas ruas enquanto estudantes clamavam “não são os imigrantes que deveriam ser expulsos e sim Marine Le Pen!”, “Macron, Le Pen, nós não os queremos!” e “sua eleição, nosso futuro!”.

Durante muitos dos protestos, a juventude se encontrou cercada por policiais blindados, que bloquearam as marchas e dispersaram gás lacrimogêneo nas multidões, enquanto helicópteros de vigilância podiam ser vistos nos céus. Um oficial de polícia em Rennes ainda chegou a sacar sua pistola e apontá-la, por um breve momento, aos manifestantes.

Em Paris a concentração foi na Place de la Republique, de onde o protesto se moveu em direção à Boulevard Beaumarchais, onde a tensão entre polícia e estudantes cresceu. Anouk, uma estudante parisiense de 16 anos de Lyceé Buffon, explica como os manifestantes estavam organizados como uma manifestação pacífica por estudantes secundaristas de toda Paris. Ela disse: “Nós discordamos dos valores apresentados pela Frente Nacional e já que não temos o direito de votar, temos que nos expressar de maneira diferente”.

Em Lyon os protestos se intensificaram também. Estudantes penduraram banners nos portões da prefeitura onde se lia: “Pelos meus atos, voto 365 dias por ano. Você que sai apenas 2 domingos a cada 5 anos, vota apenas como lhe convém”. No fim da manifestação, manifestantes deixaram a Place des Terreaux gritando “Abaixo o capitalismo”. Um grupo de jovens então quis cruzar uma das pontes da cidade para se juntar ao protesto do outro lado do rio, porém foram presos pela polícia, que atirou granadas de efeito moral em sua direção.

Os protestos na França vêm após anos de frustração política entre jovens e trabalhadores. O atual presidente, François Hollande, e o Partido Socialista Francês, apesar de suas promessas, têm implementado incontáveis políticas de austeridade e permitido que empresas reduzam o salário de trabalhadores. Enquanto isso, o desemprego entre a juventude está em 24,6%. Por isso, Hollande e o Partido Socialista pagaram o preço, com o partido em profunda crise e o seu candidato, Benoît Hamon, garantindo apenas 6,4% dos votos no primeiro turno. Enquanto a última parte da corrida presidencial fica entre uma racista de direita e um ex-banqueiro, a frustração entre aqueles que encaram difíceis condições continua a aumentar.

Com o candidato de esquerda Jean-Luc Mélenchon fora da corrida presidencial, os trabalhadores e a juventude da França têm apenas mais políticas de austeridade capitalistas e ataques às condições de vida pela frente. A crise do capitalismo francês, como em muitos outros países europeus, tem se expressado através de uma massiva polarização política à esquerda e à direita. Os partidos tradicionais do sistema, nos quais a classe dominante tem se apoiado por décadas, estão todos em profunda crise de legitimidade. A ascensão de Le Pen à direita e Mélenchon à esquerda é um indício desse processo. Porém, os protestos recentes indicam que uma camada entre a juventude está trazendo conclusões ainda mais radicais. Muitos desses jovens veem a crise que afronta a sociedade não somente como um resultado de más decisões políticas, mas como um resultado do sistema capitalista. Eles não veem futuro dentro dos confins deste sistema e corretamente desconfiam de todos os representantes da classe dominante.

Protestos como os da França nesta semana mostram o tamanho do descontentamento de muitos estudantes e trabalhadores com a austeridade, mentiras sobre mentiras de políticos e do sistema capitalista em geral. O sucesso massivo de Mélenchon, que teve 30% dos votos de eleitores entre 18 e 24 anos, é sinal do potencial de movimentos radicais no próximo período. A juventude que tomou as ruas esta semana está refletindo o clima de fervor abaixo da superfície e antecipando o desenvolvimento futuro com a maioria da juventude e da classe trabalhadora. Há, sem dúvidas, mais protestos a caminho e para os jovens e trabalhadores da França ficará apenas mais claro que os problemas à sua frente, da Europa e de todo o mundo não pode ser resolvido dentro dos limites do capitalismo. A única solução, como muitos jovens estão percebendo, não é “nem o banqueiro, nem a racista”, mas sim romper com o sistema capitalista e expropriar os meios de produção para criar uma sociedade verdadeiramente justa.

Artigo publicado originalmente no site In Defence Of Marxism em 28 de abril de 2017 sob o título “Youth protests across France: “Neither the banker, nor the racist!””.


Tradução Daniel Eccel