Israel: os capitalistas e os fundamentalistas não conseguirão descarrilar o movimento revolucionário

Este artigo foi escrito dias antes da grandiosa mobilização de três de setembro em Telavive e outras cidades israelenses que agrupou cerca de meio milhão de pessoas.

Esta foi a maior mobilização popular desde que começou o movimento de protesto em Israel, no mês de julho.

O movimento de protesto social em Israel, depois de um breve parêntesis, está agora planejando reunir um milhão de pessoas em Telavive no próximo três de setembro. A classe dominante está, sem dúvida, preocupada com esta possibilidade e as linhas férreas israelenses anunciaram que vão fechar o serviço de trens entre Telavive e Jerusalém, e entre Telavive e Beer Sheva, supostamente para “trabalhos de manutenção”. Fica evidente que esta é uma manobra para tentar debilitar as mobilizações que estão sendo preparadas.

O governo de Israel está buscando todo tipo de medidas para debilitar o movimento de protesto massivo que explodiu neste verão. Neste contexto, uma série de ataques terroristas, lançados pelos grupos fundamentalistas em Gaza, também ajudou à classe dominante israelense a atalhar o movimento e colocar de novo o tema da “segurança” como o primeiro ponto da ordem do dia. Mas por quanto tempo poderá isto durar?

A falta de direção

Os autoproclamados “dirigentes” do movimento desempenham um importante papel no sentido de que sua falta de programa e perspectivas contribui para semear a confusão. Em primeiro lugar, pediram o encerramento das manifestações de massas em Telavive em favor de manifestações locais menores. As manifestações de Telavive, a última das quais se aproximou dos 300 mil participantes, proporcionaram um ponto focal para o movimento, para unir as pessoas, animá-las em suas demandas e para ajudar a difundir ideias radicais.

Em segundo lugar, numa tentativa de desviar o movimento para “vias seguras”, os líderes do sindicato dos estudantes, junto ao restante desta liderança não eleita, se uniram para formar um “comitê de experts”, contraposto ao “comitê Trajtenberg” constituído pelo próprio governo, que propõe que, para resolver os problemas de Israel, basta ajustar o sistema aqui e ali. Naturalmente, este comitê integrado por economistas, figuras legalistas, acadêmicos e outras personagens da burguesia é incapaz de chegar às raízes do problema que são: a dependência deste pequeno país dos subsídios dos EUA, o que faz dele um instrumento de sua política exterior imperialista; a ocupação da palestina e a divisão dos trabalhadores árabes e judeus; e, fundamentalmente, a crise mundial do capitalismo que obriga aos capitalistas a atacar as condições de vida dos trabalhadores em defesa de seus lucros.

A maioria dos trabalhadores e jovens israelenses pode ver que tal comitê, limitado a pechinchar com o governo as migalhas da mesa, no fundo nada pode mudar. Sem um partido operário de massas genuíno à disposição dos trabalhadores e da juventude, e sendo o Partido Comunista uma força pequena, o movimento pode ser temporariamente desmobilizado por falta de direção. Mas a contradição é a seguinte: o grande movimento abriu uma caixa de Pandora que mostra às massas sua própria força e amplia os seus horizontes. Nada foi resolvido. Mais cedo ou mais tarde, quando as massas digerirem as lições desta primeira onda de atividade, o movimento entrará em erupção novamente, mas em nível político muito mais alto, com nova direção e programa muito mais revolucionário.

O terrorismo e a “agenda de segurança”

Uma recente série de horríveis ataques terroristas provocou a previsível resposta violenta do Estado israelense. Em 18 de agosto, homens armados abriram fogo contra um ônibus no sul de Israel, matando oito israelenses. As forças armadas responderam bombardeando Gaza e matando palestinos civis.

Esta recente escalada é como um maná jorrando do céu para a classe dominante israelense, que está vivamente interessada em interromper o sentimento de radicalização em Israel e em enganar, mais uma vez, aos pobres deste país, para que se unam aos seus milionários a fim de enfrentarem, juntos, a “ameaça externa”. Nós, os marxistas, não somos partidários de teorias conspirativas, e não estamos sugerindo que o Estado de Israel de alguma forma tenha amparado estes atos terroristas para assim criar uma desculpa para a ação militar, mas entendemos que os interesses de Hamas e dos fundamentalistas são semelhantes aos interesses da classe dominante israelense.

Hamas e o Estado de Israel têm uma coisa em comum: opõem-se a qualquer movimento que una jovens e trabalhadores acima das divisões étnicas. A razão é muito clara: um movimento unido dos trabalhadores e dos pobres seria uma ameaça tanto para a classe dominante sionista em Israel quanto para a liderança corrupta dos palestinos.

O sequestro do jornalista da BBC, Alan Johnston, em 2007, e sua posterior libertação, lançaram muita luz sobre a natureza do governo de Hamas em Gaza. Hamas negociou, subornou e lutou com bandos rivais, para assegurar a liberação deste pobre homem, como um meio de declarar sua autoridade sobre seus rivais.

O corrupto governo de Hamas nada tem a oferecer ao povo de Gaza, com exceção de pobreza e violência. Somente consegue manter uma aparência mínima de lealdade e respeito aos olhos dos palestinos fazendo-se passar por “exército de libertação” que se opõe às forças de ocupação, e que luta pela liberdade. Sem a ocupação da Palestina e a opressão do Estado de Israel, Hamas estaria acabado.

A mesma coisa, naturalmente, se aplica à classe dominante israelense. Como já explicamos anteriormente, a grave crise do capitalismo israelense fez com que o governo, os políticos e os “magnatas” sejam todos eles detestados pelas massas. Os inimigos, aparentemente implacáveis, como são o Estado de Israel e os fundamentalistas, têm o mesmo interesse – a manutenção das divisões entre trabalhadores e pobres árabes e judeus. O fato de que muitos árabes e israelenses começassem a participar no movimento em Israel, com evidentes repercussões entre os palestinos em Gaza e na Cisjordânia, fez com que a escalada de violência e de divisão se tornasse uma saída temporária tanto para a classe dominante israelense quanto para Hamas.

Perspectivas

Mas é somente uma saída temporária. Nada foi resolvido e nem Netanyahu nem Hamas podem aspirar acumular muito apoio leal para outra rodada de violência. Em Israel, o estado de ânimo mudou radicalmente e isto está destinado a ter um impacto no movimento operário. Como comentamos anteriormente, uma série de diferentes greves combativas se produziu nos últimos anos em Israel, mas os protestos serviram para mostrar sua força aos trabalhadores, para animá-los, para deixar claro que não estão sozinhos. Os dirigentes sindicais estarão sob esta pressão para organizar uma ação nacional e para fazer reivindicações políticas. Não descartamos a possibilidade de vermos greves gerais extremamente militantes no próximo período, e de caráter político. A mobilização que está sendo preparada para o próximo sábado [três de setembro] é parte deste processo.

Tudo isto repercutirá no plano político, bem como nas demandas combativas dos trabalhadores e em seus representantes. Os dirigentes sindicais serão obrigados a enfrentar esta questão da representação genuína dos interesses da classe trabalhadora. O crescimento e o perfil do Partido Comunista de Israel indicam que uma camada dos trabalhadores e da juventude está mirando à esquerda em busca de uma saída ao beco sem saída que enfrentam.

Entre os palestinos isto também impactará obrigatoriamente, visto que os israelenses estão ocupando as ruas. A cobiça e a corrupção dos milionários em Israel são as mesmas dos supostos dirigentes “islâmicos” da Palestina. Nestas condições, uma terceira Intifada teria caráter muito diferente das duas anteriores, e estaria vinculada a um estado de ânimo radical dentro de Israel.

O que se necessita é de um partido que articule as necessidades das massas israelenses e palestinas. Este partido deve unificar os trabalhadores e pobres israelenses e palestinos na luta contra a ocupação, por moradias e trabalho adequado para todos. Um programa desta envergadura é impossível sob o capitalismo, que somente pode resolver sua crise à custa da classe trabalhadora e através da manutenção da divisão dos trabalhadores em linhas religiosas e étnicas. O partido das massas israelenses e palestinas, portanto, deve lutar por um objetivo superior: o socialismo!

Tradução: Fabiano Adalberto

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