Guerra de moedas ou Guerra pelos mercados?

Os brasileiros foram surpreendidos que a nossa moeda, o real, é uma das mais valorizadas do mundo. Afinal, como uma moeda de um país atrasado, com tanta miséria, torna-se uma das mais valorizadas? Para entender isso, é que escrevemos este artigo.

Quanto vale uma moeda?

No século XIX, a moeda era o ouro ou a prata. Estes eram os meios tradicionais de pagamento nos negócios, nacionais e internacionais. O crescimento dos bancos e dos meios de comunicação levou a novos “tipos” de moeda. Um exemplo típico é a negociação de algodão e outras mercadorias entre Inglaterra, EUA e Índia. Se no começo dos anos 1.800, em troca das partidas de mercadorias se entregava o ouro, com o novo telégrafo e bancos imensos, mais confiáveis, fazia-se somente a contabilidade entre o que era vendido e comprado, com o banco servindo de intermediário. O ouro percorria menos caminhos e os bilhetes bancários (“notas”) começavam a se impor ao invés das moedas de ouro.

Este caminho se tornou mais flagrante no final da I Guerra Mundial (1914-1918). O grande vencedor tinha tido uma participação secundária na guerra: os EUA. Mas este ocupava o lugar anteriormente ocupado pela Inglaterra como a maior potência mundial e negociava empréstimos e impunha a todos a exigência do “padrão ouro”, ou seja, de que a moeda local pudesse ser cotada em ouro, tivesse uma referência no ouro como forma de ser negociada. A crise de 1929 vai colocar um fim neste estado de coisas. Para sair da crise, a única forma encontrada pelos diferentes países foi desvalorizar suas moedas, emitindo mais moeda que o acertado, levando em alguns casos a hiperinflação (Alemanha) e, de forma geral, fazendo com que suas mercadorias fossem desvalorizadas no mercado mundial, ou seja, ao se tornarem mais baratas, quando principalmente os trabalhadores tiveram seus salários reduzidos pela inflação, as mercadorias eram vendidas (cotadas em ouro) em valores mais reduzidos.

A verdadeira guerra comercial que se instala termina de modo catastrófico – de início com uma verdadeira quebra do mercado mundial, com a produção e venda de mercadorias baixando a níveis impossíveis de prever e de outro com a preparação da II Guerra Mundial, finalmente iniciada em 1938. Para tal, a burguesia teve que passar um rolo compressor em cima da classe operária alemã, com a instalação do nazismo.

O padrão “dólar”

O fim da II Guerra levou a uma situação inédita no mundo: mais de 50% das mercadorias eram produzidas nos EUA (atualmente 25%). É nestas condições que estes impõem como moeda mundial o dólar em substituição ao ouro. Com a condição de que garantem o valor do dólar: 35 dólares= 1 onça troy= 31,1 gramas de ouro fino.
Mas em 1971 Nixon decreta o fim desta paridade automática. Na verdade, pressionado pela guerra do Vietnã e pela competição comercial de países como Alemanha e Japão, os EUA são obrigados a desvalorizar sua moeda, a deixá-la flutuar no livre mercado. Em outras palavras, emitem moeda e fazem o mundo inteiro pagar pelo déficit do governo dos EUA, já que o dólar que garante todos os pagamentos já não vale o que valia antes. É nestas condições que o valor do ouro passa de 35 dólares a onça para mais 1.400 dólares a preço de hoje! E isto em 40 anos! Muito pouco tempo para tanta valorização.

Da crise de 1971 à crise atual

O ano de 1971 representa o momento em que o crescimento capitalista pós II Guerra (1945) chega ao fim. O que tinha impulsionado o crescimento, de um lado a reconstrução do pós-guerra e de outro, logo após, os gastos armamentistas, chegam a uma situação de colapso. Afinal, para se gastar com armas é preciso produzir, cobrar impostos e utilizar estes impostos para fabricar e pagar as armas (que são uma produção inútil, sem valor real, só podendo ser consumida para a destruição). O problema é que os EUA produziram armas valendo-se de crédito, de endividamento do Estado, do chamado déficit público, financiado por bônus, títulos do tesouro americano. Agora, como não se podia pagar, recorria-se às medidas aplicadas em 1930, desvalorizava-se a moeda. O resultado é uma nova guerra comercial – daí o “choque” do petróleo da década de 1970. As consequências desta verdadeira guerra comercial que se abriu levaram, no final, à destruição da URSS e à abertura de novos mercados. Novos mercados estes que permitiram um novo fôlego à custa da destruição dos direitos da classe operária russa e de outros países – a queda da expectativa de vida nesses países é o flagrante mais fácil de ver.

A crise de 2008 mostrou que esse ciclo chega ao fim. O fim da conversibilidade do dólar em ouro em 1971 prorrogou a crise, assim como a destruição da URSS. Mas tudo tem o seu fim e o planeta Terra é limitado: sem ter onde colocar todos os produtos que são fabricados, o capitalismo chega a uma crise brutal. Em outras palavras, se é produzido mais do que é possível vender (atenção, poderia ser produzido mais para satisfazer as necessidades humanas, mas o capitalismo produz para vender, não para necessidades sociais. Para o capital o único homem que interessa é o que pode comprar.) chegamos a uma nova crise. Cada país tenta sair dela vendendo mais que os outros e comprando menos. Uma boa forma de se fazer isso é desvalorizando sua própria moeda.

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