Grecia: Acordo, governo de coalizão e saída do euro – Parte 2

A formação do governo dirigido pelo burocrata Lucas Papademos é o resultado do impasse econômico e político que o capitalismo grego se encontra e representa o esforço desesperado da classe dominante em subjugar a classe operária

Um governo de unidade burguesa

A longa demora que caracterizou as negociações para a formação deste governo não foi causadapelo mito espalhado pela mídia burguesa, segundo o qual “os partidos políticos tem desempenhado o jogo pelas costas da nação”. Foi o resultado da dificuldade de encontrar pessoas dispostas a participar de um governo cuja tarefa será a de governar sem a legitimidade das eleições, com uma agenda de recessão mais profunda além da ameaça imediata de uma falência não controlada e da saída do país da zona do euro.

Tentando evitar a ameaça das autoridadeseuropeias de chutar a Grécia para fora do euro, o regime burguês da Grécia está em estado de pânico, e favoreceu a formação de um governo composto por indivíduos que tem a absoluta confiança do capital europeu.

O Sr. Lucas Papademos, com os seus antecedentes de realizar uma longa estadia no BCE foi o mais adequado entre os candidatos para o cargo de primerio-ministro. Além disso, sendo um homem do capital bancário, o novo primeiro ministro pode negociar em uma atmosfera amigável com seus amigos banqueiros, os termos de um “corte” sobre os títulos do Acordo de 26 de outubro. Essas “qualidades” de Papademos lhe rendeu valiosos dotes para a classe dominante.
Mas que tipo de governo é o governo Papademos? De uma maneira provocativa, a burguesia e seus apologistas da mídia chamam este governo de “governo de unidade nacional”. Mas muito pelo contrário, é um governo que tem apenas as bênçãos da classe dominante e do capital europeu.
O povo grego há dois anos votou pelo PASOK para melhorar seu padrão de vida após 5 anos de ataques da Nova Democracia. No processo, Papandreou tornou-se um governo odiado, visto como um fantoche dos credores agiotas. Agora, a classe trabalhadora grega vê com surpresa que este governo, em vez de entrar em colapso sob o peso da indignação popular, se transforma em uma fuga atrás do manto da “unidade nacional”, incluindo os novos bons meninos e os velhos tubarões dos empréstimos bancários com os mesmos ministros que não podem sequer mostrar seus rostos em público por causo do ódio popular, juntamente com novas pessoas de partidos burgueses que não foram votados nas últimas eleições nacionais …

Há um slogan, que tem aparecido nestes dias nos muros das grandes cidades gregas, que acertadamente coloca, “Nós não tivemos uma dose tão grande de democracia desde a época da ditadura”.
O novo governo é um governo de “não nacionais”,um governo da unidade burguesa. É composto de tecnocratas burgueses e representantes políticos de toda a gama de lideranças política burguesas. Apesar da distância que o Sr. Antonis Samaras (líder da Nova Democracia – direita) tenta manter do governo por razões demagógicas, o novo governo é uma coalizão das lideranças do PASOK, da Nova Democracia e do LAOS (partido de extrema direita, antigo apoiador da ditadura militar).

Os principais ministérios são ocupados por elementos de dentro da liderança burguesa do PASOK, com a benção da Nova Democracia. A parte da Nova Democracia no governo está composta por seis ministros, dois dos quais (Dimas, Avramopoulos) são gente de destaque deste partido com uma longa história parlamentar. Finalmente, temos a extrema direita LAOS, com sua primeira participação em um governo com alguns de seus membros mais proeminentes, provando que está em perfeita harmonia com as lideranças do PASOK e Nova Democracia.

A excitação e as expectativas que os apologistas do capital que investiram na presença política de um tecnocrata para chefiar o novo governo, são um reflexo do enorme vácuo histórico político da liderança da burguesia na Grécia. A ausência de líderes políticos burgueses do calibre de Eletherios Venizelos ou Constantinos Karamanlis nessas circunstancias críticas, joga a classe dominante em um estado de depressão e os força a transformar politicamente mercenários inexperientes em “messias” e um tecnocrata em primeiro-ministro. Deve ser enfatizado que esta ausência de políticos de alto calibre não é uma questão de atributos pessoais e de habilidades, mas em última análise, reflete o impasse histórico do capitalismo e do crescente isolamento social da classe dominnte, que compromete seriamente a sua auto-confiança.

O envolvimento de setores da extrema direita no novo governo é um elemento que não deve ser subestimado. O fato de que os nacionalistas conhecidos e apologistas da velha junta militar assumam pastas ministeriais é uma clara tentativa de familiarizar a população com um governo burguês reacionário e extremista. Isto combinado com a falta de legitimidade popular de todo o governo, em última análise, reflete a tendência futura da classe dominante em relação a algum tipo de governo bonapartista. A presença da extrema direita como ministros é um alerta para o movimento dos trabalhadores. Logo, mais cedo ou mais tarde, a classe trabalhadora vai sofrer a dolorosa experiência da reação bonapartista.

As duas táticas dentro da classe dominante para o novo governo

Embora o governo seja apoiado por todas as alas da burguesia, dentro da classe dominante grega existem hoje duas saídas táticas principais. A primeira, que se expressa pela mídia poderosa e a liderança burguesa do PASOK, tem uma atitude que poderia ser resumido da seguinte forma:
1) A colaboração dos diversos partidos no governo é de grande importância política, porque cria um precedente útil de consenso, e que será muito útil em caso de crises maiores no futuro;
2)O governo Papademos deve permanece no poder enquanto for necessário, a fim de garantir a posição da Grécia no euro, sem ser limitado por um calendário.

Esta atitude é determinada pelo pânico que a burguesia tem estado por causa de sua possível expulsão do euro. Eles acreditam que a maior ameaça ao seu sistema é a crise atual. Acostumados com a conduta moderada dos líderes da esquerda, eles não podem ver no futuro possível uma ameaça ao seu poder e, portanto, promover o uso direto e completo de todas as possibilidades que o consenso político dos partidos burgueses e lideranças fornece a eles.

A outra tática é expressa pelo Partido da Nova Democracia liderado por Samaras que se refletiu em seu depoimento na semana passada. Samaras disse que a sociedade necessita de imediato da “válvula de segurança” das eleições, porque uma “explosão social” está chegando. Ele salienta que o governo Papademos é apenas de natureza de “transição”. A tarefa do governo é apenas para empurrarcom a barriga as decisões do Acordo de 26 de outubro. É claro que Samaras é um demagogo e ele está escondendo o fato de que o acordo é acompanhado – mesmo com o cenário mais otimista para o desenvolvimento da crise – por medidas de austeridade e cortes no valor de 100 bilhões de euros nos próximos 10 anos, um montante que significa, como explicado anteriormente, um desastre extenso e social sem precedentes na Grécia.

Ao contrário da outra ala da classe dominante, a liderança da Nova Democracia parece considerar corretamete a partir do ponto de vista burguês, que a revolução é mais imediata e de longe, uma ameaça mais séria ao capitalismo do que a expulsão do euro.
O que Samara teme é que uma deterioração prematura da Nova Democracia dentro do governo Papademos elimine a possibilidade da classe dominante ter um governo forte, legitimado por um novo mandato popular, ou seja, pelas próximas eleições. O que reforçaria também o humor revolucionário dentro da sociedade e nos partidos da esquerda e, claro, isso seria colocar um fim precoce à sua carreira como candidato a primeiro-ministro.

Perspectivas de um novo governo

O que determinará a evolução da situação não é a tática da classe dominante, mas a extensão da crise do capitalismo europeu e seu reflexo na mente das massas. As táticas dos partidário da “unidade nacional” são tão vazias como as da lideranças da Nova Democracia que corresponde a limitação da participação do governo Papademos.

A Troika está exigindo novas medidas aqui e agora. Um modelo de memorando de inteções para as novas medidas já foi enviado para ser assinado pelas lideranças política da burguesia grega e está esperando por Samaras em seu escritótio. Sem esses compromissos, a liberação da sexta paracela do pacote, e as negociações para o corte de títulos não podem presseguir. Será muito difícil para Samaras evitar a assinatura.

Além disso, o governo tem que impôr imediatametne novas medidas que vão desgastar todos os “parceiros” que o compõem. Estas medidas, os compromissos do governo anterior, as privatizações, demissões em massa do setor público e a imposição de cobrança de mais impostos, e também o dramático agravamento da crise na Grécia e na zona do euro trazem a possibilidade muito séria de que a Grécia não vá conseguir os benefícios desejados a partir das negociações sobre o “corte voluntário” dos títulos. Estes são fatores que podem aproximar a perspectiva de um default soberano e falência descontrolada. Na base da rápida deterioração da crise, o novo governo nas próximas semanas poderia mesmo encotrar-se diante da ameaça de expulsão do euro.
Todas essas possibilidade ameaçam desestabilizar o novo governo, elevando-o contra um nova onda de protestos e submergindo-o em processo de conflitos internos.

Por um governo de unidade da classe trabalhadora com um programa socialista!

Nestes últimos dias as pessoas que trabalham foram obrigadas a assitir ao teatro de “unidade nacional” mas permanecem desarmados politicamente e sem alternativa. A inércia de todos os líderes do movimento operário após a greve geral magnífica de 48 horas é que tem dado espaço de manobra para a classe dominante. O governo é, na realidade, extremamente fraco. Uma escalada da luta para uma greve geral política, poderia ter levado rapidamente o governo a convocar as eleições. Mas, os líderes do movimento operário fezeram tudo para segurar naquele grande movimento de greves e ocupações de centros chaves do aparelho do Estado, enquanto os líderes da esquerda ficaram chamando monotonamente por novas eleições, sem explicar como o movimento sindical poderia forçar para chamar essas eleições.

Sem uma liderança e uma perspectiva clara, os trabalhadores e o povo pobre encontraram uma maneira de expressar a sua disposição revolucinária, convertendo o desfile de 28 de outubro (Dia do Não) em manifestações de massa. Mas, novamente, as lideranças de esquerda não tomaram qualquer iniciativa para atender a esse estado de ânimo e continuaram as chamadas abastratas por eleições, mesmo sem acompanhá-los com um plano de ação concreto. Esta abordagem deu tempo ao governo para alcançar uma retirada “coordenada” e para preparar um impertubável novo governo de coalisão.

A atitude dos líderes do Partido Comunista e do SYRIZA durante os vários dias de negociação para o novo governo burguês foi verdadeiramente deplorável. Eles não proferiram uma só palavra que poderia indicar aos trabalhadores que existia uma solução de energia diferente da “unidade nacional” da burguesia. O resultado foi que a confusão generalizada, desorientação e frustração prevaleceu nas fileiras das massas trabalhadoras. Em seus olhos, apenas a burguesia tinha uma solução para o problema do poder. A Esquerda, com esta abordagem, mais uma vez apareceu apenas como uma voz de protesto, mas sem perspectiva de tomar o poder.

O que deve a esquerda fazer para reverter este quadro e indicar um caminho diferente para os trabalhadores de romper com a lógica da fraude de “unidade nacional”

A burguesia, com seu espírito de classe unificador durante estes dias tirou as lições de comportamento de classe. Assim como os patrões estão unidos, a classe trabalhadora deve se unir como classe. Cada militante da esquerda deve, portanto, lutar pela unidade das forças das massas e do movimento operário contra este novo governo de unidade burguesa. Ao mesmo tempo, esta unidade deve, desde já, assumir a forma de uma aliança política entre o KKE (Partido Comunista) e SYRIZA, a fim de eleger um governo que vai implementar um programa socialista. Não existe nenhum outro caminho. Se não apresentar esta solução especifica de poder e simplesmente se queixarem da “mudança anti-democratica” da classe dominante e pedir “eleições aqui e agora”, significa oferecer aos trabalhadores e ao povo, meras “palavras vazias”.

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