Escola de formação marxista discute a luta contra as ideias alheias à classe trabalhadora

Foto: Johannes Halter

Começou na manha deste sábado (28/4) a Escola Nacional de Secretários da Esquerda Marxista – atividade de formação teórica dos dirigentes da organização. Com a participação de cerca de 80 militantes destacados de vários estados, a atividade iniciou com uma discussão sobre a teoria marxista e a luta contra as ideias de classe alheias. O informe desse primeiro painel foi do camarada Caio Dezorzi. A tônica do debate foi a importância da teoria para compreender o que representam as supostas “novas ideias”, que perpassam principalmente o ambiente acadêmico de vários países, onde grande parte dos militantes marxistas intervém.

Alessandro Giardelo, dirigente da seção italiana da Corrente Marxista Internacional (CMI). Foto: Johannes Halter

Na mesa de abertura da Escola, que antecedeu o informe sobre a teoria marxista, o camarada Alessandro Giardelo, responsável da seção italiana da Corrente Marxista Internacional (CMI) e que participa da Escola como representante de seu Secretariado Internacional, ressaltou que a seção brasileira da CMI – a Esquerda Marxista – sempre se caracterizou por um escrúpulo muito grande com a teoria e a formação dos militantes.

Esta é uma tradição também da internacional, que se orgulha em sempre ter se negado a fazer concessões aos revisionistas, refletores das pressões da ideologia burguesa e pequeno-burguesa. Nos textos preparatórios ao debate, lê-se: “Permanecemos (e continuamos a permanecer) completamente impermeáveis ao coro ensurdecedor que exigia ‘ideias novas’ em lugar das ideias supostamente ‘passadas de moda’ de Marx, que são, na realidade, as ideias mais modernas, as únicas ideias que podem explicar a crise atual e mostrar uma forma de sair dela.”

Este coro ensurdecedor é o que se ouve também no Brasil, sobretudo nos ambientes acadêmicos e na maior parte das organizações de esquerda, com a predominância das ideias da pós-modernidade, com o retrocesso à subjetividade, com o abandono da defesa da revolução social em favor dos pequenos fatos (como a “disputa” pela linguagem), com a ênfase sobre as opressões particulares ao invés das coletivas, com o consequente clima de disputa, de atomização e enfraquecimento do movimento geral da classe trabalhadora.

Este é o resultado da época atual – uma época de decadência política, econômica e cultural do sistema capitalista. Sob uma nova roupagem, emerge a defesa de pequenas conquistas pessoais, de nichos de opressão cada vez menores e mais divididos. Essas ideias surgem da mesma maneira que aquelas combatidas por Marx, Engels, Lênin e Trotsky, contra os que deixaram de acreditar na capacidade de os trabalhadores enquanto classe transformarem o mundo.

Foto: Johannes Halter

Caio explicou que a burguesia se utiliza dessas ideias para dividir e enfraquecer o movimento dos trabalhadores, único capaz de combatê-la. Os ambientes acadêmicos e a maior parte dos partidos que se reivindicam de esquerda, por sua vez, reproduzem tais discursos, porque acreditam que, não sendo possível fazer uma revolução, é preciso pelo menos acabar com o machismo, racismo, homofobia, estabelecer cotas, lutar contra as opressões de pequenos grupos. “Se não é possível haver vagas para todos, defendamos as cotas”, dizem.

Esses senhores refutam  uma premissa básica do marxismo, que a luta contra todas as opressões precisa conduzir e ser componente de uma revolução socialista, que coloque abaixo o capitalismo. Somente dessa forma será possível realmente acabar com todas as formas de preconceito. Isso coloca os marxistas, hoje e por enquanto, em minoria na posição de enfrentar essas ideias de maneira revolucionária.

Não é à toa que temas como identitarismo e interseccionalidade tomem tanto espaço hoje nas universidades, na mídia, nos partidos reformistas, fomentados direta ou indiretamente pelo Estado burguês. Também não é coincidência essas ideias terem ganhado proeminência nas universidades nos anos 1980 e 1990, quando houve uma ampla ofensiva burguesa contra a classe trabalhadora e uma ampla campanha antimarxista era deflagrada.

Foto: Johannes Halter

Na realidade, essas são ideologias francamente reacionárias, que combatem disfarçada ou abertamente, a noção e a consciência da luta de classes, desviam a atenção da juventude, causam confusão e agem para impedir que a nova geração tenha acesso a uma perspectiva de organização da classe trabalhadora. Tudo isso apresentado sob uma bandeira falsa, de luta contra as opressões.

O grande combate travado por Lênin contra as ideias da burguesia e da pequena-burguesia no interior do Partido Bolchevique forjou uma organização capaz de levar a revolução até as últimas consequências. Em seu informe, Caio ressaltou que esse é o mesmo rigor teórico que a situação exige dos marxistas hoje. É preciso chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes. É necessário saber explicar a uma jovem que se identifica como feminista – porque encontrou aí um canal de expressão contra a brutal exploração que o capitalismo impõe às mulheres – que as opressões só serão resolvidas organizando a luta unitária de homens e mulheres do proletariado por reivindicações e campanhas contra as opressões que conduzam a soluções reais e universais. Por meio desses combates devemos evidenciar que, nesta época de decadência imperialista, as reivindicações e conquistas apenas podem ser garantidas e implementadas com a derrubada do regime capitalista, e com a construção de uma sociedade comunista. Essa luta não pode ser feita com grupos divididos, sem a unidade do movimento.

Foto: Johannes Halter

Caio também explicou que “é bastante comum que os marxistas sejam acusados de ignorar as opressões”. Isso se dá por ignorância ou má-fé, pois toda a história do marxismo é um combate contra isso e na primeira linha de fogo sempre estiveram os marxistas. Só eles nunca recuaram sobre isso e a revolução russa e suas conquistas são uma prova disso (Ler https://www.marxist.com/the-sexual-revolution-in-russia.htm). Além disso existem os que propositalmente ou ingenuamente confundem o marxismo com o stalinismo. “A melhor maneira de comprovar que isso não é verdade é estudar o marxismo e a história do movimento operário e  engajar-se no movimento prático junto com os marxistas”, disse. Neste sentido, joga um papel muito importante a preparação teórica e o lançamento de Mulheres pelo Socialismo.

Fora das universidades, o proletariado real está preocupado em garantir sua subsistência e defender suas conquistas. É para esses trabalhadores e para os jovens filhos dessa classe que os marxistas devem se dirigir. O foco dos revolucionários não deve ser a velha e desanimada vanguarda do movimento. “A decadência cultural e intelectual do capitalismo permite que se ergam as ideias do pós- modernismo, que se alimenta da falta de confiança na classe trabalhadora. Nós nos alimentamos dessa confiança, do programa marxista, e por isso estamos animados”.

Após esse debate, a Escola de Secretários da EM ainda abordou a questão dos marxistas e as eleições, assim como estudou como se organizam os bolcheviques. Na noite do dia 29 de abril, teve início o 6º Congresso da Esquerda Marxista que realizou seus trabalhos até 1º de maio [confira o relato desse evento aqui].