Eleições: o PSOL saiu vitorioso?

 

O autoengano é um dos maiores problemas que pode acontecer com alguém em qualquer situação, e é ainda pior quando ocorre na política. Pior ainda é quando se vê o que está acontecendo e se quer esconder a realidade.

O autoengano é um dos maiores problemas que pode acontecer com alguém em qualquer situação, e é ainda pior quando ocorre na política. Pior ainda é quando se vê o que está acontecendo e se quer esconder a realidade.

O PSOL fez uma avaliação das eleições intitulada “Eleições municipais: um PSOL mais forte e vitorioso”

(ver: http://www.psolsc.com.br/site/wordpress/2012/11/09/resolucao-de-balanco-das-eleicoes-2012-do-psol/)

Se no começo do texto existe uma tentativa de análise da luta de classes e da situação política, que conclui pela “estabilidade temporária” na situação, devida às medidas do governo de se proteger da crise (o PSOL não vê a questão central – um pais “estável” por ser dirigido por um partido operário que garante uma certa estabilidade social favorável aos investimentos, que tornou o Brasil um dos maiores destinatários de capital do mundo), o restante do texto é sobre a luta dos diferentes partidos e seus blocos partidários. 

Ai começa um problema. Como o PSOL considera o PT um partido burguês como os outros, ele não consegue compreender a raiva da burguesia que tenta de todas as formas destruir o partido e derrotá-lo, tarefa para a qual, a direção com sua política de alianças com a burguesia a ajuda alegremente. O problema é que apesar de tudo, o PT não foi destruído e a dança de cadeiras entre os outros partidos burgueses não mudou a relação real de forças existente entre burguesia e proletariado. Nada foi decidido ou modificado nas eleições. Apesar do gosto amargo deixado por determinadas derrotas do PT nas eleições – Porto Alegre, Joinville, Campinas, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza – assim como por algumas “alianças” como a do Rio, não temos nenhuma dúvida de que tudo isso teve um impacto negativo e direto na militância.

Sem entender isso, o PSOL se considera como o representante único da luta socialista, sem relação real com a luta de classes – e em seu documento de balanço a única greve citada foi a dos bombeiros do Rio. Então, como o PSOL acha que conseguiu resultados positivos?

Escrevem eles: “Por que o PSOL cresceu?

6. O resultado eleitoral positivo, porém, se deve a variados fatores. O PSOL se credenciou através de sua presença nas lutas sociais para fazer a disputa de hegemonia na sociedade e melhorar seu despenho eleitoral. A presença de nossa militância e de nossos parlamentares em favor dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, defendendo a resistência popular na ocupação do Pinheirinho, nas lutas do funcionalismo público, na greve dos Bombeiros no Rio de Janeiro e combatendo as reformas no Código Florestal – transformando o PSOL em referência da luta ambiental – fortaleceram o partido como referência política de esquerda. Além disso, nosso protagonismo na CPI do Cachoeira com nossos deputados federais e nosso Senador, e nossa iniciativa de pedir a cassação do mandato do Senador Demóstenes Torres, reafirmou nosso compromisso com a ética e nossa independência política.”

Uma das maiores greves dos servidores federais, as greves de professores que se espalharam pelo país, são para o PSOL, somente “lutas do funcionalismo”. O PSOL não compreende que ele não foi o destinatário “natural” dos insatisfeitos com estas situações. Assim, na maioria dos locais aonde os governos petistas atacaram os professores (Joinville, Porto Alegre, Salvador) o resultado não foi o crescimento do PSOL, mas o abandono do voto no PT, o crescimento do voto em branco, nulo, abstenções e, de forma geral, a volta dos burgueses ao governo! Não parece exatamente ter ocorrido um crescimento do partido e muito menos da luta socialista, trata-se isso sim de um retrocesso para os trabalhadores na luta de classes, retrocesso do qual a direção do PT é a responsável!

E a situação piora quando o PSOL analisa seus próprios resultados. O PSOL cresceu em algumas capitais, mas ele não entende porque cresceu! Assim é que não entende que o voto de esquerda no Rio foi para o PSOL pelo fato de que o PT se coligou ao PMDB e não apresentou candidato, não compreende que a votação no Pará vem de um candidato que já foi prefeito do PT e que no Amapá o PSOL se aliou com a oposição de direita!

Ou seja, o PSOL se consolida ao mesmo tempo em que faz exatamente o mesmo movimento que o PT fez na década de 1990 – alianças com a burguesia. E isto foi feito desde o primeiro turno, não é o problema do apoio do DEM ao candidato no segundo turno, é o problema de ter uma aliança com o PPS no primeiro turno que o PSOL recusa-se a ver!

Notemos ainda que o que deveria ser uma luta política é passado para a “justiça eleitoral” resolver. São os advogados da Direção Nacional que tentam barrar candidatos (quais? não é mencionado na resolução) que fizeram alianças não autorizadas! Interessante isso, o partido tem uma resolução e ao invés de uma luta política para cumpri-la trava uma batalha judicial. Para um partido que se proclama socialista, esse é um legado muito ruim, deixar nas mãos da justiça burguesa o destino do partido!

Saudamos, enfim, a crítica feita a Plínio por seu apoio a José Serra!  Alertamos: isso só foi possível porque o partido, como sempre, não enxergando o que é o PT, preferiu a “neutralidade” e permitiu, portanto, que as antiga origem de Plínio (antes de ser o esquerdista de hoje), como Democrata Cristão, aparecesse claramente nas eleições. 

Infelizmente, o PSOL continua combinando o pior do esquerdismo com o mais claro oportunismo. Tanto nas eleições como na resolução de balanço. Nada que possa se aproximar de uma política de independência de classe e de luta pelo socialismo, apenas a velha defesa da “ética na política” que levou o PT a situação atual de alianças com a burguesia.