Eleições 2018: O que fazer neste primeiro turno

A imprensa burguesa está fazendo o possível e o impossível para enterrar as manifestações de 29 de setembro e a disposição de luta que lá se expressou. Realizam comparações descabidas com os atos “pró-Bolsonaro” do dia seguinte, que foram dezenas de vezes inferiores, e omitem fatos como as manifestações espontâneas que foram realizadas no transporte público antes e depois das manifestações. Sem contar suas “pesquisas” de intenção de voto e a análise delas, usadas para mostrar que as manifestações “ajudaram” Bolsonaro ao invés de combatê-lo. Bem afinado com todas as ideias da burguesia, Ciro Gomes repercutiu isso em suas declarações.

O problema da burguesia é um só: como combater a polarização que ameaça fazer vir à tona a velha luta de classes, burguesia versus proletariado? E isso num ambiente tal que o seu mais fiel servidor (Alckmin) não consegue decolar nas “pesquisas” e os que teoricamente dariam sustentação à sua candidatura nos Estados, para conseguirem manter seus postos, aderem com armas e bagagens, com declarações públicas, “colinhas eleitorais” e panfletos, a Bolsonaro.

Tudo isso acontece no momento em que o sobe/desce nas pesquisas vira motivo de uma intensa especulação financeira na bolsa de valores e no comércio do dólar e de outras moedas. A média e a pequena burguesia procuram em Bolsonaro o seu salvador, enquanto a grande burguesia, os que manejam os fios da economia, no Brasil e nos países imperialistas, buscam os pontos de contato com os economistas e assessores de ambos os candidatos “melhores posicionados”, Bolsonaro e Haddad. Querem garantir a manutenção de tudo como dantes após as eleições.

Tentam, ao mesmo tempo, enterrar a “polarização”. Só que isso não é possível e seus melhores representantes nos jornais e TVs suspiram inertes com a agudização da luta de classes.

Voto útil, PT e Bolsonaro

Militantes e ativistas de esquerda, impressionados com a ascensão de Bolsonaro, concluem a partir disso que o fascismo está na próxima esquina, ganhando o apoio das massas, ou que se prepara uma nova ditadura militar. No entanto, é preciso colocar nessa avaliação a correlação de forças atual entre as classes e a posição dos setores majoritários da burguesia para enfrentar a atual situação. A burguesia sabe que a classe trabalhadora não está derrotada e que pode explodir em lutas revolucionárias a qualquer passo errado que dê. Por isso, apesar de necessitar endurecer a repressão, sabe também que faltam as condições, uma base social sólida, para implantar uma ditadura descarada no país. A base eleitoral de Bolsonaro, apesar de contar com grupelhos de extrema direita, não está organizada em um partido de combate para destruição das organizações operárias, mesmo que os grupelhos fascistas sintam-se mais a vontade para agir nesse clima de polarização. A base de Bolsonaro está na pequena burguesia desesperada e em setores do proletariado iludidos com seu discurso antissistema. Bolsonaro é um oportunista demagogo de direita, e é preciso combatê-lo com uma linha política de classe.

Os demais candidatos tentam aparecer como a melhor alternativa. Alckmin busca atrair os votos de Bolsonaro prometendo acabar com os radicalismos de “direita” e de “esquerda” e derrotar o PT no segundo turno. Ciro apresenta-se como aquele que nas pesquisas tem mais chances de derrotar Bolsonaro na etapa seguinte. E o PT angaria votos para si como o único de esquerda que passa para o segundo turno.

A Esquerda Marxista não se alinha com estas posições. Não somos por “qualquer um menos Bolsonaro”. Há uma divisão de classe entre os candidatos e trata-se de um erro considerar Alckmin ou Ciro o mal menor, ambos são políticos burgueses, pertencentes a partidos políticos burgueses. Ciro tendo como sua vice a dama do agronegócio, Katia Abreu.

O PT é o partido operário burguês que recobrou algum fôlego eleitoral por conta do impeachment, na realidade um favor da burguesia nativa que tirou do PT, do governo Dilma, a inglória tarefa de aplicar as contrarreformas mais duras e o ajuste fiscal. Haddad pode até fazer um discurso à esquerda, prometer a revogação das contrarreformas, mas nos bastidores dialoga com o mercado para tranquilizá-lo. A questão agora é fortalecer a construção de uma alternativa de esquerda ao PT, sem as traições que provocaram a atual situação de desorientação da classe trabalhadora.

Porque votar PSOL

Nesse embrenhado cenário da atual situação política e da luta de classes brasileira, nós temos explicado que a tarefa imediata para os ativistas e militantes de vanguarda de nossa classe consiste em votar 50, no Partido Socialismo e Liberdade. Isso não se deve a uma qualidade revolucionária desse partido ou de seu candidato a presidente. Mesmo que Boulos, na reta final da campanha, tenha adotado um discurso contra o sistema e buscado se diferenciar do PT, segue carecendo de um conteúdo claro que dialogue com os anseios da classe trabalhadora – não tentativas de melhorar, reformar, o modelo vigente -, restringindo-se a reivindicar “igualdade de oportunidades”, ou “taxação de grandes fortunas e patrimônio”. O que pode fazer a esquerda captar o sentimento antissistema existente na base da sociedade é dizer claramente que uma revolução é necessária, que é preciso pôr abaixo os podres poderes da república, estatizar os bancos, as multinacionais, as empresas que recebem dinheiro do Estado, e colocá-las sob o controle dos trabalhadores, colocar toda a sociedade sob o controle da classe trabalhadora organizada. .

A tarefa fundamental dos marxistas neste momento consiste em ajudar uma parte da vanguarda de trabalhadores e da juventude a compreender a atual situação, sem cair no impressionismo alimentado pelos reformistas de plantão, e encontrar o caminho da luta organizada pelo socialismo. Para isso, em primeiro lugar devemos firmar claramente nossos pés no campo da independência de classe. Nenhum voto em candidatos burgueses ou de partidos burgueses. E sim, votar no primeiro turno no PSOL para fortalecer a construção de uma alternativa de esquerda. O PSOL, apesar de seus erros e suas debilidades, segue sendo visto por uma vanguarda de jovens e trabalhadores como um polo para se reagrupar de maneira independente e seguir a luta pela construção de um partido da classe trabalhadora no Brasil.

Os trabalhadores brasileiros já demonstraram incontáveis vezes um elevado nível de consciência de classe e de uma inteligência vinda de suas experiências históricas e políticas. Apesar das incontáveis frustrações e traições de seus dirigentes tradicionais, essa consciência não foi destruída.

A nós marxistas interessa esclarecer o que é preciso fazer hoje para ajudar a fortalecer os músculos da vanguarda de nossa classe para as próximas batalhas que se avizinham, na polarização que se acentua cada dia mais. Essa é a tarefa a que a Esquerda Marxista se propõe com suas candidaturas, baseadas no manifesto “Contra o Sistema, Pela Revolução Socialista”, na luta pela construção de um partido de classe, que ajude os trabalhadores a trilharem o caminho para a libertação da exploração e opressão do capital e a construir um futuro socialista.