Educação e Trabalho: Em defesa da escola pública

Não é tão recente as inúmeras propostas, iniciativas e projetos que articulam a educação e o tema trabalho. As parcerias “público-privadas” aparecem como o grande modismo de nossa época e portadoras de um manto ideológico que as propagandeia como “salvadoras da pátria”.

Não é tão recente as inúmeras propostas, iniciativas e projetos que articulam a educação e o tema trabalho. As parcerias “público-privadas” aparecem como o grande modismo de nossa época e portadoras de um manto ideológico que as propagandeia como “salvadoras da pátria”. Contudo é preciso ter um pouco de parcimônia nesta questão e não julgar precipitadamente os vínculos que estão sendo feitos e construídos entre essas duas dimensões da prática social que são a educação e o trabalho.

O trabalho é uma categoria fundamental do ato de humanização de homens e mulheres. Graças ao trabalho toda a riqueza material e imaterial pode ser criada e recriada ao longo da História. A globalização que nos circunda e atravessa nosso cotidiano não seria possível sem o trabalho. O trabalho é em si o ato que uni indissociavelmente a teoria e a prática. Contudo nem sempre fora assim … A maneira como se organiza e se estrutura a sociedade, fundamentalmente, é uma questão sobre a maneira como iremos distribuir e organizar os resultados do trabalho coletivo da sociedade, como iremos garantir o acesso aos bens produzidos, sejam materiais ou não.

Na contemporaneidade, todavia, é muito comum associar o trabalho às sensações de cansaço, tristeza, dor, fadiga, exploração etc. … Isso não quer dizer que o ato produtivo em si tenha perdido sua potencialidade criadora e inventiva que marca a humanidade. Apenas que o trabalho, em muitos casos, não oportuniza as condições mínimas para o acesso de sua criatividade pelos seres humanos, o trabalho é para muitas pessoas algo que se conforma enquanto desrealização e não as promove, não constitui um ato para si.

O problema é que essa discussão vem sendo ressignificada constantemente no âmbito das escolas públicas. Muitos projetos são criados por empresas privadas com o real intuito de garantirem o sucesso de seu “marketing social” e de “boa vizinhança”, porém, realizam tais atividades em escolas municipais e estaduais públicas. Essas empresas e/ou grupos realizam palestras, oficinas, gincanas, visitas técnicas e eventos para discutirem uma ampla diversidade de temas dos quais, em sua maioria, nenhum é aprofundado. Patrocinam reformas em quadras poliesportivas, pinturas das paredes de escolas, pequenas reformas etc. … Enfim, se “enfiam” na vida escolar sem pedir licença e sob o véu de “bons parceiros”.

Porque dizemos que estes agentes desenvolvem suas práticas como um “véu”? Na realidade todas essas atividades não promovem o acesso da classe trabalhadora que frequenta a escola pública aos bens culturais, filosóficos, artísticos e científicos acumulados pela humanidade. Não discutem tais conteúdos por meio das análises que prezem pela contradição, pela reflexão a respeito das desigualdades sociais e, sim, apenas intentam uma manutenção da estruturação e organização do trabalho e da riqueza socialmente produzida. Assim, como muitos trabalhadores necessitam garantir o seu sustento e de sua família e ainda conseguem frequentar a escola pública, acabam, em geral, defendendo um ensino que apenas “forma” para o mercado de trabalho. Nada mais natural… Afinal, todos temos que nos preocupar com nossa existência e as inúmeras contas a pagar…

Ocorre que esses tipos de parcerias “público-privadas” na educação formal pública, discutindo o vínculo entre educação e trabalho, apenas reforçam o caráter privado da coisa pública. O lucro maior continua das empresas privadas e os custos de sua imagem de “bom parceiro” é pago pela escola pública.  Não devemos conceder às iniciativas privadas algo que é dever do Estado! A privatização dos inúmeros espaços de nossa vida já ocorre em diversos setores da prática social e, cada vez mais, acentua-se esse processo em escala global. O problema já começa a demonstrar suas perversidades e desigualdades. Basta nos atentar para o acirramento das desiguais oportunidades entre as classes sociais. O recente documentário de Silvio Tendler intitulado: “Privatizações: A distopia do Capital” aborda de modo crítico essas questões e suas consequências para a sociedade civil.

Permitir que o privado interfira na esfera pública, em especial no âmbito educativo, é renegar a outrem o destino que nos governa, é garantir a manutenção de uma situação de desigualdade, injustiça e exploração. É preciso lembrar junto com nosso grande educador Paulo Freire que: “O futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo”.