Dica de Leitura: Os Jacobinos Negros, de CLR James

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Os Jacobinos Negros narra a história de um dos maiores episódios da grande Revolução Francesa: os conflitos na ilha caribenha de São Domingos que culminaram no único levante escravo de sucesso na história e o estabelecimento da República Negra livre do Haiti.

Historiadores pouco fizeram para eliminar a ignorância reinante em relação a esses eventos significativos. Mesmo autoridades em Revolução Francesa como Mathiez sistematicamente minimizam a importância das colônias e diminuem sua influência sobre os desenvolvimentos revolucionários na França. Historiadores do Haiti cometem o erro oposto de tratar sua história inicial sem a devida atenção às suas profundas conexões com a Europa.

Um dos méritos singulares do trabalho de James é que ele evita ambos os casos de reducionismo. Ao longo de seu livro, ele enxerga as lutas de classes em São Domingos e na França como dois lados de um processo histórico unificado transcorrendo em interação indissociável entre si. Com uma riqueza de detalhes pitorescos e precisos, ele mostra como as fases da revolução na colônia e na metrópole correram em paralelo e se correlacionaram.

A prosperidade baseada no comércio com a ilha açucareira de São Domingos fortaleceu tanto a burguesia marítima de Marselha, Bordeaux e Nantes que elas se tornaram as principais promotoras do movimento de protesto contra o Antigo Regime. Os impulsos iniciais da Revolução Francesa desencadearam a série de guerras civis em São Domingos que levaram, em agosto de 1791, à insurreição de seu meio milhão de escravos negros contra seus senhores. Em sua busca pela emancipação, esses rebeldes lutaram contra todas as forças das ordens superiores da ilha e se aliaram temporariamente aos espanhóis e ingleses. Sua atitude, contudo, foi radicalmente revertida da noite para o dia quando a escravidão foi oficialmente abolida nos domínios franceses no auge da maré revolucionária em 1794. Ligados à França por essa promessa de liberdade, os antigos escravos lutaram heroicamente para defender o novo regime revolucionário de seus inimigos internos e externos. De 1794 a 1799, a segurança da França foi mantida pelas vitórias dos soldados caribenhos sobre os exércitos da Espanha e da Inglaterra.

Não obstante este inestimável serviço à França, os haitianos(1) aprenderam novamente que “aqueles que querem ser livres devem lutar por isso”(2). Em um primeiro momento, a revolução tentara ignorá-los. O lema “liberdade, igualdade e fraternidade” era interpretado para valer unicamente aos brancos e somente depois aos mulatos. Apenas se levantando contra seus senhores é que os escravos foram capazes de aproveitar o decreto de abolição. Mas mesmo após haverem conquistado sua condição jurídica de homens livres por meio dos Jacobinos brancos, os Jacobinos negros só conquistaram segurança social duradoura e independência nacional contando apenas com sua própria força armada organizada. Quando Napoleão se engajou para forçar os negros de volta à escravidão, os haitianos tiveram de aniquilar seus exércitos tão impiedosamente quanto haviam feito com os ingleses.

As tradições de autoconfiança e de luta implacável contra a perfídia, forjadas nas consecutivas guerras contra as classes dominantes de brancos e mulatos em São Domingos, contra o imperialismo espanhol e inglês e contra a reação burguesa de Bonaparte, permitiram aos haitianos manter sua independência nacional até a intervenção americana(3) no presente século.

Este livro fornece respostas irrefutáveis a ideias preconcebidas de ordem reacionária sobre a inferioridade inerente à raça negra. Os líderes negros tratados nestas páginas, embora houvessem acabado de sair da escravidão, mostram-se iguais e em certos aspectos superiores aos seus adversários brancos como soldados, estadistas e governantes. James apresenta uma avaliação crítica e justa da figura de destaque de Toussaint L’Ouverture, um cocheiro e escravo até os 46, porém comandante da ilha dez anos depois, a quem ele iguala a Napoleão. Não há descrições menos interessantes de outras personalidades como Rigaud, Dessalines, Christophe, Sonthonax e outros.

Se eventos vindouros projetam suas sombras antes, eventos passados lançam luz adiante. A questão sobre o destino dos povos coloniais tem ainda maior importância para a presente fase do imperialismo do que na era da revolução democrático-burguesa. Os Jacobinos Negros demonstra como é indestrutível o vínculo entre a luta por libertação dos povos coloniais escravizados e os movimentos de massa revolucionários na metrópole, como seus interesses mútuos exigem apoio recíproco na luta comum contra a opressão reacionária e como os escravos mais oprimidos e aviltados podem atender ao chamado da liberdade, produzir grandes líderes, destruir seu inimigos e encontrar uma solução para os seus problemas.

O alto preço de Os Jacobinos Negros inevitavelmente restringirá sua circulação. Felizmente, James escreveu um curto panfleto incorporando o essencialde seu trabalho maior sobre os eventos em São Domingos. Uma História da Revolta Negra também trata das lutas dos escravos na América do Norte e na África e fornece um relato valioso dos recentes movimentos negros ali e no Caribe. Esta útil e acessível parcela de informação deve estar nas mãos de todos os internacionalistas revolucionários.

Título original “Revolução, Preto e Branco”. Tradução de Camyl Ourives Cruz. Fonte: Arquivo Marxista na Internet

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