De Amarildo a DG

DG, 26 anos, dançarino, na gíria, “dançou”. Na versão da PM, ele “caiu”. A primeira versão do IML “confirmavam ferimentos compatíveis” com esta versão. Caiu? Segundo a polícia ele tinha “passagem” na polícia por “tráfico de drogas”, depois convertido em usuário.

DG, 26 anos, dançarino, na gíria, “dançou”. Na versão da PM, ele “caiu”. A primeira versão do IML “confirmavam ferimentos compatíveis” com esta versão. Caiu? Segundo a polícia ele tinha “passagem” na polícia por “tráfico de drogas”, depois convertido em usuário.

DG, Douglas Rafael da Silva Pereira, 26 anos. Morava no morro do Pavão-Pavãozinho e deu um pouquinho de sorte na vida e começou a trabalhar na Globo (programa Esquenta) e passou a morar com a mãe em Ipanema, na rua Barão da Torre.

DG, 26 anos, funkeiro e dançarino, fez um vídeo onde era morto pela polícia. Morreu agora na vida real e muito provavelmente pelas mãos da PM.

DG, 26 anos, morreu num morro perto da Zona Sul. Sua mãe, Maria de Fátima da Silva, auxiliar de enfermagem, explicou o que aconteceu em entrevista para O Globo. E o laudo do IML em suas mãos dá como causa da morte: “hemorragia interna provocada por objeto transfixante”. Palavra estranha, “transfixante”. No site da Unifesp, ferimentos transfixantes são definidos como aqueles que atravessam segmentos do corpo. Em outras palavras, uma …bala!

DG, 26 anos, segundo a polícia ele “caiu”. O laudo mostra um ferimento que provavelmente foi de bala. Na creche aonde o corpo foi encontrado, marcas de sangue. Segundo a sua mãe, ele estava molhado, seus documentos estavam molhados, 800 reais que estavam com ele sumiram. Como um dia sumiu sua moto depois que foi acusado de tráfico. “A moto ainda está rodando em Nova Iguaçu porque várias multas chegaram aqui em casa”, declarou a mãe do ator.

Mario Magalhães, colunista da Folha de São Paulo, explica detalhadamente em seu blog porque não confia na versão da PM (http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/04/23/alguem-ainda-consegue-acreditar-nas-versoes-da-policia-militar-do-rj/). E lembra de outras mortes – Amarildo, os 10 mortos na Maré no ano passado (atualmente a favela da Maré está ocupada pelo exército), o homem que morreu na manifestação de ontem e um menino que os moradores acusam de ter sido morto durante a manifestação e que sumiu.

Sim, o aparato repressivo continua em alta e a falsa “guerra aos traficantes” e “retomada dos espaços públicos” está mostrando a sua verdadeira face: um desrespeito absurdo aos moradores dos bairros pobres, que perdem suas propriedades, tem suas casas violadas a qualquer hora e, como declarou a mãe de DG: “Essa gente tem o hábito de pegar as pessoas no meio da madrugada para matar.”

A Esquerda Marxista combate pela dissolução da PM. Estes crimes, com este modelo de funcionamento da polícia que foi implantado pela ditadura militar, vão continuar. A PM, como explicou Magalhães em seu blog, já entra encarando o morador como seu inimigo. A solução da segurança para os moradores dos bairros pobres passará certamente pela sua organização, tomando caminhos semelhantes aos que tomaram os moradores das cidades do México que expulsaram policiais e traficantes.