Ciência e Mito

Argumentação de Luiz Bicalho em resposta a Rafael Sola a respeito da validade da teoria do Big Bang

Normalmente as discussões científicas não ocupam as primeiras páginas de jornais e revistas. A revista Veja, ao produzir a matéria sobre o Big Bang, foi uma exceção. Veja não fez isso à toa, mas para tentar dar um cunho “científico” à religião. Arthur C. Clark declarou um dia que a ciência para quem não a compreende é igual à feitiçaria. A burguesia, atualmente, procura inverter esta equação e mostrar que a feitiçaria, a ignorância e a religião são… ciência.
“Em busca das origens do universo, cientistas e religiosos chegam a algumas conclusões parecidas” (Revista Veja, 25-06-08, pág. 122)
Eu escrevi um texto curto, procurando mostrar que a teoria do Big Bang tinha muitas contradições para que fosse assumida como a única verdadeira. O Sr. Rafael Sola escreveu um texto (disponível em http://stoa.usp.br/calsaverini/weblog/25908.html) onde ele se propõe a comentar:
“os tremendos erros conceituais e absurdos cometidos pelo autor ao escrever sobre um assunto do qual ele aparentemente ignora o be-a-bá.”.
Confesso solenemente que havia muito tempo não me envolvia com estes assuntos. Eu cursei o bacharelado de física faz muito tempo (terminei em 1977) e desde então não trabalhei mais com física, ao contrario do Sr. Sola, que assim se apresenta:
“Em primeiro lugar, deixe-me apresentar, ao contrário do que faz o autor do texto, as mínimas credenciais para falar sobre o assunto. Sou bacharel e mestre em Física pela Universidade de São Paulo e faço doutorado nessa mesma área, nessa mesma universidade. Não sou pesquisador da área de Cosmologia, mas tenho o mínimo conhecimento dessa área exigido pela minha formação acadêmica.”
Mas serão estas credenciais o único critério para saber se estamos cometendo erros conceituais e absurdos como nos acusa o Sr. Sola? Quero explicar porque depois de tantos anos me ocupei deste assunto e apresentar algumas argumentações a mais que talvez não convençam o Sr. Sola, mas que serão úteis para a melhor compreensão de todos.
A minha atenção para este assunto surgiu quando vi em um jornal uma estatística aproximada da constituição do universo: 73% de energia escura, 23% de matéria escura e apenas 4% de matéria e energia “visíveis”. Confesso solenemente que isso incomodou minha formação original. Como uma teoria prevê que mais de 90% do universo não são conhecíveis?
Assim, a minha crítica partiu de muito pouco que li, na internet e em algumas revistas de divulgação científica. Pouco, devo reconhecer, muito pouco. Mas o que li depois, inclusive a partir das indicações do Sr. Sola, ao qual agradeço muito por esta ajuda, mostram que minhas dúvidas não são solitárias.
É preciso dizer que a ciência não é tão óbvia quanto alguns querem crer. Quando Newton estabelece sua lei da inércia, segundo a edição de 1726:
“Corpus omne perseverare in statu suo quiescendi vel movendi uniformiter in directum, nisi quatenus illud a viribus impressis cogitur statum suum mutare.”

Em português:

“Todo o corpo permanece no seu estado de repouso, ou de movimento uniforme em linha reta, a não ser que seja compelido a mudar esse estado devido à acção de forças impressas nele.”

Isto não é tão óbvio. Parece-nos evidente que se não há força, não há movimento. Mas o movimento continua se não há força? Onde se pode ver isso?

Para se ver isso é necessário estudar e observar a natureza, é necessário entender que existe uma força de atrito, uma resistência do ar. E que tais forças são observáveis, são comprováveis por outros meios. O atrito gera calor. A resistência do ar gera turbulências. Perfeitamente observáveis! Então, esta formação de físico clássico, obtida no segundo grau, entra em contradição com entidades (matéria e energia escura) que só podem ser comprovadas pelo mesmo meio que garante que elas existam: a gravidade. Isto me parece tautologia: provar que dois mais dois é igual a quatro porque quatro é igual a dois mais dois.
Mas o Sr. Sola estuda isso presentemente. Então ele deveria ter razão contra os meus fracos argumentos. Eu deveria estar errado e fiz a minha lição de casa: fui ler os sites que ele me recomendou. E procurei também algumas autoridades, já que a minha é pequena, que escreveram, pesquisaram e pesquisam sobre o assunto. Apresento aqui uma pequena digressão sobre esta minha rápida inquirição. Deixo no final a lista de alguns sites, os quatros sugeridos pelo Sr. Sola e alguns que encontrei nesta minha busca que, tenho certeza, ajudará a formar “Pessoas críticas, capazes de julgar por si próprias ao olharem de forma independente para as evidências, como uma boa educação em ciência ensina a fazer.” (final da carta do Sr. Sola).

Matéria e Energia escura, inflação

O Sr. Sola explicou que eu estava errado na data da criação da teoria do Big Bang e, em conseqüência, que cometia um erro ao colocar a origem metafísica antes da fisica:

“Não foi senão em 1931 que Lemaitre sugeriu que a solução das equações de Einstein que correspondem a um universo em expansão, conhecida hoje na literatura como métrica de Robertson-Friedmann-Walker, levavam a crer que o universo pudesse ter tido uma origem em um ponto num passado finito, quando aquela métrica descreve um universo infitamente compacto.”
No primeiro site sugerido pelo Sr. Sola ( http://www.talkorigins.org/faqs/astronomy/bigbang.html ), encontramos:
“Another source of confusion is the oft repeated expression “primeval atom”. This was used by Lemaitre (one of the theory’s early developers) in 1927 to explain the concept to a lay audience, albeit one that would not be familiar with the idea of nuclear bombs for a few decades to come.”
Em português:
“Uma outra fonte de confusão é a repetição da expressão Atomo primordial. Ela foi usada por Lemaitre – um dos primeiros desenvolvedores da teoria – em 1927 para explicar o conceito para um publico leigo, para pessoas que não eram familiarizadas com a idéia de bombas nucleares por algumas décadas à vir.”
Ou seja, em 1927, antes da solução das equações, Lemaitre propunha a expressão “primeval atom” . Assim, a “solução” das equações, pela cronologia do site, foi posterior a sugestão! Alias, em física, muitas vezes, encontramos primeiro uma sugestão física e depois uma equação que possa atender a esta sugestão. São poucas vezes, como durante o desenvolvimento da teoria relativística, que as equações (Poincaré) precediam a teoria (Einstein). Os princípios de Galileu foram postulados muito antes das equações (leis) de Newton. Errado? Não! Os caminhos da ciência não são exatamente lineares, já que tratamos de encontrar regularidades no universo e, muitas vezes, estas regularidades são pressentidas antes de serem demonstradas.

Depois, o Sr. Sola explica:
“A teoria do big bang não se estabeleceu completamente até a década de 60 quando suas predições para a existência de uma radiação de fundo em microondas de distribuição uniforme em todas as direções foram empiricamente confirmadas.”

Mas, existiam outras teorias que previam esta radiação de fundo. Como não sou uma “autoridade” no assunto, recomendo o trabalho de Assis (Unicamp) e Neves (Universidade de Maringá), (disponível em http://public.lanl.gov/alp/plasma/downloads/Assis.Neves.pdf) onde eles explicam que as previsões de Gamow para o valor da radiação de fundo eram muito mais discrepantes que outras teorias então existentes. Assim, a teoria do big Bang adaptou os seus cálculos aos resultados experimentais existentes. Para que eles funcionassem, foi necessária a postulação da “matéria escura”, ou seja, de uma matéria que não interagia com a matéria e a energia tal qual a conhecemos, mas teria apenas “efeitos gravitacionais”. Quando esta matéria era de apenas 5% do universo conhecido (versões de 1960 da teoria) isto é aceitável como correção de uma teoria. Mas hoje postula-se que a matéria escura é cerca de 5 vezes mais que a matéria conhecível (já que a matéria escura não pode, por teoria, interagir com o restante da matéria e energia a não ser via gravitação). É possível? Sim, é possível, o universo é bem mais estranho do que supõe inicialmente a nossa imaginação. Mas, não seria possível outras explicações? Não seria necessário dedicar tempo e dinheiro (que hoje a pesquisa científica depende de dinheiro, todos sabemos disso) a outras teorias? Ou devemos sempre tentar “consertar” o modelo atual para que ele se enquadre nos novos fatos?

O Sr. Sola explica que matéria escura e energia escura não dependem da teoria do big Bang. O que diz o site http://www.talkorigins.org/faqs/astronomy/bigbang.html que ele indicou (para ajudar os que não estão familiarizados com a linguagem, matéria bariônica é a matéria tal qual nós conhecemos – formada por átomos – e a energia tal qual a conhecemos, luz, calor, etc):
“Like every physical theory, BBT needs parameters. Drawing from what we have established so far, we have:
The curvature of space. As we discussed above, this is either positive (closed), negative (open) or zero (flat).
The scale factor. One of the first things one notices when studying cosmology is that measuring the absolute value of any particular quantity can be extremely challenging. Rather, most of the quantities that cosmologists try to measure are actually ratios. The scale factor is the ratio between the current “size” of the universe and the size of the universe at some point in the past or future (“size” being defined as is appropriate for a given curvature). Obviously, this parameter is one today and less than one at any time in the past for an expanding universe.
The Hubble Parameter. This is often confused with the “Hubble Constant”. Partly, this is a relic from Hubble’s original work showing the expansion of the universe, where it was just a fitting parameter to translate velocity into distance. In modern usage, that term only refers to the current value; in actuality this quantity varies over time. Formally, the Hubble parameter measures the rate of change of the scale factor at a given time (the derivative of the scale factor normalized by the current value). A simpler way to think about it is that the Hubble Parameter tells one how fast the universe is expanding at any particular moment.
Deceleration Parameter. In a matter-only universe, the expansion of the universe would be slowed down by the self-gravitation of the matter, possibly even enough to cause the universe to collapse. This means that the expansion rate (the Hubble Parameter) would change and the deceleration parameter quantified that rate of change (the second derivative of the scale factor, for those keeping track). The first clue that Dark Energy was important to cosmology came from the discovery that the deceleration parameter was not negative (as expected), but actually positive. Hence, instead of slowing down, the expansion was actually accelerating. Ironically, this has led cosmologists to mostly ignore this parameter in favor of the next set of parameters.
Component densities. Very simple here; just how much radiation, matter (baryonic and dark) and dark energy is there in the universe? These densities are usually expressed in ratios between the density in a given component and the density it would take to make the curvature of the universe flat. If one knows the values of these densities and the Hubble parameter at a particular time, then one can determine the value of the deceleration parameter; hence, the disappearance of that parameter from much of the cosmological literature in the last several years.
Dark Energy Equation of State. As mentioned above, for radiation and matter the equations of state are determined by known physics. For dark energy, however, the data is still not up to the challenge of picking a preferred model. As such, most papers in the literature treat the dark energy equation of state as a free parameter (possibly varying with time, depending on the model) or explicitly choose a value as a prior constraint (see below).
This seems like a long list of parameters — so many that one might argue that any theory with this many knobs might be tuned to fit any set of observations. However, as mentioned above, they are not really independent. Choosing a value for the Hubble parameter immediately affects the expected values for the densities and the deceleration parameter. Likewise, a different mix of component densities will change the way that the Hubble parameter varies over time. In addition, there is a wide variety of cosmological observations to be made — observations with wildly different methodologies, sensitivities and systematic biases. A consensus model has to match all of the available data and, over the last decade in cosmology, combining these experiments has resulted in what has been called the “concordance model”.
This basic picture is built on the framework of the so-called “Lambda CDM” model. The Lambda indicates the inclusion of dark energy in the model (specifically the cosmological constant, which implies an equation of state where the pressure is equal to -1 times the energy density). “CDM” is short for “cold dark matter”. Thus, the name of the model incorporates what are believed to be the two most important components of the universe: dark energy and dark matter. The respective abundances of these two components and the third important component, baryonic (or “ordinary”) matter, is shown in the pie chart below (provided by the NASA/WMAP Science Team):
Dark Energy – 73%, Cold Dark Matter – 23%, Atoms – 4%”
Em Português:
“Como toda teoria física, a teoria do Big Bang necessita de parâmetros. Partindo do que nós já estabelecemos até o momento, nós temos:
A curvatura do espaço. Como discutida acima, ela pode ser positiva (universo fechado), negativa (aberto) ou zero (euclidiano)
O fator escalar. Uma das primeiras coisas que notamos quando estudamos cosmologia é que medir o valor absoluto de uma quantidade qualquer pode ser muito difícil. Porem, muitas das quantidades que os cosmólogos tentam medir são razões. O fator escalar é a razão entre o atual tamanho do universo e o tamanho do universo em algum ponto do passado ou do futuro (“tamanho” sendo definido como apropriado para uma dada curvatura). Obviamente, este parâmetro é 1 (um) hoje e menor que 1 (um) em qualquer tempo do passado num universo em expansão.
O Parâmetro Hubble. Normalmente é confundido com a Constante de Hubble. Parcialmente, é uma relíquia do trabalho original de Hubble que mostra a expansão do universo, o qual é apenas um parâmetro de ajuste para traduzir a velocidade para distancia. Hoje, este termo somente refere-se ao valor atual; atualmente esta quantidade varia com o passar do tempo. Formalmente, o Parâmetro Hubble mede a taxa de mudança do fator escalar em um dado momento (a derivada do fator escalar normalizada pelo valor atual). Uma forma simples de analisar é que o Parâmetro Hubble mostra-nos quão rápido o universo está expandindo num dado instante.
Parâmetro de Desaceleração. Num universo somente de matéria, a expansão do universo deveria ser freada pela própria gravitação da matéria, o que provavelmente levaria o universo ao colapso. Isto significa que a taxa de expansão (o Parâmetro Hubble) pode mudar e o Parâmetro de desaceleração quantifica a taxa de mudança (a segunda derivada do fator escalar, em termos rápidos). A primeira evidencia que a Energia Escura era importante para a cosmologia vem da descoberta que o parâmetro de desaceleração não era negativo (como esperado), mas sim positivo. Então, ao invés de desacelerar, a expansão estava acelerando. Ironicamente, uma boa parte dos cosmólogos ignora este parâmetro em favor do próximo conjunto de parâmetros.
Densidade de Componentes. É muito simples; Quanta radiação, matéria (bariônica e escura) e energia escura existem no universo? Estas densidades são normalmente expressas em razões entre a densidade de um dado componente e a densidade que necessária para planificar a curvatura do universo (em outras palavras, tornar a curvatura zero- nota do tradutor). Se conhecermos os valores destas densidades e o valor do Parâmetro de Hubble num dado momento, então nós podemos determinar o valor do parâmetro de desaceleração. Porem é raro a apresentação deste parâmetro na literatura cosmológica dos últimos anos.
Equação do Estado da Energia Escura. Como mencionado acima, para a radiação e matéria a equação do estado é determinada pela física conhecida. Para a energia escura, entretanto, os dados que dispomos não possibilitaram a escolha de um modelo preferencial. Como visto, muitas publicações na literatura tratam a equação de estado da energia escura como um parâmetro livre (possivelmente variando com o tempo, dependendo do modelo) ou explicitamente escolhendo um valor, a priori, constante (veja abaixo).
Esta é uma longa lista de parâmetros – São tantos que se pode argumentar que uma teoria com tantos ajustes pode ser ajustada para qualquer conjunto de observações. Porem, como mencionado acima, eles não são realmente independentes. Escolher um valor para o Parâmetro de Hubble imediatamente afeta os valores esperados para a densidade e o parâmetro de desaceleração. Da mesma forma, um conjunto diferente de densidade dos componentes deverá mudar a taxa em que o Parâmetro de Hubble varia com o tempo. Além disso, existe uma grande variedade de observações cosmológicas a serem feitas – Observações com metodologias, sensibilidades e fatores sistemáticos amplamente diferentes. Um modelo consensual tem que se enquadrar em todos os dados disponíveis, e nas ultimas décadas, esses experimentos resultaram no que tem sido chamado de modelo de concordância.
Este quadro básico é baseado nas diretrizes do assim chamado modelo Lambda CDM. O Lambda indica a inclusão da energia escura no modelo (em específico, a constante cosmológica, que implica em uma equação de estado onde a pressão é igual a -1 vez a densidade da energia). CDM quer dizer “cold dark matter”, ou seja, matéria escura fria. Assim, o nome do modelo incorpora o que se acredita ser os dois componentes mais importantes do universo: energia e matéria escuras. A respectiva abundância desses dois componentes e o terceiro componente importante (matéria comum, ou bariônica) é dado a seguir:

Energia Escura: 73%
Matéria escura fria: 23%
Átomos: 4%

Como podemos ver tudo isto é parte da teoria e caso nosso ponto de partida fosse outro, outras seriam as conseqüências (inclusive a própria composição do universo). E entre os parâmetros, a densidade, ou seja, a relação entre os átomos e a matéria escura, é parâmetro, assim como a equação da energia escura. Dito de outra forma, sem eles, não existe a teoria, são dados para que se construa a teoria, não são resultados experimentais. Para compreender um pouco mais esta relação entre dados e teoria, recomendo fortemente ler as obras de Bunge, que o Sr. Sola como bom físico deve conhecer (Física e Filosofia, disponível em diversas livrarias). Então, como não tirar as conclusões que tiro?

Se o modelo fosse o de criação contínua de matéria, é evidente que seriam necessários ajustes, mas provavelmente não seriam o de Dark Energy ou Cold Dark Matter (Matéria e Energia escura). Se estivéssemos trabalhando com o modelo de plasma desenvolvido por Alfven, também teríamos outros parâmetros.

Podemos olhar diretamente o problema da matéria escura. Chris Miller, no site recomendado pelo Sr. Sola explica:
“This discrepancy in the observed and computed masses is now known as “the missing mass problem.” Nobody did much with Zwicky’s finding until the 1970’s, when scientists began to realize that only large amounts of hidden mass could explain many of their observations (2). Scientists also realize that the existence of some unseen mass would also support theories regarding the structure of the universe (3). Today, scientists are searching for the mysterious dark matter not only to explain the gravitational motions of galaxies, but also to validate current theories about the origin and the fate of the universe.

Clumping. One of the problems with the Big Bang theory is its failure to explain how stars and galaxies could form in a young universe that was evenly distributed in all directions. What started the clumping? In a smooth universe, every particle would have the same gravitational effect on every other particle; the universe would remain the same (6). But something supplied the initial gravity to allow galaxies to form. Physicists suggest dark matter WIMPs as the solution. Since WIMPs only affect baryon matter gravitationally, physicists say this dark matter could be the “seed” of galactic formation (6). “We don’t have a completely successful model of galaxy formation,” explains Walter Stockwell, “but the most successful models to date seem to need plenty of non-baryonic dark matter” (10).”
Português
“Esta discrepância nas massas observadas e computadas é conhecida como ‘O problema da massa desaparecida.’ Ninguém realmente trabalhou com os achados de Zwicky até meados de 1970, que foi quando os cientistas começaram a perceber que a explicação para suas observações só poderia ser a existência de grandes quantidades de massa escondida (2). Os cientistas também perceberam que a existência de uma massa que não pudera ser vista apoiaria teorias a respeito da estrutura do universo (3). Hoje, cientistas buscam a misteriosa matéria escura não apenas para explicar o movimento gravitacional das galáxias, mas também para validar as atuais teorias sobre a origem e o destino do universo…
Um dos problemas com a teoria do Big Bang é sua falha explicar como as estrelas e as galáxias poderiam se formar em um universo novo que seja distribuído de forma uniforme em todos os sentidos. O que deu início à aglomeração? Em um universo regular e uniforme, cada partícula teria o mesmo efeito gravitacional em cada outra partícula; o universo permaneceria estático (6). Mas algo forneceu a gravidade inicial para permitir que as galáxias se formassem. Os físicos sugerem a matéria escura WIMPs como a solução. Como as WIMPs afetam somente gravitacionalmente a matéria barionica (ndt – matéria e energia comuns, átomos), os físicos dizem que esta matéria escura poderia ser a “semente” da formação das galáxias (6). “Nós não temos um modelo completamente bem sucedido da formação da galáxia,” explica Walter Stockwell, “mas os modelos mais bem sucedidos à data parecem ter a necessidade de bastante matéria escura não barionica” (10).

Como vemos, Miller explica que a matéria escura é necessária para validar as teorias sobre a estrutura do universo (teorias que estão ligadas à teoria do Big Bang), assim como validar as teorias correntes sobre a origem do universo… Então, não estou só ao dizer isso, mas inclusive o site fornecido pelo Sr. Sola confirma a minha “inconsistência”.

Uma falha que admito plenamente: eu não tinha me dado conta que a “inflação”, ou seja, a explicação sobre a expansão acelerada do universo como prevê a teoria do big bang não encontra uma explicação nas forças físicas hoje conhecidas, necessitando então de uma força desconhecida a mais, além da questão da matéria e da energia escura. Isso me incomoda? Francamente falando, isso incomoda toda uma gama de físicos que escrevem, debatem, publicam e tem propostas de soluções alternativas para os dados observados pelos adeptos da teoria do big bang. O Sr. Sola deve, certamente, conhecê-los.

O Sr. Sola certamente já leu a obra de Khun (estrutura das revoluções científicas, disponível em qualquer boa livraria). E sabe que quando uma teoria começa a ter muitas “correções” é provável (não é certo) que seja necessária uma nova teoria para explicar as ”correções”. Não estaríamos vivendo hoje uma situação assim?
É evidente que o novo ciclotron (veja artigo meu “A máquina do fim do mundo” publicado no Jornal Luta de Classes) poderá fornecer dados e explicações sobre muita coisa do universo. Mas já aprendemos o suficiente para saber que a física em espaços pequenos não é exatamente igual à física “usual” (Newtoniana). Provavelmente acharíamos engraçado alguém tentar dirigir um carro resolvendo as equações da mecânica quântica ou aplicando as correções relativísticas, a verdade é que necessitamos destas equações para fazer o dia a dia da pesquisa física. Assim, os dados do ciclotron resolverão os problemas do Big-Bang? Acho que não. Resolverão e mostrarão muita coisa a respeito da teoria padrão das partículas elementares. Até que ponto isto pode ser extrapolado (para usar um termo antigo) para a “inflação” do universo (para não usar o termo ponto ou átomo inicial)?

O Sr. Sola escreve:
“Não apenas a teoria do big bang permite prever essa radiação, mas permite prever sua uniformidade, e não há outro mecanismo conhecido que possa explicar a existencia de uma radiação uniforme e isotrópica permeando o universo. Além disso é possível prever a formação de núcleos leves que seriam consequencia de um universo em expansão e essas predições são confirmadas experimentalmente.”

Novamente, remeto a um artigo de Assis e Neves onde, nos anexos, eles mostram algumas teorias alternativas ao Big-Bang: http://redshift.vif.com/JournalFiles/Pre2001/V02NO3PDF/V02N3ASS.PDF

O físico Eric J. Lerner compilou em uma página com todos os argumentos contra a teoria do Big Bang, chamada “O Big Bang nunca existiu”
http://www.bigbangneverhappened.org/

Sei, nada disso prova que a teoria do Big Bang está errada. Mas mostra que existem teorias alternativas. Inclusive teorias com outras explicações para o “desvio para o vermelho” e que não prevém a inflação acelerada do universo. O Sr. Sola mesmo explicou em sua carta o problema do financiamento:
“Não vou me furtar a admitir o poder que as agências financiadoras tem, para o bem ou para o mal, de guiar os temas de pesquisa.”

Acredito que o Sr. Sola, mais que eu, conheça os termos da An Open Letter to the Scientific Community – cosmologystatement.org. (tradução em português publicada no site da Esquerda Marxista). Lá, os seus autores, mais conceituados que eu, discutem exatamente isso. Mas quero discutir o que o Sr. Sola declara sobre os fundamentos da ciência:
“Não vou dizer que a ciência é independente de movimentos políticos. Isso é óbviamente besteira. Não vou dizer que a ciência não é históricamente determinada nem que seu progresso não está claramente condicinado a variáveis sociológicas.”

Mas se a ciência não é isto que você fala, o que é? Este é o ponto. E a ciência, para avançar, precisa de uma filosofia. Sem isso, não se faz ciência, se faz o jogo puro da “tentativa e erro” que não é o melhor método científico. Então, de qual filosofia estamos falando?

O papa Pio XI tinha suas razões quando em 1951 aplaudia a teoria do Big Bang. Ela permitia e permite dar uma visão científica ao mito da criação. Se o “átomo inicial” tinha tamanho “zero” ou de 320 mil km de raio é uma pequena divergência. O central é que nos dois casos havia um “átomo inicial” a partir do qual tudo se formou. E é por isso que as igrejas mais sensatas adoram o Big Bang. Por “certificar” com o selo de “ciência” o seu mito de criação.
Uma boa filosofia não implica em uma boa física. É fato. Mas uma boa física, para subsistir, necessita, cedo ou tarde, de uma boa filosofia. Ou ela se perderá em suas particularidades e inconsistências e não conseguirá progredir.

A física, como qualquer ciência, é um recorte da realidade, uma explicação de alguma de suas regularidades. Um grão de sal contém mais partículas e interações que o nosso cérebro é capaz de compreender. Mas nós compreendemos muito bem um grão de sal, porque ele é regular e podemos descrevê-lo e a todos os outros grãos de sal pelas suas regularidades. Isso é fazer ciência. Isolar as propriedades que nos interessam e descartar as outras.

E a própria ciência pode ser examinada sobre este ponto de vista. Ela própria torna-se objeto de estudo de uma outra ciência, a filosofia da ciência. Sob este aspecto, qual a filosofia que dá origem à teoria do Big-Bang? Sim, sabemos que nasceu com a concepção de Delamaitre. Em Newton, em Einstein, nada havia com esta preocupação. Suas idéias, suas concepções, foram outras. O Sr. Sola pode me dizer que eles nunca tiveram acesso e discutiram tal teoria. É certo. Mas Einstein explicou muitas vezes que em ciência é mais fácil resolver um problema que propor o problema certo.

A humanidade tem direito a um futuro cósmico. A viajar pelo espaço, a conquistá-lo. A, talvez, encontrar-se com outras civilizações que porventura existirem. Para isso é necessário investimento em pesquisa de ponta e isto é político. E quando deixarmos o sistema solar talvez nossas medidas e pesquisas permitam dados melhores para resolver o que hoje são controvérsias e conjecturas. Mas, agora falando de política, isto necessita de uma mudança política e não somente de boa vontade.

Depende da política para que todos tenham acesso à ciência, para que todos possam compreender a ciência e não encará-la como uma feitiçaria moderna que somente os iluminados podem compreender. Sei, não é esta a concepção do Sr. Sola. Eu mesmo, passado mais de 30 anos que fiz o bacharelado em física na UnB, passados 30 anos em que não trabalho na área, ressinto-me às vezes de olhar com mais cuidado todas novas descobertas.
Tive, durante este tempo, a oportunidade de ler um pouco de filosofia. E ter um pouco de experiência política. Assim, duvido que a Revista Veja perca o seu tempo em explicar que o céu é azul (embora sob a fumaça das fábricas de São Paulo tive pouca oportunidade de apreciar um céu azul). E qualquer um que ler com atenção a Revista Veja, verá que ela preocupa-se é justamente em ligar a teoria do Big-Bang com as crenças religiosas. Assim, não seria mais útil um artigo do Sr. Sola, que é especialista no assunto, explicando que as crenças religiosas são perniciosas à ciência? Explicando que o artigo da Veja está errado neste ponto?
Não nos damos o trabalho de refutar tudo o que a Veja publica. Ela e outros órgãos da burguesia tem intelectuais demais, jornalistas demais, para que possamos combater a todos. Apenas comentamos alguns casos específicos, como este artigo sobre o Big Bang. Por achar que ele propagandeia o misticismo. Se e quando a teoria do Big Bang separou-se disso, é preciso que seus autores e defensores o mostrem. Mostrem a filosofia que a sustenta. Isto, meu caro Sola, é filosofia, que não pode ser sustentada somente por credenciais, por melhores que elas o sejam. Afinal, o que queremos é uma humanidade livre e crítica, em relação a tudo, inclusive das pretensas autoridades.

Sites para consultas

Uma conferência de Alfven sobre mito e ciência:
http://articles.adsabs.harvard.edu/cgi-bin/nph-iarticle_query?1984JApA….5…79A&data_type=PDF_HIGH&type=PRINTER&filetype=.pdf

Alfven – exposição introdutória sobre a física de plasma na cosmologia:
http://ieeexplore.ieee.org/search/wrapper.jsp?arnumber=45495

Referências biográficas sobre Alfven:
http://en.wikipedia.org/wiki/Hannes_Alfv%C3%A9n

O site “O Big Bang nunca existiu”:
http://www.bigbangneverhappened.org/

Carta aberta à comunidade científica:
– site internacional – http://www.cosmologystatement.org/
– tradução para português – https://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=175

Site do professor da Unicamp Andre Assis:
http://www.ifi.unicamp.br/~assis/

Sites dos defensores do big bang:

Página pessoal de Rafael Sola:
http://stoa.usp.br/calsaverini/weblog/25908.html

Sites indicados por Rafael Sola:
http://www.talkorigins.org/faqs/astronomy/bigbang.html
http://www.eclipse.net/~cmmiller/DM/
http://www.lbl.gov/Science-Articles/Archive/sabl/2007/Nov/darkenergy1.html
http://www.astro.ucla.edu/~wright/cosmology_faq.html

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