Centenário de Pagu

A Esquerda Marxista presta sua homenagem a esta revolucionária brasileira que combateu o capitalismo.

Em 9 de junho de 1910 nascia Patrícia Rehder Galvão, em São João da Boa Vista (SP). Dezoito anos depois receberá do poeta Raul Bopp o apelido Pagu, porque este pensava que seu nome fosse Patrícia Goulart. Foi Bopp quem a apresentou a Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral neste mesmo ano, no qual Pagu formou-se na Escola Normal de São Paulo, diplomando-se professora.

Colabora pela primeira vez com a Revista Antropofágica, publicando um desenho no número dois da segunda edição. Três anos antes já havia colaborado com o Brás Jornal sob o pseudônimo de Patsy.

Casa-se com Oswald em 5 de janeiro de 1930, com quem teve um filho, Rudá, no dia 25 de janeiro de 1930. No ano seguinte ingressa no PCB e publica a seção “A mulher do Povo” no jornal “O Homem do Povo”, editado conjuntamente à Oswald. O jornal durou oito números, e foi proibido pela polícia após conflito com estudantes de Direito do Largo São Francisco, que invadiram o escritório com intuito de empastelar o jornal. Nesse ano participou em de Santos de comício emhomenagem a Sacco e Vanzetti, dois sindicalistas anarquistas condenados à morte por eletrocução nos E.U.A. e executados em 23/08/1927, sob acusação de terem assassinado contador e segurança de uma fábrica de sapatos.

O cineasta italiano Giuliano Montaldo realizou um filme no ano de 1971 sobre esta história. Neste comício um estivador morreria em seus braços, baleado pela polícia getulista e Pagu é presa. A “musa da revolução”, como a chamou Carlos Drummond de Andrade, é considerada a primeira mulher presa por motivos políticos no Brasil, fato que se repetiria ainda mais vinte e duas vezes ao longo de sua vida.

Em 1934 viaja a Paris, onde conhece representantes da vanguarda artística francesa, como André Breton (que redigiria o Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente com Trotsky, quatro anos depois), os escritores Louis Aragon e René Crevel e o poeta Paul Éluard, todos ligados ao movimento surrealista, do qual Breton é autor do manifesto. Estes encontros deram-se na casa a cantora brasileira Elsie Huston, então casada com Benjamin Péret e irmã da esposa de Mario Pedrosa, crítico de arte, um dos primeiros trotskistas do Brasil e fundador do PT e filiado número um do partido. Lá Pagu foi presa e quase deportada para a Alemanha nazista, escapando pela intervenção do cônsul brasileiro na França, Souza Dantas.

Separa-se do escritor e poeta Oswald de Andrade ainda nesse ano. Em 1938 é presa novamente e condenada a dois anos de prisão pelo Tribunal Nacional de Segurança do Estado Novo. Em fevereiro de 1939, ainda presa, escreve a “Carta de ucom o PCB stalinista, fruto da cisão no partido ante a adesão à “frente popular” da Internacional Comunista, resolução do VIII congresso.

O PCB chegou a considerar a burguesia “força motriz da revolução brasileira” o que levou ao Comitê Regional de São Paulo do PCB organizar-se enquanto Dissidência Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária. A carta de Pagu circulou como boletim desse comitê, em várias cópias clandestinas mimeografadas, da qual transcrevemos um trecho:

“O abismo entre a palavra e a realidade é cada vez mais profundo, daí ser necessário rever cada ano não apenas as fórmulas mais sagradas, mas até os próprios princípios. Deste modo, a burocracia bonapartista não só apossa-se das conquistas da revolução mas falseia-a, despindo-a dos seus caracteres mais essenciais sob a alegação de que constituem “erros de esquerda”. À maior dissonância ela revela o seu caráter policial, perseguindo, “depurando” sob o rótulo de trotskismo. Do estado soviético, do estado operário, fez um estado totalitário. A própria efervescência das idéias e das relações sociais, que são o fenómeno natural que segue qualquer grande transformação social, tornou-se-lhe perigosa. Ela teme a discussão porque teme a crítica, e teme a crítica porque teme a massa. O ser verdadeiro medo é ver perdidos os seus privilégios, daí o não permitir nenhuma discussão, daí as prisões, daí as deportações, os fuzilamentos(…).”

Em 1940 casa-se com Geraldo Ferraz, com quem participaria do jornal A Vanguarda Socialista, de Mario Pedrosa, em 1945. Cinco anos depois seria candidata à deputada pelo PSB, partido de Pedrosa e dos trotskistas brasileiros.

Uma vida de coragem e luta, posicionando-se com clareza ante as tarefas históricas que se colocavam a ela, teria fim em 1962, com sua morte em Santos no dia 12 de dezembro.

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