Carta dos vereadores petistas em solidariedade ao MST e à Reforma Agrária

Caravana de vereadores petistas vai a Iaras, conclama o partido à defesa da Reforma Agrária e do MST e se une à convocação do ato do próximo dia 29/10 em Iaras (SP).

No dia 23 de Outubro de 2009, uma caravana de vereadores petistas esteve na cidade de Iaras em visita ao MST e para acumular melhores informações sobre as questões envolta das ocupações naquela região.

O recente episódio envolvendo um agrupamento do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – na cidade de Iaras e estampado nas imagens de TVs, jornais e todos os demais meios de comunicação reportam a mais profunda necessidade de revisão de conceitos e meios empregados na análise conjuntural, que nós militantes de esquerda nos vemos, de vez em quando, repetindo pela esquerda os mesmos conceitos e preconceitos que os impetrados pela direita, como no caso em tela, ou então, nos calamos ou tardamos em sair na defesa de parceiros históricos como é caso do MST. Esta mídia se apropria da mentira e dos descaminhos dos fatos para justificar e amplificar os efeitos da ação em Iaras.

Ao que pese, o reconhecimento público do MST sobre a ação neste momento político onde a direita brasileira vocifera contra a Reforma Agrária, os ataques sofridos pelo movimento dos trabalhadores rurais, a página mais cruel e triste não foi a unificação da direita em torno do fato, mas o silêncio de grande parcela das instituições de esquerda, sobretudo em São Paulo. Um silêncio que poderá vir a falar mais alto que a sádica voz daqueles que se colocam ao lado do latifúndio, dos exploradores e sangue-sugas da especulação fundiária, caso não tomemos a iniciativa de romper com a inércia e o silêncio.

Em São Paulo, berço dos acontecimentos, sobretudo o PT, tem condições de restabelecer a verdade e esclarecer a população sobre o que de fato está acontecendo em Iaras, onde terras públicas federais foram tomadas por empresas ligadas ao agronegócio, multinacionais que não estão pagando os impostos pela terra utilizada, já que esta é patrimônio da União, explora mão de obra barata, dos próprios sem-terra daquela localidade, e capta financiamento com dinheiro público para aplicar em seus negócios, tendo como base terras que não têm titularidade! O PT deve então tomar “partido” ao lado dos trabalhadores.

Temos uma estrutura partidária com largo acúmulo nas questões agrárias, com estudos, apontamentos e elementos capazes de mostrar à sociedade, a dura realidade da concentração fundiária no Estado mais rico da federação.

De mostrar à população, que a pequena propriedade rural é capaz de gerar mais emprego que os grandes conglomerados do agro-negócio, que a média da produção da agricultura familiar no Brasil ocupando apenas 24% da área agrícola, produz 38% da riqueza desse setor produtivo; emprega 75% da mão de obra no campo; responde por 87% da produção nacional de mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos, um contraponto frente às grandes propriedades que se traduz como a maior concentração da propriedade da terra do mundo.

Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.

É preciso dizer que algumas das empresas mais ricas estabelecidas nas cidades são também as maiores concentradoras de terra no meio rural.

É preciso ter a coragem de dizer que a terra hoje ocupada pela empresa Cutrale, maior exportadora de sucos do Brasil e do mundo, construiu seu império em Iaras sobre terra devoluta, ou seja, terra pertencente à União, terra grilada, terra que não pertence à iniciativa privada e sim ao Estado brasileiro, portanto passiva de ser objeto de projetos de Reforma Agrária.

Esta mesma terra vem tendo questionada sua legalidade e posse pelo Incra, que trata as questões fundiárias, maior autoridade no pais. Portanto, não são os trabalhadores que tomaram de assalto esta área. O Incra lista esta área como área devoluta e passiva de estar sob o domínio dos trabalhadores organizados.

Não são os trabalhadores que deverão pagar por uma compra mal feita ou por uma compra oportunista realizada pela empresa Cutrale. Esta compra indevida é o ápice da questão e não a desocupação realizada.

Nosso partido não silenciará diante de tanta necessidade de voz ao lado dos trabalhadores. Um partido que retardou sua chegada à presidência da república por mais de uma década em função da edição de um debate realizado pela TV Globo e apoiada por outros órgãos de imprensa com raras exceções, não se pautará e silenciará frente às manipulações desta mesma mídia, não voltará as costas aos trabalhadores que sangram diariamente por aquilo que fizeram e principalmente por aquilo que a direita através dos meios de comunicação quer fazer crer ao povo brasileiro que fizeram.

Refazer análises e intervir neste momento é uma forma de consolidar o PT como um partido de esquerda, responsável, mas de “lado” definido e lutar para que tenhamos hegemonia na sociedade fruto de nossas lutas e nossos acúmulos de políticas sociais é o desafio sobretudo neste momento de PED, que é o processo interno de renovações das direções partidárias. Conclamamos a todos pela solidariedade ao povo que luta pela reforma agrária, punição aos criminosos que usurpam terras públicas e elucidação dos fatos em Iaras com a punição daqueles que exploram o patrimônio que é do povo brasileiro.

Pela Comissão:
Carlos Nascimento – Vereador Araraquara – Macro Ribeirão Preto
Toninho Kalunga – Vereador Cotia – Macro Osasco
Roque Ferreira – Vereador Bauru – Macro Bauru
Rose Serpa – Vereadora Iaras – Macro Bauru
Roney – Vereador Limeira – Macro Campinas
Edmundo Alves – Coordenador Regional SUL 1 das CEBs e representante da Ampliada Nacional das CEBs.

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Dia 29/10, Quinta-Feira, Ato em defesa da Reforma Agrária e do MST, contra a grilagem de terras públicas e contra a criminalização dos movimentos sociais!

O Movimento dos trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) vem a público convidar diversos setores da sociedade para participarem de um ato em defesa da Reforma Agrária e do MST, contra a grilagem de terras públicas e contra a criminalização dos movimentos sociais.

As diferentes reações, manobras político-midiáticas, e a articulação da bancada ruralista para a criação da CPI com o objetivo de criminalizar o MST desencadeados a partir da ocupação da Fazenda Capim, explorada ilegalmente pela Empresa Cutrale, gerou uma série de questionamentos e dúvidas em relação à Reforma Agrária e ao MST. Embora tenhamos nos posicionado publicamente por meio de notas e declarações, decidimos construir na região de Iaras, uma atividade com amigos, apoiadores da nossa Luta, com o objetivo de denunciar a utilização de terras públicas por diversas empresas privadas, como a Cutrale (laranja), Luarte, Eucatex, Luacel (eucalipto e pinus) entre outras.

O MST está presente na região desde de 1995. Hoje 350 famílias estão assentadas, fruto da luta do MST, no entanto outras 450 famílias permanecem acampadas em luta exigindo do Incra e do Governo Federal retomar das empresas privadas as terras públicas para fins de Reforma Agrária.

Convidamos a todos/as a participarem deste ato, no dia 29 de outubro de 2009. A concentração será às 10:00 horas, na Escola Popular Rosa de Luxemburgo (sede da antiga Fazenda Agrocentro), de onde sairemos para o ato, que se realizará na área social do assentamento Zumbi dos Palmares, às 14:00 horas.

Orientação de como chegar:
Rodovia Castelo Branco, no Km 280, logo após o pedágio, à direita antes do Posto Taquarí, possui uma estrada de terra, seguir reto até encontrar o Assentamento Zumbi dos Palmares (cerca de 17 Km).
A partir daí, a orientação é seguir para a Escola Rosa de Luxemburgo, para a concentração, a estrada será identificada com placas da Escola (cerca de 15 a 20 Km).

Faremos também um almoço e na parte da tarde seguimos para a realização do Ato.

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