Representação do massacre dos comunardos de Paris em 1871. Fonte: Musée de L'Histoire Vivante

A facada em Bolsonaro, o mercado e o terrorismo individual

Logo depois do atentado contra Bolsonaro, a Ibovespa (mercado de ações) subiu 1,76% e o dólar baixou 0,95%. Ou seja, os investidores consideraram a facada positiva para seus negócios. Segundo os analistas, essa avaliação seria motivada tanto para o cenário de manutenção da candidatura de Bolsonaro, fortalecendo-a, quanto também para uma eventual retirada, o que beneficiaria a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato preferido do mercado.

Já os candidatos a presidente, de direita e de esquerda, repudiaram o atentado, com pequenas variações no conteúdo. Em termos gerais, todos disseram que a política deve se fazer com debate e não com violência.

A Esquerda Marxista é contra o atentado, não por “solidariedade a Bolsonaro”, como dito por alguns candidatos, nem por defesa da “normalidade democrática” e do “processo eleitoral”. Somos contrários porque essa ação atrapalha a luta contra Bolsonaro, a direita e o sistema capitalista. Este episódio só favorece os interesses da burguesia.

O acusado pelo atentado, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao PSOL de 2007 a 2014 e, nas redes sociais, ataca Jair Bolsonaro e defende a liberdade de Lula. Logo, é identificado como “esquerda” e a burguesia, seus candidatos e sua imprensa, vão utilizar isso à exaustão. Por isso o mercado comemora. Mas o ato vai ter mais consequências. Bolsonaro, que vê aumentar sua rejeição nas pesquisas eleitorais muito mais do que aumenta suas intenções de voto, estava sob fogo cerrado da candidatura de Alckmin. Três fatos dessa semana piorariam sua situação, dois produzidos por ele próprio: a declaração de que “Vamos fuzilar a petralhada toda aqui do Acre!” e, sobre o incêndio do Museu Nacional, sua resposta de que “já pegou fogo mesmo. Quer que eu faça o quê?”. O outro fato negativo foi produzido por seus “apoiadores”, dois PMs que foram presos no Rio de Janeiro por extorsão e formação de quadrilha, sendo eles irmãos de uma funcionária do gabinete de liderança do PSL, Flavio Bolsonaro (Deputado Estadual – RJ), filho do candidato a presidente.

Agora, Bolsonaro ganha o símbolo de “vítima”, enquanto a mídia vai buscar colar na “esquerda” o símbolo de “agressora” ou coisa pior. Uma profunda hipocrisia, não só porque Bolsonaro, esse demagogo de direita, é o defensor de torturadores, da ditadura, dos ataques à classe trabalhadora e aos oprimidos, do fuzilamento da “petralhada”, mas fundamentalmente porque a burguesia nunca hesitou em usar a violência, as guerras, a ditadura, a perseguição e os assassinatos contra a esquerda e os opositores, para defender o seu sistema. A Comuna de Paris, e o banho de sangue de revolucionários que a seguiu, é um bom exemplo do que a classe dominante é capaz para calar os que ousam questionar o seu poder.

Cabe recordar também alguns episódios nacionais, que revelam a verdadeira história política deste país e o uso da força repressiva contra os trabalhadores: o bombardeio de fábricas e bairros operários em 1924; a violência contra os operários na ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945); violência contra os camponeses que se mobilizaram por Reforma Agrária depois dos anos 1950, violência que chega até hoje com a morte sistemática de militantes do MST, da Pastoral da Terra e de outros movimentos que buscam a reforma agrária; mortes de operários e jovens e a tortura indiscriminada contra os opositores, durante a Ditadura Militar (1964-1988); os fuzilados da CSN em 1988; a violência cotidiana e cada vez maior, em nome do combate à “criminalidade e ao tráfico de drogas”, contra trabalhadores que moram nos bairros operários, os jovens, os negros; e para citar um caso recente, a execução de Marielle Franco (PSOL), até hoje sem punição dos culpados.

No entanto, a resposta à burguesia não pode se dar de maneira ingênua, com pacifismo, nem com atitudes aventureiras e individuais.

A Esquerda Marxista aprendeu na dura escola do Partido Bolchevique, de Lenin e de Trotsky: o terrorismo individual só serve para aumentar a repressão e destruir o movimento operário organizado. Trotsky, em 1911, explicava:

“Nos opomos aos atentados terroristas porque a vingança individual não nos satisfaz. A conta que nos deve pagar o sistema capitalista é demasiado elevada para ser apresentada a um funcionário chamado ministro. Aprender a considerar os crimes contra a humanidade, todas as humilhações a que se veem submetidos o corpo e o espírito humanos como excrescências e expressões do sistema social imperante, para empenhar todas nossas energias em uma luta coletiva contra este sistema: essa é a causa na qual o ardente desejo de vingança pode encontrar sua maior satisfação moral”

A consequência desse atentado, além de dar mídia para Bolsonaro, será de deixar seus apoiadores mais a vontade para intimidar os militantes de esquerda e os candidatos de outros partidos, particularmente do PT, do PSOL, do PCdoB e do PSTU.

A vingança de nossa classe à exploração e sofrimento cotidiano se dará com a derrubada desse sistema odiado que agoniza. Nós denunciamos o atentado como um método antioperário. A luta contra Bolsonaro, a direita, a burguesia e o seu sistema só pode ser vitoriosa com a luta de classes, a organização da classe operária e a luta de massas.