A desigualdade que ronda o mundo

Apesar da incessante propaganda da mídia corporativa internacional, o fosso entre os que têm e os que não têm, aumenta continuamente em escala global. A despeito do que eles gostariam que acreditássemos, o que temos diante de nós é a transferência de riqueza dos países mais pobres aos mais ricos em escala nunca vista antes na história.

Apesar da incessante propaganda da mídia corporativa internacional, o fosso entre os que têm e os que não têm, aumenta continuamente em escala global. A despeito do que eles gostariam que acreditássemos, o que temos diante de nós é a transferência de riqueza dos países mais pobres aos mais ricos em escala nunca vista antes na história.

As Nações Unidas e seus numerosos organismos, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) se agitam por todos os lados, como baratas tontas, para mostrar, iniciativa após iniciativa, que estão fazendo o melhor que podem para reduzir a maldição da pobreza. De forma similar, as ONGs e muitas outras instituições da mesma natureza tornaram-se uma indústria para a eliminação da pobreza, mas fracassaram completamente em alcançar esta meta. Tornaram-se um negócio e adquiriram um interesse direto na continuação e prolongamento da pobreza. Portanto não surpreende que, todas as vezes em que o povo trabalhador se revolta contra a pobreza, essas organizações e instituições derramem lágrimas de crocodilo e, no processo, façam o possível para sabotar e desacreditar os movimentos de revolta através do uso da mídia corporativa nacional e internacional.

Marx escreveu em O Capital (Livro 1) que, “Um capitalista sempre elimina muitos outros… Junto ao número constantemente decrescente de magnatas do capital, que usurpam e monopolizam todas as vantagens deste processo de transformação, cresce a massa de miséria, opressão, escravidão, degradação, exploração; mas, com isso, também cresce a revolta da classe trabalhadora, uma classe sempre crescente em números, e disciplinada”.

Não importa os esforços ingentes dos economistas burgueses para ocultar este estado de coisas, as previsões de Marx nunca foram tão verdadeiras quanto o são hoje. A concentração da riqueza em níveis nacional, regional ou continental é assimétrica e desigual. De uma riqueza total global de 200 trilhões de dólares, a participação da África, Índia, América Latina e China é de 1%, 2%, 4% e 8%, respectivamente. Esta riqueza combinada de 15% é compartilhada por 4,2 bilhões de pessoas (60%) de uma população mundial total de sete bilhões. Por outro lado, a participação da Europa e da América do Norte chega à assombrosa cifra de 63%, enquanto a população total dessas duas regiões é de apenas 1 bilhão de pessoas (18,6%).

Esta disparidade, contudo, é somente uma parte do quadro. Em todos os países e regiões a distribuição da riqueza é extremamente desigual. Nem todas as pessoas em um país rico são ricas e, de forma similar, nem todas as pessoas em um país pobre são automaticamente pobres. Entrementes, a concentração da riqueza em cada vez menos mãos é um fenômeno comum em ambos os cenários.

Globalmente falando, os EUA são um dos países mais desiguais em termos de distribuição da riqueza, onde os 1% mais ricos da população controlam 57 trilhões de dólares ou 35% da riqueza. Enquanto que os 10% mais ricos realmente controlam 80% da riqueza, os 80% que estão na base da pirâmide social somente têm acesso a 7% dela. Da mesma forma, a Índia é um dos países mais pobres do mundo, mas dos 100 homens mais ricos do mundo, três deles (Ambani, Mithal e Azam PremJi) são da Índia, embora toda sua riqueza esteja guardada em bancos e instituições financeiras offshore do mundo ocidental.

A análise da disparidade econômica em escala global mostra que os 1% mais ricos do mundo são donos de 43% de sua riqueza e que os 10% mais ricos da população controlam 83% da riqueza global. Além disto, 50% dos mais pobres têm acesso a somente 2% da riqueza e 80% dos mais pobres têm somente 6% da riqueza global. As 300 pessoas mais ricas do mundo têm mais riqueza do que os três bilhões mais pobres. Olhando isto de outro ângulo, as 200 pessoas mais ricas do mundo têm mais de 2,7 trilhões em valor de ativos, enquanto as 3,5 bilhões de pessoas mais pobres têm acesso a somente 2,2 trilhões. Durante os últimos 20 anos a renda do 1% do topo da população aumentou em 60% e, a partir da crise de 2008, essa desigualdade aumentou muitas vezes mais. Não importa de que lado se examine esta imponente desigualdade e disparidade, o resultado final é dolorosamente assustador.

O desenvolvimento econômico e financeiro mais importante do presente período tem sido a remoção de todas as barreiras e tarifas nacionais para permitir um contínuo, imparável, agressivo e totalmente livre fluxo de financiamento. Este fluxo irrestrito de financiamento desempenhou um papel crítico na atual crise financeira e na crise do capitalismo, e tornaram os Estados – Nações totalmente impotentes nas mãos do capital financeiro.

Esta situação foi corretamente caracterizada por Marx e Engels em seu Manifesto Comunista em 1848. Eles previram que a evolução do capitalismo e sua globalização tornariam os Estados- Nações impotentes. Uma das razões para as crescentes dívidas dos estados é que para as multinacionais e as pessoas mais ricas resulta muito fácil evadir o pagamento de impostos. Isto força os estados a tomar mais emprestado e, no processo, as dívidas nacionais terminam crescendo a níveis alarmantes. Nenhuma quantidade de regulações e leis e tentativas de impor taxas sobre lucros obscenos e fortunas podem evitar que estes abutres corporativos deixem de transferir essa riqueza ilícita aos paraísos fiscais. Isto, por sua vez, leva ao aumento dos déficits em conta corrente e comerciais, à desvalorização de moedas e a uma piora da crise econômica.

Nenhum país do mundo está a salvo do saque e pilhagem das corporações multinacionais. As multinacionais estão na linha de frente da transferência de bilhões de dólares para paraísos fiscais numa base anual. Para ilustrar este ponto, General Motors, Pfizer, Microsoft, Apple e Merck transferiram 108 bilhões, 73 bilhões, 60 bilhões, 54 bilhões e 53 bilhões, respectivamente. Então, somente 60 grandes corporações transferiram 1,3 trilhões de dólares para estes paraísos fiscais anualmente evadindo-se das leis fiscais. De acordo com uma estimativa, as pessoas mais ricas do mundo têm depositados 32 trilhões em tais paraísos fiscais. Esta quantidade é oito vezes maior que a dívida total dos países do terceiro mundo, que está em torno de quatro trilhões.

No mundo em desenvolvimento a economia paralela é uma importante porta de entrada para estas transações monetárias. Segundo o órgão nacional de luta contra a delinquência da Índia, CBI, as pessoas mais ricas da Índia depositaram 500 bilhões de dólares de dinheiro roubado em bancos suíços em 2012. O governador do Banco do Estado do Paquistão, Yasin Anwar, disse em dois de outubro que 25 milhões de dólares estão sendo contrabandeados para fora do Paquistão numa base diária. Em outras palavras, mais de nove bilhões de dólares são retirados numa base anual. Isto é 1,5 vezes mais do que o pacote de resgate financeiro do FMI que o país receberá durante três anos com termos duros e altas taxas de juro. Isto mostra que o caráter da burguesia dos países em desenvolvimento não é diferente do das corporações imperialistas. De acordo com um informe de Global Integrity, 197 bilhões de dólares foram transferidos de países pobres como Angola, Etiópia e Iêmen de 1990 a 2008.

Há duzentos anos, os países ricos eram três vezes mais ricos que os países pobres. No final dos anos 1960, quando a colonização estava chegando ao fim, esta razão tinha alcançado 35 vezes. Hoje, os países ricos têm 80 vezes mais riqueza que os países pobres, o que prova que a exploração do Terceiro Mundo aumentou muitas vezes desde o fim formal da era colonial. As ricas nações imperialistas do ocidente proporcionam “ajuda” em torno de 130 bilhões de dólares aos países ricos anualmente, no entanto, os monopólios multinacionais transferem 900 bilhões de dólares dos países em desenvolvimento aos bancos dos países ricos cada ano. Adicionalmente, os países pobres pagam juros anuais de 600 bilhões de dólares sobre suas dívidas aos países ricos e instituições financeiras imperialistas – empréstimos que foram reembolsados muitas vezes!

As políticas e leis (cortes em direitos aduaneiros, trabalho e matérias-primas baratas, mercadorias terminadas caras e tecnologia etc.), impostas pela OMC, FMI e Banco Mundial, custam 500 bilhões ao mundo em desenvolvimento. Somente na última década, as empresas multinacionais se apropriaram de terras em vários países do Terceiro Mundo do tamanho da superfície de toda a Europa ocidental. O preço de mercado destas terras não é menor que dois trilhões de dólares.

Tudo isto serve para enfatizar o fato de que o capitalismo não é o destino final da humanidade. Somente através de uma revolução socialista pode terminar com esta horrível disparidade econômica e libertar a humanidade no verdadeiro sentido da palavra.

 

Traduzido por Fabiano Adalberto