8 de Março: Não queremos flores, Queremos o fim do capital!

Desde o assentamento da sociedade de classes e da propriedade privada, as mulheres viram sua condição, enquanto membros ativos e organizadores das comunidades, reduzida ao trabalho mesquinho e privado do lar e à reprodução e manutenção da prole.

É no capitalismo, a partir das revoluções industriais e da transformação da família em unidade reprodutiva e de consumo, e do produto direto do desenvolvimento capitalista, a classe operária, que as mulheres passam a se inserir contraditoriamente na sociedade como assalariadas. Contraditoriamente porque se inseriram na produção social sem perder as obrigações da vida privada, a qual acumularam em todo o período anterior. E é neste contexto que as mulheres trabalhadoras, e portanto duplamente exploradas e oprimidas, passam a se inserir nas disputas sociais, nos espaços públicos, na discussão política, com relação aos direitos específicos e de classe. Ou seja, é no empuxo da luta de classes, com o desenvolvimento da produção capitalista e da classe operária, que se estabelecem as contradições necessárias para se desenvolver a ‘‘questão da mulher’’.

O 8 de Março não pode ser compreendido senão por dentro da história da luta de classes. Mesmo a luta pelo direito ao voto feminino contou com inúmeras greves de trabalhadoras que reivindicavam não apenas esta pauta civil, mas também sua luta direta contra a exploração do capital, reivindicações de melhores condições de trabalho, melhores salários etc.

Portanto, é no movimento da luta de classes que se desenvolveram os principais eventos que, em seguida, se tornaram os marcos para a criação do Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, com um caráter, efetivamente, de classe e socialista. Para citar alguns exemplos: a greve das operárias da indústria têxtil nos EUA entre o final do século XIX e início do XX, o incêndio de uma das fábricas, que matou centenas de mulheres operárias, a organização das mulheres pelo movimento socialista.

Já em 1910, durante a Segunda Conferência de Mulheres Socialistas, organizada pela II Internacional, a data foi estabelecida como dia de comemoração da mulher socialista, por proposta de Clara Zetkin.

E uma das maiores demonstrações de que a luta das mulheres não está separada da luta de classes, foi o maior evento do século XX, que mantém vivo o seu legado para milhares de revolucionários ao redor do mundo: a Revolução Russa. Foi a partir da greve e passeata das operárias têxteis russas, no dia 23 de Fevereiro de 1917 (pelo calendário Juliano, 08 de Março, no calendário Gregoriano), em que milhares de mulheres marcharam pelas ruas de Petrogrado, exigindo Fim da Guerra, Pão para os Trabalhadores e Liberdade, incendiaram toda a Rússia, levando à queda do Czar Nicolau II, cinco dias depois.

O significado que é conferido à data atualmente nada tem a ver com sua origem. Foi apagada depois de anos de patrocínio da ONU, a partir de sua criação em 1975, muito depois das comemorações e dos dias marcados pela luta das mulheres operárias e socialistas.

O mesmo capitalismo que hipocritamente comemora o “Dia das Mulheres”, empurra milhares de nós para o desemprego, salários desiguais, austeridade e contrarreformas, opressão, duplas e triplas jornadas!

Vivemos diante de uma crise social histórica, e da falência da ideologia reformista. A burguesia é absolutamente incapaz de liberar as forças produtivas para seu pleno desenvolvimento. Diante disso, os marxistas reivindicam o legado e a origem do Dia Internacional das Mulheres. Não apenas como um dia de luta, mas como a inscrição histórica das mulheres trabalhadoras e de seus companheiros de classe na luta pela emancipação do capital.

E marchando juntos, conscientes de seu papel transformador, homens e mulheres levantarão uma nova sociedade por cima dos escombros desta velha de barbáries. Uma nova sociedade que, liberando as forças produtivas da apropriação privada, irá liberar homens e mulheres para viverem plenamente o significado de pertencer à Humanidade.