Classe operária observa luta contra privatização da Casa da Moeda do Brasil

No dia 10 de janeiro de 2020 os operários da Casa da Moeda do Brasil (CMB) ocuparam a fábrica localizada no Distrito Industrial de Santa Cruz, Rio de Janeiro. Os trabalhadores reagiram após crescente assédio moral, retirada de benefícios e aumento de descontos no contracheque, tudo sem justificativa plausível. Após um episódio de abuso da direção contra um operário na fábrica, seguiram a tradição mais radical do movimento operário: ao menos 800 operários cruzaram os braços e ocuparam a empresa. A luta estava apenas começando. Ao incluir a CMB no Plano Nacional de Desestatização e ao implementar uma Medida Provisória que quebra a sua exclusividade na fabricação de papel-moeda, cadernetas, passaportes e selos, Bolsonaro está preparando a fábrica para que ela se torne “mais atrativa” aos investidores em uma privatização que já está agendada para este ano. Mas se os operários da CMB vencerem, todos os planos da Secretaria Especial de Desestatização, junto a esse governo, podem ir por água abaixo.

Como Bolsonaro tenta tornar as empresas a serem privatizadas mais “atrativa” ao mercado? Cortando o plano de saúde e o auxílio transporte, realizando descontos salariais a partir de justificativas arbitrárias, impedindo que o sindicato se reúna dentro da fábrica com os trabalhadores para que não discutam política com suas lideranças eleitas, etc. Os ataques na CMB empurram muitos ao Programa de Demissão Voluntária, que já colocou para fora mais de 400 em 2018 e 2019. Cortar custos e demitir trabalhadores: é esse o plano do mercado que Bolsonaro quer aplicar rapidamente.

Por que o “mercado” quer que a CMB seja privatizada? Bolsonaro diz ser adepto ao “livre mercado”. Diante de uma economia mundial estagnada – que o próprio Fórum Econômico Mundial de 2020 não vê perspectivas de melhora imediata, estimando crescimento econômico vergonhoso para a próxima década – a privatização das estatais ou a entrega de setores da economia para empresas estrangeiras é uma saída encontrada pelos grandes capitalistas para manterem ou ampliarem suas taxas de lucro. Evitam assim uma nova grande crise. Para tal, se aproveitam, como aves de rápida, do governo ultraliberal de Bolsonaro e sua total submissão aos seus interesses, para tomarem a fábrica de dinheiro e passaportes das mãos do Estado, controlando assim informações sigilosas de milhões de brasileiros e a emissão de papel-moeda. Levam a dominação imperialista a novos patamares.

Ao contrário do que prega Paulo Guedes, um mercado que funcione de maneira livre nos dias atuais é uma ficção, uma piada de mal gosto contada para fazer crer que é preciso privatizar e entregar todas as riquezas ao imperialismo. Após o final do século 19, grandes empresas monopolistas estrangeiras localizadas nos Estados Unidos e na Europa começaram a esmagar e submeter por fraudes e maquinações outras empresas e nações mais fracas, como o Brasil. Para entender o que é imperialismo basta olhar a etiqueta dos produtos que compramos nos supermercados, onde grande parte delas remetem a um único grupo monopolista. Privatizar a CMB, fornecer informações sigilosas de milhões de brasileiros a iniciativa privada, e, quem sabe, retirar a produção de dinheiro do Brasil, é muito interessante às empresas monopolistas. Dessa maneira, o país fica submetido aos seus interesses, que podem ser resumidos em: extrair recursos naturais, conquistar novos mercados, e fazer com que a classe trabalhadora produza mais ganhando cada vez menos com relação ao montante produzido; não importa se para isso terão que demitir, cortar direitos, salários. Estima-se que a privatização poderia diminuir os salários dos trabalhadores da CMB em até 40%! Em 2017, 100 milhões de cédulas de R$2 foram produzidas na empresa americana Crane AB, com sede na Suécia; um laboratório de testes. Bolsonaro é um verdadeiro capacho do Trump.

Apesar de Bolsonaro apresentar a privatização das estatais como medida necessária a recuperação econômica, o imperialismo é sempre o primeiro a sabotar o “livre mercado”, principalmente quando o assunto é sua segurança ou a preservação das suas gigantescas empresas transnacionais. A Casa da Moeda dos Estados Unidos é estatal, e continuará sendo, pois de modo algum o governo da maior potência industrial do mundo entregaria a produção do seu dinheiro e informações dos seus cidadãos para empresas ou investidores que não fossem do seu interesse, principalmente àquelas que têm sede em países na Europa – seus concorrentes comerciais mais poderosos –, muito menos para a China – conhecida hoje como chão de fábrica do mundo e com algumas empresas que estão começando a incomodar gigantes estadunidenses.

A estratégia da direção da CMB é esmagar a classe trabalhadora pelo cansaço e impedir sua organização política. E será somente esmagando os trabalhadores que o arrocho interno e a privatização continuarão. Mas a guerra de classes que esse governo instiga está longe de estar perdida para os trabalhadores, pelo contrário. As assembleias massivas e o ânimo dos operários da CMB têm sido, para toda a classe operária brasileira, um exemplo. Na atual conjuntura de insurreições e vagas revolucionárias em todo mundo, as mobilizações que começaram em Santa Cruz podem ser a fagulha que incendiará todo o palheiro. A ocupação do dia 10 de janeiro demonstrou a força dos operários e pode trazer novamente à tona experiências como as que culminaram no Movimento das Fábricas Ocupadas em 2002.

Os moedeiros precisam se manter unidos, combatendo em frente única contra o governo Bolsonaro e seus capatazes na empresa e na secretaria de desestatização, que por sua vez são capachos dos capitalistas e do imperialismo. É hora de solicitar apoio aos mandatos, organizações políticas e movimentos sociais. É necessário principalmente selar a união com os operários de outras empresas que o governo também pretende entregar aos capitalistas ou está realizando ataques, como Correios, Telebras, EBC, Dataprev, Petrobras, e de empresas privadas que estão sofrendo com cortes e demissões. É o momento propício para todos se filiarem ao sindicato, organizarem-se politicamente. A compreensão aos milhares de que a solução dos problemas da classe trabalhadora reside no sucesso de uma revolução socialista, onde a classe operária mandará em todas as fábricas e formará seu governo, toma gigantesco impulso quando as fábricas se agitam e mostram quem é que produz todas as riquezas.

Somente a organização política independente da classe trabalhadora pode garantir que empregos sejam preservados, ampliados, e que a vida melhore a partir da grande indústria. É necessário utilizar todo o potencial que hoje é jogado fora, como está provado nos altos índices de subutilização da capacidade industrial no mundo. Aos capitalistas e seus governos, que passam por uma longa estagnação econômica mundial desde 2008 e uma iminente depressão, que estão envolvidos em mais de 60 guerras localizadas pelo mundo e enfrentam a maior crise de refugiados da história, resta aplicar com seus políticos a austeridade e utilizar a polícia para coibir as revoltas. À classe operária brasileira e aos trabalhadores da CMB, resta tomarem o futuro em suas mãos.