Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Blumenau: impactos do coronavírus sobre a classe trabalhadora

Na última sexta-feira (27), o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), confirmou que a cidade seguiria as orientações do governo do estado, que naquele momento sinalizava a retomada gradual das atividades econômicas a partir desta semana. Conforme o documento assinado pelo governador Carlos Moisés da Silva (PSL), diversos setores deveriam voltar a funcionar com restrições, enquanto outros continuariam fechados para evitar a disseminação do novo coronavírus. Contudo, poucos dias depois, o governador recuou em sua proposta, diante da reação negativa a essas medidas, e no domingo (29), Moisés anunciou a prorrogação da restrição de convívio social por mais sete dias, após reunião com prefeitos.

Hildebrandt, que participou desta reunião, não fez declaração oficial sobre a continuidade ou a interrupção das medidas que vem sendo tomadas, embora o boletim da Prefeitura de Blumenau tenha divulgado, no domingo mesmo, a confirmação de mais 5 casos de contágio na cidade, totalizando 20 pessoas contaminadas pelo coronavírus. Pode-se entender que permanece vigente o decreto publicado pela prefeitura no dia 24, que orientava a manutenção destas medidas por mais sete dias, com restrições e procedimentos especiais, mas não se tem certeza ainda do que acontecerá após a vigência do decreto municipal.

A burguesia anseia pela retomada de suas atividades a partir desta semana, colocando em risco a saúde e a segurança dos trabalhadores que deveriam estar isolados em suas casas, bem como dos profissionais que precisam se dedicar a combater a Covid-19.

Conforme o documento originalmente apresentado por Moisés, momentaneamente abandonado, academias, bares, restaurantes, shoppings e o comércio em geral de Santa Catarina poderiam reabrir as portas parcialmente a partir da próxima quarta-feira, 1º de abril. Outras atividades, como o setor hoteleiro, a construção civil, escritórios de prestação de serviços em geral, centros de distribuição e depósitos, também estariam liberados a funcionar, ainda que com restrições, nesta data. Essa confusão nas orientações, interrompendo as políticas de restrição e voltando atrás pouco tempo depois, deixam um cenário incerto, na medida em que a burguesia pode se utilizar disso para retomar parcial ou totalmente o ritmo de  produção e exploração, tornando insuficiente qualquer medida de mitigação que se venha a ter para evitar a proliferação do coronavírus na cidade. Todos estarão completamente expostos quando tiverem necessidades que os façam sair de suas casas.

Em Blumenau, o transporte coletivo municipal foi paralisado na noite de 18 de março, e desde então apenas algumas linhas específicas circulam, atendendo exclusivamente aos profissionais da saúde. As atividades educativas foram suspensas em unidades de ensino superior e de educação básica, incluindo o atendimento nas unidades de educação infantil. Além disso, a maior parte do atendimento em órgãos públicos está sendo realizado de forma remota. Contudo, como vem ocorrendo em outras cidades, mesmo diante da pandemia e do aumento nos números de contaminados e de mortes decorrentes do Covid-19, a burguesia faz o máximo que pode para manter seus lucros.

Parte considerável dos setores econômicos continuou a atuar em Blumenau. Muitas fábricas e indústrias mantiveram suas atividades, algumas tão preocupadas com o deslocamento dos trabalhadores até seus postos de trabalho que chegaram a pagar por transporte privado para garantir a continuidade da produção, mas deixando dúvidas quanto aos cuidados que estão sendo tomados para que estes trabalhadores não sejam contaminados pelo coronavírus.

As fábricas de Blumenau que interromperam a produção deram férias coletivas para os funcionários. Na grande maioria delas, os trabalhadores foram dispensados a partir do dia 20 de março, por períodos que variam de 10 a 15 dias. Os prazos poderiam mudar, dependendo da evolução do quadro envolvendo a pandemia. Entre as empresas que confirmaram a adoção dessa medida estão Hering, Karsten e Altenburg, no setor têxtil, e Provolt e Mogk, no setor metalúrgico e metalmecânico. Os trabalhadores destas fábricas, portanto, receberam suas férias para que fiquem isolados em suas casas, quando deveriam ter sido dispensados do trabalhado com a manutenção de todos os seus direitos garantidos, incluindo o de usufruírem de férias quando a situação voltar ao normal.

Os sindicatos que representam os trabalhadores de Blumenau não vêm demonstrando muita força para defender os interesses da classe. Embora estejam divulgando seus canais de atendimento remoto durante a pandemia, são poucas a ações que apontam no sentido de combater medidas contrárias aos protocolos de salubridade e segurança indicados no combate ao coronavírus.

Alguns sindicatos vêm apresentando algum tipo de atuação, recomendando a dispensa de todos os trabalhadores e trabalhadoras, e determinando que, em caso de contaminação de funcionários, todas as responsabilidades deverão ser arcadas pelos empresários. Também reforçam a orientação para que todos permaneçam em suas casas, ressaltando que não podem ser feitos descontos em decorrência do coronavírus. No entanto, apesar do esforço do sindicato em exigir que fosse concedida licença remunerada para os trabalhadores, no caso do setor têxtil o máximo alcançado foi a antecipação das férias coletivas em várias empresas. Neste setor é visível a desconfiança em relação às medidas dos patrões, visto a orientação para que os trabalhadores só assinem documentos após a consulta ao seu sindicado, para garantir que nenhum direito seja prejudicado.

Em relação a outros setores, como comerciários e vidreiros, o máximo a que seus sindicatos se dispuseram a fazer foi a liberação de seus próprios funcionários para atendimento remoto, suspendendo as atividades presenciais. Para além disso, limitam-se a negociar a antecipação de férias coletivas para que as empresas fechem, ou a orientar práticas de salubridade e assepsia para os trabalhadores que não foram liberados, em especial aqueles dos setores considerados essenciais. Não foram realizadas, por exemplo, ações em relação à liberação dos trabalhadores que pertencem aos grupos de risco ou mesmo às mães trabalhadoras cujos filhos estão sem atendimento nas creches e escolas da cidade.

O plano de redução das medidas de isolamento, anunciado pelo governador Moisés, visava responder à demanda da burguesia pela retomada das atividades econômicas de Santa Catarina. O documento determinava que o retorno das atividades estivesse condicionado à adoção do trabalho remoto em setores administrativos, e à implantação de medidas relacionadas à saúde do trabalhador, como forma de evitar a transmissão do coronavírus no ambiente de trabalho e no atendimento ao público. Mesmo permitindo a reabertura de shoppings, bares, e o retorno de atividades da construção civil, o governo reconhecia a existência do risco de contaminação, embora parecesse não se preocupar com a proporção que a disseminação do coronavírus pudesse tomar. Mesmo que tenha recuado na maior parte dessas medidas, o plano pode voltar à tona diante da pressão da burguesia.

Bolsonaro, Hildebrandt e até mesmo o vacilante Moisés colocam acima de qualquer coisa os interesses da burguesia, e a eles não interessam as vidas dos trabalhadores. Em vários discursos estes governantes assumem que a ocorrência de mortes é inevitável, e apresentam como única alternativa medidas no sentido de garantir um menor número possível de óbitos em decorrência da Covid-19. Os trabalhadores não podem ter qualquer ilusão nas limitadas políticas desses governos. Pelo contrário, precisam exigir que o orçamento público esteja voltado totalmente para o combate à proliferação do coronavírus, à prevenção da contaminação, ao tratamento da doença, à garantia de emprego e salário para os trabalhadores, bem como ao desenvolvimento de pesquisas em todas as áreas do conhecimento.