Bancos negam as reivindicações dos bancários! É hora de deflagrar a Greve Nacional!

Nas três rodadas de negociações que ocorreram até agora, entre o Comando Nacional dos Bancários da Contraf/CUT e a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), os banqueiros disseram não a todas as reivindicações e ainda não apresentaram uma contraproposta de reajuste salarial. A próxima rodada de negociação (20/09) será decisiva: ou os bancos contemplam as reivindicações ou os trabalhadores terão que deflagrar greve em todo o Brasil!
A categoria luta por reajuste de 12,8% (inflação, mais 5% de aumento real), PLR de três salários mais R$ 4.500,00 e piso no valor do salário mínimo calculado pelo DIEESE (R$ 2.2297,51), além de cláusulas relativas ao emprego (aplicação da Convenção 158 OIT contra demissões imotivadas, respeito à jornada de 6h diárias e fim das terceirizações), saúde (fim das metas abusivas e do assédio moral) e segurança no trabalho e para os usuários/clientes.
 
Ao se analisar o resultado obtido pelos bancos (veja quadro), há dinheiro suficiente para atender as reivindicações.
“Entre 2001 e 2010, o lucro líquido dos seis maiores bancos que operam no país (BB, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa, Santander, HSBC) triplicou. Há sete anos, eles lucraram juntos R$ 15,80 bilhões (já deflacionado). Só no ano passado, o lucro dessas mesmas instituições financeiras alcançou R$ 47,35 bilhões.
A única coisa que aumenta nessa mesma proporção é a remuneração dos membros das diretorias e conselhos de administração dos bancos. Em 2010, por exemplo, os diretores e conselheiros do Santander embolsaram cada um, em média, R$ 381 mil por mês; os do Bradesco, R$ 380 mil; e os do Itaú Unibanco, R$ 486,6 mil (diretores) e R$ 85,4 mil (conselheiros)”, explica o site Contraf/CUT.

Lucro dos bancos – 1º semestre de 2011 (milhões de reais)
Itaú Unibanco
7.133
Banco do Brasil
6.290
Bradesco
5.487
Santander (IFRS)
4.154
Caixa Econômica Federal
2.274
HSBC
611
Safra
585
Banrisul
438
Banco do Nordeste do Brasil (BNB)
301
Banco da Amazônia
43
Banpará
41
Banestes
50
Total
27.407
Fonte: Demonstrações contábeis dos bancos – Subseção Dieese/Contraf-CUT.
 
Papel dos bancos públicos e do governo Dilma
 
Em anos anteriores, nossas análises já apontavam a responsabilidade do governo federal, através do BB e da Caixa, na mesa de negociações entre banqueiros e bancários. Normalmente, os bancos públicos se escondiam e se escoravam nos bancos privados e, depois de muita pressão, lutas e greves, acabavam cedendo e fechando acordos e cláusulas sociais em separado, um pouco melhores do que o alcançado pela categoria junto à Fenaban e, dessa forma, conseguiam por um fim à mobilização, contando, é claro, com a concordância dos dirigentes sindicais – que, nas assembléias, vangloriavam-se das vitórias históricas obtidas (na verdade, conquistas parciais alcançadas pela luta dos trabalhadores numa conjuntura de crescimento econômico).
 
Desta vez, a linha de negar todas as reivindicações dos bancários é dada pelo próprio BB e Caixa. Carlos Eduardo Leal Neri, Diretor de Relações com Funcionários do BB tenta explicar, em uma carta distribuída a todos os trabalhadores, porque esse ano vai ser pior:
“Não existem sobras no lucro do banco e qualquer benefício significa, na verdade, aumento no dispêndio da empresa. Precisamos ser competitivos no mercado em que atuamos (…) e essa eficiência nos é cobrada pelos acionistas, que investem seu capital no BB. Por isso, trabalhamos com o oferecimento de índices e benefícios que garantam, antes de mais nada, a sustentabilidade da empresa.
Soma-se a isso o cenário macroeconômico brasileiro, além da clara preocupação do governo federal no que diz respeito às contas públicas, e a conclusão a que chegamos é a de que teremos dificuldades em oferecer, neste ano, benefícios além do que for acordado para toda a categoria bancária na mesa Fenaban”.
 
Essas palavras são bem significativas, por dois motivos, pelo menos. Primeiro: revela, para quem ainda tinha alguma dúvida, que o BB, na verdade, atua como qualquer outra grande empresa no mercado financeiro. Quer o lucro, “antes de mais nada”, e está a serviço de seus acionistas. Em que pese o maior acionista ainda ser a União, mais de 30% das ações estão nas mãos de especuladores internacionais (17%) e nacionais (13,4%). “Não existem sobras no lucro”, afinal, grande parte é transformada em dividendos, outra parte é reinvestida e os trabalhadores que “colaboraram” para alcançar esse resultado são tratados como “dispêndio da empresa”.
 
Segundo: a ordem do governo Dilma para que as estatais façam a sua parte na política de austeridade fiscal, que significa corte de gastos públicos e arrocho no salário dos servidores federais e dos trabalhadores das estatais, como já estamos vendo nos Correios.
 
Isso tem como pano de fundo a crise capitalista mundial. “O aprofundamento da crise na Europa e nos EUA terá como conseqüência um forte impacto nos países dependentes como China, Brasil e outros. A recessão européia e norte-americana provoca uma retração (exportação e produção) na China e por extensão na exportação de commodities brasileiras e argentinas. Isto significa que também a venda de manufaturados brasileiros para a Argentina sofrerá um forte impacto. Uma situação convulsiva varre o mundo e ninguém está isolado dela”, conforme análise do Comitê Central da Esquerda Marxista.
 
O governo Dilma, de colaboração com a burguesia, busca se antecipar ao que está por vir e já começa a aplicar medidas de austeridade sobre os trabalhadores, semelhantes às dos governos europeus, enquanto continua destinando ainda mais dinheiro às multinacionais, via renúncia fiscal, crédito ou Parcerias Público-Privadas (PPPs).
 
Preparar a greve nacional unificada de toda a categoria
 
Diante da intransigência dos banqueiros e da linha política adotada pelo governo Dilma na mesa de negociações, através do BB e da Caixa, os bancários não terão alternativa, a não ser deflagrar a greve nacional!
 
Porém, para construir uma greve forte, a participação dos bancários é fundamental. Para tanto, as assembléias devem garantir a eleição de um comando geral e unificado (bancos públicos e privados), do qual façam parte não somente as direções sindicais, mas também os trabalhadores eleitos pela própria categoria em luta. Além disso, e ligado ao comando de greve, devem ser formados comitês regionais para articular piquetes e a paralisação do maior número possível de agências e locais de trabalho.
 
Precisamos também aprender com as lutas anteriores. Ano passado realizamos a maior greve da categoria, em número de agências fechadas. Ao todo, 8.278 locais de trabalhos permaneceram fechados durante mais de 20 dias de greve, porém, não conseguimos paralisar totalmente a intermediação financeira no país porque os sistemas eletrônicos e on-line seguiram funcionando normalmente. Muitos negócios importantes e lucrativos são feitos por meios eletrônicos e são os trabalhadores da área de tecnologia dos bancos que possibilitam essa movimentação.
 
A Central Única dos Trabalhadores e as direções sindicais precisam estudar a melhor maneira de garantir a adesão desses trabalhadores para paralisarmos os pólos tecnológicos que permitem essas movimentações. Imaginem se, por um dia, os caixas-eletrônicos e o “internet banking” ficassem indisponíveis… Seria uma arma poderosa em nosso favor.
 
Enfim, o que queremos demonstrar com essa idéia é que os bancários são os verdadeiros responsáveis pelo funcionamento dos bancos. Nenhuma movimentação financeira pode ser feita sem a permissão da classe trabalhadora e, portanto, não precisamos dos banqueiros para centralizar e organizar a distribuição do dinheiro no país e nem para prestar serviços financeiros em quantidade e qualidade para a população. Aliás, não precisamos dos banqueiros para nada! Assim como os demais burgueses, essa classe de senhores é completamente parasitária na sociedade.
 
Se a classe trabalhadora produz tudo, tem o direito de desfrutar de tudo, mas para que isso, algum dia seja possível, é preciso que a classe trabalhadora seja a classe dominante, quer dizer, tome o poder político dos burgueses e organize democraticamente a nação sobre a base da propriedade social e coletiva dos meios de produção e de um estado socialista dos trabalhadores.
 
Rafael é bancário e militante da Corrente Sindical Esquerda Marxista-CUT, região Campinas