Bancários vão à greve a partir de 06/10

Depois de muita enrolação por parte dos bancos, finalmente o Comando Nacional dos Bancários da Contraf/CUT indica a realização de assembleias para deflagração de greve em todo o Brasil, a partir do dia 06/10, em repúdio à proposta medíocre oferecida aos trabalhadores.

Depois de muita enrolação por parte dos bancos, finalmente o Comando Nacional dos Bancários da Contraf/CUT indica a realização de assembleias para deflagração de greve em todo o Brasil, a partir do dia 06/10, em repúdio à proposta medíocre oferecida aos trabalhadores.

Os principais pontos da pauta da categoria foram solenemente ignorados nas mesas de negociações. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), aliás, no dia 16/09, simplesmente cancelou a reunião com os dirigentes sindicais, na qual havia prometido apresentar uma proposta econômica, afirmando que não puderam elaborar nada a respeito porque os banqueiros e executivos estavam viajando…

Somente no dia 25/09, a Fenaban voltou a se reunir para apresentar uma verdadeira provocação aos bancários: reajuste salarial de 5,5%, abono de R$2.500 e PLR no mesmo molde dos anos anteriores (que premia os que recebem mais).

Além de sequer repor a inflação e desvalorizar a participação dos trabalhadores das agências e departamentos na distribuição do lucro, os bancos colocaram “um bode na mesa”, conforme se costuma dizer no movimento sindical, quando os patrões apresentam uma proposta que não tem nada a ver com as reivindicações da categoria, como essa do abono salarial. Os bancários não viam uma proposta de abono desde os anos 90, quando o governo FHC (PSDB) promovia um verdadeiro arrocho salarial e concedia abono aqui e ali para mascarar a situação. Seria esse um sinal do que está por vir, sob a política de ajuste fiscal do governo Dilma?

Enfim, não há justificativa plausível para essa mixaria, afinal, os cinco maiores bancos (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa) lucraram R$36,3 bilhões nos primeiros seis meses do ano: um crescimento de 27,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em meio à crise, os bancos faturam alto especulando com os títulos da dívida pública. Somente essa rubrica proporcionou um acréscimo de receitas aos bancos 59% maior em relação ao mesmo período de 2014. Além disso, clientes e usuários amargam aumento nas tarifas e dos juros no cartão de crédito (403% a.a.), cheque especial (247% a.a.) e nas linhas de empréstimo (por exemplo, no caso das operações de crédito pessoal para pessoas físicas – sem contar o consignado -, de acordo com o Banco Central, a taxa média cobrada pelos bancos ficou em 120,9% a.a).

Sem falar no aumento da produtividade por trabalhador bancário, conquistada à custa de demissões (de janeiro a julho, foram fechados 5.864 postos de trabalho), alta rotatividade (de janeiro a julho foram contratados pouco mais de 20 mil bancários, mas foram demitidos cerca de 26 mil. Os novos que entraram recebem um salário 55% menor dos que saíram), reestruturações e terceirizações e intensificação do ritmo de trabalho.

Banqueiros e o ajuste fiscal do governo Dilma 

A proposta da Fenaban condiz com as medidas de ajuste fiscal do governo Dilma. Não é para menos, afinal, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi diretor do Bradesco. O governo espera economizar com a folha de pagamento do BB e da CEF e extrair ainda mais lucro com menos bancários, para aumentar a arrecadação da União e, assim, garantir os recursos necessários para pagar juros da dívida pública aos banqueiros. Já os banqueiros agradecem o esforço do governo para salvar seus lucros e aproveitam para atacar os bancários e explorar ainda nossa força de trabalho.

No entanto, essa coalizão entre governo e banqueiros não aparece como forte o suficiente para intimidar os bancários. Para a categoria, os banqueiros não têm por que recusar reajuste salarial que merecemos e a crise política deixa a situação instável para o governo e, portanto, torna-o suscetível de ser vencido com a mobilização independente dos trabalhadores.

Uma barreira séria a ser enfrentada pela categoria em sua mobilização é o receio de muitos bancários do setor privado em perder o emprego, ainda mais com a compra do HSBC pelo Bradesco, apesar das promessas desses bancos de que não irão demitir em massa. Para superar isso, é preciso unidade entre bancários de bancos públicos e privados, além da unificação das lutas com as demais categorias em campanha salarial, como os metalúrgicos, que vem lutando contra as demissões em todo o Brasil.

Defender o governo ou os trabalhadores?

Para revertermos essa proposta de arrocho salarial dos banqueiros e do governo, é preciso confiar na força da mobilização independente da categoria. É preciso explicar que a luta dos bancários é a mesma da classe trabalhadora em geral: combater o ajuste fiscal do governo Dilma e os ataques dos patrões contra nosso emprego, salário e direitos.

Porém, a maioria da direção da Contraf/CUT continua dando cobertura ao governo, afirmando que é preciso defender Dilma das ameaças da oposição de direita. Sim, é verdade que há setores extremados da direita que lutam pelo impeachment da Dilma, mas a maioria da oposição de direita ameaça o governo, não com o propósito de derrubá-lo, mas para fazê-lo aplicar, profundamente, corte de gastos e ataques aos direitos sociais, como forma de salvar o capitalismo da crise que se avoluma e liquidar a fatura nas eleições de 2016 e 2018, desmoralizando o PT em escândalos de corrupção.

Já a presidente Dilma, se quisesse defender seu mandato e ampliar sua popularidade, não deveria ter prometido uma coisa na sua última campanha eleitoral e fazer outra depois de eleita; não deveria entregar os principais ministérios a representantes diretos dos banqueiros, grandes empresários e do agronegócio. Mas, não, Dilma continua em rota de colisão com a base social que lhe garantiu a vitória sobre Aécio. Esse é o caminho certo para a derrota. E se os principais dirigentes sindicais da classe trabalhadora continuarem embarcados nesse Titanic, vão se afundar também e provocar uma grave crise na CUT e no movimento sindical em geral.

Portanto, nos bancários e em outras categorias, é hora de reunir os melhores ativistas, agrupá-los sob um novo eixo de independência de classe e discutir a situação política para prepararmos uma vanguarda capaz de enfrentar esses desafios.

Coletivo Bancários em Luta

Exatamente para esse fim que a Esquerda Marxista impulsiona um trabalho de base na categoria bancária, chamado inicialmente de Coletivo Bancários em Luta que, em pouco tempo, já conseguiu plantar algumas sementes e estabelecer boas relações com ativistas de algumas cidades e capitais do país. Em Campinas/SP, por exemplo, após uma reunião realizada no dia 22/09, ficou decidido elaborar um panfleto para a assembleia do dia 01/10. Afinal, o próximo passo é ajudar a encher as assembleias para expressarmos nosso repúdio à Fenaban e à política do governo e deflagrarmos uma poderosa greve nacional a partir do dia 06/10!

 

Entre em contato: coletivobancariosemluta@yahoo.com.br