Bombeiros de Paris enfrentam a polícia durante manifestação contra reforma da previdência / Foto: Préfecture de Police

As lutas dos trabalhadores e a repressão do Estado

Artigo publicado originalmente no jornal Foice&Martelo 150, de 29 de janeiro de 2020. Conheça e assine nosso jornal quinzenal por este link.

Com a vaga revolucionária que vem colocando em movimento os trabalhadores em todo o mundo, imediatamente também veio a repressão contra as lutas em curso. Na mesma medida em que os trabalhadores colocam em perigo a permanência de governos, ou mesmo a existência do próprio capitalismo, as forças de repressão procuram manter a tênue estabilidade existente, utilizando desde prisões até atos de violência exacerbados, que em muitos casos provocam a morte de uma parcela de manifestantes.

Um dos processos que mais chamou a atenção pela brutalidade do Estado vem se dando no Chile, denunciado internacionalmente não apenas pela esquerda organizada, mas também por artistas e até mesmo jogadores da seleção de futebol. Segundo o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile, havia 442 denúncias criminais contra agentes do Estado até o dia 21 de novembro. O órgão acompanhou 158 marchas de protesto, sobre os quais relatou mais de 1.500 ferimentos provocados por balas de todos os tipos, além de 223 casos em que manifestantes tiveram “traumas oculares” depois de terem sido alvejados nos olhos, deixando 33 cegos. Os dados mais recentes apontam para cerca de 400 pessoas com graves ferimentos oculares.

Outro dado alarmante são as prisões. Os dados divulgados ainda em outubro, pouco mais de dez dias após o início dos protestos, apontavam para 9.203 presos. Esses são dados oficiais do próprio Ministério da Justiça e Direitos Humanos do Chile. Somam-se a esses dados as mortes de 26 pessoas, todas causadas pela repressão.

No Chile, o reajuste dos preços cobrados no metrô de Santiago foi o principal estopim para o início das lutas. O que começou como uma crítica ao aumento dos preços rapidamente se transformou em uma luta de massas contra as consequências de décadas de destruição dos serviços públicos e de ataques aos trabalhadores.

Outro país onde a repressão tem atuado contra as mobilizações dos trabalhadores é a França. Marcado pelos protestos dos “coletes amarelos” desde novembro de 2018, o país vive nas últimas semanas uma intensa luta contra uma nova reforma da previdência proposta pelo governo Macron. Na repressão estatal ao ciclo de lutas iniciado pelos “coletes amarelos”, foram mortas 13 pessoas, feridas 4.500 e encarcerados 10 mil manifestantes, dos quais cerca de dois mil foram condenados. Como no Chile, parte dos manifestantes perderam a visão, contabilizando cerca de 30 pessoas.

Em dezembro de 2019 ocorreu a maior onda de prisões, sendo, conforme dados oficiais, 1.723 pessoas interpeladas pela polícia, das quais 1.220 foram mantidas em prisão preventiva. No mês de janeiro, durante a greve de diversas categorias que chegou a paralisar milhões de trabalhadores em todo o país, a repressão também continuou com força.

Em um cenário de aprofundamento da crise do capitalismo, em que a burguesia acirra os ataques aos direitos, os trabalhadores vêm não apenas se colocando em movimento, como radicalizando seus métodos de luta. O uso descarado das forças de repressão significa uma forma de os governantes, que em muitos casos balançam diante das lutas dos trabalhadores, tentarem garantir um mínimo de estabilidade política. Os trabalhadores precisam organizar formas de autodefesa, a depender da situação concreta em cada país, tanto garantindo a segurança das pessoas que se mobilizam quanto construindo embriões de organismos de poder.

Aumento da repressão no Brasil

Em São Paulo o governador João Doria tem usado medidas policiais e judiciais para sufocar e desarticular manifestações. A polícia vem realizando detenções em massa, e levando os manifestantes detidos à justiça. Revistas aos trabalhadores de imprensa também se tornaram rotineiras, chegando a ocorrer agressões a jornalistas por parte dos profissionais de segurança. A Esquerda Marxista, que participa ativamente de todas as lutas dos trabalhadores, coloca-se veementemente contra esse avanço da repressão e contra os crescentes ataques às liberdades democráticas.