As 10 maiores mentiras sobre a Revolução Bolchevique

Nenhum outro evento na história da humanidade foi objeto de tantas distorções, falsificações e invenções como a Revolução Russa.

Aqueles que testemunharam o tratamento dado a Jeremy Corbyn pela imprensa britânica experimentaram o sabor amargo do despeito da sociedade. Hugo Chavez e a Venezuela também receberam recentemente tal atenção especial. Mas nada tem recebido tanto ódio da classe dominante como a Revolução Bolchevique de 1917, pois foi somente nela que os escravos superaram completamente a velha ordem e começaram a construir uma nova sociedade sem a necessidade de mestres ou senhores.

A razão para tal calúnia é muito fácil de se ver. Este evento, mais que outros, mostra que há outro jeito de se administrar a sociedade. Que os trabalhadores e a juventude, os pobres e oprimidos, não têm que se submeter à ditadura dos “homens de terno” que lucram com o seu sofrimento. Incontáveis horas, e bilhões de dólares, libras e euros foram e são gastos para convencer as pessoas de que nada de bom veio da Revolução Russa e que não há nada para se aprender dela para as nossas lutas diárias. Um exército inteiro de supostos “especialistas” tem sido mobilizado para esta especial tarefa de manter o status quo.

No centenário de 1917, quando o mundo se encontra em um impasse similar, esta calúnia está adquirindo um novo crescimento.

O volume de falsidades contra a revolução tem sido imenso desde que os trabalhadores soviéticos alcançaram o poder. Trotsky comentou sobre como “as calúnias abundam como as águas do Niágara”. A imprensa ocidental está cheia de histórias de assassinatos e caos desde o primeiro dia. Ela disse, por exemplo, que a Petrogrado[1] bolchevique tinha “uma guilhotina elétrica que decapitava quinhentas cabeças por hora”, e que na Rússia soviética todas as mulheres acima de 18 anos eram obrigadas a se registrar no “Departamento do Amor Livre”, onde as cultas mulheres burguesas eram dadas a vários maridos proletários em regime de rotatividade (relatado em “The Bolshevik Revolution”, de Philip S Foner[2]). Outros horrores foram descritos, como mulheres ricas sendo forçadas a fazer limpeza e homens de negócios sendo forçados a vender jornais nas ruas para sobreviver – Oh, a humanidade!

Lenin gostava de dizer que “um idiota pode fazer dez vezes mais perguntas que dez sábios podem respondê-las”. Não há forma de responder todas as calúnias sobre a revolução em apenas um artigo, porém somos suportados por um fenômeno que Trotsky detalhou na História da Revolução Russa, onde explicou porque toda essa calúnia política é essencialmente “pobre e monótona”. Assim podemos identificar as dez maiores e mais monótonas mentiras sobre a Revolução Bolchevique para armar o leitor com a verdade que corta a distorção e a malícia. É uma tarefa difícil, porém necessária para limpar toda a imundície e a porcaria de 100 anos: mas temos a esperança de que o leitor ache isso útil.

1) Lenin era um agente alemão!

A primeira e a mais antiga das mentiras contra os bolcheviques. É a principal mentira propagada durante os dias da reação de julho, quando os bolcheviques eram considerados ilegais, Lenin foi forçado a se esconder e Trotsky foi aprisionado. A onda de reações acionada por esta mentira levou à destruição das máquinas de impressão bolcheviques e até ao assassinato e espancamento de jornaleiros das fileiras do partido. Depois de serem enganados por algumas semanas, os trabalhadores e camponeses russos perceberam a enganação e iniciaram uma virada maciça contra os que perpetuaram essas mentiras como um pretexto para continuar com a sangrenta guerra e com a dominação dos ricos e dos proprietários de terras. O apoio aos bolcheviques no país aumentou progressivamente de agosto em diante.

Vladimir Lenin. Foto: Wikimedia Commons.

Entretanto, o fato de o povo russo ter percebido essa mentira há mais de 100 anos não impede sua repetição nos dias atuais. Em 19 de junho de 2017, praticamente 100 anos após a invenção da mentira, o The New York Times publicou um artigo repetindo-a palavra por palavra. Deveríamos recomendar o The New York Times aos ambientalistas, pois estão realmente comprometidos com a produção de lixo reciclável!

A mentira começa assim: após a revolução de fevereiro, Lenin viajou à Rússia através da Alemanha em um trem “selado”. No caminho, ele recebeu fundos do kaiser e trabalhou ativamente sob a direção dos alemães para sabotar o esforço de guerra dos aliados. Mas qual é a verdade?

Sim, Lenin foi forçado a viajar da Alemanha até a Finlândia para conseguir chegar à Rússia revolucionária. Lenin conhecia os riscos políticos que ele estava correndo ao viajar através da Alemanha, e é por isso que ele insistiu que o trem estivesse “selado”, sem que ninguém entrasse ou saísse durante a viagem. Mas qual era a alternativa? As forças aliadas, o imperialismo francês e britânico, recusaram-se a lhe dar passagem segura por seus territórios ocupados. Quando Trotsky tentou chegar à Rússia por Nova York, o serviço secreto britânico o deixou preso por um mês em Halifax, no Canadá, e somente os protestos em massa fizeram com que ele fosse libertado. Temos certeza de que os imperialistas teriam ficado muito felizes se Lenin tivesse permanecido isolado na Suíça, mas essa não era uma opção válida.

Os caluniadores convenientemente esquecem que Martov, assim diversos mencheviques e outros no exílio, também foi forçado a pegar a rota alemã para voltar à Rússia. E mesmo assim, nenhum deles é acusado de ser agente alemão, pois isso não é politicamente conveniente.

E o ouro alemão que Lenin deveria ter supostamente recebido do Kaiser? Até agora, mesmo com extensas buscas, ninguém conseguiu encontrar traços da sua existência e todas as sugestões foram desbaratadas. Se o Pravda recebia patrocínio estrangeiro, realmente não parecia. Era menor e distribuído em números muito menores nas trincheiras que os jornais dos liberais e dos reformistas (os quais genuinamente tinham suporte financeiro dos ricos).

O The New York Times relata que aos trabalhadores russos eram pagos 10 rublos para segurar um cartaz bolchevique. Entretanto, em 1921, o líder dos Kadets[3], Miliukov, relatou que o pagamento era de 15 rublos. Certamente o The New York Times conseguiu um bom desconto! Além disso, nenhum documento foi encontrado com esses pagamentos ilícitos, que poderiam organizar milhões nas ruas para comprar rifles e arrasar a polícia e os cossacos.

A alegação de que recursos vêm do exterior ocorre em todos os movimentos de massa desde tempos imemoriais. Tais “notícias falsas” foram relatadas mesmo nos protestos contra a posse de Donald Trump, nos quais teriam sido pagos US$ 3.500 por cabeça vindos de um fundo liderado pelo bilionário liberal judeu George Soros. Trump entrou pessoalmente na briga e tuitou sobre os “agitadores profissionais”. Essa história é remanescente da ópera de Wagner “O ouro do Reno”, que conta a história de um anel mágico que daria ao seu portador plenos poderes. A classe dominante deposta não podia conceber o porquê das massas rejeitá-la, por isso busca outros mundos de ricos nos contos de fada. A realidade é muito mais mundana: Lenin e os bolcheviques propuseram ideias que a população apoiou. Esta é a fonte de seu poder ‘mágico’.

Claro que os imperialistas alemães tinham seus próprios planos ao permitir que um trem cheio de radicais e “pacifistas” passasse por seu território. Eles apostaram que os dissidentes causariam deslocamentos e enfraqueceriam o esforço de guerra russo, porém nem em seus maiores pesadelos imaginaram que os bolcheviques chegariam ao poder. Tais manobras não são únicas no imperialismo alemão. Entretanto, essa aposta em particular feita pelo alto comando de guerra alemão saiu pela culatra, conforme os eventos mostraram.

Na noite de 29 de outubro de 1918, um motim irrompeu na frota alemã. Inspirados pela Revolução Russa, em 7 de novembro os conselhos dos trabalhadores cercaram a maioria das cidades costeiras. O Kaiser Guilherme II[4] for forçado a renunciar em 9 de novembro. Em 11 de novembro, os trabalhadores alemães, seguindo os seus irmãos e irmãs russos, derrotaram o imperialismo alemão e acabaram com a Primeira Grande Guerra por meios revolucionários. Assim pode-se dizer que Lenin tanto não era um espião alemão que foi o instigador da queda do kaiser.

Kaiser Guilherme II. Foto: Wikimedia Commons.

Por outro lado, o governo provisório russo e o conselho de guerra é que eram agentes alemães. Mesmo o czar e a czarina pleitearam uma paz em separado com a Alemanha antes da Revolução de Fevereiro. Em agosto, os generais russos permitiram a queda de Riga nas mãos dos alemães para fornecer um pretexto para o golpe de Kornilov[5] e ensinar uma lição à Riga soviética através do cabo da baioneta prussiana. Similarmente, com o poder escapando pelos dedos, Kerensky planejou mandar a guarnição de Petrogrado para o front e entregar a capital para permitir que os alemães massacrassem os trabalhadores revolucionários.

Foi esse último ato que convenceu a massa de soldados de que o governo provisório não era digno de confiança. A guarnição de Petrogrado desobedeceu a ordem criminosa de abandonar a cidade e, em vez disso, aliou-se aos soviéticos.

Vemos aqui que, em última análise, para a burguesia a classe sempre está acima da nação. A classe dominante russa preferiu entregar sua capital para uma potência estrangeira a vê-la cair nas mãos dos trabalhadores russos. Lenin também favoreceu a classe em lugar da nação, porém em vez da unidade dos chefes, banqueiros, proprietários de terras e generais, ele defendeu a luta revolucionária de todos os trabalhadores contra a classe dominante. Foi a posição de Lenin que superou os militares russos e alemães e trouxe fim à guerra imperialista sanguinária e fatricida.

2) A Revolução de Outubro foi um golpe violento

Existe um mito de que foi a revolução pacífica de fevereiro que destituiu o czar Nicolau II[6] e instituiu uma democracia liberal. Infelizmente, os maléficos megalomaníacos Lenin e Trotsky organizaram um golpe violento e ilegal para destituir a democracia e instalar uma ditadura totalitária. Todas as afirmações acima são completamente inventadas.

Em primeiro lugar, para os historiadores liberais o termo “pacífico” tende a ser utilizado com muita liberdade. Todos, com exceção dos historiadores mais direitistas raivosos, reconhecem que algo estava muito errado com o regime czarista. Era uma monarquia hereditária autocrática sem eleições democráticas, sem liberdade de comunicação, sem direitos de associação ou de reunião, onde os opositores políticos eram enviados à Sibéria e os judeus e as nacionalidades oprimidas sofriam regularmente pogroms e assassinatos com apoio do regime. Por essa razão é difícil para um historiador liberal argumentar contra a Revolução de Fevereiro, não importando o quanto ele (ou ela) desaprove o conceito de revolução de maneira geral.

Patrulha da Revolução de Outubro. Foto: Wikimedia Commons.

Tendo sido forçados a aprovar a destituição do czar em fevereiro, esta revolução é tida como “pacífica” pelos liberais. A realidade é que aproximadamente 1.500 pessoas morreram em fevereiro de 1917. Muitos dos quais trabalhadores desarmados fuzilados pela polícia do regime, mas podemos ter certeza de que durante o progresso da greve geral e da revolta estes trabalhadores se armaram e junto com soldados amotinados infligiram baixas ao outro lado. Nos dias finais do regime, muitos dos seus piores torturados foram enforcados. Nossos historiadores liberais garantem que tudo isso foi pacífico.

Se 1.500 morreram na “pacífica” Revolução de Fevereiro, então com certeza muitos mais morreram na “violenta” Revolução de Outubro, certo? A realidade é que quase ninguém morreu no cerco ao Palácio de Inverno que varreu os remanescentes do governo provisório.

Muitos já viram o filme clássico de Sergei Eisenstein sobre a Revolução Russa, “Outubro”[7]. A cena no filme que mostra o cerco ao Palácio de Inverno é emocionante, com pessoas correndo e atirando, jogando bombas, caindo e assim por diante. Esta cena não guarda nenhuma relação com o evento real, que foi mais parecido com uma operação policial. Tristemente, ocorreram alguns acidentes elétricos durante a filmagem de “Outubro” e alguns membros da equipe morreram. Mais pessoas morreram durante a filmagem da cena que mostra o cerco ao Palácio de Inverno que no cerco real ao palácio!

Esse evento retirou a Rússia da guerra e precipitou o final da Primeira Grande Guerra Mundial, consequentemente salvando milhares, senão milhões. A ironia é que estes que abominam a “violência” da revolução são os que frequentemente apoiam a violência da guerra como justa e necessária. Os trabalhadores russos estavam fartos da hipocrisia de tais pessoas, que somente apoiavam a guerra pelos seus lucros vindouros, e estavam dispostos a sacrifícios para alcançar a paz justa e completa. Esta é a justificativa para as revoluções de Outubro, Fevereiro e as demais. Quando uma maioria decide fazer uma mudança, e a minoria resiste usando meios violentos, a maioria tem todo o direito de se defender.

Em segundo lugar, enquanto a Revolução de Fevereiro é lembrada como uma revolução gloriosa com apoio da maioria, a de Outubro é recordada como um golpe ilegal de uma pequena minoria. Vamos examinar esta polêmica. Existem duas definições de “golpe” no dicionário político. Uma define golpe como a tomada do poder por uma minoria, geralmente militar, com a consolidação de um regime sem o consentimento da massa da população. A outra definição é uma transferência “ilegal” de poder violando a constituição de um determinado estado.

Os bolcheviques estavam entre a minoria? Essa informação não é seriamente aceita desde setembro de 1917. É amplamente reconhecido que a imensa maioria da população urbana apoiava os bolcheviques em outubro. No campo, aqueles que não apoiavam os bolcheviques apoiavam os revolucionários sociais que eram a favor de todo o poder aos sovietes. O Congresso Soviético Para Toda A Rússia, único genuinamente eleito por vias democráticas em todo o país, deu uma decisiva maioria ao poder soviético e à coalizão com a esquerda bolchevique que daria terras aos camponeses, sairia da guerra e garantiria a autodeterminação das nacionalidades oprimidas.

A prova final do apoio da maioria aos soviéticos foi a vitória na guerra civil. O exército czarista foi esmagado e o jovem estado dos trabalhadores teve que formar um exército do nada. Os russos brancos tinham o apoio da maioria dos velhos generais e de 21 exércitos estrangeiros. Trotsky assumiu a quase impossível tarefa de formar o Exército Vermelho. Entretanto, mesmo o persuasivo Trotsky não conseguiria fazer com que seres humanos lutassem, apoiassem e alimentassem um exército se ele fosse politicamente impopular.

Os camponeses queriam doar grãos para alimentar o Exército Vermelho porque era o exército que impedia o retorno e o cerco dos proprietários de terras. Os trabalhadores se voluntariaram para lutar, morrer e fazer munições para o Exército Vermelho para impedir o retorno dos patrões e dos imperialistas. A guerra é a continuação da política por outros meios, e por esta medida os soviéticos puderam mobilizar a maioria para uma vitória decisiva.

Guarda Vermelha da fábrica Vulkan. Foto: Wikimedia Commons.

É possível que os bolcheviques tivessem o apoio da maioria, mas isso não importa, pois eles atuaram de forma ilegal e inconstitucional, certo? Mesmo por esse estreito critério jurídico, os argumentos não se sustentam. Como explicado acima, não havia maneira constitucional de remover a monarquia e instalar um sistema democrático. A única opção era a revolução. Porém, qual era a natureza do regime que emergia de fevereiro?

As pessoas que lutavam e morriam para remover os Romanov eram predominantemente os trabalhadores das cidades maiores que convenceram os soldados a se unirem a eles ou permanecerem neutros. Esses trabalhadores e soldados se organizaram em sovietes. “Soviete” é o termo russo para conselho, e cada local de trabalho elegeu um representante para o grupo de acordo com as proporções fixadas. As unidades militares, formadas apenas na sua maioria de camponeses em uniformes, também elegeram delegados. Os delegados poderiam ser chamados imediatamente. Os sovietes eram grupos democraticamente eleitos que tinham a confiança da massa de trabalhadores e camponeses que realmente lutaram para derrubar o antigo regime em fevereiro.

Olhando horrorizado para o movimento abaixo estavam os liberais e conservadores da Duma[8] czarista. Este grupo era fantasticamente antidemocrático em sua formação, e somente tinha poderes consultivos perante o czar. Os eleitores participaram em uma “cúria” de diferentes castas sociais para que houvesse uma maioria interna de proprietários de terras, capitalistas e nobreza. O voto de um proprietário de terras seria funcionalmente equivalente aos votos de dezenas ou centenas de milhares de trabalhadores e camponeses em um país de 160 milhões. Os líderes da Duma fizeram tudo dentro dos seus poderes para salvar o czar da massa revoltada de pessoas que se voltaram para os sovietes.

Nos últimos dias da monarquia, esses indivíduos sem representação, principalmente aristocratas, homens de negócios e acadêmicos, se declararam como “O Governo Provisório” mesmo não tendo nenhum mandato democrático ou base constitucional de qualquer natureza. As massas que realmente participaram da revolução estavam céticas, mas infelizmente os sovietes elegeram líderes reformistas que deram apoio aos liberais burgueses. O único mandato democrático do governo provisório foi o emprestado pelo reformistas mencheviques e os líderes do Partido Revolucionário Social a partir dos sovietes. As massas não apoiaram o governo provisório, mas no início de 1917 eles tinham fé nos líderes soviéticos. Por isso iniciou-se um período de duplo poder, com o governo provisório dividindo o poder com o soviete executivo. Essa foi uma armação legal instalada pela revolução de fevereiro.

De 7 a 9 de novembro de 1917, o Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia se encontrou em São Petersburgo. Foram eleitos 649 delegados para o congresso, representando 318 sovietes locais de todas as partes da Rússia. Os bolcheviques ganharam 390 delegados e a Esquerda Revolucionária 100, criando uma decisiva maioria para retirar o mandato do governo provisório e declarar todo o poder aos sovietes, os únicos grupos democraticamente representativos em toda a Rússia. Portanto, mesmo sob os estreitos limites da legalidade e da constitucionalidade, a revolução de outubro passa pelo teste. Sob qualquer definição, Outubro não foi um golpe.

3) Sem Lenin, a Rússia teria se tornado uma democracia liberal

Se não fosse por Lenin, a Rússia depois de fevereiro teria progredido para uma linda, pacífica e democrática democracia liberal seguindo o modelo da França ou da Inglaterra. Aqui está mais um mito contrafactual sem nenhuma relação com a realidade.

O primeiro governo provisório colocou os kadets liberais no poder. Se o povo quisesse o liberalismo, esse governo teria permanecido estável. Mas os liberais não conseguiram dar ao povo o que ele queria, nomeadamente: o fim da guerra, terra aos camponeses, liberdade para as nacionalidades oprimidas e comida para as cidades. Tudo isso foi resumido no slogan dos bolcheviques de “paz, terra e pão”.

Alexander Kerensky. Foto: Wikimedia Commons.

Este governo ruiu por causa da sua inabilidade em resolver a crise na sociedade e foi substituído por uma coalizão entre os socialistas reformistas e os liberais. Por sua vez, os liberais burgueses foram desacreditados e substituídos por um governo quase que totalmente formado pelos socialistas reformistas dos sovietes com Kerensky[9] na liderança. Os reformistas fizeram tudo o que podiam para não quebrar a ordem capitalista das coisas, consequentemente não conseguiram dar ao povo paz, terra ou pão.

Mesmo sendo Kerensky um membro do Partido Revolucionário Social, tradicionalmente com base no campesinato, ele não conseguiu implementar uma única palavra da política do partido sobre a reforma agrária. Ele não conseguiu nem convocar uma assembleia para promulgar uma constituição democrática por medo de não ser capaz de controlar tal grupo. Passo a passo, o apoio da massa foi passando para os bolcheviques que clamavam um rompimento com o capitalismo e todo o poder aos sovietes.

A classe dominante, os proprietários de terras e os capitalistas não confiavam mais nas manobras parlamentares para manter o seu poder. Em vez disso, retomaram métodos do golpe fascista liderado pelo general Kornilov[10] em agosto de 2017. Kornilov não iria apenas massacrar os trabalhadores soviéticos, ele iria também romper com o governo provisório. Kerensky, corretamente temendo pela sua própria cabeça, libertou os prisioneiros bolcheviques, que por sua vez derrotaram o golpe de Kornilov mobilizando os trabalhadores de Petrogrado e conduzindo a agitação entre as tropas.

Desse ponto em diante, o governo provisório “liberal e reformista” ficou suspenso em pleno ar. A massa de trabalhadores e camponeses viu os sovietes como a solução para os seus problemas. Os patrões, proprietários de terra e os monarquistas viram a reação de Kornilov como uma lição sangrenta para ensinar o povo a não ser tão imprudente. A “via do meio” foi tentada e rejeitada por todos os lados. As únicas opções eram o socialismo ou o fascismo.

Mas os bolcheviques não perderam os votos da assembleia constituinte? É verdade que quase após um ano da recusa dos liberais e dos reformistas em formar a assembleia constituinte, ela foi organizada pelos bolcheviques liderados pelos sovietes. Os resultados foram 41% para o Partido Social Reformista, 24% para os bolcheviques, menos de 5% para os kadets e 3% para os mencheviques. É interessante comparar os votos dos bolcheviques com os dos kadets, o partido ao lado dos generais de Kornilov e da reação branca.

Infelizmente, as divisões entre a ala esquerda dos reformistas, que apoiaram o poder dos sovietes, e a ala direita dos mesmos não se formalizaram no momento das eleições da assembleia. Por esta razão, a direta dos reformistas estava super-representada nas listas do partido e os camponeses não tiveram uma escolha genuína. O campo votou nos reformistas socialistas, enquanto todos os setores ativos da sociedade moveram-se para longe do palco parlamentar armado como visto nos países imperialistas. O sistema dos sovietes, onde as eleições são diretas, os delegados podem ter seus mandatos revogados e não há nenhuma divisão entre legislativo e executivo (por exemplo, cada delegado tem um trabalho a realizar), é muito mais democrático que o sistema parlamentar, onde incontáveis parlamentares abandonam seus constituintes por anos enquanto se esbaldam em enormes salários.

Quando a constituinte foi formada em 18 de janeiro de 1918, houve uma anomalia híbrida doentia. Os reformistas tentaram organizar uma manifestação em apoio, mas poucos compareceram. Os delegados trouxeram velas e sanduíches caso a energia fosse cortada. Às 4h da manhã, o chefe da guarda, um anarquista, disse: “A guarda está cansada. Proponho que o encontro seja finalizado e que todos retornem às suas casas.” E esse foi o fim da assembleia pela qual ninguém queria lutar. Não era democrática o suficiente para os trabalhadores, que conheciam a democracia dos sovietes, e democrática demais para os generais capitalistas, que estavam se preparando para lançar uma guerra civil para reinstalar alguma forma de autocracia.

4) Os bolcheviques cometeram atrocidades na guerra civil

Uma guerra é um inferno, ambos os lados tentam derrotar o outro por meio de violência. Uma guerra civil é pior. O lado vitorioso ganha tudo e o lado derrotado perde tudo. Se um dos lados tem o monopólio da violência, mesmo com o apoio de uma minoria da população, ele pode aterrorizar a maioria até a submissão. A violência da minoria tem que ser enfrentada com uma violência defensiva por parte da maioria se quiser derrotar o despotismo.

Resta o fato de que qualquer um que conduza um estudo consciente da Guerra Civil Russa perceberá uma enorme preponderância das atrocidades cometidas pelos russos brancos e pelos 21 exércitos da intervenção estrangeira.

Guerra Civil Russa. Foto: Wikimedia Commons.

No início, a revolução foi muito branda e ingênua. Os bolcheviques repetidamente mostraram magnanimidade e deixaram os contrarrevolucionários livres. Isso é compreensível. Uma revolução vitoriosa procura unidade e deseja avançar pacificamente na mudança da sociedade. Ambos Lenin e Trotsky disseram várias vezes que poderiam ter salvado várias vidas se a revolução tivesse sido mais severa e resoluta no seu início, o que é indubitavelmente verdade.

A revolução só começou a adotar medidas mais severas face às atrocidades cometidas pelos contrarrevolucionários brancos. A luta de classes tinha rompido os limites formais da democracia. Os brancos logo deixaram de lado pretensões democráticas ou pacíficas e estavam usando quaisquer métodos que possuíam, abuso, terror, massacres, pogroms, uma orgia de violência para derrotar os vermelhos.

Se realmente quisessem se defender, os vermelhos teriam de deixar suas ideias utópicas e empregar métodos à altura. Trotsky explica:

“Não seria difícil mostrar, dia após dia por toda a história da guerra civil, que todas as medidas severas do governo soviético foram tomadas como medidas de autodefesa revolucionária. Não devemos entrar em detalhes aqui, mas seria um critério parcial não avaliar as condições da luta. Lembremos o leitor que naquele momento os guardas brancos, em companhia de seus aliados anglo-franceses, atiravam em qualquer comunista sem exceção que caísse em suas mãos. O exército vermelho poupava a todos sem exceções, inclusive oficiais de alta patente”

Mais tarde Trotsky prosseguiu:

“A questão da forma de repressão, ou do seu grau, é claro, não é de ‘princípio’. É uma questão de conveniência. Em um período revolucionário, a parte que ficou de fora do poder, que não se reconcilia com a estabilidade da classe dominante e que prova isso pela luta desesperada contra a última, não pode se aterrorizar pelas ameaças de prisão, já que ela não acredita na sua duração. É somente este simples, mas decisivo fato que explica o recurso indiscriminado de atirar em uma guerra civil”

Numa das primeiras atrocidades cometidas pelos contrarrevolucionários, os brancos encheram três carros com os corpos congelados de guardas vermelhos “colocados em posições obscenas” e os devolveram aos inimigos famintos com os dizeres “carne fresca: destino Petrogrado”.

Os brancos eram famosos por seus abusos contra os prisioneiros bolcheviques e do Exército Vermelho ou contra qualquer um suspeito de ser comunista ou simpatizante dos soviéticos. A punição favorita para os revolucionários capturados era mutilá-los, arrancar seus olhos e remover suas línguas antes de enterrá-los vivos.

Os exércitos de Denikin[11] eram famosos por seus pogroms e pelas orgias de pilhagem, estupro e saques que realizavam nas áreas ocupadas. Estima-se que centenas de milhares de pessoas foram mortas dessa forma.

O leitor não está obrigado a acreditar na nossa palavra. O embaixador norte-americano na época, dificilmente um simpatizante dos soviéticos afirmou:

“Por toda a Sibéria (ocupada pelos brancos) existe uma orgia de prisões sem acusações, de execuções sem nem mesmo a pretensão de julgamento e confisco sem permissão das autoridades. O terror chegou a todos. Os homens suspeitam de todos e vivem com medo constante de que algum espião ou inimigo gritará ‘bolchevique’ e irá condená-los a uma morte instantânea”

Exército Vermelho antes de ser enviado para a Guerra Civil. Foto: Wikimedia Commons.

Um dos atamans[12] aliados de Kolchak e apoiado pelas tropas japonesas foi descrito pelo médico da corporação como sendo um homem com o “cérebro doente de um pervertido e um megalomaníaco afetado sedento de sangue humano”.

O general norte-americano Graves descreveu o comportamento das tropas brancas dessa maneira:

“Os soldados de Semyonov e Kalmykov, sob a proteção das tropas japonesas, estão se dirigindo para o campo como animais selvagens, matando e roubando as pessoas, e estes assassinatos poderiam ter sido cessados a qualquer momento se o Japão assim o quisesse. Se estes assassinos fossem questionados pelos crimes brutais, a resposta seria que os assassinados eram bolcheviques e a sua explicação, aparentemente, satisfaria o mundo. As condições na Sibéria eram tidas como horríveis e a vida humana era a coisa mais barata por lá”

Tem-se dito que o reino de terror de Kalmykov levou muitos moderados a apoiar os bolcheviques.

Semynov até estava construindo primitivos campos de concentração. Em 19 de agosto de 1919, o coronel Stephanov massacrou 52 carros cheios de prisioneiros e no dia seguinte ele relatou que matou 1.600 pessoas. Estes massacres humanos continuaram a acontecer por toda a guerra civil. Graves escreveu:

“Eu duvido que a história mostre outro país do mundo, nos últimos quarenta anos, em que o assassinato pudesse ser cometido com tanta facilidade e com tão pouco perigo de punição quanto a Sibéria durante o regime do almirante Kolchak[13]

A capital de Kolchak tinha dúzias de corpos pendurados nos postos de telégrafo e caminhões de carga cheios de vítimas eram brutalmente assassinadas em campos de execução ao logo da ferrovia.

Finalmente, escrevendo sobre as suas experiências, o general Graves teve isso a dizer sobre o terror branco:

“Existiram assassinatos horríveis cometidos, mas eles não foram cometidos pelos bolcheviques como o mundo todo acredita. Estou muito seguro em dizer que os antibolcheviques mataram cem pessoas para cada pessoa morta pelos bolcheviques na Sibéria Oriental”

Os soviéticos tinham que se defender contra todas estas atrocidades. No meio de uma guerra civil, nenhum governo permitiria que oponentes armados organizassem, agitassem e publicassem jornais na retaguarda de seus exércitos.

Nenhuma classe dominante na história abriu mão de seu poder e posição na sociedade sem luta. Face à feroz e depravada resistência dos contrarrevolucionários, as revoluções por todos os tempos foram forçadas a adotar severas e repressivas medidas como meios de autodefesa. Isso ocorreu na Revolução Inglesa, na Guerra Civil Americana, na Guerra Civil Russa bem como em incontáveis outros lugares e épocas na história.

Mark Twain, em seu livro “Um ianque na corte do Rei Arthur”, ofereceu uma defesa histórica do terror revolucionário. Embora se refira ao reino de terror da Revolução Francesa, ela se encaixa perfeitamente na Revolução Russa bem como na defesa de qualquer revolução:

“Existiram dois ‘reinos de terror’, se fosse para lembrar e considerar: aquele que forjou o assassinato em paixão quente, e o outro em sangue frio e impiedoso; o primeiro durou alguns meros meses, o outro durou centenas de anos; porém nós nos estremecemos com os ‘horrores’ do terror menor, o terror momentâneo, por assim dizer; porquanto, o que é o horror de mortes rápidas pelo machado comparadas com vidas inteiras de mortes por fome, insultos, crueldade e desilusões? O que é uma morte rápida por raios comparada com a morte lenta por fogueiras e preso em estacas? Um cemitério de uma cidade poderia conter caixões cheios pelo terror rápido, aquele que aprendemos diligentemente a temer e lamentar; porém, dificilmente toda a França poderia conter os caixões preenchidos pelo mais velho e mais real terror, aquele indescritivelmente mais amargo e terrível terror que nenhum de nós foi ensinado e ver na vastidão ou pena que ele merece”

5) Os Romanov foram assassinados à sangue frio

Já parou para se perguntar por que você sabe sobre o “assassinato” dos Romanov, mas provavelmente nunca ouviu falar da execução sumária pelos britânicos de 26 comissários soviéticos em Baku mais ou menos no mesmo período? Você sabia que mais de 4.600 manifestantes pacíficos foram metralhados em janeiro de 1905 enquanto entregavam uma petição ao “paizinho”, Nicolau II? Você sabia que ele era membro da antissemita União do Povo Russo, que a fundou, patrocinou e cujo distintivo usava com orgulho?

Família Romanov. Foto: Wikimedia Commons.

A União foi responsável por organizar pogroms assassinos contra a população judaica com a assistência da polícia secreta e dos oficiais do czar. Onde estupro, tortura, queimaduras, desmembramento e qualquer horror imaginável foram infligidos contra homens, mulheres, crianças e mesmo bebês. Em um incidente em Odessa, 800 pessoas foram assassinadas, 5 mil feridas e 100 mil deixadas sem suas casas. O czar sabia dessas atrocidades, de fato ele escreveu sobre elas para sua mãe como ações de “pessoas leais”! Em outra carta detalhando a repressão brutal aos camponeses dos Balcãs, ele disse “terror deve ser pago com terror”. Milhões e milhões de revolucionários foram executados sob o seu regime e morreram em esquálidas prisões ou no exílio na Sibéria. Seu último crime foi ordenar às suas tropas que atirassem na massa de manifestantes durante a Revolução de Fevereiro. Sim, “Nicolau, o sanguinário” fez jus a esse nome.

A tentativa de apresentar Nicolau como um homem quieto e humilde pela sociedade representa o extremo da hipocrisia. Eles choram pelos reis Charles I ou Luís XVI, cujas mortes levaram a burguesia ao poder? Eles choram as execuções de Saddam Hussein, Bin Laden, Ceausescu ou outros personagens não amigáveis às potências ocidentais? Hillary Clinton foi gravada rindo da morte de Gaddafi. Não choramos por eles também, porém Nicolau não foi nem um pouco melhor. Entretanto, eles choram pelos milhares de crianças mortas pelas bombas de Bush e Blair no Iraque e no Afeganistão, ou pelos drones de Obama no Paquistão? Não, estas são vítimas anônimas e devem ser esquecidas pelos ricos e poderosos.

Alguns admitem que Nicolau era um tirano, mas objetam a execução de sua família. É claro que foi uma ação execrável, porém Nicolau não cessou de fazer o mesmo com incontáveis famílias judias sob o seu jugo. Ou para dar um exemplo moderno, é muito diferente de um ataque de mísseis que matam dois insurgentes e trinta membros de suas famílias? Trotsky preferia um julgamento público que detalhasse os crimes da dinastia Romanov para que todos vissem. Porém, dadas as condições da guerra civil, isso não foi possível. Em 1918, os russos brancos estavam se aproximando da relativamente confortável casa onde os Romanov estavam sendo mantidos em Yekaterimburgo. Se os exércitos brancos pudessem por as mãos em qualquer membro da família real, a casa teria se tornado um ponto de encontro das forças contrarrevolucionárias que não hesitavam em matar as famílias de revolucionários capturados.

Esta área antes militarmente insignificante se tornou de repente objeto de uma ofensiva do exército branco que ameaçaria a vida de milhares de pessoas indefesas. O Exército Vermelho também não tinha os recursos para reforçar a segurança da área. Portanto, em face à arremetida do exército branco, os bolcheviques de Yekaterimburgo viram a execução da família do czar como a única maneira de evitar um banho de sangue. Ao fazer isso, eles também removeram quem poderia ter se tornado o cabeça de uma mobilização contrarrevolucionária.

Eles contam que a matança de aproximadamente 200 mil homens, mulheres e crianças no ataque nuclear a Hiroshima e Nagasaki foi necessária porque “salvou vidas e encurtou a guerra”. A realidade é que, no final, a morte da dinastia Romanov desmoralizou os brancos e salvou vidas ao encurtar a guerra civil.

O que os capitalistas objetam aqui é que em vez de uma imposição da violência pelos ricos contra os pobres, do opressor contra os oprimidos, temos um exemplo de quando os escravos revidaram e venceram. Quando os romanos venceram a revolta de Spartacus, eles encheram a Via Ápia com os corpos dos escravos crucificados como um aviso aos outros.

As vítimas do capitalismo são anônimas e contadas aos milhões. Para citar Nicolau II, às vezes “o terror deve ser pago com terror.” Os trabalhadores bolcheviques não deram a outra face, porque eles sabiam que nunca houve um tempo em que os mansos herdaram a Terra. A violência da maioria pobre para criar um novo mundo é essencialmente defensiva e de curta duração enquanto a violência da minoria rica permanece perpetuamente no seu trono. Não procuramos a violência, porém defendemos o direito da maioria se defender contra a violência da minoria por meios proporcionais.

6) Trotsky assassinou os marinheiros de Kronstadt[14]

A rebelião de Kronstadt de março de 1921 representa uma das maiores críticas dos anarquistas contra a revolução bolchevique. Tristemente, aqueles que evocam o pejorativo “Kronstadt” raramente estudaram os eventos reais ao redor da revolta. A realidade é que Kronstadt foi uma infeliz tragédia em vez de um exemplo de ação ditatorial por parte dos bolcheviques antidemocráticos.

Ataque a Kronstadt. Foto: Wikimedia Commons.

O nome Kronstadt certamente merece lugar de honra nos anais da Revolução de Outubro. Os marinheiros da fortaleza que guardava o porto de Petrogrado foram os mais radicais e abnegados elementos em 1917. Entretanto, os defensores de 1921 não eram os mesmos de 1917. Os marinheiros de 1917 eram os primeiros a serem voluntários para lutar contra os brancos na guerra civil e muitos morreram ou desapareceram. Os defensores de 1921 eram na maioria filhos de camponeses.

Para vencer a guerra civil, os soviéticos adotaram a política de “comunismo de guerra”. Na essência, isso envolvia a requisição de grão dos camponeses para alimentar as tropas no front ou para municiar os trabalhadores nas cidades. No primeiro período, os camponeses estavam preparados para fazer esse sacrifício, pois o governo soviético os estava protegendo do retorno dos senhores de terra. Entretanto, com a evolução da guerra, a dinâmica econômica superou as simpatias políticas. Os camponeses começaram a querer livre mercado para os grãos, e essa foi a maior demanda dos filhos dos camponeses em Kronstadt. Um pequeno número de anarquistas estava entre eles e algumas resoluções de teor anarquista foram aprovadas, porém o livre mercado continuou como demanda principal.

O estado operário começou a negociar com os rebeldes próximo ao fim do inverno. Infelizmente, o tempo estava acabando e existia o risco de que a estrada de gelo até a ilha derretesse. Se isso ocorresse, o resultado seria a tomada do controle de todo embarque e desembarque de Petrogrado. Kronstadt poderia literalmente fazer a capital proletária passar fome durante o período da guerra civil. Permitir a continuação disso teria sido uma negligência criminosa, o e governo soviético não tinha nenhuma opção a não ser organizar uma ofensiva armada para tomar a ilha.

A triste realidade é que a revolta de Kronstadt, e a sua subsequente supressão, foi uma infeliz tragédia da guerra civil. Com negociações mais longas, ela não teria acontecido. Mas os bolcheviques não tinham outra opção. Por causa da malícia política, a “culpa” dessa tragédia tem sido creditada na conta de Leon Trotsky. Existe uma clara necessidade por parte dos liberais e da burguesia de usar quaisquer desculpas para jogar lama na imagem limpa de Trotsky e da Oposição de Esquerda ao stalinismo. Trotsky depois esclareceu que ele pessoalmente não teve nada a ver com a retomada da ilha, mas como comandante do Exército Vermelho, ele obviamente concordou politicamente com as ações tomadas pelos camaradas no front.

Quaisquer que tenham sido as aspirações dos marinheiros rebeldes, o seu curso de ação teria levado diretamente à entrega da ilha, e da cidade, nas mãos dos exércitos brancos estacionados na Finlândia. É notável que nos meses seguintes á revolta de Kronstadt, os bolcheviques perceberam que o comunismo de guerra tinha chegado ao seu limite e instituíram a Nova Política Econômica (NEP). O elemento principal da NEP era o livre mercado de grãos. Os bolcheviques primeiramente resistiram a esta medida, pois entendiam que favoreceria os camponeses ricos (os “kulaks”). Isso só torna o episódio ainda mais trágico. Entretanto, isso não impediu os anarquistas de se oporem à NEP, mesmo sabendo que livre mercado era a maior demanda dos revoltosos de Kronstadt! Anarquistas nunca foram famosos por sua coerência.

7) O bolchevismo inevitavelmente leva à ditadura stanilista

Muita tinta foi gasta para provar que o bolchevismo leva inevitavelmente ao stalinismo e à ditadura. Não há maior calúnia contra os combatentes de 1917 que esta: identificá-los com aqueles que foram responsáveis por traí-los, aprisioná-los e executá-los. Há um rio de sangue separando o bolchevismo do stalinismo. Em 1942, praticamente todo o comitê central dos bolcheviques de 1917 estava morto, a maioria pelas mãos de Stalin. Se o stalinismo foi a progressão lógica do partido de Lenin, por que isso teria sido necessário? Ninguém pôde responder a essa questão básica.

A razão do surgimento do stalinismo não tem nada a ver com um suposto pecado original do leninismo. O partido bolchevique de 1917 lançou as bases de uma democracia não só política, mas também econômica. O controle democrático da produção pelos trabalhadores se uniu com a profunda democracia dos soviéticos. Isso é muito mais democracia do que existe sob o capitalismo, que é distorcida pelo dinheiro e a falsidade no parlamento e é absolutamente ditatorial nos locais de trabalho.

Infelizmente, a Rússia czarista tinha um nível de educação incrivelmente baixo. Entre a população, 90% eram camponeses e as taxas de alfabetismo estavam abaixo dos 30%. Nesta situação, o jovem estado operário teve de confiar nos velhos burocratas dos tempos do czarismo para fazer a sociedade funcionar. Isso foi aceitável nos primeiros tempos, entre 1917 e 1921, quando os trabalhadores mantiveram os privilégios dos burocratas em xeque. Porém, depois de quatro anos de guerra mundial e três anos de guerra civil, os trabalhadores estavam cansados.  Aqueles com maior espírito de autossacrifício foram os primeiros a se voluntariar e, infelizmente, muitos desses heróis proletários anônimos morreram em batalha.

Embora tenham saído formalmente vitoriosos da guerra civil, a economia soviética foi esmagada pelo bloqueio e pelos exércitos estrangeiros. A maioria dos trabalhadores só queria ir para casa e ver suas famílias. Neste contexto, os burocratas czaristas começaram a se tornar independentes do controle dos trabalhadores. Eles começaram a colocar os trabalhadores de lado e progressivamente remover os elementos de controle e responsabilização democrática.

Stalin foi o homem que representou essa facção burocrata. Figura secundária em 1917, ele alcançou a proeminência nos bastidores do aparato de estado que foi ficando mais arrogante á medida que os trabalhadores se afastavam do envolvimento mais direto. Ao fazer pedidos a funcionários do Estado, os trabalhadores ouviam: “Você pensa que isso aqui é o quê, 1918?”. A última batalha de Lenin foi a se unir a Trotsky contra essa degeneração burocrática e contra Stalin em particular. Lenin disse o seguinte sobre a máquina estatal:

“[É como] um carro que ia não na direção que o motorista desejava, mas não direção que outra pessoa desejava; como se estivesse sendo dirigido por alguma mão misteriosa e desordenada, sabe Deus de quem, talvez de um aproveitador ou de um capitalista privado, ou de ambos”

Em outra obra ele disse:

“O aparato estatal que chamamos de nosso é, na verdade, ainda um tanto estranho a nós; é uma salada de czarismo e burguesia e não houve qualquer possibilidade de se livrar dela nos últimos cinco anos sem a ajuda de outros países, e por que estivemos ‘ocupados’ a maior parte do tempo com responsabilidades militares e na luta contra a fome… Não há dúvida nenhuma de que uma infinitesimal parte dos trabalhadores soviéticos e trabalhadores sovietizados cairá nessa onda chauvinista de ralé “grã-russa” como moscas sobre o leite”

No seu último testamento, que foi subsequentemente suprimido, Lenin abriu uma luta direta contra Stalin. Em 24 de dezembro de 1922, ele escreveu:

“O camarada Stalin, tendo se tornado secretário-geral, possui autoridade ilimitada concentrada em suas mãos, e não estou certo se ele será sempre capaz de usar essa autoridade com a devida cautela.”

Porém, onze dias depois, ele adicionou o seguinte:

“Stalin é muito rude e esse defeito, embora seja tolerável no nosso meio e na lida conosco, comunistas, se torna intolerável em um secretário-geral. É por isso que eu sugiro aos camaradas que pensem em uma forma de remover Stalin daquele posto e apontem outro homem em seu lugar que seja diferente dele em todos os aspectos e que, nomeadamente, seja mais tolerante, mais leal, mais educado e mais atencioso com os camaradas, menos caprichoso etc.”

O escrito acima é mais que suficiente para mostrar que Lenin se opunha à burocracia em geral e a Stalin em particular.

Os anarquistas apontam para o chamado centralismo democrático como razão para o stalinismo. É um argumento constitucionalista bizarro que insiste que somente se organizarmos um encontro da maneira correta as pessoas serão educadas umas com as outras.

O centralismo democrático é a única forma genuinamente democrática de ação. Seus preceitos básicos são a liberdade ampla nas discussões e a unidade ampla na ação. O centralismo democrático é a democracia de uma greve: todos os trabalhadores têm a liberdade de discutir a conveniência de entrar em greve em uma reunião dos membros, então o voto é validado. Se, por exemplo, 70% dos trabalhadores votam a favor da greve, então 100% dos trabalhadores devem estar nos piquetes ou nenhuma greve nunca será bem sucedida. Os direitos das minorias estão protegidos, porém a decisão da maioria escolhe o curso de ação.

Stalin. Foto: Wikimedia Commons.

Oposto ao centralismo democrático está o conceito de anarquismo “puro”, onde ninguém está obrigado às decisões democráticas do grupo, que se separa ao primeiro desafio. Vimos tal paralisia no movimento Occupy. Do outro lado está o centralismo burocrático do stalinismo, onde não há discussão ou proteção dos direitos das minorias. Aqui novamente o stalinismo se opõe ao bolchevismo.

Ironicamente, muitas organizações anarquistas “sem líderes” se encontram atualmente em uma situação análoga ao centralismo burocrático. A ausência de líderes eleitos e responsáveis geralmente significa que estas funções são substituídas por líderes secretos e irresponsáveis: tipicamente a mais barulhenta e contundente pessoa na sala. As decisões ainda são tomadas, mas ninguém tem o direito democrático de contestá-las.

“Mas os bolcheviques baniram os partidos de oposição!”, escutamos nossos amigos anarco-liberais dizer em uníssono. Esta nunca foi a intenção do estado operário. Infelizmente, todos os partidos de oposição nos sovietes em algum momento foram para o lado dos exércitos brancos ou organizaram ataques terroristas contra os trabalhadores. Nenhuma sociedade democrática permitiria que aqueles que fizessem uso de meios terroristas se sentassem calmamente em uma assembleia legislativa para fazer leis. Pode-se imaginar a reação se a Al Qaeda tentasse concorrer em uma campanha parlamentar em Londres ou lançasse um candidato a governador de Nova York.

Os marxistas defendem a democracia multipartidária, mas como em qualquer outra sociedade democrática, qualquer um que pegue uma bomba ou uma arma contra o direito democrático das pessoas perderá rapidamente seus direitos democráticos. A Oposição de Esquerda de Trotsky, os genuínos herdeiros do bolchevismo, foram os mais vociferantes defensores dos direitos democráticos. Como consequência, eles foram os primeiros a serem mandados para a Sibéria, enquanto Trotsky perdeu sua vida para um assassino stalinista. Esses guerreiros contra o estalinismo foram convenientemente esquecidos pelos inimigos da Revolução Russa.  Deve ser notado que na luta entre a Oposição de Esquerda de Trotsky e a burocracia stalinista, a luta entre a democracia dos trabalhadores internacionalistas e o “socialismo em um país”, as simpatias dos imperialistas eram esmagadoramente a favor do “prático” Stalin.

A mentira de que o bolchevismo leva inevitavelmente ao stalinismo é fundamentalmente uma concepção abstrata. Ela não nos diz nada sobre por que a Revolução Russa e a Internacional Comunista degeneraram. Ela ignora o atraso da Rússia czarista, a guerra civil, o bloqueio internacional e a invasão de 1921 por exércitos estrangeiros, o fracasso da revolução em se espalhar para os países capitalistas avançados e o subsequente isolamento da revolução. Não havia nada inevitável sobre as condições dos trabalhadores russos e a opressão a que se submetiam. Os liberais, reformistas e anarquistas que perpetuam essa mentira parecem achar que “burocracia” é uma falha genética humana e não um produto das relações humanas. A burocracia é o resultado inevitável da escassez. A guerra civil e o baixo nível das técnicas obrigaram o jovem estado operário a lutar contra imensa escassez.

Há duas maneiras de se lidar com escassez, os capitalistas fazem isso colocando um preço tão alto numa mercadoria que somente os ricos a receberão, mas este método é incompatível com o socialismo. Quando há escassez em uma sociedade socialista, as únicas opções são filas e racionamento. A única maneira de uma fila ser ordeira, e não resultar simplesmente nos mais fortes empurrando todos os outros para o lado, é colocar um policial nela. Mas o policial tem de cumprir sua tarefa, ou ele nunca manterá as coisas em ordem. Essa é a base econômica da burocracia.

É por isso que as técnicas avançadas são essenciais para garantir um socialismo genuíno. Se a Revolução Alemã de 1918 a 1923 tivesse sido bem sucedida, não somente a burocracia de Stalin nunca teria usurpado o poder dos trabalhadores, mas também teria iniciado um processo irresistível de revolução mundial. As técnicas avançadas alemãs em conjunto com as matérias-primas e a agricultura do antigo império czarista teriam mostrado o que uma economia democraticamente planificada socialista poderia alcançar.

Uma revolução em um país capitalista avançado como o Canadá, a Grã-Bretanha, a França ou os Estados Unidos não teria encarado os mesmos desafios que a União Soviética. Estes países não têm o mesmo baixo nível cultural que a Rússia de 1917, ao contrário, eles têm milhões de graduados que não conseguem encontrar trabalho. Esses países não têm faltas maciças de produtos e técnicas ineficientes, ao contrário, eles têm fábricas que ficam imóveis e corporações que se sentam em bilhões de dólares de “dinheiro podre” não investido e improdutivo.

Atualmente, a esmagadora maioria dos países possui uma população que é majoritariamente urbana e trabalhadora. Antes de 1945, muitos países eram largamente agrários. Os níveis de letramento e de cultura são muito mais altos hoje. Exceto para os altos escalões, um alto percentual de funcionários do estado moderno não são privilegiados como em 1917. Os funcionários civis são normais, trabalhadores que frequentemente são sindicalizados e que entram em greve com frequência. Estes trabalhadores ficariam mais que felizes em usar sua experiência para o bem comum, em vez de manter a sociedade como refém como os burocratas stalinistas/czaristas.

Lenin mostrou as condições de uma democracia operária: eleição de todos os oficiais com direito a destituição a qualquer momento, nenhum oficial recebendo um salário maior que um operário especializado, o revezamento de todas as tarefas burocráticas e nenhuma força armada que possa ser usada contra o povo. O atraso fez com que estas condições não fossem realizadas na União Soviética, mas uma moderna revolução não teria nenhum problema em colocá-las em prática. Como Lenin disse, quando todos são burocratas, ninguém é burocrata. O stalinismo não é inevitável.

8) O comunismo matou 100 milhões de pessoas

De editoriais de jornais a caixas de comentário da internet, a réplica preferida para desqualificar a discussão é “100 milhões de mortos pelo comunismo”. “Você é socialista? Cem milhões de mortos”, “você quer um salário mínimo mais alto? Cem milhões de mortos”, “você quer uma saúde melhor? Cem milhões de mortos”. A direita cospe esta baboseira a qualquer momento que não tenha um bom argumento!

E qual é a realidade? Essa afirmação tem como base o livro “O livro negro do comunismo” [15], de Stéphane Courtois, publicado em 1998. Foi amplamente criticado por ser tendencioso e usar metodologia e critérios hipócritas. Mesmo alguns dos seus autores criticaram o livro dizendo que Courtois estava obcecado em atingir o número de 100 milhões de qualquer maneira e que esse número não tem sustentação.

Pôster de propaganda sobre as “Vítimas do Comunismo”. Imagem: Wikimedia Commons.

Mais de 90% das mortes descritas no livro são creditadas aos regimes de Stalin e Mao. Já explicamos aqui que o stalinismo não tem nada a ver como o marxismo genuíno.  Não nos responsabilizamos pelos crimes realizados por tais regimes e apontamos que as primeiras vítimas do stalinismo foram os trotskistas, os herdeiros genuínos do bolchevismo. Achamos abominável que as mortes de nossos camaradas sejam usadas por reacionários para manchar a bandeira sob a qual eles lutaram.

De quem é a responsabilidade pelas mortes durante a Guerra Civil Russa? A guerra civil foi um erro dos trabalhadores e camponeses, a maioria da população, que desejavam acabar com a Primeira Guerra Mundial, dar terra aos camponeses, dar autodeterminação às nacionalidades oprimidas? Ou foi um erro dos generais do exército branco, dos proprietários de terras, dos monarquistas, dos patrões e dos 21 exércitos estrangeiros que intervieram e que não aceitaram os desejos da maioria? O caso é semelhante ao de bandidos atacando uma residência, resultando em mortes de ambos os lados: de quem é o erro? Os reacionários respondem que os donos da casa incorreram em erro, pois ninguém se machucaria se eles tivessem simplesmente se rendido. Alguém poderia também culpar Abraham Lincoln pelas mortes na Guerra Civil Americana, que libertou os escravos. Proporcionalmente, per capita, obteríamos um número similar de mortos.

Mesmo os ataques ao stalinismo são hipotéticos. Por exemplo, o livro o responsabiliza por 1,5 milhão de mortes no Afeganistão, praticamente o total de mortes durante o regime pró-soviético. Porém, ele esquece que a CIA armou e fundou a insurgência Mujahidin com lançadores de foguetes e outras armas avançadas em uma guerra de guerrilhas. Também esquece que a Mujahidin incluía “amigos da liberdade” como Osama Bin Laden e que se autonomeou Talibã nos anos 1990. Portanto, quem foi o responsável por tais mortes?

Um evento que é frequentemente associado aos 100 milhões de mortos é a fome soviética de 1932-1933, a chamada “Holodomor” [16]. O Livro Negro relaciona 4 milhões de mortos na Ucrânia e 2 milhões na URSS. O regime nacionalista de direita ucraniano categoriza essa fome como genocídio ela é frequentemente usada para reforçar a causa nacionalista.

Os marxistas são os últimos a desculpar os stalinistas por essa fome, que foi resultado da política criminosa de Stalin de coletivização forçada. Trotsky analisou isso na sua obra-prima antistalinista “A revolução traída”. Entretanto, também não aceitamos a vitimização anticomunista dos ucranianos. A verdade é que nos anos 1920, Stalin confiou nos kulaks, camponeses enriquecidos pela Nova Política Econômica, para derrotar a Oposição de Esquerda de Trotsky. A Oposição de Esquerda defendeu uma política de coletivização voluntária da terra para educar os camponeses sobre as vantagens do socialismo.

Porém, uma vez derrotada a tendência proletária de Trotsky, os kulaks ameaçaram retornar ao capitalismo, colocando em risco os privilégios da burocracia. Stalin deu um giro de 180º e se virou contra os kulaks. Em vez da coletivização voluntária, ele introduziu a coletivização forçada com o objetivo de “liquidar os kulaks como classe social”. Esta política insana levou os ricos camponeses a consumirem as sementes e os estoques em vez de cultivá-los, o que resultou em fome. A Ucrânia enfrentou um impacto mais forte, uma vez que era o celeiro do império czarista. Entretanto, a fome também teve um impacto significativo fora da Ucrânia. Embora os fatos não corroborem a versão nacionalista de “genocídio”, foram os trotskistas que lutaram contra essa fome desde o começo.

A metodologia hipócrita do Livro Negro resultaria em números expressivos de bilhões se fosse aplicada de forma consistente ao capitalismo. Noam Chomsky, que não é nenhum apoiador do stalinismo ou do maoísmo, fez a mesma análise ao comparar a China com a Índia. Por causa da baixa desigualdade e melhor distribuição dos recursos médicos na economia planificada chinesa, o número de mortes desnecessárias somente Índia alcançaria 100 milhões em 1979 (e contando!). E quanto à dizimação das populações indígenas nas Américas do Sul e do Norte? O comércio capitalista de escravos na África? O impacto do imperialismo globalmente?

O próprio Winston Churchill tem uma responsabilidade-chave n a Fome de 1943 em Bengala, na qual milhões morreram. Durante a fome, os britânicos controlavam a Índia, que exportava comida e Churchill foi citado dizendo: “Odeio os indianos. São um povo bestial com uma religião bestial”. Isso tudo sem citar os milhões e milhões que morreram nas guerras por lucros e interesses estratégicos imperialistas. Mais de 1 milhão de mortes somente no Iraque, mais as guerras mundiais e as constantes guerras “menores”.

Em março deste ano[17], a Unicef estimou que 600 milhões de crianças enfrentarão morte, doenças e desnutrição em 2040 se a tendência atual prosseguir. Nos relatórios anteriores, eles detalharam como milhões de crianças morrem todos os anos por causas evitáveis enquanto oito bilionários possuem o mesmo que o resto da metade mais pobre da humanidade. Por estas medidas, o capitalismo, o imperialismo e o colonialismo produziriam uma biblioteca inteira de “livros negros”. Já passou da hora de a humanidade virar a página deste sistema social e econômico que sangra por todos os poros.

9) A queda da URSS provou que a natureza humana é capitalista

Testemunhando o estado atual de crise prolongada na economia mundial, é risível quando a direita defende o capitalismo como uma extensão “natural” da condição humana. O capitalismo como um sistema social só existe há 200 ou 300 anos, enquanto o Homo sapiens enquanto espécie existe há centenas de milhares de anos. Devemos acreditar que a humanidade foi de alguma forma “antinatural” por 99,9% de sua existência?

Outras obras responderam a essa questão a partir de um ponto vista filosófico e científico mais geral, portanto não vamos repetir aqui as explicações. O argumento básico da direita é que a queda da União Soviética se deu porque os seres humanos são naturalmente egoístas e cairão na preguiça se não tiverem a ameaça de demissão e fome para estimulá-los. Essa controvérsia é mais uma afirmação fora do tempo e do espaço que não foi provada e não tem nenhuma relação com a realidade.

Começando de um estágio baixíssimo, o povo da União Soviética alcançou coisas maravilhosas. Isso se deu mesmo com o mau gerenciamento da burocracia stalinista. As pessoas deram muito duro na União Soviética, que produziu mais doutores, cientistas e engenheiros que os países capitalistas, tanto em termos relativos quanto absolutos. Isso se deu por causa da economia planificada. Entre 1913 e 1963, a produtividade do trabalho cresceu 73% na Grã-Bretanha, 332% nos Estados Unidos e 1.310% na URSS. As taxas anuais de crescimento excederam 10% nesse período, enquanto o capitalismo enfrentou a Grande Depressão.

Lev Landau, físico soviético e ganhador do Prêmio Nobel. Imagem: Wikimedia Commons.

O número de doutores para cada 100 mil pessoas na URSS era de 205, comparado com 170 na Itália e na Áustria, 150 nos Estados Unidos, 144 na Alemanha Ocidental, 110 na Grã-Bretanha, França e Holanda, e 101 na Suécia. Em 1970, existiam 257 mil engenheiros formados na URSS, comparados com 50 mil nos Estados Unidos. Isso resultou em várias descobertas inovadoras, prêmios Nobel e excelência em geral. É uma calúnia abjeta ao povo soviético dizer que o stalinismo caiu por sua estupidez ou preguiça.

Então por que a União Soviética entrou em colapso se o povo trabalhava duro e era tão inteligente? A culpa recai aos pés da burocracia stalinista. Trotsky explicou que uma economia planificada precisa da democracia como o corpo humano precisa do oxigênio. Sob o capitalismo, o mercado pune a ineficiência. Se uma companhia está sendo mal gerenciada, ela irá à falência e desaparecerá. Em uma economia planificada saudável, quem pune a ineficiência é o controle democrático e a participação dos trabalhadores. Se os trabalhadores percebem a ineficiência, eles a consertam. Se eles perceberem uma maneira mais eficiente de fazer as coisas, eles a utilizarão. Mas tal gerenciamento democrático pelos trabalhadores era um anátema contra a burocracia stalinista, que não podia permitir que nada fugisse ao seu controle autocrático.

Cinquenta burocratas em Moscou podiam planejar uma industrialização básica no período inicial da União Soviética, mas a um custo muito mais alto que o da democracia operária. Entretanto, a partir dos anos 1960, as taxas de crescimento começaram a declinar e depois a estagnar a partir dos anos 1970. A economia se tornou muito complexa para ser planejada burocraticamente. O peso total do mau gerenciamento burocrático, do nepotismo, da corrupção e da ineficiência se tornou um impedimento moderado para uma economia planificada até se tornar um freio absoluto.

As cotas eram determinadas de cima para baixo e não poderiam ser cumpridas sem aparar algumas arestas e sem sacrificar a qualidade. A economia informal e o mercado negro cresceram para preencher as lacunas deixadas pelo desperdício e pela estupidez burocrática. Essa realidade econômica sinalizou as duas décadas de declínio e a queda do regime stalinista. Eles tentaram quase tudo para fazer as coisas funcionarem, mas de nada adiantou. A única coisa que eles nunca tentariam por medo de perder o controle seria retornar à democracia operária. Assim, o imenso potencial criativo da classe trabalhadora da União Soviética foi deixado vegetando e permaneceu sem se concretizar.

Em vez de mudar para uma economia socialista planificada sob controle dos trabalhadores, os burocratas decidiram se tornar capitalistas à custa do resto da população soviética. Tudo foi leiloado a preços módicos, preparando o caminho para a atual oligarquia russa. Se o capitalismo fosse um sistema muito mais natural que o socialismo, certamente esse “retorno ao natural” teria levado a um avanço nas forças produtivas. Mas o retorno ao capitalismo foi um desastre abjeto. Houve uma redução de 60% no PIB e de 15 anos na expectativa de vida. Todas as doenças sociais do capitalismo retornaram para se vingar: alcoolismo, prostituição, uso de drogas, crime organizado etc. Os direitos das mulheres retrocederam violentamente. Este é o legado do capitalismo.

Uma economia democraticamente planejada saudável e verdadeira poderia desatar as incríveis habilidades da classe trabalhadora que o capitalismo e o stalinismo deliberadamente suprimiram. Os alunos de Administração de Empresas aprendem a acreditar que os trabalhadores são robôs, enquanto a fonte de conhecimento e inspiração flui dos chamados “capitães de indústria”. Mas no mundo real, vemos que são esses homens e mulheres de terno que presidem em meio a falências, estagnação, resgates e demissões enquanto recebem bilhões em gordos bônus.

São os trabalhadores no chão das fábricas que compreendem realmente como as coisas são gerenciadas e como melhorá-las. É o gerenciamento que desorganiza a produção institucionalizando turnos quebrados e colocando trabalhador contra trabalhador. Se um trabalhador tem uma boa ideia sob o capitalismo, o gerente irá roubá-la, receber o crédito e depois, como consequência da melhoria, irá diminuir o pessoal empregado em razão da melhoria da eficiência. Não há incentivo aos trabalhadores para dar suas opiniões quando são alienados da produção. Em uma sociedade socialista, quando os trabalhadores contribuem, isso aumenta o tempo de lazer ou melhora sua comunidade local. O capitalismo e o stalinismo estão unidos na crença de que a maioria da humanidade é inútil e estúpida. Os marxistas acreditam que a esmagadora maioria tem algo a contribuir à sociedade e que é o gerenciamento, ou a burocracia, que garante inutilmente um sistema antinatural e estúpido.

10) A Revolução Russa não alcançou nada

Nada foi alcançado pela Revolução Russa, dizem eles. Então porque os paus mandados dos patrões e banqueiros gastam tanto tempo dizendo isso? Qualquer um que pensa sobre as coisas perceberá a falsidade dessa afirmação. Se nada foi alcançado, então porque tratar a experiência de outubro como uma ameaça? Temos um país que era mais atrasado que as áreas rurais do Paquistão e se tornou a segunda potência mundial. E ainda assim nos dizem que não há nada positivo a aprender com a União Soviética. Essa mentira deveria ser claramente reverenciada como a definição dicionarizada de chutzpah[18]!

Já detalhamos alguns dos avanços técnicos e econômicos incríveis realizados pela economia planificada soviética, mesmo com os ferrolhos burocráticos do stalinismo. E podemos adicionar mais alguns. Depois da ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial, que adotou uma política destruidora de “terra devastada”, a economia planificada se recuperou sem nenhuma ajuda estrangeira do Plano Marshall. A renda anual soviética subiu 570% entre 1945 e 1964, comparada com 55% nos Estados Unidos, que nem foram atingidos pela guerra. Durante esse período, ninguém rivalizava a União Soviética em termos de tecnologia espacial. O Sputnik foi o primeiro satélite artificial e Yuri Gagarin o primeiro homem no espaço.

Selo do Azerbaijão comemorativo ao 65º aniversário da vitória soviética na 2ª Guerra Mundial. Imagem: Wikimedia Commons.

Uma das maiores realizações da URSS foi a derrota da Alemanha nazista, que tinha acesso à produção conjunta de toda a Europa continental. Isso não é ensinado nas escolas ocidentais, mas 90% das lutas e das mortes ocorreram no fronte oriental. Vinte e sete milhões de soviéticos morreram nas mãos dos exércitos de Hitler.

Churchill e Roosevelt planejavam originalmente deixar a Alemanha e a Rússia se esgotarem mutuamente para depois recolher o que restasse. Esta é a razão de não abrir a frente ocidental antes de 1944. A batalha de Kursk ainda é a maior batalha de tanques na história da humanidade e, uma vez derrotado o exército nazista em Stalingrado, o Exército Vermelho registrou um dos mais rápidos avanços na história da humanidade. A economia planificada permitiu à URSS superar a produção de toda a Europa capitalista quando isso foi realmente necessário. Foram as tropas soviéticas que libertaram os judeus dos campos de concentração, que libertaram a Europa Oriental e que hastearam a bandeira vermelha sobre o Reichstag, o parlamento alemão. Se os americanos e britânicos não tivessem aberto a frente ocidental, eles teriam encontrado o Exército Vermelho no Canal da Mancha e não na Alemanha. Antes do Dia D, o principal esforço dos aliados estava longe do palco de luta principal, assegurando suas colônias na África e no Pacífico.

Os ganhos da Revolução não foram somente econômicos, mas também sociais. Enquanto as mulheres na Grã-Bretanha não votavam até 1928, as mulheres na União Soviética tinham igualdade legal completa desde 1918. No Canadá, as mulheres não eram legalmente aceitas como “pessoas” até 1929! O direito familiar soviético tornou-se neutro em gênero e a homossexualidade foi legalizada meio século antes do ocidente. Trotsky, por exemplo, usava o sobrenome de sua mulher e ninguém achou isso estranho. O aborto também foi legalizado. Infelizmente, muito disso foi desfeito pela contrarrevolução stalinista. Mesmo com o recuo dos anos 1930, em 1970 ainda havia igualdade de gênero nas admissões das universidades: uma conquista significativa em relação a muitos países capitalistas. A URSS fornecia de graça educação, saúde e cuidados às crianças. Algo que os Estados Unidos nunca foram capazes de fazer. Não surpreende que a expectativa de vida feminina pulou de 30 anos em 1927 para 74 anos em 1970 e a mortalidade infantil caiu em 90%.

Sputnik. Imagem: Wikimedia Commons.

A cultura e a ciência soviéticas floresceram nos anos 1920. Houve uma explosão inacreditável dos métodos experimentais depois da revolução. Eisenstein liderou o caminho com clássicos brilhantes do cinema. Shostakovich e outros revolucionaram a sinfonia e o balé Bolshoi é renomado até hoje. A URSS se tornou predominante nas Olimpíadas. A ciência teórica também esteve à frente. Theodor Dobzhansky uniu a seleção natural darwiniana com a genética mendeliana. Novamente, isso foi tragicamente extirpado pelo realismo socialista nas artes e o Lysenkoismo[19] na Biologia. A burocracia stalinista jamais poderia permitir liberdade total à juventude através da cultura popular, e a CIA tentou utilizar os Rolling Stones e os Beatles contra a revolução. No entanto, mesmo com a censura stalinista, as artes clássicas soviéticas permaneceram inigualáveis.

Mesmo com um atraso material, social e cultural inacreditável, além de ataques e sabotagem externos e internos, a Revolução Bolchevique produziu milagres. Imagine o que os trabalhadores e a juventude de hoje poderiam alcançar com um nível mais alto de cultura e educação. O que está atrasando a sociedade é a produção para o lucro e o modo capitalista de produção. A sociedade está atualmente em um impasse e pulando de uma crise social, política e econômica para outra. Precisamos romper essas amarras para libertar o potencial da humanidade.

John Reed escreveu o clássico “Dez dias que abalaram o mundo”, que deu uma visão vibrante dos eventos de 1917. Neste artigo procuramos responder as dez maiores mentiras que procuram manter o status quo. Lenin disse certa vez que a força motriz da história é a verdade, e não as mentiras. Em todos os lugares ele dizia que o marxismo é poderoso porque é verdadeiro.

A tendência revolucionária não precisa de mentiras: por que nos enganaríamos a respeito da realidade? O marxismo busca uma compreensão total e científica das condições sociais para que possamos nos posicionar melhor para mudá-las. Se mentirmos para nós mesmos, estaremos tornando isso muito mais difícil. Reconhecidamente, mais e mais trabalhadores, especialmente os jovens, estão começando a ver por entre as mentiras que mantêm a desigualdade capitalista. A Revolução Russa ainda representa até hoje o maior exemplo de como os explorados e oprimidos podem se emancipar. Não há maior ameaça ao status quo que as ideias do bolchevismo e a experiência da Revolução Russa. Esperamos que esta contribuição ajude trabalhadores e jovens recém-radicalizados a encontrar as respostas que precisam para vencer a discussão contra os reacionários e construir um novo Outubro, 100 anos depois, mas desta vez em um nível muito maior.

 

[1] Atualmente São Petersburgo. A cidade foi fundada em 1703 por Pedro, o Grande. Teve seu nome modificado para Petrogrado em 1914 e, em 1924, para Leningrado. Com a queda do regime soviético em 1991, seu nome de fundação foi retornado.

[2] Não há tradução para o português.

[3] O Partido Constitucional Democrata foi um partido político que obteve destaque na Revolução Russa de 1905 contra o czar Nicolau II. Seus membros eram chamados kadets, da abreviatura K-D e esta derivada do nome do partido em russo: Конституционная Демократическая партия (Konstitutsionno-Demokraticheskaya Partiya). O termo kadet não deve ser confundido com o vocábulo cadete, que se refere aos estudantes das escolas militares da Rússia imperial.

[4] Guilherme II ou Wilhelm II (Berlim, 27 de janeiro de 1859 – Doorn, 4 de junho de 1941) foi o último Imperador alemão e Rei da Prússia de 1888 até sua abdicação em 1918 no final da Primeira Guerra Mundial. Era o filho mais velho do imperador Frederico III e de sua esposa, Vitória, Princesa Real do Reino Unido. Era neto da rainha Vitória do Reino Unido e parente de várias casas reais europeias, com o rei Jorge V do Reino Unido e o imperador Nicolau II sendo seus primos.

[5] O Golpe de Kornilov foi uma tentativa fracassada de golpe de Estado contrarrevolucionário realizada pelo comandante-em-chefe do exército russo, General Lavr Kornilov, em setembro de 1917. O Governo Provisório Russo e os sovietes receberam o apoio da maioria da população e provocaram o fracasso do golpe alguns dias após a insurreição militar.

[6]  Nicolau II (18 de maio de 1868  – 17 de julho de 1918) foi o último Imperador da Rússia, Rei da Polônia e Grão-Duque da Finlândia. Oficialmente era chamado Nicolau II, Imperador e Autocrata de Todas as Rússias.

[7] “Outubro” é um filme soviético de 1928 dirigido por Sergei Eisenstein e Grigori Aleksandrov. É uma celebração dramática da revolução de outubro de 1917 para festejar os dez anos do evento. Originalmente lançado como “Outubro” na União Soviética, o filme foi reeditado e lançado internacionalmente como “Dez dias que abalaram o mundo”, por causa do livro de John Reed sobre a revolução.

[8] Duma Estatal do Império Russo foi uma assembleia legislativa do final do Império Russo. Foi convocada quatro vezes.

[9] Alexander Fyódorovich Kérensky (22 de abril de 1881 — 11 de junho de 1970) foi um político social-democrata e advogado, foi o segundo e último primeiro-ministro do Governo Provisório Russo, exercendo o cargo entre 21 de julho e 8 de novembro de 1917.

[10] Lavr Gueórguievich Kornilov (18 de julho de 1870 – 13 de abril de 1918) foi um oficial de inteligência militar, explorador e general do Exército Imperial Russo durante a Primeira Guerra Mundial e a subsequente Guerra Civil Russa. Atualmente é mais lembrado pelo mal sucedido Golpe de Kornilov em agosto/setembro de 1917, que pretendia fortalecer o governo provisório de Alexander Kerensky, mas que levou Kerensky, posteriormente, a prender e acusar Kornilov de tentar um golpe de Estado e, finalmente, acabou prejudicando o governo Kerensky; fortalecendo as reivindicações e o poder dos sovietes e do Partido Bolchevique.

[11] Anton Ivanovich Denikin (16 de dezembro de 1872 – 8 de agosto de 1947) foi Tenente-general do Exército Imperial Russo (1916) e um dos primeiros generais do Exército Branco na guerra civil. Foi o responsável por tentar estabelecer um governo civil em uma das partes ocupadas por ele durante a guerra, o então governo sul-russo.

[12] No império russo, ataman era o título oficial do comandante supremo dos exércitos cossacos.

[13] Aleksandr Vasiliyevich Kolchak (4 de novembro de 1874 — 7 de fevereiro de 1920) foi um comandante naval russo, explorador polar e antigo líder de parte do Exército Branco antibolchevique durante a Guerra Civil Russa. Foi igualmente um perito proeminente nas minas navais e um membro da Sociedade Geográfica Russa.

[14] A Revolta de Kronstadt foi uma insurreição de marinheiros da cidade portuária de Kronstadt contra o governo da República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Foi a última grande revolta contra o regime bolchevique no território russo durante a guerra civil que assolou o país. A revolta iniciou-se em 1º de março de 1921 na fortaleza naval da cidade, localizada na ilha de Kotlin, no golfo da Finlândia. Tradicionalmente, Kronstadt servia como base da frota russa do Báltico e da defesa de São Petersburgo (então Petrogrado), localizada a 30 km da ilha.

[15] N.T. – Coletânea de artigos escritos por professores universitários.

[16] N.T – Holocausto ucraniano, também conhecido como Grande Fome da Ucrânia.

[17] N. T. – Refere-se a 2017.

[18] N. T. – Imprudência, audácia vergonhosa.

[19] N. T. – Lysenkoismo, ou Lysenko-Michurinismo, foi o controle político centralizado exercido sobre a genética e a agricultura por Trofim Lysenko e seus seguidores na União Soviética. Lysenko era o diretor da Academia Lenin de Ciências Agrícolas da União Soviética (VASKhNIL). O Lysenkoismo começou no fim dos anos 1920 e terminou formalmente em 1964.

Artigo originalmente publicado em 01 de novembro de 2017 no site In Defense of Marxism, da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Top 10 lies about the Bolshevik Revolution“.

Tradução de Ivison Poleto