Imagem: Polícia Rodoviária Federal

A privatização e a tragédia na BR 376

As fortes chuvas que assolam a região Sul do Brasil têm se traduzido em inúmeras tragédias, com inundações e deslizamentos em várias cidades. Talvez a mais impactante delas na última semana tenha sido o deslizamento ocorrido na BR 376, que liga Santa Catarina ao Paraná, no dia 28 de novembro. Este “acidente” desnuda o caráter e os riscos da privatização das estradas.

Encerradas as buscas, no dia 2 de dezembro, foram divulgadas duas mortes em decorrência do deslizamento. Além disso, milhares de pessoas foram e ainda serão impactadas, já que não há previsão de liberação da estrada, que é a principal via de transporte terrestre entre o Sul e o resto do país. Além disso, de acordo com a Defesa Civil do Paraná, o trecho da pista onde houve o deslizamento ainda corre o risco de desabar.

Diante de tudo isso, a pergunta que fica é: essa tragédia poderia ter sido evitada? Ao que tudo indica, sim, poderia.

Desde 2008, o trecho onde o deslizamento ocorreu é privatizado, sob uma concessão de 25 anos. A empresa concessionária é a Litoral Sul – Arteris, que administra todo o chamado Corredor do Mercosul, compreendendo o contorno Leste de Curitiba (BR-116), a BR-376 e a BR-101 e o contorno de Florianópolis.

Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (30/11), o superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Paraná, Antônio Paim, afirmou que a responsabilidade de fazer o monitoramento constante das pistas e de realizar estudos para evitar este tipo de situação é da empresa concessionária.

Além disso, houve um prenúncio da tragédia, já que uma primeira queda de barreira ocorreu sem vítimas às 15h20 do dia 28 no mesmo local e a pista foi apenas parcialmente interditada. Às 19h30, no entanto, um novo deslizamento — desta vez, muito maior — atingiu 200 metros da via, empurrando seis carretas e cerca de 10 veículos.

Diversos especialistas consultados por meios de imprensa como a Folha de São Paulo e G1 afirmam que existem formas de monitoramento deste tipo de ocorrência e que a pista não deveria ter sido liberada após o primeiro deslizamento. 

Impossível não comparar o deslizamento no Paraná com as tragédias de Brumadinho e Mariana, que destruíram cidades inteiras, o meio ambiente, e causaram a perda de vidas humanas, sob a responsabilidade da privatizada e nunca punida Vale S.A.

Esses não são exemplos isolados. São a regra. Afinal, assim funciona o setor privado, priorizando o lucro acima de tudo. Têm sangue nas mãos os governos que entregam estradas, portos, aeroportos, bancos e empresas como a Vale ao setor privado. Têm sangue nas mãos as direções das grandes entidades da classe trabalhadora que abandonaram a luta contra as privatizações.

Vale lembrar que o ainda presidente Bolsonaro nem mesmo se preocupou em se manifestar em solidariedade com as famílias das vítimas da tragédia.

Cabe aos trabalhadores se organizarem enquanto classe para lutar pela reestatização de tudo que foi privatizado, sob controle operário. Para lutar pela construção de um sistema voltado a garantir o bem estar da humanidade e não mais apenas o lucro de uns poucos.