Foto: Wafa, Wikimedia Commons

A ofensiva contra Rafah: a faísca que poderia incendiar o Oriente Médio

Netanyahu está levando sua guerra a um outro nível. Ele está em uma posição na qual sabe que não pode recuar se quiser permanecer no cargo. E, no entanto, as suas ações ameaçam desestabilizar todo o Oriente Médio, com o risco real de generalizar a guerra. A revolução também está espreitando todos os regimes da região à medida que a ira das massas é levada a níveis cada vez maiores. O próximo ato trágico, o bombardeamento massivo e a invasão terrestre de Rafah, poderá revelar-se o ponto de virada.

Netanyahu afirmou: “Vamos fazê-lo”, enquanto as operações militares estão sendo preparadas. Ele acrescentou: “Aqueles que dizem que sob nenhuma circunstância devemos entrar em Rafah, estão basicamente dizendo ‘perca a guerra, mantenha o Hamas lá’”. Do ponto de vista dos seus próprios interesses, ele não pode se permitir ser visto como um perdedor em Gaza.

O momento desta invasão planejada é significativo. As negociações para algum tipo de cessar-fogo têm, alegadamente, registado progressos, com delegados do Hamas a caminho hoje do Cairo para se reunirem com mediadores egípcios e cataris. Com a vida política de Netanyahu em jogo (juntamente com a sua liberdade, dados os muitos casos de corrupção contra ele), é do seu interesse impedir qualquer resolução pacífica. Basta das acusações sionistas de que só o Hamas é responsável por prolongar desnecessariamente a guerra ao recusar-se a se render.

Rafah é uma cidade que normalmente abriga cerca de 250 mil pessoas. Agora, 1,5 milhões de palestinos estão amontoados lá, vivendo em condições deploráveis. Um grande número de pessoas está acampado em tendas, sob a constante ameaça de enfrentar outro ataque brutal. Muitas destas pessoas pobres fugiram, primeiro da cidade de Gaza, depois de Khan Younis, e agora estão encurralados diante da fronteira egípcia.

As massas aglomeradas em Rafah não têm lugar seguro para onde ir. Netanyahu, revelando sua total falta de humanidade, seu cinismo e total ódio pelos palestinos, sugeriu que eles podem voltar para o Norte: “Há muitas áreas lá”. Sim, muitas áreas bombardeadas, muitos escombros. Eles enfrentam duas opções possíveis: fugir para as praias ou tentar voltar para o Norte.

De acordo com a publicação do Financial Times da última terça-feira (13) sobre uma família, a de Thaer Mohamed, que já tinha sido deslocado anteriormente, com a sua família, de Khan Younis: “Estamos tentando escapar da morte, mas ela está à nossa volta”. Sarah Nayef expressou o dilema que sua família enfrenta: “Eles não nos deixaram nenhum lugar para escapar. Na noite em que resgataram os reféns, choveram mísseis e pensei que seríamos mortos.” Eles agora se preparam para se mudar para uma tenda na zona costeira.

Ambos os destinos envolvem o risco de serem alvejados pelas forças israelenses. No momento em que íamos publicar este artigo pela seção britânica, as FDI evacuaram à força centenas de palestinos do Hospital Nasser em Khan Younis, com, pelo menos, três mortos a tiros e 10 feridos por atiradores israelenses. Qualquer pessoa que conseguisse se deslocar para o Norte teria que viajar através de zonas de guerra ativas apenas para encontrar edifícios destruídos, nenhuma infraestrutura, nenhuma água ou energia, e a ameaça diária de ser morto por bombas e minas não detonadas.

Este é um pesadelo humanitário de proporções sem precedentes. O Comissário-Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, disse no domingo (11): “Uma ofensiva militar em meio a todas estas pessoas completamente expostas e vulneráveis é uma receita pronta e acabada para o desastre. Estou ficando quase sem palavras”.

Com a ofensiva principal ainda não iniciada, pelo menos 67 pessoas foram mortas em Rafah durante os bombardeamentos israelenses na manhã de segunda-feira (12) da semana passada. Enquanto escrevo, os números mais recentes indicam que pelo menos 28.473 palestinos foram mortos desde 7 de outubro e 68.146 ficaram feridos. Fala-se agora de mais dezenas de milhares de pessoas possivelmente mortas caso as FDI entrem em Rafah.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) estão agora se gabando de terem resgatado dois reféns, e isso será usado por Netanyahu para convencer o povo de Israel de que a sua estratégia está funcionando. Podemos ter a certeza de que ele não chamará a atenção sobre o fato de muito mais reféns terem morrido na campanha de bombardeamento.

Durante a operação de resgate, um imenso poder de fogo foi utilizado contra Rafah. Houve cenas horríveis de civis comuns correndo para salvar suas vidas, procurando desesperadamente abrigo contra as bombas. Agora eles vivem constantemente com medo de que isso em breve se repita e em grande escala por toda a cidade.

A perspectiva de cenas ainda mais horrorosas, a um nível ainda mais elevado, sendo observadas por milhões de trabalhadores comuns em todo o Oriente Médio, para não mencionar os milhares de milhões a nível mundial, está abalando os nervos dos imperialistas ocidentais.

Isto, no entanto, não se deve a quaisquer preocupações humanitárias. Imperialistas do mundo inteiro permaneceram imóveis e permitiram que quase 30 mil palestinos morressem às mãos dos militares israelenses nos últimos quatro meses, recusando-se até mesmo de pedir um cessar-fogo, ao mesmo tempo em que forneciam armas e suprimentos ao governo israelense.

Estes mesmos imperialistas também se mantiveram impassíveis enquanto quase 400 mil pessoas morriam na recente guerra do Iémen, com mais de 150 mil mortos nos bombardeamentos, e outros 227 mil mortos por conta da fome e da falta de instalações de saúde. Essa devastação foi imposta ao povo iemenita pela Arábia Saudita, armada e apoiada pelo imperialismo ocidental, tal como Israel.

Não, suas preocupações não são sobre as vidas dos palestinos. O que os preocupa é uma desestabilização ainda maior da região, incluindo a ameaça real do colapso de alguns regimes vizinhos.

Isto pode explicar por qual razão as emissoras ocidentais, como a BBC, despertaram para o fato de que um sofrimento terrível foi atribuído ao povo de Gaza. A emissora publicou na última semana um documentário sobre o primeiro mês da guerra, que descreve cenas como ambulâncias sendo alvo das FDI enquanto se dirigem para resgatar pessoas feridas.

É claro que, no programa BBC News, transmitido na terça-feira (13), eles acrescentaram um comentário oficial das Forças de Defesa de Israel afirmando que não tem como alvo os profissionais da saúde. Devem sempre conceder ao governo israelense e às FDI o direito de expressarem as suas opiniões e de “corrigirem” quaisquer notícias que possam ser prejudiciais à sua imagem.

Nenhum desses direitos é concedido aos palestinos, nem a ninguém que faça campanha em solidariedade junto a eles. Pelo contrário, sempre que o número de mortes diárias é divulgado, os meios de comunicação sentem-se obrigados a acrescentar “de acordo com o Ministério da Saúde dirigido pelo Hamas”, como se quisessem insinuar que poderiam estar exagerando os números. Sem dúvida, isto serve para apaziguar as embaixadas israelenses locais, que estão sempre prontas a atacar quaisquer declarações que considerem que possam ser interpretadas como “antissemitas”.

No entanto, o fato de estarem noticiando mais sobre o sofrimento de civis comuns e expondo o comportamento brutal das FDI durante a guerra é uma indicação de que estão tentando exercer alguma pressão sobre o governo de Netanyahu para aceitar um cessar-fogo temporário. O problema é que Netanyahu tem a sua própria agenda.

A mídia sionista dentro de Israel sufoca qualquer reportagem sobre os efeitos reais do bombardeio israelense em Gaza, e concentra as mentes dos israelenses comuns a verem toda a população palestina como uma ameaça à sua segurança. Parte do seu objetivo é desumanizar os palestinos, o primeiro passo para preparar o terreno para os massacrar como animais.

A trágica ironia é que este tipo de desumanização e massacre é precisamente o que milhões de judeus sofreram nas mãos dos nazistas. Hitler referiu-se à presença judaica na Alemanha como uma “tuberculose racial dos povos”, ou seja, uma doença a ser erradicada. A propaganda nazista retratou os judeus como criaturas subumanas.

Há apenas dois dias, o Ministro da Segurança Nacional israelense, Ben-Gvir, referiu-se às mulheres e crianças palestinas como “terroristas disfarçados” e prosseguiu: ”Não podemos permitir que mulheres e crianças se aproximem da fronteira… qualquer pessoa que se aproxime ser atingida por uma bala na cabeça”.

O Financial Times publicou recentemente um artigo, “A guerra contra o Hamas une os israelenses em busca da ‘vitória total’” (12 de fevereiro de 2024), explicando que, “…o imenso sofrimento em Gaza mal apareceu nos meios de comunicação israelenses e, ao invés disso, o debate nacional continua sendo conduzido pelo trauma do dia no qual as autoridades israelenses descrevem como o mais mortal para os judeus desde o Holocausto”.

Existe um medo genuíno entre o povo judeu comum de que outro Holocausto aconteça. Afinal, o que parecia inimaginável realmente aconteceu sob o regime nazista. Netanyahu tem interesse em manter esse clima. Na verdade, os árabes são apresentados pelos sionistas como equivalentes aos nazistas modernos, dispostos a destruir os judeus. É este fomento do medo que permite a Netanyahu sobreviver politicamente, mesmo quando todas as sondagens mostram que ele perderia massivamente qualquer eleição, caso fosse convocada.

O estado de ânimo dentro de Israel é, portanto, muito diferente daquele de outros países. Nas nações árabes vizinhas, o derramamento de sangue diário é transmitido todos os dias. A Al Jazeera forneceu informações in loco sobre todo o sofrimento do povo de Gaza. A raiva, a repulsa generalizada e o instinto natural de solidariedade para com os palestinos são o resultado lógico disso tudo.

Estes são dois mundos muito diferentes. O subtítulo do artigo do Financial Times afirma: “Pesquisas sugerem que a maioria da população [em Israel] está empenhada na batalha para derrotar os militantes e devolver os reféns”. O mesmo artigo cita Tamar Hermann, investigadora sênior do Israel Democracy Institute: “Certamente… a maior parte do público judeu israelense não é a favor da retirada de Gaza. A guerra é vista em Israel como a única escolha”. E longe de se procurar uma redução das tensões, o artigo salienta que: “…ao invés de acabar com a guerra em Gaza, muitos israelenses acreditam que o Estado deveria escalar noutra frente: a fronteira norte com o Líbano”.

A lógica disso é que temem que um dia o Hezbollah possa lançar um ataque muito maior do que o levado a cabo pelo Hamas. O clima é, portanto, de querer “terminar o trabalho”. Israel e o Hezbollah já trocam tiros desde 7 de outubro. Embora a maioria dos foguetes deste último sejam interceptados pelo sistema de defesa Iron Dome de Israel, um ataque a Safed, no Norte de Israel, matou e feriu hoje vários soldados. Os israelenses retaliaram imediatamente com ataques aéreos no Sul do Líbano. O perigo de um conflito total está implícito na situação à medida que estes confrontos aumentam.

Enquanto os meios de comunicação burgueses ocidentais se irritam com a utilização do termo “genocídio”, muitos da direita em Israel proclamam que este é precisamente o seu objetivo. Uma breve leitura dos comentários nas redes sociais ou das mensagens em resposta a artigos de jornais, revela um lado muito obscuro da sociedade israelense.

O que temos de compreender é que, nas últimas décadas, a sociedade israelense move-se continuamente para a direita. O que era percebido como “esquerda” ficou desacreditado aos olhos do povo judeu, comum em Israel. Isto estava alinhado ao descrédito geral da chamada esquerda a nível global, onde os partidos trabalhistas, os partidos socialistas, a social-democracia em geral, participaram da destruição das reformas sociais que eles próprios trouxeram à existência no passado, durante o auge do boom do pós-guerra. Isto levou à situação atual em que a esquerda se tornou indistinguível, aos olhos de muitos trabalhadores, dos partidos conservadores em todo o mundo.

Foi-se o tempo em que o Mapai, que mais tarde se dissolveu e se tornou parte do Partido Trabalhista Israelense, levava a sério reformas de bem-estar social, incluindo acesso quase gratuito a subsídios de habitação, serviços sociais e de saúde para os israelenses judeus. Nas suas primeiras décadas de existência, grande parte da economia de Israel era propriedade do Estado ou gerida com ajuda estatal. O fato de o sindicato Histadrut ter sido durante muito tempo o maior empregador depois do Estado foi um reflexo disso.

Todos os recursos estatais foram posteriormente privatizados. Sob os governos trabalhista e do Likud, o antigo estado-providência israelense foi gradualmente desmantelado, com uma transferência maciça de recursos do setor público para alguns dos investidores mais ricos do país. Após as eleições de 1984, os trabalhistas juntaram-se a um governo de unidade nacional com o Likud, desgastando ainda mais a popularidade entre o seu eleitorado tradicional.

Isso criou um cenário em que uma parte significativa da população, especialmente as camadas mais pobres, sentiu-se abandonada pelos políticos tradicionais. Foi neste terreno que vimos pela primeira vez uma guinada em direção ao Likud, e depois os elementos da extrema-direita conseguiram consolidar o seu domínio sobre um setor da sociedade.

Embora possa ter havido diferenças em relação às reformas sociais, no que diz respeito à questão palestina não houve diferenças substanciais. Líderes como David Ben-Gurion, Golda Meir, Shimon Peres, Itzhak Rabin etc., foram tão responsáveis, se não mais responsáveis, do que a direita sionista por consolidar a opressão dos palestinos nas próprias fundações do Estado israelense.

Neste processo, a esquerda sionista foi simplesmente eliminada pelo período de declínio do capitalismo global e pela dinâmica da ocupação. Netanyahu ganhou destaque ao aparecer como sendo o mais eficaz na abordagem belicista “olho por olho” à ocupação, no apoio à colonização e aos colonos. A última demonstração de impotência dos liberais sionistas ficou aberta ao longo dos muitos meses de protestos anti Netanyahu, revelando a extensão da sua cegueira face à opressão dos palestinos.

O mesmo processo que viu a ascensão de Trump, Bolsonaro, Boris Johnson, Le Pen, viu o surgimento e o fortalecimento de Netanyahu. A característica distintiva em Israel é a profunda divisão entre judeus e palestinos, a negação por um povo de uma pátria em favor de outro, o que terminou aguçando este fenômeno ao enésimo grau.

No aprofundamento da crise interna de Israel, com divisões políticas acentuadas entre a classe dominante sionista, Netanyahu encontrou-se cada vez mais em dívida com os partidos de extrema-direita.

Isto também explica por que é que agora, em Israel, se fala em recomeçar o programa de colonatos em Gaza, abandonado em 2005, e hoje apresentado como a única forma de garantir a segurança.

Um artigo do site New Arab intitulado “Em Israel, o reassentamento de Gaza já não é uma ideia marginal”, explica que: “Na ausência de um plano oficial pós-guerra, as ideias extremistas, antes reservadas às periferias da sociedade, estão tomando força sobre a formulação de políticas em Israel”.

O artigo relata uma recente conferência organizada em Jerusalém que apelou ao reassentamento da Faixa de Gaza. Esta não foi uma reunião sem importância. Aparentemente, havia milhares de pessoas presentes. Estavam presentes nada menos que 12 ministros do partido Likud, bem como 15 membros da coligação governamental. O Ministro da Segurança Nacional israelense, Itamar Ben Gvir, esteve presente e foi isso o que disse no seu discurso: “Se não quisermos outro 7 de outubro, precisamos voltar para casa e controlar [Gaza]. Precisamos encontrar uma forma legal de emigrar voluntariamente [os palestinos]”. O fanático Ministro das Finanças de extrema-direita, Smotrich, também estava lá e acrescentou que: “Sem colonatos [em Gaza], não há segurança”.

Estas pessoas estão convencidas de que Gaza lhes pertence. Da mesma forma, acreditam que a Cisjordânia faz parte da sua “Terra Prometida” e planejam fazer em Gaza o que fizeram à Cisjordânia: colocar soldados e colonos no terreno para gradualmente expulsar os palestinos.

A maioria dos israelenses não apoia essa posição, mas ela está ganhando força. Como descreve o artigo do New Arab: “Uma pesquisa recente do Canal 12 de Israel revelou que 4 em cada 10 israelenses apoiam a revitalização dos assentamentos em Gaza”.

Este é o estado de espírito que domina a ala direita. Netanyahu depende destas pessoas e é por isso que tem de mantê-las felizes. O ataque a Rafah que está sendo preparado faz parte desta política.

E isto nos traz de volta à Rafah de hoje: quase três quartos dos palestinos de Gaza estão concentrados ali. Parte do pensamento de Netanyahu é claramente expulsar uma parte significativa desta população da Faixa de Gaza. O único lugar para onde poderiam ir seria o Egito. O governo de Netanyahu espera fazer o mesmoque aconteceu em 1967, quando mais de 400 mil pessoas foram expulsas da Cisjordânia e dos Montes Golã, preparando assim o terreno para o programa de colonização.

Isto significaria um reequilíbrio gradual e de longo prazo da composição étnica de Gaza. Alguns seriam expulsos, enquanto o número de colonos aumentaria sistematicamente. Tudo perfeitamente alinhado aos objetivos de longo prazo do projeto sionista desde o seu início.

Este plano é um fator importante para conduzir a atual situação cada vez mais perto de uma escalada maior. A situação está se tornando tão tensa que até o regime egípcio de Al-Sisi ameaça que, caso Israel provoque um desastre humanitário em Rafah, o acordo de paz de 1979 assinado entre Israel e o Egito poderá estar em risco.

O regime de Al-Sisi não é amigo do povo egípcio, nem dos palestinos. No entanto, mesmo este regime reacionário pode sentir a pressão que está se acumulando nas profundezas da sociedade egípcia. Está sendo preparada uma nova revolução árabe ao estilo de 2011, e a situação dos palestinos poderá revelar-se a faísca que acenderá o barril de pólvora.

Isto explica a retórica beligerante de Al-Sisi, que nunca fez nada pelos palestinos. Na verdade, o regime egípcio ajudou Israel a manter os habitantes de Gaza trancados dentro de uma prisão ao ar livre durante anos. Mesmo agora, os militares egípcios servem como guardas fronteiriços de Israel, cercando os palestinos em Gaza, com pequenos grupos sendo capazes de passar pela passagem de Rafah em troca de subornos de até 10 mil dólares.

Mas Al-Sisi precisa ser visto manifestando oposição ao plano de Netanyahu de avançar sobre Rafah. O ataque às pessoas, agora concentradas naquela cidade, deslocaria centenas de milhares, aumentando a possibilidade de chegarem à Península do Sinai, do outro lado da fronteira.

Um fator adicional no pensamento de Al-Sisi é que o deslocamento de centenas de milhares de habitantes de Gaza para campos de refugiados na Península do Sinai iria desestabilizar as futuras relações com Israel, arriscando inclusive a eclosão de futuras guerras entre os dois países. O governo egípcio compreende que tais campos de refugiados – depois do número sem precedentes de palestinos mortos nesta guerra – seriam terrenos férteis para a radicalização de uma nova geração de jovens palestinos, determinados a lutar para recuperar a sua terra natal, semelhante à situação no Líbano na década de 1970.

O governo israelense aposta na colaboração contínua com o Egito. No entanto, não há certeza de que Al-Sisi garanta isso. Hoje, a maior preocupação deles é serem vistos pelas massas egípcias como um governo que está enfrentando Israel enquanto este massacra os palestinos do outro lado da fronteira.

Isto também explica por que razão o Egito está pressionando os líderes do Hamas para que aceitem algum tipo de acordo que possa levar a um cessar-fogo. O governo de Al-Sisi precisa desesperadamente apagar as chamas. O problema é que os planos dos sionistas a respeito de Gaza deixam pouco espaço para essas manobras.

E se as chamas não forem apagadas em Gaza, poderão espalhar-se de um regime para outro em uma série de revoltas em massa que poderão derrubar muitos dos déspotas reacionários da região. O Rei da Jordânia também expressa a mesma preocupação, sentado em cima de um barril de pólvora igualmente explosivo.

A crise global do capitalismo criou condições sociais e econômicas em toda a região, que preparam o terreno para tal cenário. Este é o pesadelo que os imperialistas enfrentam e não têm uma solução real e duradoura. A razão para isso é que eles são o principal problema. Foram eles que criaram esta confusão e a única solução real é derrubá-los.

A melhor coisa que nós, como comunistas de todo o mundo, podemos fazer pelo povo palestino é lutar em nossos próprios países contra as classes dominantes. Isso só será alcançado através da luta de classes revolucionária em todo o mundo, que para ser bem-sucedida, requer uma liderança comunista revolucionária.

Estamos todos enojados e irritados com as cenas que observamos em Rafah e nos seus arredores, além de toda a carnificina na cidade de Gaza, em Khan Younis e em outras cidades e aldeias. Mas a ira não é suficiente. Organize-se e junte-se aos comunistas na batalha para acabar com este pesadelo!

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.