A luta contra as ideias estranhas à classe trabalhadora: nem tudo que reluz é ouro

O texto que apresentamos aqui é o resultado de discussões, nas diversas seções da Corrente Marxista Internacional (CMI), ao redor do mundo. O debate aqui sintetizado expressa essas discussões, que foram concentradas em dois dias de debates com delegados de todas as seções, no Congresso Mundial da CMI, realizado em julho de 2018, na Itália. Seguindo a tradição bolchevique, de garantia da democracia interna e amplo debate, as posições aqui apresentadas são uma expressão da atualidade desses métodos tradicionais desenvolvidos pela classe trabalhadora.

Justamente com objetivo de defender esses métodos e a tradição teórica que lhe deu origem, a CMI realizou esse debate e apresenta sua defesa do marxismo diante das “novas ideias” que, como disse Trotsky, “querem revisar toda a marcha do pensamento revolucionário”, renegando o passado e afirmando que tudo deu errado. Essas novas e brilhantes ideias, têm se mostrado, como explicaremos ao longo do texto, contrarrevolucionárias, burguesas e reacionárias.

Nesse debate, um ponto fundamental é a defesa da teoria. Compreendida não de forma diletante e acadêmica, mas como ferramenta revolucionária. Não interessa à classe trabalhadora um “marxismo acadêmico” ou apolítico, tirando dele toda sua essência revolucionária. Nesse sentido, reafirmamos a defesa do marxismo como a teoria capaz de armar a classe trabalhadora em sua luta pela emancipação, pelo fim das classes e pelo fim do capitalismo.

Um segundo ponto que merece atenção é o pessimismo que tem dominado a esfera acadêmica e política e que vem influenciando a juventude e as direções reformistas dos sindicatos. Esse desânimo vem sendo cultivado desde o fim dos Estados Operários e, com a queda do muro de Berlim e as revelações da política contrarrevolucionária stalinista, aprofundou-se numa perspectiva de abandono do passado, considerando as práticas stalinistas como símbolo do equívoco da teoria marxista.  Nada mais equivocado!

Esse abandono da teoria marxista está muito presente na academia desde a década de 1970, desenvolvendo-se a partir das teorias pós-estruturalistas e chegando àquilo que hoje denomina-se teorias “pós-modernas”, que têm como ramificações as diversas teorias feministas e identitárias. Essas diversas formulações baseiam-se na suposta superação do marxismo, considerada uma teoria ultrapassada, apresentando um quadro de abandono da luta de classes e um profundo pessimismo diante da possibilidade de transformação radical da sociedade, apresentando então, como única forma de sobrevivência nesse cenário distópico, as lutas individuais pautadas nas diversas identidades e na alteração das “narrativas” ou do “discurso” como suposto instrumento de resistência.

Nesse sentido, as teorias pós-estruturalistas são pautadas não naquilo que nos permite generalizar, unificar e apontar saídas coletivas, mas nas subjetividades, nas experiências e nos significados individuais dados aos fatos da realidade. Afastam-se assim, dos princípios da ciência, desenvolvidos pela humanidade ao longo de séculos. Assim, essas diversas teorias, que têm servido como instrumento de combate ao marxismo e ao socialismo, encobrem seu caráter antirrevolucionário e pequeno burguês com uma postura esquerdista e radical.

Essas “novas ideias”, além de antimarxistas e em, muitos casos, reacionárias, apresentam um cenário de desânimo e pessimismo diante da realidade, reforçando a apatia e a ideia da impossibilidade de uma transformação radical da sociedade. Essas ideias têm influenciado fortemente a juventude universitária – incluindo a juventude da classe trabalhadora que está dentro dela – e também as direções sindicais que, cada vez mais, têm se tornado um grupo de reformistas sem reformas e que, diante de sua própria falta de confiança na classe trabalhadora, vem utilizando essas teorias como muleta para permanecerem encastelados em suas burocracias.

O fortalecimento das teorias identitárias dentro do espaço sindical, com a aplicação de políticas de cotas para mulheres, por exemplo, e a construção de argumentos que buscam desqualificar oponentes políticos com base nelas, tem se tornado um substituto para a discussão de posições divergentes; a luta de ideias é abandonada em função da desqualificação do adversário no campo das subjetividades. Nas universidades, a utilização dos “novos” métodos ligados às políticas de identidade têm dificultado e, em muitos casos, impossibilitado o diálogo entre os estudantes, uma vez que sempre alguém estaria oprimindo alguém nas relações de “micro poder”. Assembleias, greves, atos e debates são permeados por um clima de cerceamento do diálogo e acusações que deslocam a luta dos estudantes por uma Universidade pública, gratuita e para todos, com políticas de assistência estudantil que garantam a permanência dos estudantes, para a disputa entre as opressões e punições contra aqueles que estão no mesmo lado da trincheira.

Com essa política de divisão – já muito bem utilizada pelo capitalismo ao longo da sua história -, a luta dos estudantes e dos trabalhadores contra seu principal inimigo (a sociedade de classes e o capitalismo), fica enfraquecida, ao mesmo tempo que permite a aplicação dos diversos planos de austeridade que vêm sendo utilizados em todo o mundo, retirando direitos e cobrando da classe trabalhadora a conta da atual crise política e econômica.

As diversas teorias oriundas do pós-estruturalismo, como a teoria queer e a interseccionalidade, têm tido grande influência na esquerda em todo o mundo. No Brasil, vemos as expressões dessa influência na esquerda, tanto nos sindicatos quanto nos partidos e universidades. No caso do PSOL, as diversas demandas que seriam próprias dos grupos, são debatidas em coletivos e organizadas em pautas que, ao estabelecerem métodos e reivindicações específicas, acabam deixando de lado as lutas da classe trabalhadora, uma vez que não abordam a opressão a partir de um viés revolucionário, mas “classista” ou “interseccional”.  É preciso compreender a relação umbilical do capitalismo com a opressão de grupos específicos. Relação essa que, dialeticamente, divide para dominar e utiliza para vender, criando novos nichos de mercado.

É importante ressaltar a defesa intransigente da Esquerda Marxista das liberdades democráticas, contra o racismo, o machismo e a homofobia. Como comunistas que defendem o legado de Marx, Lênin, Engels e Trotsky, nossa luta é pela emancipação da humanidade e essa luta deve seguir firme nos princípios do marxismo, sem cair em ilusões e revisionismos.

Nesse sentido, lançamos no início de 2018, o movimento Mulheres pelo Socialismo. Compreendemos, assim como as revolucionárias do início do século XX, que somente a superação do capitalismo poderá permitir a emancipação real da mulher e construímos, portanto, uma plataforma de reivindicações transitórias, que buscam dialogar com as mulheres trabalhadoras e estudantes, articulando suas lutas imediatas com a necessária luta pelo socialismo. Esse instrumento tem se mostrado importante para a construção junto às mulheres, debatendo temas caros para a mulher trabalhadora e para a juventude, fortalecendo sua luta diária e sua consciência revolucionária.

Nesse momento de profunda crise do capital, expresso na crise da teoria e no pessimismo da esquerda, apresentamos esse texto fundamental para os marxistas e sua luta pela emancipação da classe trabalhadora. Luta que não possui atalhos e nem desvios, que somente terá sucesso através da firmeza nos princípios e da luta consciente contra o capital, que, cada vez mais, nos atira na barbárie e no horror. O texto que apresentamos aqui é uma injeção de ânimo, uma demonstração cristalina dos equívocos das ditas novas ideias e dos prejuízos que elas trazem.

Boa leitura!

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About the author

Francis Madlener faz parte da coordenação do movimento Mulheres pelo Socialismo.