Venezuela: Classe contra classe, a revolução desmascara seus inimigos

Para a burguesia, tudo pode ser admitido e mudado, menos 3 coisas: sua propriedade privada dos meios de produção, seu Estado e sua tropa de coerção e repressão (o Exército). A reforma veio mexer exatamente nessas 3 coisas

Por Wanderci Silva Bueno, da Venezuela

Heinz Dieterich, amigo e assessor do general Baduel, no dia 24 de Junho de 2006, por ocasião de sua retirada como Chefe da Forças Armadas, declarava: “depois de anos de discussão, em grande medida caótica, desrespeitosa e superficial, que começa a minar a credibilidade no discurso socialista do presidente, é uma necessidade política para Hugo Chávez e para a revolução bolivariana passar à etapa do debate científico…”

Baduel declarara: “como militar, não me cabe participar em questões políticas…há que consolidar a democracia participativa e o consenso que se manifesta na sociedade….devemos inventar o socialismo do século XXI, porém não de maneira desordenada e caótica,devemos nos valer dos marcos da referência que nos dá a ciência.”

E Dieterich uma vez mais declarava:”a classe operária não é o motor da transformação social…o sujeito da liberação é multiclassista, multiétnico, de mulheres e homens”.

Nossos camaradas e simpatizantes da Esquerda Marxista no Brasil devem estar se perguntando: “mas o que tem a ver essas declarações com os acontecimentos que estão se dando na Venezuela? O que tem isso a ver com a Reforma Constitucional e com as ações da burguesia avançando na contra-revolução, e com o discurso de Baduel – que no dia 05 de Novembro (um dia depois da Marcha de 1 milhão de pessoas em apoio à Chávez, à Reforma e à Revolução) vem em público (nas emissoras reacionárias) para anunciar que “a reforma é um golpe”?

Expliquemos: Heinz Dieterich é o “inventor” (ou charlatão, uma espécie de Paulo Coelho do socialismo) de uma teoria que fala que a informática, a cibernética, com a substituição dos preços pelos valores das mercadorias, serão a base angular do novo socialismo. O ilustre pensador sente ódio mortal pela “superficialidade e pelo caos” nas discussões sobre a revolução. Para ele, tudo deve passar para o terreno da ciência e dos sábios ( como ele, é claro). Qual base científica propõe? Baduel, em 24 de Junho de 2006, dava a resposta: “há que consolidar a democracia participativa e o consenso existente na sociedade”… e Dieterich arrematava reforçando as confusões de Chávez: “…a classe operária não é o motor da transformação social…o sujeito da liberação é multiclassista, multiétnico, de homens e mulheres..” Estava assim feita a confissão de classe de Heinz e Baduel. A ciência que propunham era a ciência que apagava o papel da classe operária como vanguarda da revolução, era a ciência do consenso e da democracia participativa ungida pelos atores multiclassitas. Ou seja: a política de conciliação de classes, reencarnando e ratificando o stalinismo como ciência da contra-revolução. Dieterich e Baduel saltaram das “talanqueras”. (No Brasil essa expressão seria literalmente traduzida como “saltaram dos tamancos”, mas significa outra coisa, significa desvencilhar-se das sandálias para melhor soltar os golpes de capoeira, significa “abriram a mala de ferramentas”, como se fala no futebol).

Gente pouco desatenta não ligou essas declarações com o que viria depois. Muller Rojas, general aposentado e destacado por Chávez para dar inicio à construção do PSUV, sai criticando a profissionalização do exército e defendendo que as tropas deveriam ter o direito de participar da vida política e participar em partidos, se afiliarem ao PSUV. Argumentava ainda que a defesa da nação contra a ameaça imperialista à revolução deveria ser feita pelo povo em armas e pela milícias do povo. Chávez, tentando manter Baduel sob controle, faz uma manobra desesperada e perigosa: sai em público negando o marxismo, o papel da classe operária, e defende o profissionalismo das FAs, aparentemente se alinhando com Baduel. Muller se retira do comando do PSUV, mas não abre mão de sua luta e de suas idéias.

Todos esses fatos antecederam a elaboração e discussão da Reforma Constitucional, e agora explodem as contradições. Chávez responde imediatamente acusando Baduel de traidor e realiza uma Assembléia com todos os delegados e representantes dos batalhões do PSUV, onde arma a resposta para garantir a vitória do SIM no referendo de 2 de Dezembro.

Para a burguesia, tudo pode ser admitido e mudado, menos 3 coisas: sua propriedade privada dos meios de produção, seu Estado e sua tropa de coerção e repressão (o Exército). A reforma veio mexer exatamente nessas 3 coisas e residem aqui as explicações para a guerra que a burguesia lança contra as massas e contra a revolução. Baduel passou para o lado das barricadas inimigas, lugar de onde nunca saiu. Chávez segue ao lado das massas, e estas, ao saírem para as ruas no dia 4, demonstram que estão dispostas a avançar.

Como sempre, tudo se concentra na questão do partido revolucionário: que passa pela construção do PSUV e pela construção de uma corrente revolucionária em seu interior. Esse é o combate que vamos levar adiante com a fusão do Grupo Trotskysta pela Reconstrução da IV Internacional com a Corrente Marxista Revolucionária em 8 de Dezembro, rumo à construção de uma corrente com influência entre as massas.

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