Trump e sua guerra comercial: existe saída dentro do capitalismo?

No início de março, o presidente dos EUA, Donald Trump lança em seu Twitter: “Quando um país (os EUA) está perdendo muitos bilhões de dólares no comércio com todos os países com que negocia, as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”. Este tweet não está desconectado de sua política. Pelo contrário, ele se materializa em ações, como a anunciada há duas semanas: elevação das tarifas sobre as importações de aço e alumínio e sobretaxas sobre importações da China no valor de 60 bilhões de dólares.

Este anúncio causou grande alvoroço no mercado mundial. O aumento nas tarifas de importações do aço em 25% e do alumínio em 10% trará retaliações a vários países, especialmente à China e aos estados que compõem a União Européia. Após o anúncio, as três bolsas mais importantes do mundo (Dow Jones, Nasdap e S&P500) anunciaram quedas.

Não só os grandes capitalistas desses países, que serão mais afetados diretamente, mas do mundo inteiro (inclusive dos próprios EUA) estão alertas com relação à guerra declarada por Trump. Ricardo Azevedo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), advertiu: “Uma guerra comercial não interessa a ninguém!”. Gerry Rice, porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), declara que “as restrições às importações anunciadas pelo presidente dos EUA provavelmente causarão danos não somente fora dos EUA, como também à própria economia americana”.

A política protecionista de Trump na perspectiva do “empobrece-ao-teu-próximo” é parte de suas promessas de campanha em 2016, na qual falava da defesa do trabalhador e da indústria americana. Seu lema é “América Primeiro” e o resto do planeta que se exploda.

Mas quais as consequências desta política? Há chances dos EUA se salvaguardarem de uma nova recessão mundial criada por eles mesmos? Até que ponto esta é uma guerra comercial?

Aprendendo com a história, observamos semelhanças entre o momento atual e a recessão de 1930. Em junho de 1930, o então presidente dos EUA, Herbert Hoover, promulgou uma lei que impôs tarifas significativas sobre bens importados. O Canadá e a Europa, por retaliação, introduziram tarifas protecionistas que serviram para aprofundar a Depressão. O mercado mundial entrava em colapso. Em 2008, tivemos outra recessão mundial, a qual nos afeta até hoje.

O capitalismo passa por crises cíclicas, inerentes a sua constituição. O período de intervalo entre uma crise e outra está diminuindo. O sistema não mostra sinais de recuperação. Existem várias contradições inerentes ao sistema, mas a tendência à superprodução é a principal. Entretanto, se o produto não escoar no mercado, a queda da venda resultará na queda dos lucros.

Existe, então, solução para os trabalhadores e a indústria americana? Como esta política pode representar um aumento na criação de empregos tão propagandeada por Trump? Em que medida esta guerra comercial é de interesse dos trabalhadores americanos? Em que medida esta guerra comercial é de interesse das empresas americanas, sendo que várias delas têm sua sede e produção na China? Em que medida esta é uma verdadeira guerra comercial?

Até agora, a burguesia dos EUA tem conseguido conter as manifestações e a raiva da classe operária. Mas ela vai se manifestar, tanto nas grandes mobilizações, como a que recentemente a juventude protagonizou, como também nas greves e manifestações operárias. Até agora, todo o aparato sindical, da mídia e do Partido Democrata tem sido no sentido de dirigir a raiva para as eleições parlamentares deste ano no país. Contudo, isso não tem muito sentido para os trabalhadores, já que não há, no momento, uma alternativa de um partido da classe operária nos EUA. Sim, haverá um aumento de voto nos democratas e provavelmente em candidatos independentes. Porém, as greves e manifestações virão, com ou sem eleições, e a burguesia teme isso mais que nunca.

Dentro deste cenário de turbulências está o Brasil. Os jornais capitalistas especulam as retaliações que o país pode sofrer, já que é o segundo país que mais vende aço para os EUA, perdendo somente para o Canadá.

As respostas à crise de 2008 nos clarificam um pouco sobre o futuro. As expressões de Corbyn na Inglaterra, Mélenchon na França, o PODEMOS na Espanha e Bernie Sanders nos EUA nos mostram que as respostas dos trabalhadores caminham cada vez mais contra este sistema capitalista que oprime e suga o operariado, sem dar perspectivas de avanços e respiros.

É por isso que afirmamos que não há esperança dentro do capitalismo. A guerra capitalista só serve para produzir violência e morte dos trabalhadores. Àqueles que tudo produzem, o que o capitalismo entrega é fome e destruição.

Somente em uma sociedade socialista, na qual a economia é planificada e está sob o controle democrático dos operários, é que se pode oferecer um caminho a seguir. É preciso abolir a tirania do mercado obcecado pelos lucros para transformar a produção como bem coletivo de todos.

As ameaças de Trump são a ponta do iceberg deste sistema podre que está a desmoronar. Mas é necessária a força de toda classe trabalhadora para pô-lo ao chão e construir outra sociedade, a socialista!