José Cruz/Agência Brasil/Agência Brasil

Temer e vice dos EUA conspiram contra Venezuela e imigrantes

Pence exige que Temer e outros governantes sul-americanos isolem a Venezuela e reprimam seu próprio povo para não imigrar aos EUA

Mike Pence e Michel Temer encontraram-se em Brasília para uma reunião rápida na última terça-feira (26/6). De acordo com os veículos de comunicação, foram dois os pontos de pauta: as crianças brasileiras separadas dos pais na fronteira norte-americana e a política do governo brasileiro em relação ao regime venezuelano. Essa reunião foi parte de um giro do vice-presidente dos EUA por países latino-americanos, com o objetivo central de isolar e aumentar a pressão sobre a Venezuela.

Em relação aos imigrantes, o governo Trump estabeleceu em abril o que ficou conhecido como “tolerância zero” com a imigração ilegal. Qualquer pessoa que atravesse a fronteira irregularmente é considerada delinquente e processada como tal. No entanto, as crianças não podem ser levadas a uma prisão normal. Isso fez com que mais de 2.300 delas fossem separadas dos pais, e detidas em centros com grades, colchonetes e cobertores de alumínio. De acordo com o Itamaraty, ao menos 51 são brasileiras. As imagens das crianças atrás das grades e apartadas de seus pais correram o mundo e geraram uma onda de indignação.

O vice dos EUA usou sua visita ao Brasil para ameaçar e intimidar os trabalhadores das Américas e seus filhos, em especial aos pertencentes à América Central.

Para as pessoas da América Central, tenho um recado para vocês, do coração: queremos que suas nações prosperem e vocês não arrisquem suas vidas e as de seus filhos tentando vir para os EUA; se vocês não conseguem ir legalmente, não venham; cuidem de suas crianças e construam suas vidas em seus países de origem.

Essas palavras ameaçadoras mostram o novo estilo Trump. O fenômeno da imigração existe justamente pelo domínio e exploração de países imperialistas, como os EUA, sobre países coloniais e semicoloniais. A batalha aberta por Trump em abril contra os imigrantes e seus filhos reflete uma guerra que sempre existiu, com maior agressividade a partir do governo Bush e estendendo-se com Obama. Trata-se do esforço do império norte-americano em barrar em suas fronteiras milhões de trabalhadores que fogem das condições insuportáveis de miséria e sofrimento a que estão submetidos em seus países de origem.

A pauta de Mike sobre a Venezuela com Temer faz parte dos esforços dos EUA em preparar as condições para a destruição do regime de Nicolás Maduro. Em seu lugar, o imperialismo norte-americano quer ver um governo burguês sob seu controle, com a derrota em sangue das massas revolucionárias. Esse é um esforço permanente do imperialismo norte-americano desde Bush, que Obama empenhou-se em concretizar. Relembremos as sucessivas tentativas de golpes para depor o governo Chávez.

Trump desenvolve uma política mais agressiva e ousada, para atingir os mesmos fins. Em 2017 os EUA contavam com um golpe de Estado a partir das mobilizações de massa que tomaram as ruas durante meses, lideradas por setores fascistas. No entanto, a resposta massiva da classe trabalhadora, o apoio popular à Assembleia Constituinte convocada pelo governo, dividiram e desarticularam a oposição de direita.

As apostas dos EUA neste momento concentram-se em dois aspectos. Querem ampliar a profunda crise econômica do país, como forma de desestabilizar o regime e minar sua base de apoio, assim como buscam isolar a Venezuela no cenário internacional e regional da América do Sul, criando as condições políticas para adotar novas sanções, fortalecer a oposição de direita e permitir algum tipo de agressão militar.

Em âmbito latino-americano essa articulação dos EUA conta com o apoio direto dos países que compõem o Grupo de Lima, que são Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia. Em agosto de 2017, conseguiram suspender a Venezuela do Mercosul. Em 21 de maio, o Itamaraty divulgou uma declaração do Grupo de Lima que não reconhece a eleição que deu vitória a Maduro, invoca uma ruptura diplomática com o país, e endossa e estimula sanções e boicotes econômicos.

Maduro por sua vez deveria se apoiar nas massas que em diferentes momentos salvaram a revolução dos golpes do imperialismo. No entanto, ele prossegue as tentativas de conciliação com a burguesia e a busca por pontos de apoio em governos reacionários, como de Erdogan, da Turquia.

O governo Temer assina as políticas do imperialismo norte-americano, além de pressionar e ameaçar diretamente a Venezuela com o envio de soldados para a fronteira, sob a alegação de que vão ajudar na crise humanitária. Por que enviar soltados ao invés de médicos e assistentes sociais para recepcionar os imigrantes que fogem do país vizinho? Mas os EUA querem mais, e Pence pediu para que o Brasil adote sanções contra a Venezuela. O Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que o Brasil sancionaria, desde que não fosse sozinho, evidenciando não apenas a covardia política do governo brasileiro, mas também o caráter semicolonial do Brasil, que possui uma independência política formal, mas que tem mil fios ligados e controlados por Washington.

A ousadia e a tenacidade com que Pence, um vice-presidente, articula a pressão contra a Venezuela contrasta com a covardia e subordinação de Temer, um vice que ascendeu ao posto de comando da nação. Temer nem sequer exigiu que as crianças brasileiras fossem devolvidas a seus pais. No máximo, ofereceu-se a buscá-las de volta para o Brasil, deixando os pais presos nos EUA!

Hoje, nos EUA e na Europa, o drama dos imigrantes, legais e ilegais, ocupa frequentemente as páginas dos jornais. Nós repetimos o que Marx e Engels disseram há muito tempo: Proletários de todo mundo, uni-vos. Essa união acabará com estas políticas e com a miséria que o capitalismo imprime no mundo inteiro.