Os tortuosos caminhos até a Revolução Chinesa de 1949

Em 1º de outubro de 1949 era proclamada a República Popular da China. Neste artigo, retomaremos alguns antecedentes que vão culminar nesse evento histórico, que colocou um quarto da humanidade sob um novo regime.

A civilização chinesa possui raízes milenares, com avanços culturais impressionantes na antiguidade, foram os primeiros a inventar a pólvora, a bússola, o papel, a imprensa (antes de Gutemberg), o astrolábio, etc. Além de grandes construções, como a Muralha da China. No entanto, este império não se desenvolveu como um país capitalista. O que criou as condições para a sua dominação pelos países imperialistas no século 19, com diferentes guerras que acabaram em derrotas e duras imposições à China. Foi o caso da Primeira e da Segunda Guerra do Ópio, da Guerra Franco-Chinesa, da Guerra Sino-Japonesa, das ocupações de territórios pela Rússia e pela Alemanha.

No início do século 20, a China encontrava-se dominada por potências estrangeiras, sob o governo de uma dinastia decadente e servil aos interesses do capital. Surge e ganha força o movimento republicano nacionalista, liderado por Sun Yat-sen, que desemboca na Revolução Xinhai, em 1911, com a derrubada do regime dinástico e a proclamação de uma república “democrático-burguesa”.

Sun Yat-sen constitui o Kuomintang, partido nacionalista, e é eleito primeiro presidente da China, tendo como objetivo o desenvolvimento econômico do país sobre bases capitalistas.

Mas as condições objetivas impedem isso. Em 1913, o general Yuan Shikai dá um golpe de Estado, com o apoio das potências estrangeiras, dissolve o parlamento e coloca o Kuomintang na ilegalidade. O general baseia seu poder na aliança com os chamados senhores da guerra, líderes militares que comandavam, com seus exércitos particulares, vastos territórios da China. Abre-se então um período de fragmentação territorial e aprofundamento do caos social.

Em 1919, Sun Yat-sen retorna de seu exílio no Japão e passa a reorganizar o Kuomintang. Institui uma nova república restrita ao sul do país, que ficou conhecida como a República de Cantão.

A Revolução Russa de 1917 tem seu impacto sobre a nação vizinha. Os ideais marxistas começam a ganhar adeptos na China. Em 1921, é fundado o Partido Comunista Chinês, por 12 delegados representando 57 membros.

Em 1924, tem início um levante contra o domínio dos senhores da guerra. O Kuomintang alia-se ao PCCh, com apoio dos soviéticos, e realiza a Expedição do Norte para unificar o país.

Mas a ascensão de Stalin na URSS e da teoria requentada de alianças com as burguesias nacionais supostamente “progressistas” nos países atrasados, resulta em uma aliança em que o PCCh fica a reboque do Kuomintang, sem uma política proletária independente, chegando a se dissolver no interior desse partido burguês. O sucessor de Sun Yat-sen na liderança dos nacionalistas, o general Chiang Kai-shek, é convidado a ser membro honorário da Internacional Comunista.

Esta orientação traidora custa caro. Em 1927, um levante proletário em Xangai, encabeçado pelos comunistas, é massacrado pelo Kuomintang, que assassina milhares de revolucionários. Com a ruptura da aliança, a Internacional então gira para uma orientação esquerdista e aventureira, de levantes armados contra o Kuomintang, que passa a dominar o poder central na China, provocando novas baixas nas fileiras revolucionárias.

Os comunistas se refugiam no campo e formam milícias camponesas. Cresce a influência da teoria maoísta de que os camponeses, não os operários, seriam a cabeça da revolução. Uma revisão do marxismo e orientação oposta à proposta pela Oposição de Esquerda Internacional.

Chiang Kai-Shek endurece a repressão contra as áreas controladas pelos comunistas. O agrupamento liderado por Mao, na província de Jiangxi, é forçado a bater em retirada, dando origem ao episódio que ficou conhecido como a “Longa Marcha”, iniciada em 1934. O exército de Mao teria partido com cerca de 100 mil homens e chegado, após percorrer 10 mil quilômetros, sendo perseguido e por terrenos inóspitos, com menos de 9 mil combatentes.

As forças dos comunistas ficam extremamente reduzidas com a fuga para o noroeste do país. A guerra de resistência contra a invasão japonesa, em 1937, proporciona uma oportunidade para o PCCh se recompor. Chiang Kai-shek propõe trégua e nova aliança para combater os invasores externos.

A guerra de resistência irá terminar apenas em 1945, com a rendição do Japão no fim da 2ª Guerra Mundial aos EUA. A moral dos comunistas sai elevada, tanto internacionalmente, com as vitórias do Exército Vermelho, quanto no solo chinês, onde os batalhões liderados pelos comunistas eram identificados como os que de fato levaram o combate contra a invasão japonesa.

Stalin orienta então um novo governo de coalizão entre PCCh e Kuomintang, mas Chiang Kai-shek exige que os comunistas deponham as armas. O pacto não se confirma e inicia uma nova Guerra Civil. A proposta de reforma agrária garantiu o apoio das massas camponesas a Mao, o Kuomintang segue se desmoralizando, isso permite uma reviravolta na correlação de forças e a tomada do poder dos centros políticos pelo Exército de Libertação Popular. Em 1949, Chiang Kai-Shek foge para Taiwan e a República Popular da China é fundada na área continental.

Não era a intenção de Mao expropriar a burguesia. Ele buscava uma aliança entre as diferentes classes. Mas, confirmando a teoria da revolução permanente, a burguesia nacional se mostra incapaz de levar à frente as mínimas tarefas democrático-burguesas nos países dominados. A República Popular da China constitui-se então como um Estado operário deformado desde o seu nascimento, com diversas contradições, sem a existência de uma democracia operária, mas que garante avanços proporcionados por uma economia planificada.

A abertura da China ao capital externo, sobretudo dos EUA, patrocinada por Mao no início da década de 70, resultou no processo de restauração capitalista na China. Hoje, o proletariado chinês vive em um regime de ultra-exploração garantido pela ditadura do PCCh, que de comunista só mantém o nome.

O proletariado chinês, com tantas tradições revolucionárias, certamente saberá reorganizar suas forças para lutar contra a máfia capitalista que domina o país a serviço do capital internacional, e ser um importante elemento do combate pela revolução mundial.