Origens: A Formação da Classe Operária no Brasil

Entre 1917 e 1920, chegou-se ao auge as lutas e greves operárias. Dentre as principais reivindicações dos operários, constavam; a redução da jornada de trabalho, melhores condições de vida, aumento salarial e a lei de trabalho de mulheres e menores.

Na virada do século 19 para o 20, a economia agroexportadora brasileira começa a dar sinais de crise. A produção industrial passa a ser uma alternativa para a acumulação do capital. Uma burguesia industrial começa a se formar no país. O crescimento do mundo fabril e urbano, concentrado na região Sudeste, também impulsiona a diversificação de camadas médias urbanas que, junto com a classe operária em formação, passam a exigir uma maior participação política, desafiando a hegemonia das oligarquias agrárias. O positivismo, em um sentido amplo, é a ideologia que vai subsidiar o movimento republicano. Seu ideal reformista, que propõe o progresso social sem ruptura com a ordem capitalista, serve bem aos movimentos reivindicatórios da classe média, a eclipsar o desenvolvimento do pensamento dialético na classe operária brasileira, ainda incipiente.

Nesse contexto, a Proclamação da República (1889) vai significar um reordenamento da dominação das oligarquias, sobre liderança dos fazendeiros de café. Parte do movimento positivista vai adotar uma postura conservadora após a derrubada da monarquia. Outra parte continuará a questionar a dominação das elites agrárias, e vai influenciar o movimento operário nascente, já em contato com vertentes reformistas do socialismo europeu e americano, ligadas a II Internacional. Assim, o movimento socialista brasileiro será, no início, um desdobramento à esquerda desse “republicanismo positivista”.

As primeiras organizações socialistas têm vida efêmera, como o Centro Socialista de Santos (1889) e o Partido Socialista do Rio de Janeiro (1892 e 1902). A principal reivindicação dos trabalhadores era a redução da jornada para 8 horas de trabalho diário. Algumas categorias conseguem vitórias parciais, como a dos têxteis do Rio de Janeiro que, em 1903, conquista uma jornada de 9 horas e meia.

Em 1906, após uma onda grevista, o movimento operário brasileiro começa a ganhar autonomia em relação ao reformismo positivista. O anarquismo, trazido por imigrantes europeus, passa a predominar no movimento operário, baseado em associações de ajuda mútua e em sindicatos de corporações profissionais.

É nesse contexto que é feita a primeira tentativa de organizar nacionalmente a classe trabalhadora, com a fundação da Confederação Operária Brasileira (COB), em 1906. Em seu II Congresso, em 1913, já é evidente o predomínio do anarcosindicalismo na COB, que chegou ao seu auge na ascensão do movimento grevista entre 1917 e 1920. As greves, iniciadas em São Paulo, generalizaram-se para outros estados, como RJ, PR, PE, MT, RS e SC, envolvendo mais de 75 mil trabalhadores – ou 30% da força de trabalho nas fábricas de todo país. O Comitê de Defesa Proletária de São Paulo, durante três dias, assume o controle da cidade. O governo e os patrões são obrigados a negociar com os grevistas que arrancam algumas conquistas: 20% de aumento salarial, a promessa (não cumprida) da jornada de 8 horas e a lei do trabalho de mulheres e menores. O governo e as elites já não podiam mais ignorar a classe operária. A repressão foi grande, com a extradição de diversos imigrantes que dirigiram o movimento.

Em 1920, ocorre um refluxo nas mobilizações, e o anarquismo entra em crise. O contínuo desenvolvimento das fábricas, a maior concentração da classe operária, a modernização das relações de trabalho, colocam as concepções do anarquismo em cheque, com seu espontaneísmo, sua recusa à participação política e suas teses de pouco apelo social, como o anticlericalismo e o antimilitarismo.

Estão lançadas as sementes para a organização do Partido Comunista do Brasil (PCB). Principalmente, com o grande impacto que a Revolução Russa teve sobre o movimento operário mundial. Foi muito importante a adesão de antigas lideranças anarcosindicalistas, como Astrojildo Pereira, na formação do PCB – mas não pode ser exagerada. Entre os fundadores do partido havia membros egressos do positivismo, do republicanismo e de organizações maçônicas. No momento em que é fundado o partido no Brasil, há um refluxo do movimento comunista internacional, com o isolamento da URSS e a derrota da revolução na Alemanha. Entre 1922 e 1927, o PCB procura desenvolver uma política de frente única, ao mesmo tempo em que reforça suas diferenças em relação ao anarcosindicalismo, com a defesa da revolução russa e da organização partidária. O Manifesto Comunista é publicado em português em 1923. Mas a despeito de toda essa agitação, a grande massa da classe operária continuava carente de direitos e de organização, tornando-se um campo fértil para a ação intermediadora do Estado.

A greve de 1917 em São Paulo

“Há ordem de atirar sobre quem fique parado na rua. Nos bairros fabris do Brás, Mooca, Barra Funda, Lapa, sucedem-se tiroteios com grupos populares. Em certas ruas já começaram a fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas e a polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros”. Everardo Dias

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