Olimpíadas 2016 – Os insatisfeitos que se mudem

Governos e empresários utilizam as Olimpíadas para fazer acontecer seus interesses, enquanto condições de vida da população do Rio de Janeiro continua tão ruins quanto antes do evento.

“Os insatisfeitos que se mudem”, foi a declaração de Eduardo Paes (PMDB), prefeito do Rio, num Twitter “dialogando” com um morador do Rio que fez algumas críticas às “obras olímpicas”.

O plano é uma maravilha. São 39 bilhões de reais estão sendo gastos, dos quais 24 bilhões virão para o “legado olímpico”. Ou seja, obras que ficarão para usufruto da população – transporte, centros de esporte, o porto maravilha e até um campo de golfe.

As obras estão concentradas na Barra, onde acontecerão a maioria dos jogos (bairro de média e pequena burguesia) e Deodoro (uma pista até a Barra e dois estádios), além do novo “Centro”. A maioria das obras era prevista em projetos anteriores e nunca tinha sido realizada. Outras, como um centro de comunicações, só servirá para as TVs durante os jogos e seu “legado” é muito discutível. O Campo de Golfe, construído em área ambiental, é legado para a burguesia.

Para o povo que foi “removido”, novo sinônimo da palavra “despejado” já que não receberam nenhum direito e a eles não foi dada nenhuma nova moradia, da Vila Autódromo – que estava no local de um dos estádios- realmente isso pouco importa.Contudo, como “sugeriu” o Paes, os incomodados que se retirem. Quem não sai de “boa vontade”, a polícia retira.

Todo esse investimento, segundo o prefeito e as “autoridades”, foi feito com participação dos governos estadual, municipal e federal. Também teve pelo menos 50% de participação da iniciativa privada – os números divulgados divergem entre 40% e 60% de participação da iniciativa privada. No entanto, isso pouco importa. O que interessa são os números brutos de onde saiu tal “boa vontade”. A isenção fiscal no Rio de Janeiro, entre 2008 e 2013, os números de 2013 a 2016 não foram divulgados, chegou a R$ 138 bilhões. Então, para a iniciativa privada bancar R$ 20 ou 24 bilhões em troca destas isenções – aqui computado somente o ICMS- é brincadeira de criança.

Realmente, o Estado moderno é o comitê central da burguesia e as Olimpíadas mostram isso. Muita festa, muito barulho e um grande negócio no qual a burguesia doou de mão beijada R$ 20 ou 24 bilhões de reais para “obras públicas”, e recebeu de volta algo em torno de 10 vezes mais. Ela ainda ganhou o seu clubinho de ricos numa área ambiental. Qualquer trabalhador faria uma doação destas de olhos fechados.

O Rio de Janeiro real, enquanto isso, vai mal. O projeto das UPPs, que fazia parte do plano olímpico de recuperar áreas do estado em “poder” dos traficantes faz água por todos os poros.Inclusive pela falência do Estado do Rio, que precisou de uma doação de R$ 3 bilhões para pagar salários de policiais atrasados. Sim, ainda não chegamos no inferno, mas a frase “welcome to hell” do sindicato dos policiais reclamando salários atrasados correu o mundo.

Para as mães a cidade já é o inferno, pois estão perdendo filhos por balas “achadas”, e não perdidas, nos morros e bairros proletários do Rio. Ao contrário dos amigos de Paes, elas não têm dinheiro para colocar seus filhos a salvo de traficantes e policiais que promovem um bang-bang onde morrem moradores, jovens e trabalhadores, muitos deles fuzilados simplesmente pela “aparência suspeita”.

Tudo isso sem contar a incompetência e corrupção que grassam: a ciclovia caiu, na pista Barra-Zonal Sul e nas BRT o asfalto já está cheio de buracos e derretendo, menos de duas semanas depois da entrega.

O povo pobre sofre e os professores estão em greve pelos atrasos salariais. Os hospitais permanecem parados ou sucateados. Uma universidade, a UERJ, está parada por falta de verbas. Porém, a Olimpíada via acontecer. Enquanto isso, os tapumes que tampam favelas e buracos com pinturas e cores alegres espalham-se pela cidade.

As olimpíadas modernas, tal qual as gregas, são festas. As de hoje são festas para o capital justificar suas intervenções e bilhões de gastos inúteis. Aos trabalhadores, resta aprender com esta ostentação e entender que a verdadeira união dos povos nascerá de uma internacional operária que jogará no lixo a burguesia e construirá uma verdadeira fraternidade mundial.

Editorial publicado na edição 92 do jornal Foice&Martelo, de 20 julho de 2016.