O reflexo do monopólio no mercado do Etanol

O fato de ser o Brasil um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo e por ser o etanol um combustível estratégico, sem dúvida isso deveria servir de base para um processo de estatização das usinas brasileiras

O Brasil é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo ficando somente atrás da Índia e da Austrália. A cana-de-açucar tornou-se, com o passar dos anos, uma matéria prima que possibilita a produção de diversos produtos, tais como: etanol, álcool, açúcar, bebidas, papel, bioplástico, levedura além da bioenergia que é gerada através da queima do bagaço da cana. Percebendo a potencialidade brasileira, principalmente na produção de etanol, o capital internacional, usando de suas artimanhas, denunciou irregularidades existentes no setor sucroalcoleiro, o trabalho escravo, a queima de cana e grandes áreas de plantio que tomam o espaço de outras culturas agrícolas. Com esses “argumentos” conseguiram bloquear o acesso do etanol brasileiro no exterior, configurando na verdade uma jogada do imperialismo para que pudesse abrir as portas para a exploração de mais um recurso que poderia ser de grande importância para a economia e soberania brasileira devido à crise internacional do petróleo.

Aos poucos, grandes corporações internacionais vão adquirindo usinas e destilarias dos usineiros brasileiros que já lucraram muito no setor e que também fizeram outros investimentos, principalmente na área da agropecuária, aumentando seu capital. Os usineiros vendem o parque industrial e arrendam suas terras. Além disso, eles terceirizam o maquinário e o corte manual de cana, que apesar de ter diminuído nos últimos anos, devido à mecanização da lavoura, ainda existem muitas pessoas trabalhando com uma jornada de 14 horas diárias e muitas vezes, para aumentarem sua produção usam de modo indiscriminado o crack e oxi. São mulheres e homens, cuja maioria é de jovens que estão sendo destruídos pelas drogas e por um trabalho degradante.

Outros que também não ganham com essa desnacionalização do setor são os consumidores que vêem todos os dias o valor do etanol atingir níveis elevados na bomba de combustível. Isso causa revolta na população. A imprensa, por sua vez, aproveita a situação para culpar o governo e passar uma visão parcial do problema.

Com essa versatilidade que existe no setor os grandes grupos, que detêm o monopólio no mercado, desviam a produção para o açúcar em função do preço da commodity que é o maior desde a década de 70, chegando a superar o valor do etanol em 75%. Isso faz com que os produtores dêem preferência à venda do açúcar no exterior, deixando de lado as demandas internas, causando o aumento do preço nos postos de venda ao consumidor.

A monopolização diminui a competitividade no mercado e isso proporciona que os produtores controlem seus estoques e manipulem os preços. A prova cabal dessa monopolização foi a aquisição do grupo Cosan pela multinacional anglo-holandesa Shell, que agora, além de atuar na distribuição de combustíveis, também passa a controlar a produção de etanol.

A Shell passa a ter o controle das 23 usinas de açúcar e álcool do grupo Cosan, ficando responsável por 60 milhões de toneladas da capacidade de moagem de cana-de-açúcar por ano, com mais de dois bilhões de litros de etanol. O pior disso é que tudo está sendo feito com ajuda do BNDES, que concedeu ao grupo Cosan R$ 986,5 milhões, antes dele ser comprado pela Shell.

E os trabalhadores como ficam? O setor sucroalcooleiro é um dos que tem a maior rotatividade de mão de obra. Muitos trabalhadores migram para regiões diferentes para arrumar emprego em outras usinas, porém com o monopólio, a tendência é a diminuição desse fator devido à concentração das usinas nas mãos de grupos onde dificilmente um trabalhador que já esteve empregado em determinada unidade ira conseguir emprego em outra do mesmo grupo.

Outro problema é a quebra de usinas de menor porte, mas que empregam muitos trabalhadores. Elas começam a atrasar os pagamentos deixam de recolher o FGTS, deixam de pagar seus fornecedores de matéria prima, as máquinas vão sendo penhoradas até que quebram de uma vez e são vendidas a preço de banana para os grandes, fortalecendo o monopólio. Enquanto o BNDES beneficia os grandes, os pequenos quebram e prejudicam os trabalhadores. O governo, por sua vez, toma medidas de não surtem efeitos. Um exemplo foi colocar a Petrobras em parceria com empresas privadas na concorrência pela compra de usinas que estão indo a leilão.

O fato de ser o Brasil um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo e por ser o etanol um combustível estratégico, sem dúvida isso deveria servir de base para um processo de estatização das usinas brasileiras, começando pelas que passam por dificuldades.

Isso ocorrendo, o governo estaria sinalizando sua ruptura com a burguesia e mostrando disposição na defesa da soberania nacional e defendendo uma energia limpa e renovável no mercado mundial.

Kleber ” militante do Partido dos Trabalhadores e sindicalista”

Imagem Usina da Cosan da cidade de Ipaussu, SP

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