O racismo monocromático do Oscar 2016

Pelo segundo ano seguido não existe entre os 20 indicados ao Oscar 2016 (troféu + ´grana-preta´) concedida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, Estados Unidos, ator ou atriz com cor da pele preta/negro/afrodescendente em papel principal ou coadjuvante.

Pelo segundo ano seguido não existe entre os 20 indicados ao Oscar 2016 (troféu + ´grana-preta´) concedida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, Estados Unidos, ator ou atriz com cor da pele preta/negro/afrodescendente em papel principal ou coadjuvante. Em 2015 o cineasta estadunidense Spike Lee que é negro e considerado militante antirracista, foi agraciado com Oscar honorário. Ressalvando não querer ´ofender´ a afrodescendente presidenta da Academia, Cheryl Bonne Isaacs, Lee questionou: “Como é possível pelo 2º ano consecutivo, todos os 20 candidatos na categoria de ator serem brancos (terem cor da pele branca ou serem euro descendentes)?”.

O cineasta avisou que não comparecerá à cerimônia de entrega do Oscar 2016 na próxima 5ª feira, dia 28 de fevereiro. Solidária com Lee, a atriz Jada Pinkett Smith, mulher do ator Will Smith, ambos negros, sugeriu um boicote ao Oscar: “Nós os negros somos bem-vindos no Oscar apenas para ´entreter e entregar prêmios´. Raramente recebemos reconhecimento por nossas realizações artísticas. Nós, todos juntos, não deveríamos deixar de participar?”. Esclareça-se o ator Will Smith chegou a ser cotado para a indicação ao Oscar 2016 por sua atuação no filme ´Um homem entre gigantes´. Porém, foi esnobado.  Já o cineasta Spike Lee, dentre outros, dirigiu o clássico ´Faça a coisa certa´.        

Lee afirmou: “A verdadeira batalha deve ser travada, não, na premiação do Oscar. Mas, sim nos escritórios de estúdios de Hollywood e das televisões a cabo, onde os guardiões decidem o que vai ser produzido´. Por sua vez, a presidenta da Academia, Cheryl Bonne Isaacs afirmou estar ´triste e frustrada´ ante a falta de diversidade antropológica e prometeu mudanças na equipe de eleitores da instituição para prestigiar as minorias. “Eu gostaria de reconhecer o maravilhoso trabalho dos indicados deste ano, pelas suas extraordinárias conquistas que celebramos. Ao passo eu estou triste e frustrada por causa da falta de inclusão. Essa é uma conversa difícil, mas importante. Chegou a hora de grandes mudanças”. 

Segundo Cheryl: “A Academia está tomando passos drásticos para mudar a configuração dos nossos quadros. Revisaremos o recrutamento de membros, para trazer a necessária diversidade na turma de 2016 em diante. Vínhamos implementando mudanças para diversificar os quadros há quatro anos. Eu admito, no entanto, que precisamos fazer mais, melhor e mais rápido”; concluiu. Ela disse isso porque, apesar da Academia não divulgar lista de seus membros, o jornal burguês estadunidense Los Angeles Times publicou em 2012 uma reportagem revelando que 90% dos eleitores do Oscar eram brancos ou euro descendentes, e mais de 70% constituídos de homens, após confirmar 90% da identidade deles.            

A luta antirracista é intrínseca às lutas anticapitalista e anti-imperialista.

No mais imperialista dos países imperialistas o percentual de afrodescendentes é de cerca de 10%, tendo a sociedade capitalista estadunidense desenvolvido burguesias euro descendente e afrodescendente. Lá e no mundo inteiro, as academias são instituições burguesas. A que concede o Oscar é consequentemente dominada por capitalistas e vorazes indústrias como os estúdios de Hollywood e televisões a cabo. Há o agravante das artes e ciências serem dissociadas da política educacional que é quase 100% privada. Para ter-se ideia, os Estados Unidos possuem somente uma universidade pública, situada no bairro nova-iorquino pobre e praticamente afrodescendente, Harlem.

Assim, embora tenham origens pobres e sejam afrodescendentes o cineasta considerado militante antirracista Spike Lee, a atriz Jada Pinkett Smith e a presidenta da Academia, Cheryl Boone Isaacs são adeptos da filosofia paternalista que concebe os afrodescendentes como pobres coitados necessitados da piedade social supostamente para ´humanizar´ o capitalismo e o racismo. Para tanto são defensores do gênero de política chamado de ação afirmativa (AA) também chamada de cota social e a espécie apelidada de cotas baseadas na ideologia e ou crença fundamentalistas da existência de ´raças´ humanas, o racialismo. Neste caso notadamente em relação aos afrodescendentes e indígenas.               

O fato é que no livro Nacionalismo Negro, o mais brilhante dos revolucionários marxistas Trotsky (1879-1940) ensinou: “A luta dos negros (seres humanos com cor da pele preta) na África e países da diáspora contra o racismo e o (imperialismo) colonialismo é específica, estratégica e indissociável da luta de classes”. Já o maior herói mundial de cor da pele preta ou negro, o sindicalista e líder socialista sul-africano Stephen Bantu Biko o Steve Biko (1946-1977) ensinou: “Racismo e capitalismo são os dois lados de uma única e mesma moeda”. Pelo fim do racismo na Academia que concede o Oscar assim como em toda e qualquer instituição dos países do Planeta, em cujas sociedades não haja divisão de classes sociais e ou qualquer forma de opressão!   

Almir da Silva Lima é jornalista, militante do Movimento Negro Socialista (MNS) e da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista (EM).