O PT e os 10 anos de governo em aliança com a burguesia

Em 1º de janeiro de 2003, com uma maré vermelha em Brasília, Lula tomava posse de seu primeiro mandato presidencial. Entre as massas, a esperança de uma vida melhor, mais justa, mais igualitária. Passados 10 anos, qual o resultado para a classe trabalhadora do governo do PT em coalizão com a burguesia?

A CUT está convocando para o próximo dia 6 de março uma marcha que tem entre seus eixos: a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, o fim do fator previdenciário, combate à demissão imotivada, a Reforma Agrária. Uma pauta bastante simples e rebaixada, mas o que devemos observar é que depois de 10 anos nada disso se tornou realidade. Aliás, o fim do fator previdenciário foi aprovado no Congresso Nacional e Lula vetou sua extinção no final do segundo mandato.

Por outro lado, muitas reivindicações dos capitalistas foram atendidas. A começar pela “Carta ao Povo Brasileiro” assinada por Lula em junho de 2002 para tranquilizar o “mercado”. Para os que continuavam com alguma dúvida após a eleição, logo no primeiro ano de governo veio a Reforma da Previdência com retiradas de direitos dos servidores públicos. E a política geral foi “quanto mais capitalismo, mais felicidade”, a dívida externa, em grande parte convertida em dívida interna, continuou sendo paga religiosamente. As privatizações prosseguiram nas rodovias, hidrelétricas, bacias de petróleo, privatizações aprofundadas por Dilma nos aeroportos, portos, rodovias e ferrovias. Na crise que estourou em 2008, bilhões de reais saíram (ou deixaram de entrar) dos cofres públicos para ajudar a salvar os capitalistas, medida que vemos também agora com a desoneração da folha de pagamento, isenção tributária, etc. Este é o triste resultado da coalizão com os inimigos de classe, política que pode preparar tragédias ainda mais duras para os trabalhadores, é só olharmos para a história para tirarmos essa lição.

No discurso do evento realizado em São Paulo na semana passada (20 de fevereiro) para celebrar os “10 anos do governo democrático e popular”, Lula disse:

“Porque eles (oposição) percebem que estão sem valores, eles estão sem discurso, eles estão sem propostas, porque toda e qualquer coisa que eles pensaram em fazer nós fizemos mais e fizemos melhor. Mais e melhor”

É uma impressionante sinceridade. É verdade que o vazio da oposição (PSDB, DEM, etc) está no fato de não terem propostas políticas diferentes do atual governo. Os projetos da burguesia para favorecer o capital nacional e internacional foram e estão sendo implantados pelos governos de coalizão de Lula e Dilma. Os ditos avanços para os pobres são na realidade migalhas de um período de crescimento econômico (com ganhos exorbitantes para especuladores, banqueiros e empresários), mas agora, com a chegada da crise, tudo começa a ser questionado.

E a burguesia quer mais. Ela não se sente à vontade com um partido operário de massas, como o PT, governando o país, mesmo esse partido aplicando uma política burguesa. Sentem-se fortalecidos e querem retomar o governo para as suas próprias mãos. Por isso toda a raiva ao PT que se expressa nos grandes meios de comunicação. É o ódio de classe. Um ódio que visa desmoralizar e destruir o PT, a CUT, toda organização da classe trabalhadora. Eles querem acabar com qualquer instrumento que a classe possa se agarrar para resistir. Colaborar com o inimigo só ajuda a fortalecê-lo para nos atacar no momento seguinte.

Eleições 2014

Dizem que as preparações para a Copa do Mundo de 2014 estão atrasadas, o mesmo não pode ser dito das campanhas eleitorais de 2014.

Na última semana Marina Silva lançou seu partido, chama-o de rede, mas concretamente é um novo partido para entrar na corrida eleitoral do próximo ano. Ao caracterizar a tal Rede Sustentabilidade, Marina invoca as palavras de Kassab para definir o seu PSD, segundo Marina, também a Rede não é “nem de esquerda, nem de direita”, se parece meio vazio então ela explica “Estamos à frente. Estamos indo para o mundo do paradoxo”. É a arte de falar e não dizer nada.

Aécio Neves, provável futuro candidato do PSDB à presidência, é o novo queridinho da mídia e, no mesmo dia do evento com Lula e Dilma em São Paulo, fez um raivoso discurso no Senado com os “13 Fracassos do PT”.

Eduardo Campos, governador de Pernambuco pelo PSB (mais uma cobra criada e alimentada pela política de coalizão), não se assume como candidato, nem confirma que não o será, ainda está fazendo seus cálculos, mas como é bom se prevenir, está em “campanha” e não compareceu no ato de 10 anos do governo do PT.

E mais uma vez, assim como na última eleição, os petistas ficam sabendo pela mídia que o partido já tem candidato a presidente para 2014. Prévias? Consulta aos filiados? Consulta à direção do partido? Métodos muito antiquados. Lula discursa no evento citado e, ao final, lança Dilma como candidata à reeleição pelo PT em 2014. É o completo desrespeito às instâncias partidárias e aos filiados.

Nosso combate prossegue

O Diretório Nacional do PT se reunirá nos dias 1 e 2 de março, nessa reunião o membro eleito pela chapa “Virar à Esquerda! Reatar com o Socialismo!” e militante da Esquerda Marxista, Serge Goulart, irá apresentar a proposta de realização de um Encontro Nacional de Trabalhadores em Defesa do PT e da CUT, Contra a Criminalização do Movimento Operário e Popular, proposta apoiada por centenas de militantes, sindicalistas e jovens. A questão é: a DN PT vai assumir a defesa de seus dirigentes, do PT e da CUT, ou se curvará ao STF?

Para nós é inadmissível que em nome do respeito às instituições do Estado (instituições burguesas do Estado burguês) o PT se acovarde e deixe de travar a luta pela Anulação da Ação Penal 470, o chamado julgamento do mensalão, com seus absurdos jurídicos de condenações sem provas. Um julgamento que teve como verdadeiro objetivo o avanço da criminalização das lutas e das organizações operárias e populares.

A burguesia prepara-se para a crise que se avizinha. Nós também temos que nos preparar: estudar, organizar e mobilizar. Resistir aos ataques e avançar. Lutar contra a colaboração de classes e explicar da forma mais adequada aos que nos acompanham que esse sistema só nos reserva miséria, sofrimento e injustiças. Ganhar cada trabalhador, cada jovem, cada militante para a construção do socialismo. Essa é a nossa batalha. Venceremos!