O mundo em que vivemos e as tarefas que valem a pena em 2012

Carta da Esquerda Marxista aos militantes, colaboradores e assinantes do Jornal Luta de Classes. Aos nossos leitores.

No Brasil o ano de 2012 começou com um morno verão. Natal, Ano Novo, compras, chuvas e enchentes, mortes nas estradas, ministros caindo e outros subindo. Se não fosse o aprofundamento da crise mundial e agora o reconhecimento do governo de que ela aqui vai chegar e que o Brasil não está imune, tudo estaria como em 2011. O governo se prepara, a burguesia se prepara. Ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores virão.

No subsolo da luta de classe as contradições seguem se acumulando sem ainda transitar para uma explosão. No ano de 2011, no Brasil ocorreram numerosas greves, ainda atomizadas. Os trabalhadores vivem uma situação que não é de descontentamento generalizado e de grandes mobilizações. O motivo disso reside em que, apesar da crise mundial estar avançando a passos largos e ameaçando o conjunto dos países, o reflexo dela não se dá de maneira direta, não atinge de modo linear e por igual cada país, mas atingirá todos os países.

No Brasil, podemos afirmar que começam a se desenvolver os elementos que provocarão mais adiante a passagem de uma situação de crescimento artificial (bolha, empréstimos e investimentos em massa do Estado para salvar as empresas e bancos) para uma situação de caos decorrente da crise aberta do capital. Isso levará o governo a implementar remédios muito mais amargos contra os trabalhadores.

Aqui a burguesia está afiando seu bisturi, reprime os sem teto e busca higienizar o centro de São Paulo e os morros do Rio. Alckmin e sua polícia atacam militarmente os moradores do Bairro do Pinheirinho na cidade de São José dos Campos. Em várias cidades os jovens se ergueram contra os aumentos dos preços das passagens de ônibus. Em numerosas capitais os policiais militares entraram em greve, se chocaram com o aparato repressivo e com a intransigência dos governos. O caso mais emblemático dessa situação se desenrola ainda em Salvador onde os policiais em greve desafiam as tropas do Exército e na cidade ocorre uma onda de saques e de assassinatos que põem a nu a decomposição do sistema e o esgarçamento do tecido social e a impotência dos governos. Na base disso está o fenômeno da crise e os sucessivos cortes que vêem sendo feitos nos orçamentos dos serviços públicos. Estados e Municípios ameaçam colapsar, principalmente nas áreas da educação e saúde, segurança e saneamento básico.

As tropas das FA, treinadas no Haiti, lançadas às ruas, não conseguem dominar a onda de violência. O governo Dilma, a todo instante, é levado a trocar ministros. Eles caem como frutas podres de uma árvore semimorta. A burguesia, desconfiada da capacidade do governo em reprimir as massas e conter as mobilizações, não cessa de fustigar e atacar Dilma. Mas ao mesmo tempo ainda necessita do governo de coalizão, pois não consegue se unificar em torno de um programa de ataques generalizados às massas, teme seu ascenso e manobra permanentemente para enjaulá-la ainda mais na teia da colaboração de classes, aprisionando a CUT e desnaturando o PT para levá-los à mais completa desmoralização e no limite à destruição..

O governo de coalizão com a burguesia segue com os olhos voltados para os próximos alvos a serem atingidos: a Previdência e os direitos e os salários dos trabalhadores, a organização sindical. Quando isso ocorrer atingirá os batalhões pesados dos trabalhadores industriais, aqueles que hoje ainda encontram empregos, tiveram certa reposição salarial, podem contrair dívidas por meio dos empréstimos oferecidos a rodo pelo crédito fácil a perder de vista e respiram o ar da bolha.

Mas o governo e a burguesia sabem que tudo isso terá seus limites e a que a qualquer momento a roda da engenhoca poderá espanar e a máquina colapsará.

Quando a atual situação transitar para outro patamar e surgirem os conflitos abertos e generalizados, com as massas nas ruas agindo com toda sua força e unidade, a situação de relativa calmaria saltará adiante. Os trabalhadores farão sua experiência com as direções tradicionais e com o reformismo que estará órfão. Isso já começou. O reformismo em breve não poderá oferecer mais nada aos trabalhadores, dado que, de conjunto, nenhuma concessão poderá ser feita. Apenas pode preparar a catástrofe. O capitalismo já esgotou suas possibilidades. Quando este momento chegar as direções terão que optar entre saltar adiante, o que significará uma ruptura com a atual concepção majoritariamente difundida de que ainda é possível o capitalismo se desenvolver, ou terão que reforçar seus laços com a burguesia e o imperialismo, aprofundando a via da colaboração de classes, que no Brasil ainda hoje parece ser palatável aos trabalhadores. Afinal de contas, ainda estão encontrando empregos e podem comprar casas, trocar de carro e os mais miseráveis podem receber os auxílios do governo. Mas, o custo disso tudo será muito alto. A miséria futura, o desemprego, o rebaixamento dos salários, a perda dos padrões adquiridos farão os níveis de vida dos trabalhadores retroagirem drasticamente.

O capitalismo entrou definitivamente, há muito tempo, na época de degenerescência e não pode mais se desenvolver. Disse Trotsky, em 1926, em uma palestra que foi transcrita em um texto denominado Europa e América: “À primeira vista, poderia parecer que o capitalismo já cumpriu com seu tempo na Europa, e que na América desenvolve as forças produtivas, que na Ásia e na África tem ainda diante de si um largo campo onde possa exercer sua atividade durante décadas e até séculos. É realmente assim? Se fosse assim, isso significaria que o capitalismo não terminou ainda sua missão no mundo. Pois bem, atualmente a economia é mundial, e isto é o que determina a sorte do capitalismo para os continentes. O capitalismo não pode se desenvolver isoladamente na Ásia, independentemente do que ocorre na Europa ou na América. A época dos processos econômicos provinciais acabou definitivamente.”

Os reformistas tardios da época imperialista são incapazes de compreender esta impossibilidade, são incapazes de compreender que os EUA dependem da Europa, da Ásia, África e de todos os países e vice versa. Que a bancarrota do capitalismo, que segue inexoravelmente, não implica em sua queda por si só. Cada passo que o reformismo deu, depois da época imperialista, serviu apenas para dar sobrevida ao capital, evitar a revolução e preparar novas e mais profundas crises.

No Brasil, os trabalhadores podem pela primeira vez realizar sua experiência com o reformismo, mas o farão em condições imensamente distintas da época onde ainda este podia se alimentar das migalhas. Agora a fonte secou e a ordem é a reação em toda linha.

Os trabalhadores, quando os ataques generalizados e frontais forem lançados contra eles pelos patrões e governo, tenderão em um primeiro momento a se proteger, cada qual a seu modo. Mas quando perceberem que isso não levará a nada buscarão apoio em suas direções e entidades. Luta após luta, a cada batalha, aprenderão, testando as direções. Aí então poderão saltar adiante enfrentando os reformistas que, empurrados pelas massas, buscarão se equilibrar na crista da onda para evitar a explosão social e manter seus privilégios e status. Então serão produzidos choques, divisões, e a classe poderá forjar novas direções.

Por isso explicamos e explicamos: o cenário que se apresenta hoje na luta de classes, ao iniciarmos o ano, não é um cenário de ruptura brusca e imediata. Os trabalhadores levarão certo tempo para, com base em sua experiência, verificar que só poderão salvar seus direitos e conquistas se confiarem em si mesmos. Para preparar esta situação o combate, pela frente única e pela ruptura com a burguesia, segue sendo o coração de tudo. Os marxistas se dirigem a todos os que se colocam e falam em nome da classe trabalhadora exigindo que rompam com a burguesia, construam um governo socialista dos trabalhadores. Esse é o caminho mais curto e mais econômico na direção da abertura da revolução.

Como está a Europa?

No ano passado todos acompanharam a onda de manifestações por todos os países árabes, acompanhamos o levante dos indignados na Espanha, as grandiosas greves gerais na Grécia, as rebeliões e motins na Inglaterra, os movimentos em Wisconsin e ainda agora o Occupy nos EUA. Caíram Papandreu na Grécia, Berlusconi na Itália. Mubarack (Egito) e Ben Ali (Tunísia), depois Kadhafi, foram varridos do mapa e na Síria começam a surgir, depois de sangrentas batalhas, organismos com traços de duplo poder, embriões de Soviets.
(Lucha de Clases)

A chamada Zona do Euro está à beira do colapso. Os estados nacionais, ou seja, as burguesias nacionais querem todas se safar da crise e querem todas saber quem vai pagar as despesas e as dívidas. A Grécia, França, Itália, Portugal, Espanha e Alemanha estão no olho de um redemoinho que ameaça engolir a todos.

Alemanha e França exigiram que a Grécia pagasse as dívidas. Ela entrou em quebradeira e ficou em semimoratória. E agora não tem como pagar mais nada. Se isso ocorre arrastará para o torvelinho a Alemanha e França, sem dizer dos elos mais frágeis como Itália, Espanha e Portugal. E quando isso ocorrer a economia dos EUA será violentamente afetada e empurrará a China e os países latino-americanos para uma situação de total insolvência e desespero.

Para tentar evitar isso o imperialismo necessita atacar a democracia e o que resta de soberania dos países da Zona do Euro. Por isso Merkel já anunciou: quer nomear um interventor, um gerente para governar a Grécia, uma espécie de pró-cônsul da época do império romano. Isso terá implicações grandiosas e interferirá mais ainda para agitar as massas. O povo grego, seus trabalhadores, já enfrentaram o nazismo e sabem que uma intervenção deve ser repelida com a máxima energia e que o caminho da resistência é o caminho da revolução.

Nos EUA a burguesia segue reprimindo com violência o Occupy. Fala-se até mesmo em exilar os manifestantes. Democratas e Republicanos querem mais e mais austeridade. Mas enfrentam a juventude que começa a despertar e ligar-se com os trabalhadores. Ninguém consegue apontar uma saída para a crise a não ser cortar direitos dos trabalhadores. Mas isso pode alimentar a temperatura social e política para níveis perigosos.

Uma vez mais, na Europa, nos EUA, em todos os continentes se coloca a necessidade da construção dos partidos dos trabalhadores que lutem pelo socialismo. Sem isso, os movimentos tendem a perder força e se dissiparão.

O centro da batalha dos marxistas é a sua autoconstrução. Por isso, pedimos aos nossos leitores e simpatizantes para que continuem a prestigiar a imprensa marxista, a colaborar financeiramente com nossa construção, a integrar nossas fileiras, para juntos construirmos o imenso edifício necessário para assegurar a vitória da revolução no Brasil e no mundo.
(…)
Nossa crença num mundo melhor, em um mundo socialista, só foi reforçada durante o ano turbulento e convulsivo de 2011. Vimos com alegria os jovens e trabalhadores levantarem-se contra as loucuras e crimes dos capitalistas em todo o mundo. Vimos a alegria, a força e a determinação da juventude em todo o mundo. Quem tem isso tem o futuro. Junte-se a nós na luta pelo fim do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção, na luta pelo socialismo sobre os escombros desta velha sociedade e de nossas conquistas erigiremos um mundo de paz, felicidade e verdadeiro progresso social e humano.

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