O capitalismo e o ataque aos jovens, trabalhadores e direitos

Diariamente o sistema elimina um “lote” de jovens e trabalhadores. Alguns de maneira definitiva, como na Cidade de Deus, outros, paulatinamente.

A última semana, que iniciou turbulenta anunciando tempestades pela frente, acabou de forma trágica no Rio de Janeiro. Tanto os quatro policiais quanto os oito moradores mortos na Cidade de Deus fizeram “pousos forçados”. Quem executa diariamente milhares de pessoas pelo mundo é o sistema capitalista. A juventude e a classe trabalhadora (empregada e desempregada) são os que mais sentem os horrores de mais uma crise desse sistema.

Dia 16 de novembro, manifestantes protestaram na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em defesa de seus direitos ameaçados pelo pacote de medidas encaminhadas pelo Governo do Estado. Sob o pretexto de equilibrar as finanças, o governo deposita nas costas dos trabalhadores o ônus de acertar mais uma vez as contas com a burguesia. É preciso que os bancos e as grandes empresas estejam com seus pagamentos em dia para que o jogo continue.

 

Dentre as medidas anunciadas que despertaram a ira e a indignação dos trabalhadores estão: aumento do desconto previdenciário de 11% para 14% para quem ganha abaixo de R$ 5.189, aumento do desconto previdenciário para os que ganham acima de 5.189 para 16%, encerramento em 2017 de programas sociais para desabrigados e do programa Renda Melhor para famílias atendidas pelo bolsa família, aumento de vários impostos, extinção do triênio dos servidores (por decreto) e reajustes salariais adiados para 2020.

Esse é o cenário que fomenta nos trabalhadores e na juventude a sensação de que se algo não for feito retornaremos a tempos bem sombrios da nossa história. Nesse aspecto, os trabalhadores do Rio de Janeiro não estão isolados, em diversos estados e municípios do Brasil os pacotes de maldades estão sendo gestados ou aplicados em doses homeopáticas, agora, apropriadamente, calcados nos efeitos da PEC 241.

A despeito das direções sindicais mais adaptadas, que abandonaram o princípio da independência de classe e que carregam a bandeira do “diálogo” e da “negociação” com esses governos, os trabalhadores vão às ruas para dar o seu recado: a polarização de classes está restabelecida. Objetivamente os trabalhadores percebem que as incompatibilidades de classe não podem ser conciliadas. Com tantos ataques não é difícil para a juventude e para os trabalhadores identificarem que estão do mesmo lado e que não querem negociar nada com esses governos. Querem a manutenção de seus direitos, querem a ampliação dos serviços públicos para todos, querem moradia e educação pública de qualidade. Fica cada vez mais nítido que as bandeiras são comuns e os inimigos também.

O Estado lança mão de seu aparato coercitivo. A Força Nacional e o Choque são recrutados para de forma extremamente desigual reprimir os manifestantes em frente à Alerj, com o uso da força e seus assessórios mais populares, gás de pimenta, bombas e tiros com balas de borracha. Nesse episódio, dois integrantes do Choque resistiram ao comando e se juntaram aos trabalhadores, numa demonstração pública de que há algo muito errado em servir ao Estado para atacar o seu igual; as instituições estão em xeque.

Esse é o sistema capitalista escancarando cada vez mais as suas contradições. A Nova República se esfarela a olhos vistos, dá mostras de que não passa de mais uma forma de governo que se calca na exploração do trabalho. A política dos reformistas mostra sua ineficiência e não engana mais a população. Já as chamadas “reformas” do governo são, na verdade “contrarreformas”. Elas só servem ao capital e à manutenção do poder nas mesmas mãos e essa conta deverá ser paga ad aeternun pela classe trabalhadora.

Diariamente o sistema elimina um “lote” de jovens e trabalhadores. Alguns de maneira definitiva, como na Cidade de Deus, outros, paulatinamente. Vão retirando seus direitos em reformas trabalhistas, tributárias, do ensino e da previdência. Essa violência na forma de extorsão de direitos que a classe trabalhadora vem sofrendo faz parte de uma engrenagem que retroalimenta um buraco negro chamado desigualdade, que é o principal pilar no qual o capitalismo se sustenta.

Na prática, fica cada vez mais nítido que o Estado burguês não é neutro e as suas instituições tampouco. Ele dá as condições necessárias e, por isso, é instrumento para a manutenção da exploração de uma classe sobre a outra. Aos marxistas cabe ajudar a classe trabalhadora e a juventude a superar as ilusões em relação ao papel do Estado. Ajudar a compreender tanto o caráter permanente, quanto internacional das lutas e a importância da cooperação entre os trabalhadores e a juventude de todo o mundo.