Largo da Batata, em São Paulo, no dia 28/4

No Brasil e no mundo, instabilidade e luta de classes

O 1º de Maio pelo mundo foi mais uma demonstração da disposição de luta dos povos. Na França, após a ascensão de Mélenchon no primeiro turno das eleições presidenciais com um discurso de esquerda, o Dia Internacional dos Trabalhadores foi marcado por protestos e violenta repressão policial em Paris. Na Espanha, atos em mais de 70 cidades convocados pelas centrais sindicais UGT e CCOO. Na Turquia, manifestantes contra o governo Erdogan desafiaram a proibição de se dirigirem à Praça Taksim, em Istambul, dezenas foram presos. Na Grécia, jovens e trabalhadores voltaram às ruas contra as medidas de austeridade do governo do Syriza, que segue a traição às aspirações populares. Nos EUA, protestos contra Trump. Na Venezuela, centenas de milhares na capital, Caracas, em defesa da revolução, apesar da dura crise econômica, dos ataques da oposição de direita e da ausência de medidas concretas do governo Maduro contra os capitalistas e em defesa dos interesses da classe trabalhadora.

Manifestações significativas ocorreram também na Rússia, Alemanha, Paquistão, Bangladesh, Indonésia, Filipinas, Taiwan, África do Sul, etc. Há instabilidade para o capitalismo ao redor do mundo. O 1º de Maio demonstrou isso uma vez mais.

A Greve Geral de 28/4

No Brasil, a Greve Geral de 28/4 evidenciou a disposição de luta da classe trabalhadora e da juventude, contrariando os impressionistas e pessimistas que só viam uma onda conservadora dominando a sociedade. O dia 28 é o desenvolvimento da situação política aberta em junho de 2013. O ódio ao governo Temer e suas medidas apoiadas pelo Congresso Nacional já haviam se expressado neste ano nos gritos de “Fora Temer” no Carnaval, no 8 de março e nas grandes manifestações de 15 de março.

Importantes categorias aderiram à greve. Rodoviários, ferroviários e metroviários causaram impacto em grandes cidades. São Paulo, em uma sexta-feira, véspera de feriado, tinha ruas sem trânsito e muitos comércios fechados no centro. Servidores públicos, metalúrgicos, bancários, correios, também aderiram à greve e participaram de manifestações pelo país.

Mas a imprensa e o governo tentam pintar a greve geral como um fracasso. Segundo eles, uma minoria de sindicalistas teria impedido a maioria de trabalhar. Uma minoria classificada pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), como “vagabundos” e “preguiçosos”.

Mas esta não é a realidade. Uma minoria de sindicalistas não seria capaz de causar tamanho impacto. O apoio ativo ou passivo de boa parte da população à greve e contra as reformas do governo é que foi determinante. Uma enquete da revista Veja perguntava: “Você concorda com a greve geral desta sexta-feira?”, com mais de 700 mil votos, mais de 90% em apoio à greve.

Mesmo a maior central sindical do país, a CUT, não incentivando a participação em manifestações no dia 28, lançando a orientação “Greve Geral 28 de abril é dia de ficar em casa”, o fato é que em mais de 240 cidades ocorreram manifestações. Com adesão surpreendente em cidades do interior dos Estados.

A participação também foi significativa nas capitais, com forte presença da juventude. 70 mil no Largo da Batata, em São Paulo, considerando a falta de impulsão da direção, um destino sem sentido (a residência de Temer no meio de um bairro nobre sem Temer presente), greve em boa parte do transporte público, é um resultado que transbordou as expectativas das direções dos aparelhos. Participação massiva também se viu em outras capitais, Rio de Janeiro, Florianópolis, Natal, Manaus, Belo Horizonte, Recife, etc.

Nas duas principais cidades de Santa Catarina, Joinville e Florinanópolis, a ação de militantes da Esquerda Marxista foi decisiva para que ocorressem passeatas massivas (ver 28/4: manifestação de massas em Joinville e A greve geral de 28/4 e a continuidade da luta).

Ato em Joinville, 28/04

A repressão também se fez presente nos atos do dia 28. No Rio, bombas de gás, balas de borracha e muita brutalidade policial foi usada para dispersar os mais de 50 mil presentes na Cinelândia. Em Goiás, um manifestante, Mateus Ferreira, foi ferido pela polícia e segue internado em estado grave com traumatismo craniano. Em São Paulo, dezenas de presos, três integrantes do MTST (Luciano, Ricardo e Juraci) seguem presos até o momento. A Esquerda Marxista repudia a repressão e reivindica a libertação imediata dos presos políticos da greve geral.

Esquerdismo e divisão

Se, por um lado, as direções conciliadoras buscaram manter a insatisfação popular dentro de uma margem de controle. Uma dura crítica também deve ser feita a grupos que realizaram ações de vanguarda, esquerdistas, com pequenos grupos de 20, 30 pessoas queimando pneus e interditando ruas. Estes não são os métodos de luta da classe operária, não são os métodos que podem derrotar o governo e o Congresso. Ao contrário, tais ações só dão argumentos para a burguesia de que a greve foi provocada por uma minoria, o que é uma grande mentira. O caminho é ganhar as massas para a batalha e agir com as massas, fora isso, é a aventura que pode servir aos desejos individuais, mas não aos interesses coletivos da classe.

O mesmo pode ser dito das ações dos adeptos da chamada tática Black Bloc, que a imprensa burguesa adora colocar em fotos de destaque quebrando agências bancárias, pontos de ônibus, etc., pois sabe que isso apenas serve de justificativa para a repressão policial e provoca um distanciamento dos protestos da massa da classe trabalhadora, que não se identifica com estas ações.

E se, por um lado, a pressão de baixo impôs a frente única, com diferentes centrais e movimentos convocando conjuntamente a greve geral para 28/4, o sectarismo do PSTU ficou mais uma vez evidente ao não participar do ato no Largo da Batata e a CSP-Conlutas convocar um ato minoritário na Avenida Paulista.

O 1º de Maio

Internacionalmente o 1º de Maio foi marcado por grandes manifestações, mas no Brasil os atos foram, em geral, reduzidos, ou não foram convocados em importantes cidades. A greve geral na véspera do fim de semana que emendou com o dia do trabalhador, não ajudou a dar repercussão nos locais de trabalho no dia seguinte à greve, nem foi utilizada para impulsionar o 1º de Maio.

No Rio de Janeiro, um positivo 1º de Maio unificado, só foi convocado no dia 29/4, após a brutal repressão policial no dia anterior.

Pesa ainda anos de esvaziamento político da data, com as centrais sindicais, incluindo a CUT, realizando por anos um 1º de Maio de festa e shows.

“Se empurrar o Temer cai…”

O governo Temer é um governo fraco, sem base social. Segundo o Datafolha, a aprovação do governo é de apenas 9%. Isso é menos do que o governo Dilma tinha na época do impeachment.

Segundo o mesmo instituto de pesquisa, 71% rejeitam a Reforma da Previdência. A debilidade do governo em conseguir maioria até mesmo no terreno que lhe é mais favorável, no Congresso Nacional, fica evidente nas manobras e recuos em pontos da Reforma para fazê-la passar.

A Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, a lei da terceirização, não são negociáveis, não podem ser melhoradas. Devem ser completamente rejeitadas e retiradas. Esta é a nossa bandeira.

Um crime político seria as direções negociarem o direito dos trabalhadores em troca da regulamentação da contribuição assistencial, como já levantado pelo deputado Paulinho, da Força Sindical. A contribuição assistencial, descontada em folha de toda a base para financiar os sindicatos, assim como o Imposto Sindical, fere a liberdade e a independência sindical. Defendemos que os sindicatos sejam financiados apenas com a contribuição voluntária dos associados. Isso é o que garante sua independência do Estado e dos patrões.

A greve geral de um dia pode ser um importante primeiro passo para medir as forças. Mas é insuficiente para resolver o problema. Na Grécia, mais de 30 greves gerais de um ou dois dias foram convocadas nos últimos anos e os ataques continuam.

Só a organização e a luta de massas, unitária, pode derrotar Temer, o Congresso e seus ataques. Por isso colocamos a necessidade de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, que reúna o movimento sindical, estudantil e popular para organizar o combate.

A luta de massas, grandes marchas e manifestações, uma greve geral por tempo indeterminado, são métodos que podem cortar o fio que sustenta o governo Temer, abrir o caminho para um verdadeiro governo dos trabalhadores (que nada tem a ver com Lula 2018) e uma Assembleia Popular Nacional Constituinte, que propicie verdadeiramente ao povo trabalhador o poder de decidir como a sociedade deve ser organizada e como a riqueza social produzida deve ser distribuída. Assim retomaremos a linha que 100 anos atrás foi trilhada pela classe operária na Rússia, que ousou dar o primeiro passo na construção de um novo mundo, livre do horror do capitalismo.