Não existe “onda conservadora” no Brasil, nem em SP

Guilherme Boulos, do MTST, defende em sua coluna da Folha de SP que há “a ascensão de uma onda conservadora”  em todo o Brasil e que o estado de SP seria a “cereja do bolo” deste processo. No blog da Boitempo, Izaías Almada escreve que as eleições “confirmam que o estado de São Paulo se torna de fato o representante legítimo da vanguarda do atraso brasileiro”. Eles repetem o que outras centenas de “ideólogos de esquerda” têm reproduzido, impressionados com o resultado de 5 de Outubro. Mas estão todos muito enganados, e pretendemos demonstrar isso neste artigo.

Desde Karl Marx, os marxistas travam um educativo debate com o restante da esquerda para que possamos analisar a situação política de maneira concreta, para além das aparências, do impressionismo. De fato, as aparências são de uma vitória perigosa do reacionarismo. Todos repetem que os candidatos a deputado mais reacionários tiveram as maiores votações e que o PSDB ficou milhões de votos à frente do PT em SP, inclusive suprimindo facilmente a reeleição de Suplicy. Mas isso é só a aparência, facilmente dissipada por uma análise com um pouco de rigor científico.

Os marxistas têm claro que o que move a sociedade é a luta de classes, e que esta se expressa apenas de maneira deformada através das eleições burguesas. Não necessariamente quem vence as eleições burguesas é quem tem o apoio da maioria real da sociedade. Isso se dá porque as eleições burguesas não são nada democráticas. Suas regras privilegiam aqueles que têm mais recursos financeiros e boa parte, senão a maioria dos que votam em um determinado candidato, o faz não por concordar com seu programa, mas porque este esteve mais exposto, se tornou mais conhecido, porque tinha mais recursos – e apoio da grande mídia burguesa.

O fato de não haver tempo igual para os partidos e coligações na TV e de os candidatos a presidente e governador de partidos menores como PSTU, PCB, PCO não poderem participar dos debates televisivos, por si só já distorce bastante a expressão das classes em luta no processo eleitoral.

Alckmin, por exemplo, foi reeleito governador em SP sem apresentar seu programa de governo. Claro que apresentou propostas nos programas de TV e rádio, que falou de propostas nos debates, mas o fato de não ter apresentado seu programa e registrado na justiça eleitoral, mostra que para seus eleitores, o programa do candidato não é o mais importante. É como se tivessem dado um cheque em branco a ele.

Os que dizem que há uma “onda conservadora” parecem partir do pressuposto de um mundo ideal onde as pessoas votam nos candidatos por acordo plenamente consciente com suas propostas! Os mais de 1 milhão de eleitores que votaram no Tiririca conhecem suas propostas? Francamente! Nem nos programas de TV ele apresentou as propostas dele! Logo, não podemos afirmar que todos que votaram nos candidatos da direita sejam “de direita”. Mas, mesmo que suponhamos que sejam, vamos aos números!

Aqui há um outro problema: ao analisar os números que a justiça eleitoral burguesa e a mídia burguesa nos fornecem, temos uma visão distorcida do processo que já expressa de maneira deformada a realidade da luta de classes. Isso porque a burguesia distorce o resultado quando desconsidera as abstenções e o que chama de “votos inválidos” (brancos e nulos). Para efeito de porcentagem, usam apenas os chamados “votos válidos”, ou seja, aqueles que foram dados a algum candidato. Mas e na realidade? Os que se abstiveram, anularam seu voto ou votaram “em branco” não fazem parte da vida real? Não estão também na sociedade e participam da luta de classes? Claro que sim! São também trabalhadores e jovens, só que optaram por não participar do teatro das eleições burguesas ou por não votar em nenhuma das alternativas apresentadas.

Para termos uma visão menos distorcida e facilitar a compreensão de tantos números, em nossa análise chamaremos de “candidato NDA” (Nenhuma das Alternativas) o detentor dos chamados “votos inválidos” somados às abstenções. Ou seja, NDA representará em nosso texto todos aqueles que decidiram não votar em nenhum dos candidatos apresentados. Isso muda bastante o que a burguesia nos apresentou como resultado.

De um total de mais de 142 milhões de eleitores no Brasil, Dilma ficou em primeiro lugar, com 43.267.668 votos (30,29%). Em segundo lugar ficou NDA com 38.798.244 votos (27,17%)! Só em terceiro lugar é que aparece o candidato do PSDB, Aécio Neves, com 34.897.211 (24,43%), quase 4 milhões de votos atrás de NDA! E Marina Silva fez 22.176.619 votos (15,53%), terminando em 4º lugar, quase 17 milhões de votos atrás de NDA!

Agora, vamos comparar com o 1º turno das eleições anteriores. Em 2010, havia 7 milhões de eleitores a menos que hoje. De um total de mais de 135 milhões de eleitores no Brasil, Dilma ficou em primeiro lugar, com 47.651.434 votos (35,09%). Em segundo lugar ficou novamente NDA com 34.213.890 votos (25,19%)! Só em terceiro lugar novamente é que aparece o candidato do PSDB, José Serra, com 33.132.283 votos (24,4%), desta vez pouco mais de 1 milhão de votos atrás de NDA! E Marina Silva, então pelo PV, fez 19.636.359 votos (14,46%).

Agora, vamos comparar com o 1º turno das eleições de 2006, quando havia quase 17 milhões de eleitores a menos que hoje. De um total de mais de 125 milhões de eleitores no Brasil, Lula ficou em primeiro lugar, com 46.662.365 votos (37,06%). Em segundo lugar ficou Geraldo Alckmin, do PSDB, com 39.968.369 votos (31,74%)! Há 8 anos, só em terceiro lugar é que aparecia o NDA, com 29.916.401 votos (23,76%), daquela vez pouco mais de 10 milhões de votos atrás do candidato tucano!

Se fôssemos nos deixar levar pelo impressionismo, em 2006 aparentemente havia uma “onda conservadora” muito maior do que agora! Afinal, o candidato tucano, mesmo num universo de quase 17 milhões de eleitores a menos, teve 5 milhões de votos a mais que seu colega Aécio Neves em 2014! Uau! Que “onda conservadora” essa de agora onde o PSDB perdeu 5 milhões de votos nos últimos 8 anos mesmo com 17 milhões de eleitores a mais! Claro que isso se explica em grande parte porque em 2006 a polarização era “PT x PSDB” e desde 2010 Marina Silva entrou em campo, como uma espécie de “3ª via” eleitoral. Mas esta migração de votos do PSDB para Marina representa o crescimento de uma “onda conservadora”? Pelo contrário! Por mais que nós saibamos muito bem que Marina defenda os mesmos interesses que o PSDB e que tenha seu programa completamente submetido aos interesses do capital, a maior parte dos que votam nela não vê desta forma. Votam em Marina por pura ilusão de que ela represente algo novo, uma “nova política”. E não se pode dizer que quem quer “o novo” é conservador. Isso seria um contrassenso em si. Marina pode ser conservadora, já seu eleitorado pode ser confuso, iludido, mas não conservador.

A grande questão aqui é que o PT perdeu muitos votos. E isto não necessariamente quer dizer que seja “uma guinada do eleitorado à direita” – ainda mais com a política que o PT vem aplicando ultimamente, ampliando e aprofundando alianças com partidos burgueses. De 2010 para 2014, o PT perdeu mais de 4 milhões e 300 mil votos, mesmo com um aumento de 7 milhões de eleitores no Brasil! E para onde estes votos foram? Impossível dizer como cada indivíduo mudou seu voto. A análise só pode considerar os resultados mais gerais. Entretanto, o que podemos ver no mapa da apuração é que o PT perde nos grandes centros políticos, onde se concentra a classe trabalhadora mais organizada, e ganha nas regiões menos desenvolvidas economicamente, onde está o proletariado mais atrasado. Outro fator importante é que em 2014 o NDA ganhou mais de 4 milhões e 500 mil votos em relação a 2010. Reparem que é um número muito próximo dos votos perdidos pelo PT no mesmo período. Marina, com seu discurso de “mudança” aumentou sua votação. O PSOL, apesar de ainda pouco expressivo, praticamente dobrou sua votação em relação a 2010.

Não é absolutamente preciso, mas os números mostram centralmente uma migração de votos do PT para o NDA, além de uma pequena distribuição de votos para alternativas à esquerda ou que aparecem como “de mudança” e não para a direita, que proporcionalmente manteve a sua votação (o PSDB obteve 24,4% tanto em 2010 quanto em 2014). Claro que, como o sistema desconsidera os “votos NDA” isso acaba fazendo pesar a balança para a direita no resultado oficial, mas não quer dizer que haja uma “onda conservadora”. Se os que antes votavam no PT mantiverem seu voto no NDA no 2º turno, Aécio deve se favorecer apenas mantendo os votos que historicamente o PSDB obtém no 2º turno.

Isso é matemática. Mas política não é só matemática. O PT não é o mesmo de antes. A relação das massas com o PT não é a mesma de antes. As massas também mudaram. E o voto no PT hoje não significa mais o que significava antes. E isso ressignifica o voto em qualquer partido ou candidato.

As jornadas de junho de 2013 representaram o despertar de uma massa de jovens para a vida política. Uma massa de jovens que não conhece a história do PT, que não conheceu o PT que lutava pelos direitos dos trabalhadores, por mudanças na sociedade. Trata-se de uma juventude que passou toda sua “vida consciente” sob o governo do PT em coalizão com partidos burgueses. Para esta camada de jovens, o PT não é sinônimo de mudança, mas sim de continuidade da ordem vigente. Não é de se estranhar que ao mesmo tempo em que queiram mudanças, estes jovens sejam anti-petistas. E, em meio à despolitização, podem acabar buscando expressar seu anseio por mudanças em qualquer voto contra o PT, inclusive em Aécio do PSDB no 2º turno.

Claro que isso foi influenciado pelo espetáculo midiático e fraudulento que a burguesia promoveu em torno do mal chamado “mensalão” ou “maior caso de corrupção da história do país”. Mas a responsabilidade disso é inteira da direção do PT, que recusou-se a se defender e despolitizou o debate nos últimos anos. Quando a direção do PT passa a defender os interesses do capital e se aliar com os seus inimigos históricos de classe, não há de fato mais nenhuma diferença política substancial entre o programa do PT e do PSDB ou de qualquer outro partido burguês. O debate eleitoral fica reduzido a “quem é mais competente para gerir o Estado” ou “quem é menos corrupto”. Assim, para essa juventude que despertou há pouco, o PT é um partido como todos os outros. E este começa também a ser o entendimento de uma camada da classe trabalhadora, não tão jovem assim.

Trotsky nos explicou que nas eleições se expressa o caráter de massa do proletariado e seu nível de desenvolvimento político. O resultado eleitoral de 5 de outubro é a expressão da despolitização da juventude e da classe trabalhadora, causada pela política dos governos e da direção do PT de conciliação de classes e de submissão aos interesses do capital. É o que a Esquerda Marxista vem alertando e combatendo há anos. E é isso o que leva à derrota petista em todo o Brasil.

Muitos parlamentares petistas não se reelegeram e todos os que conseguiram a reeleição tiveram uma queda acentuada em sua votação. A classe trabalhadora sancionou o PT nas urnas. A declaração da Esquerda Marxista de 7 de outubro faz uma radiografia do desempenho eleitoral do PT:

“A bancada do PT foi reduzida de 88 para 70 deputados federais e de 13 para 12 senadores. Em todo o Brasil, o número de deputados estaduais caiu de 149 para 108. Na disputa presidencial, Dilma atingiu no 1º turno, em 2010, 46,91% dos votos válidos, agora, obteve 41,59%.

Nas disputas para os governos estaduais, o candidato do PT à reeleição no Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ficou em terceiro com apenas 20,07% e está fora do 2º turno. Tião Viana e Tarso Genro foram para o 2º turno na tentativa de reeleição no Acre e no Rio Grande do Sul, respectivamente, sendo que Tarso ficou em 2º lugar com 32,57% dos votos no 1º turno. O único estado atualmente governado pelo PT que conseguiu eleger um sucessor no 1º turno foi a Bahia. Mas o que chama a atenção é o resultado pífio de candidatos petistas ao governo no Rio de Janeiro (10%), no Paraná (14,87%), Santa Catarina (15,56%) e São Paulo (18,22%). Nas regiões sul e sudeste o único estado onde o PT levou no 1º turno foi em Minas Gerais, onde o voto foi evidentemente para tirar o PSDB do governo.

O que estamos vendo é que nos principais centros políticos e econômicos do país, onde há maior concentração da classe operária e da juventude, o PT tem perdido força. Na região do ABCD, na Grande São Paulo, Dilma só ganhou em Diadema. Das cidades desse importante polo industrial, Alckmin ganhou de Padilha em todas.”

Os votos perdidos pelo PT não foram para a direita nem em SP

Como já demonstramos matematicamente, a quantidade de votos que o PT perdeu no Brasil não foi ganha para os candidatos da direita, mas aumentaram significativamente o que neste texto chamamos de NDA (Nenhuma das Alternativas). No estado de SP não foi diferente:

Podemos notar que agora em 2014 Dilma perdeu mais de 2 milhões e 800 mil votos em relação à sua própria votação em 2010 no estado de SP. Ao passo em que o candidato tucano aumentou em apenas 0,3% sua votação. Já o NDA passou da 3ª colocação em 2010 para a 2ª colocação em 2014, superando a votação de Dilma em 10%, aumentando em mais de 2 milhões e 150 mil “votos”. Novamente, assim como no quadro nacional, notamos que no estado de SP a quantidade de votos perdida pelo PT é próxima da quantidade de votos que o NDA ganha. Não podemos deixar de notar que também Marina aumenta sua votação. Com quase 1 milhão e 700 mil eleitores a mais em 2014 no estado de SP, Marina obteve um crescimento de quase 900 mil votos em comparação com 2010, por seu discurso de “mudança”. Entretanto, a candidatura com maior crescimento proporcional foi a do PSOL, que mais que dobrou sua votação em relação a 2010. Mesmo ainda longe de alcançar os primeiros colocados, o crescimento da votação do PSOL não apenas no estado de SP, mas em todo o Brasil, representa uma guinada à esquerda de uma parte dos votos que o PT perdeu. Uma camada mais politizada que em vez de anular seu voto preferiu apostar numa alternativa mais à esquerda.

Para quem ainda acha que o voto na direita cresceu em SP, vamos comparar a votação dos tucanos em 2014 e 2006. O então candidato à presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, obteve no estado de SP em 2006 mais de 1 milhão e 700 mil votos a mais que o seu correligionário Aécio Neves em 2014! Novamente aqui o PSDB perdeu 1,7 milhão de votos enquanto o eleitorado cresceu quase 4 milhões! Isso é “onda conservadora”? Qual foi o partido mais à direita do PSDB que teria ganho esses votos?

Mas alguém pode dizer: “E o Alckmin que agora foi reeleito governador com 57% dos votos?”…novamente vamos desmistificar os números, incluindo os votos que a burguesia retira do resultado final e ver como fica:

Na verdade, o PSDB que vence em SP há mais de 20 anos ficou abaixo da média nestas eleições. Alckmin teve 38,25% dos votos dos eleitores do estado de SP. Apenas 0,2% a mais que sua própria votação em 2010 e 6% a menos que a votação do PSDB em 2006! O fato é que para governador também o PT perdeu muitos votos (mais de 4 milhões em relação a 2010) e o NDA cresceu em mais de 3 milhões, ficando apenas atrás de Alckmin e atingindo 33,27%! Um terço dos eleitores “votou” NDA para governador em SP! Isso é uma “guinada à direita”?! Se somarmos isso com os votos em todos os outros candidatos que se opunham a Alckmin, notamos que 61,75% dos eleitores do estado de SP não querem mais Alckmin do PSDB como governador!

Skaf dobrou a votação dos partidos que lançaram candidatos separadamente em 2010, mas aqui também, por mais que nós saibamos o quão reacionária era a candidatura de Skaf, para a maior parte dos eleitores ele aparecia como uma alternativa para a mudança, uma “3ª via eleitoral” no estado de SP. E não podemos dizer que sua votação representa um eleitorado reacionário. É mais correto dizer que é um eleitorado despolitizado, que quer mudanças, semelhante ao eleitorado de Marina Silva. E, de qualquer forma, representa menos da metade dos votos NDA!

Porém alguns ainda podem argumentar: “Mas a eleição pra senador em SP comprova que há um aumento das forças reacionárias!” …vamos de novo aos números:

Aqui o que dizemos fica ainda mais evidente! O que chamamos de NDA foi o grande vencedor das eleições ao Senado em SP com o apoio de quase 13 milhões de eleitores! Mais de 40% dos eleitores não apoiaram nenhum candidato ao Senado! Serra fica em segundo, com 83 mil votos a menos que o candidato tucano de 2010, mesmo com o eleitorado paulista tendo crescido 1,7 milhão no período! O problema novamente foi que o PT perdeu muitos votos. E mesmo Suplicy, que parecia imune à desmoralização do PT, perdeu mais de 2 milhões e 800 mil votos em relação à sua própria votação em 2006!

Por fim, dizem que os candidatos a deputado mais votados são reacionários. Novamente vamos aos números! O candidato a deputado federal mais votado em SP, foi Celso Russomano, com 1 milhão e meio de votos. Isso é bastante compreensível. O sujeito tem um programa de TV onde banca o “defensor do consumidor” há anos. Foi eleito deputado federal em 2006 com meio milhão de votos. Em 2010 foi candidato a governador e em 2012 disputou a prefeitura de São Paulo, quase tirando Haddad do 2º turno. E continuou até julho, com seu programa de TV no ar! Com tanta exposição na mídia, sua votação até que foi baixa. O segundo mais votado foi Tiririca! O “abestado”, como ele mesmo se chama, teve 300 mil votos a menos que em 2010! E o terceiro mais votado foi o pastor Marco Feliciano, com menos de 400 mil votos! Depois de toda a exposição de mídia que ele ganhou com as polêmicas em torno de sua presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e suas declarações homofóbicas, com apoio de grande parte dos evangélicos, sua votação também foi baixa. O que importa é que todos eles não chegam aos pés do NDA, que obteve apoio de mais de 11 milhões de eleitores na escolha de Deputado Federal em SP!

No Rio de Janeiro, por exemplo, o reacionaríssimo Bolsonaro foi o candidato mais votado para Deputado Federal com 464 mil votos. Já para deputado estadual, o mais votado foi Marcelo Freixo do PSOL, com 350 mil votos. O que os impressionistas diriam? Que houve uma guinada à direita para deputado federal e uma outra guinada à esquerda para deputado estadual? O impressionismo como método é uma piada! Ao mesmo tempo em que Bolsonaro foi o mais votado, o PSOL teve mais de 530 mil votos para deputado federal e elegeu 3 de seus candidatos no Rio de Janeiro! Onde está a “onda conservadora”?

Com a retirada de uma parte importante do eleitorado petista para o NDA (brancos, nulos e abstenções), que o sistema eleitoral burguês desconsidera, acabam privilegiados os que mantêm suas votações. E foi isso o que ocorreu. Não há um aumento do apoio às ideias de direita. A direita praticamente manteve seu apoio enquanto o PT perdeu. Isso deu mais espaço para a direita no parlamento, mas não significa que há um aumento do apoio popular às ideias de direita. E o PT perder apoio não significa que as ideias de esquerda têm menos apoio. Pelo contrário, isso mostra uma desaprovação popular à direitização do PT.

O que o resultado de 5 de Outubro mostra é que camadas importantes do proletariado brasileiro, principalmente nos grandes centros políticos do país, estão deixando de apoiar a política de conciliação de classes do PT, estão insatisfeitos com todos que se candidatam a seus representantes. O grande vencedor destas eleições não é o PSDB como a mídia burguesa tenta pintar. O grande vencedor é o NDA. Isso quer dizer que é uma guinada à esquerda? Não necessariamente. Mas certamente não é uma guinada à direita. Pelo contrário, Alckmin em SP e o próximo presidente eleito enfrentarão uma forte oposição popular que já os rejeitou nas urnas. Se estes não encontram no PT e em nenhum outro partido o seu representante político, não podemos culpá-los.

Os que responsabilizam o “atraso das massas” pelo resultado eleitoral, os que dizem que “o povo tem o governo que merece” ou que concluem que o resultado de 5 de outubro é reflexo de um aumento do conservadorismo entre a população, consciente ou inconscientemente estão dando cobertura à direção do PT, que é a verdadeira responsável por seu próprio fracasso e com isso prepara o fortalecimento e a volta da direita mais reacionária nos parlamentos e palácios.

Para os revolucionários, o cenário político é bastante animador. Difícil, complexo, mas animador. Já o cenário econômico promete tempos difíceis para todos os trabalhadores, que voltarão a se mobilizar para se defender dos cortes e ataques aos seus direitos conquistados com tanta luta.

Apesar de todas as traições da direção do PT, a classe trabalhadora ainda pode cumprir seu papel e impedir a vitória do PSDB no segundo turno, dando ao PT mais uma chance. E o PT será colocado à prova diante de toda a classe trabalhadora. É necessário que a classe trabalhadora faça a experiência até o fim com estes que reconhece como seus representantes históricos. Estará nas mãos da direção do PT continuar com a política de conciliação com a burguesia e ser definitivamente abandonada por sua classe ou virar à esquerda e reatar com as bandeiras originais do partido, de luta pelo socialismo. Somente passando por essa experiência é que o proletariado brasileiro encontrará uma saída para sua reorganização sobre um novo eixo de independência de classe. Vote Dilma, vote 13!

Obs. Todos os quadros contém dados oficiais fornecidos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). As candidaturas que não foram incluídas nos quadros obtiveram votações tão pequenas que não alteram em nada nossa análise.

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