Na Suíça, jovens trabalhadores lutam por seus direitos!

“Lute pelos seus direitos” é o slogan da campanha pelos direitos dos jovens trabalhadores na Suíça, organizada pela Juventude Socialista (JUSO). A campanha foi proposta pela tendência marxista “Der funke – L’etincelle” que participa da JUSO e ganhou a votação entre cinco propostas diferentes no congresso nacional da Juventude Socialista.

“Lute pelos seus direitos” é o slogan da campanha pelos direitos dos jovens trabalhadores na Suíça, organizada pela Juventude Socialista (JUSO).

A campanha foi proposta pela tendência marxista dentro da JUSO, reunidos em torno do documento da “Der funke – L’etincelle” e ganhou a votação entre cinco propostas diferentes no congresso nacional da Juso no último dezembro.

A campanha está ganhando espaço durante o ano de eleição nacional e é um marco na organização dos jovens trabalhadores e no reforço da resistência contra as condições de trabalho indignas dos aprendizes (similar aos estagiários no Brasil – NDT) na Suíça.

O sistema suíço de aprendizagem, tem  raízes no final da Idade Média, onde os artesãos mantinham aprendizes, tanto para explorar mão de obra barata, como também para passar suas habilidades para a próxima geração. Geralmente esses aprendizes não recebiam salários,  mas viviam na casa dos seus mestres, onde lhes era fornecido alimentação e vestuário. Esse sistema de educação sobreviveu à transformação capitalista da sociedade, particularmente na Europa de língua alemã, e provou ser muito popular entre a classe dominante desses países. Ultimamente, esse sistema continua a ser uma forma muito barata de educar as novas gerações de força de trabalho, considerando os salários ridiculamente baixos, comparados com a sua participação importante no processo produtivo durante a sua educação. Ele também permite que os capitalistas possam educar as novas gerações de acordo com suas necessidades diretas, seja ela simplesmente de trabalho barato, ou de peritos altamente especializados.

O sistema de aprendizagem também é considerado um dos maiores pilares do sucesso da economia suíça. Mesmo que isso não seja totalmente errado, é principalmente um sucesso para a burguesia suíça. A burguesia de vários outros países (EUA, Espanha etc.) estão invejosas para aprender sobre esse sistema e implementá-lo em suas economias nacionais. O aprendizado na Suíça geralmente leva 3-4 anos e é composto por 3-4 dias de treinamento prático no local de trabalho, e 1-2 dias de formação teórica na escolas profissionais por semana. Aprendizes são muitas vezes uma força de trabalho muito barata, que são explorados quase a vontade. 

Aprendizagem é um tema popular na mídia suíça , mas muito pouco é escrito sobre as condições dos trabalho dos aprendizes. Não muito tempo atrás, o tablóide suíço “Blick” frisou: “Os alunos demasiado estúpidos  para a aprendizagem”. Esse artigo nojento, mais um vez propaga a posição dos representantes da elite econômica – é a posição da burguesia, que nem sempre vê suas exigências, muitas vezes absurdas, sobre os aprendizes, cumpridas.

Simultaneamente, uma imagem totalmente distorcida da realidade tem sido desenhada. Os 1000 postos para aprendizes na Suíça que não foram preenchidos esse ano, são provas suficientes para o Blick de que “muitos graduados são demasiado estúpidos para aprendizagem”.

O objetivo é fazer com que os jovens acreditem que é sua própria culpa se eles não conseguem encontrar um cargo como aprendiz. O que não é mencionado, é que uma grande parte desses jovens não pode realmente encontrar uma posição de aprendiz.

O tablóide também ignora totalmente as expectativas tremendas que as empresas têm em jovens de 15 e 16 anos. Dependendo do setor, inúmeros testes, investigações preliminares e pré-estágios são necessários. As mais de 100 aplicações que são entregues pelos alunos são usadas pelas corporações para selecionar os aprendizes completamente a vontade. Os jovens estudantes estão sob uma pressão enorme para se adaptar, o que é dito por todo lugar é que eles não terão qualquer perspectiva de futuro sem uma posição de aprendiz. A livre escolha de profissão só existe para uma pequena minoria. A escolha das profissões é muitas vezes feita pelas corporações e não pelo aprendiz. 

Lutando por condições dignas durante a aprendizagem

Os “sortudos” por terem encontrado uma aprendizagem, brutalmente aprendem o que é estar no nível mais baixo da estrutura hierárquica da empresa. Se os aprendizes não tem um “artesão” que absorve a pressão sob os “seus” aprendizes, os jovens trabalhadores começam rapidamente a ser tratados como capachos dentro das empresas. Se um chefe de departamento tem um trabalho maçante para distribuir, a tarefa é muitas vezes passada para o aprendiz. Por exemplo, se for necessário substituir um produto de limpeza, os aprendizes rapidamente se tornam uma “equipe de limpeza”.

É amplamente e convenientemente ignorado pelas empresas, que na legislação suíça é proibido que os aprendizes façam trabalho forçado, e que não seja da sua profissão. As próprias empresas declararam que no primeiro ano de aprendizagem, esses jovens trabalhadores gastam 50 % do seu tempo fazendo coisas  que não tem nada ver com a profissão que eles estão aprendendo.

Além disso, 55% dos aprendizes trabalham mais de 9 horas por dia, pelo menos uma vez por mês, embora isso seja proibido por lei, 25% dos aprendizes nem sequer chega a ganhar hora extra por essas horas de trabalho ilegal.

As normas de segurança no trabalho também são muitas vezes ignoradas, por exemplo, um em cada oito trabalhadores sofre um acidente de trabalho a cada ano. Três aprendizes morrem anualmente em acidentes de trabalho. Acidentes de trabalho são muitas vezes consequência de condições de trabalho de alta pressão, aliado a um desrespeito total às normas de segurança por parte dos patrões, a fim de cortar custos. De novo, fica evidente que as condições de aprendizagem são determinadas pelo interesse dos exploradores, e não pelos interesses dos aprendizes ou da sociedade em geral, que se beneficia de uma educação profissional.

Embora o nível de produtividade dos aprendizes esteja em um nível comparado ao de trabalhadores qualificados. De acordo com as associações setoriais , os salários mais altos são entre 600 e 800 francos suíços no primeiro ano de aprendizado e de 1.200 a 1.400 francos suíços no último. 

Esses escandalosos salários rebaixados não têm nada a ver com o desempenho real dos aprendizes.  80% dos aprendizes tem sua produtividade no último ano de sua aprendizagem 75% maior que a de um trabalhador totalmente treinado. Enquanto isso, as empresas fazem um lucro anual global de mais de 500 milhões de francos, explorando os aprendizes. Ao mesmo tempo é quase impossível sobreviver com um salário de aprendiz. Levando em consideração que o orçamento mínimo para um jovem que vive sozinho na Suíça é de 1500 francos. Deste modo, a maioria dos aprendizes tem que permanecer na casa dos pais, são eles que subsidiam o lucro do exploradores.

Quem resiste é atacado

Como temos visto, as leis e as diretrizes relativas à proteção dos aprendizes não valem nem o papel em que estão escritas. Os responsáveis pela fiscalização das condições de trabalho dos aprendizes, muitas vezes se sentem mais comprometidos com os patrões do que com os aprendizes. Eles costumam fechar os olhos para os abusos. 

A última solução para “resolver” o conflito é sempre o término  da aprendizagem, o que resulta no desemprego dos aprendizes . Consequências legais para as corporações são muito raras. Se você contestar, legalmente, financeiramente ou pessoalmente as condições injustas, é muitas vezes dito para você calar a boca e cerrar os dentes até finalizar a sua aprendizagem. Jovens trabalhadores que defendem o seus interesses são considerados traidores em seus locais de trabalho. Aqueles que  são capazes de suportar esses ataques são abatidos. 28% de todas as aprendizagens na Suíça estão se encerrando prematuramente.

Se você perguntar aos aprendizes da indústrias de construção civil, porque eles cancelaram a sua aprendizagem, eles respondem: 52% dos aprendizes desistentes, afirmaram que eles foram humilhados pelos seus erros, mesmo que estivessem lá para aprender alguma coisa. Da mesma forma, 52% afirmaram que não se sentiam desafiados e eram tratados como escravos.

As condições mencionadas acima não são aleatórias, e nem faltas de empresas individuais. A exploração e opressão dos aprendizes é parte do sistema capitalista em que estamos vivendo. Com salários ridiculamente baixos e a mercê da arbitrariedade dos seus patrões, os aprendizes têm sido sempre um dos setores mais explorados da sociedade. A superestrutura dessa exploração é a crença de que é importante para os jovens adultos testemunhar condições de trabalho miseráveis como um rito de passagem. Para justificar esse assalto natural capitalista, a mídia apresenta a imagem de uma juventude que não trabalha duro. As manchetes falsamente fabricadas da imprensa tabloide desenham a imagem de uma juventude preguiçosa que precisa ser disciplinada através do trabalho para se tornarem membros valiosos da sociedade. O significado dessa convicção contra a geração mais jovem, não é para avançar ainda mais a sociedade, mas apenas para reproduzir um sistema econômico que se baseia na exploração de muitos por poucos.

Mas muitas vezes as condições miseráveis durante os estágios não são escritas em pedra. Elas são acima de tudo uma expressão da falta de pressão das organizações da classe trabalhadora. Os direitos dos aprendizes tem sido amplamente negligenciados ou ignorados pelos sindicatos durante décadas. Houve movimentos de aprendizes na década de 1970 que conquistaram melhorias para os jovens trabalhadores, mas hoje não há praticamente qualquer movimento entre os aprendizes. No contexto da crise do sistema capitalista e as consequências da força do franco suíço, é necessário organizar os aprendizes no movimento operário já que eles estarão sob mais pressão da classe capitalista, que procura maximizar a relação de exploração durante a crise.

Uma campanha pelos direitos dos jovens trabalhadores 

Cerca de 73% dos jovens suíços são aprendizes hoje em dia. Mas a maioria das organizações políticas ignoram as graves condições de trabalho que os aprendizes encaram todos os dias. Por causa desses fatos, a tendência marxista  “Der Funke L’étincelle” propôs para as fileiras da Juventude Socialista adotar e levar a cabo a campanha pelos direitos dos aprendizes. A campanha destina-se a organizar os jovens trabalhadores como parte do movimento da classe trabalhadora, para melhorar suas condições de trabalho e de vida. Para a surpresa de muitas pessoas, a maioria dos delegados do congresso anual da Juventude Socialista decidiu apoiar a proposta da tendência marxista que tem como objetivo organizar 500 aprendizes dentro das fileiras da Juventude Socialista dentro de um ano.

A reação dos representante políticos da burguesia veio imediatamente: Os capangas dos exploradores enviaram às suas organizações de juventude a alegação de que seria irresponsável organizar os jovens trabalhadores, que os jovens trabalhadores que lutam poderiam ser um perigo para a Suíça e os seus negócios, etc.

A convicção que se estabeleceu após a campanha dos aprendizes ter sido anunciada, mostra que estamos atacando a classe dominante em um ponto vulnerável. Grandes camadas da juventude estão com raiva por terem sido usadas como mão de obra barata. Como parte da campanha, os ativistas de todo o país começaram a visitar escolas de educação profissional, recolhendo assinaturas para uma petição, para iniciar discussões sobre as condições de trabalho dos aprendizes.

A grande maioria das pessoas em escolas de educação profissional são facilmente convencidas de que é necessário levantar-se contra um sistema de aprendizagem que só satisfaz as necessidades da classe dominante. O retorno que estamos recebendo com a campanha junto aos jovens trabalhadores é extremamente positivo.

Pelo que lutamos

A principal abordagem da questão dos aprendizes deve ser a demanda pela abolição da própria aprendizagem. Queremos colocar o controle sobre a educação dos jovens trabalhadores bem longe das garras dos capitalistas, e colocá-lo sob o controle democrático da classe trabalhadora para que ele possa servir para as necessidades da sociedade como um todo.

Por essa proposta, a tendência marxista publicou um programa de transição para os jovens trabalhadores. A partir da demanda para se fazer cumprir as leis existentes, como horas extras limitadas, proibição de trabalho auxiliar, padrões de segurança e a proibição de abuso físico e psicológico; surge a necessidade de criar órgãos democráticos dos trabalhadores e sindicatos para controlar e fazer cumprir essas leis e garantir a qualidade global da educação.

Além disso, temos que parar com a exploração ultrajante dos aprendizes, aumentando significativamente os seus salários para uma quantia que lhes permita pagar pelas suas próprias despesas. Exigimos por um salário de 2000 francos suíços por mês no primeiro ano, progredindo 2500, 3000 e 3500 nos anos seguintes, o que traria os salários dos aprendizes mais perto dos níveis de salários mínimos atualmente aceitos. Exigimos 13 semanas de férias, a mesma quantidade que os estudantes do ensino médio tem nessa idade.

Essas são apenas algumas das demandas que levantamos, mas o capitalismo não é capaz de fornecer nem mesmo isso, essas demandas básicas, destinadas a assegurar segurança e dignidade à força de trabalho jovem neste país.  A implementação dessas exigências pode prejudicar a rentabilidade do próprio programa de aprendizagem, e portanto pode levar a uma parada súbita das empresas de fornecer empregos para os aprendizes . Isso representaria a questão de, democraticamente, planejar a educação de jovens trabalhadores, a sua finalidade e em benefício de quem a produção é executada e, finalmente, questionar o papel da própria propriedade privada.

O passo mais importante para inflamar a luta por esse programa entre os jovens trabalhadores é a organização dos aprendizes mais avançados e radicalizados. A campanha “Lute pelos seus direitos!” é um veículo para chegar a esses jovens trabalhadores. Até agora temos elaborado um documento chamado “Rebelião” para as escolas e um extenso panfleto que lida com a situação dos aprendizes na Suíça. Com isso estamos regularmente presentes em sete regiões do país.

Como marxistas nós entendemos que essa campanha conduzida pela Juventude Socialista por um período de seis meses, pode ser só o começo de uma presença permanente nas escolas de aprendizagem com o objetivo de ganhar uma base verdadeira entre os jovens trabalhadores na Suíça e assim fortalecer o movimento dos trabalhadores e as forças revolucionárias do marxismo no país.

Tradução: Ariele Efting