MNS: Contra a repressão, o racismo e a segregação! Por espaços públicos de cultura e lazer para toda a juventude!

Reproduzimos abaixo a declaração do Movimento Negro Socialista sobre os recentes casos de segregação, racismo e repressão, por parte da burguesia e de seu Estado, contra a juventude pobre e, majoritariamente, negra, que tem organizado encontros massivos em shoppings centers. Os chamados “rolezinhos”, que começaram em São Paulo no mês de dezembro e se espalharam pelo Brasil a partir da repressão. A Esquerda Marxista apóia inteiramente essa declaração.  

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Declaração do Movimento Negro Socialista: Contra a repressão, o racismo e a segregação! Por espaços públicos de cultura e lazer para toda a juventude!

Nos últimos dias as ações da justiça burguesa que proibiram os ‘rolezinhos’ nos shoppings de São Paulo retrataram como o sistema capitalista promove o racismo e a violência para dividir e criminalizar a juventude.  Cenas (já muito assistidas) de abusos policiais, com jovens expulsos a tapas e detidos sem quaisquer motivos, além de desmascarar o preconceito e a discriminação, explicitaram que, para a burguesia, a defesa da propriedade privada está além de qualquer direito ‘pintado’ nos quadros da democracia.

O Estado, com amparo da justiça burguesa, não somente atende as súplicas da burguesia, como utiliza o aparelho repressivo para proteger ‘a propriedade privada’ e promover a segregação com abordagens racistas e preconceituosas. Essa prática, que milhões sofrem cotidianamente, ficou explícita quando, por conta dos “rolezinhos”, a polícia estabeleceu em vários shoppings uma “zona de segurança” para “selecionar” o acesso. A ‘varredura’ teve como alvo a população pobre e negra, a inspeção não necessitou de qualquer outro critério para prender e reprimir centenas de jovens com balas de borracha e gás lacrimogêneo.

Pronunciamentos públicos de clientes demonstram quais os critérios da “triagem” policial: “Era perguntado a alguns visitantes qual era a intenção deles ou pedido que mostrassem um documento de identidade, caso alegassem trabalhar no shopping. Até onde eu percebi, pessoas mais velhas com pele clara e aparência mais rica não eram paradas.” (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/the-international-new-york-times/2014/01/17/onda-de-rolezinhos-deixa-a-pergunta-de-quem-e-o-shopping-center.htm#fotoNav=2)

Em uma das liminares concedida aos shoppings a justiça declara: “O Estado não pode garantir o direito de manifestações e olvidar-se do direito de propriedade, do livre exercício da profissão e da segurança pública. Todas as garantias têm a mesma importância e relevância social e jurídica (…). Comunique-se às autoridades policiais para que tomem todas as medidas necessárias para impedir a concretização desses movimentos nos espaços e garantir a segurança pública e patrimonial”. (http://www.jusbrasil.com.br/diarios/64821393/djsp-judicial-1a-instancia-capital-16-01-2014-pg-202)

Somente após as inúmeras manifestações, para maquiar o caos promovido pela repressão policial, a justiça recua tentando “acalmar” a burguesia: “O movimento, que vem se verificando com alguma frequência em outros empreendimentos comerciais não visa expropriação ou posse de nada. Busca, isso sim, a realização de encontro de jovens em grande número, o que vem assustando (…)” (http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/01/17/justica-de-campinas-sp-nega-liminar-a-shoppings-para-barrar-rolezinho.htm)

Entretanto, somente os ‘rolezinhos’ da juventude pobre e negra é que incomodam o Estado, pois quando a multidão é majoritariamente de integrantes da classe média e da burguesia, o poder repressivo não é utilizado para criminalizar a juventude.

Desde 2007, os alunos da USP e de Universidades privadas de São Paulo se reúnem em grandes grupos nos shoppings e a movimentação nunca foi sequer questionada pelos proprietários dos templos do consumo. Um dos estudantes que participou destes eventos declarou: “A gente grita ofensas em alto e bom som, e ninguém fala nada (…). Alguns sobem nas mesas, e os seguranças pedem educadamente para descer.” O Centro Acadêmico da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) manifestou em nota pública[1]: “Se os eventos são similares, o tratamento deve ser o mesmo, independentemente de quem os frequente. Enquanto nos embasarmos em preconceitos para definir quem pode ou não frequentar determinado local, continuaremos tendo ambientes de profunda segregação social” (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1400524-alunos-da-usp-fazem-rolezinho-em-shopping-sem-serem-abordados.shtml)

A luta de classes se expressa e desmascara a falsa igualdade constitucional do Estado burguês. Para os capitalistas, a vida e a liberdade da maioria nada valem quando seus interesses e suas vaidades estão em voga, pois o muro que divide àqueles que devem ou não acessar estes espaços são os mesmos que dividem os trabalhadores na luta de classes imposta pelo capitalismo.

Para os capitalistas existem lugares previamente definidos que podem ser ocupados de acordo com a classe social e a cor da pele das pessoas. Os templos do consumo não são locais para “hordas de jovens trabalhadores e negros, ainda mais em grupo”.  O muro que divide aqueles que devem ou não acessar estes espaços são os mesmos que separam os interesses do proletariado (explorados) e os interesses da burguesia (exploradores), que caracteriza a luta de classes imposta pelo sistema capitalista. Pegos de novo no contrapé, os habitantes da casa grande utilizaram os métodos tradicionais: a repressão e a criminalização.

A classe trabalhadora e a juventude dos bairros operários e periféricos lutam cotidianamente para que seus locais de moradia tenham todos os serviços públicos em quantidade e em qualidade, incluindo estruturas de lazer e cultura. Além de total liberdade de acesso ao conjunto das opções de lazer, cultura e esporte, presentes nas cidades. Estas reivindicações em sua grande maioria não são atendidas, pois a maioria dos governantes está compromissada com os interesses da classe dominante.

O que a burguesia quer, é manter a maioria da população e a juventude confinada em senzalas mais humanizadas, o que garante a integridade da casa grande. Sim, lutamos e reivindicamos todos os nossos direitos, inclusive o direito de ter acesso a todos os espaços existentes sem nenhuma restrição fundada em práticas segregacionistas.

O Movimento Negro Socialista (MNS) convoca toda juventude a combater este sistema repressor, pois tais ações confirmam que o processo de criminalização dos movimentos sociais se acelera, o que exige a unidade da luta dos trabalhadores e da juventude. Afinal, nosso combate tem a mesma bandeira, nossa dor tem a mesma origem e nossa luta se pinta nas ruas por todas as cores. Abaixo a repressão e a criminalização da juventude, o racismo e o preconceito!

22 de janeiro de 2014