Militares nas ruas do Rio de Janeiro: Não é uma ditadura, é apenas o capitalismo!

O exército tomou as ruas do Rio de Janeiro. São 10 mil homens fortemente armados, com direito a tanques de guerra e helicópteros. Essa atuação foi garantida com a assinatura do presidente Temer, como cumprimento do plano Nacional de segurança pública.

Para muitos essa ação é uma prova de que está havendo uma ditadura militar ou que ao menos estamos em vias de uma ditadura.

Porém, essas pessoas devem ter se esquecido que essa mesma medida de Garantia da Lei e da Ordem já foi usada 29 vezes entre 2010 e 2017, ou seja, durante os governos de Lula e Dilma. Esse mesmo exército ocupou a favela da Maré em 2014-15, assim como ocupou as ruas, durante a Rio+20 (2012), durante a Copa das Confederações, (2013), na Copa do Mundo (2014) e nas Olimpíadas (2016). Esse mesmo exército brasileiro mantém tropas no Haiti, com a alegação de trazer paz para o país.

Vemos que esse tipo de ação não é algo exclusivo de uma ditadura, na verdade, trata-se de uma ação legal, permitida pela lei. Ou seja, o trabalho de repressão é um dos princípios do estado democrático de direito, é justamente para isso que servem as forças policiais no estado burguês: para garantir a propriedade privada e reprimir a classe trabalhadora.

Na verdade, não há interesse da burguesia de estabelecer uma ditadura militar atualmente. Uma ditadura custa muito caro, exige dinheiro e anos de preparação. A burguesia dispõe de medidas de repressão eficazes para evitar ter que impor uma ditadura, ou ainda, um fascismo.

Contudo, essas políticas de repressão não podem ser usadas sem uma ideologia forte que mantenha a calmaria, ou causaria uma revolta popular e explosão social. É por isso que medidas como as UPP’s, no Rio de Janeiro, ou as Tropas da Paz, no Haiti, vêm sempre acompanhadas de “projetos sociais” de cunho assistencialista, que nunca combatem o problema em sua raiz, tornando os “beneficiados” eternos dependentes dessas políticas ditas compensatórias e paliativas.

Uma das justificativas utilizadas nos EUA, pelos presidentes racistas Johnson e Nixon, foi a suposta guerra às drogas e à criminalidade. Pois o suposto combate à criminalidade parece uma boa justificativa para uma ação mais “incisiva” por parte do Estado.

Os EUA, por exemplo, usaram a política de Lei e Ordem (law and order) durante várias décadas, com o mesmo argumento que Temer: garantir a segurança da população e combater o crime organizado. Na prática, o que ocorreu foi uma perseguição dura contra a classe trabalhadora, em especial aos negros. O resultado foi que os EUA se tornaram o país com a maior população carcerária do mundo e desarticulou importantes movimento anticapitalistas, como o caso dos Partido dos Panteras Negras. Tudo isso sem precisar lançar mão de uma ditadura. Entretanto, nem a violência nem o tráfico de drogas foram extinguidos, na prática, aumentaram.

Se por um lado eles reprimiam, por outro eles “ajudavam”. Foram criadas as “ações afirmativas” que buscavam balancear essa perseguição aos negros. Dessa forma, o governo fingia apoiar as “minorias étnicas”, dando oportunidades de emprego, por exemplo. Mas essa oportunidade não era para todos, e sim para uma minúscula parcela da população negra que, no caso dos EUA, já eram minoria populacional.

Sendo assim, essas medidas reforçavam a meritocracia e acirravam a disputa entre os próprios negros. Ou seja, culpabilizavam as vítimas, como se elas que não se esforçassem o suficiente quando eram fracassadas. Assim, os negros de sucesso eram usados como “modelos” a serem seguidos, de como “agarrar as oportunidades”. A exceção tomada como regra.

Na prática, essa era a forma de não garantir empregos e educação para todos os negros, mantendo-os excluídos dos direitos mais básicos. Essa era uma das formas do racismo atuar como ideologia de opressão e exploração, porém, parecendo que era inclusivo e democrático.

O Brasil importou esse modelo de opressão. Utilizando, inclusive, os mesmos conceitos ideológicos criados por essa casta racista norte-americana. No final, a intenção é a mesma: reprimir, dividir a classe trabalhadora e garantir que o capitalismo e suas instituições continuem funcionando. Temer fala isso com todas as letras no vídeo abaixo sobre a operação do Exército.

O que Temer quer é salvar as instituições burguesas, que estão todas desmoralizadas, desde o Congresso Nacional, até o judiciário, passando pelas forças armadas. Porém, a velha estrutura burguesa está apodrecida.

Nesse sentido, a afirmação de que há uma ditadura, unida à ideia de onda conservadora e que houve um golpe colaboram para criar mais ilusão. Afinal, os que defendem essa linha apresentam como “saída radical” eleições diretas, para “restaurar a democracia”. Na prática, essa palavra de ordem defende a volta de Lula em 2018, pensando que assim as coisas voltarão ao que eram antes, ou seja, a fé de que as instituições e métodos burgueses funcionam.

Acontece que nada mais voltará ao que era antes, tudo que era sólido se desfez no ar. O capitalismo que nunca funcionou para os mais pobres agora deixa de funcionar cada vez para mais gente. O capitalismo nunca funcionou para Rafael Braga, preso em 2013, por portar produtos de limpeza. Assim como não funciona para os mais de 29 mil jovens assassinados todos os anos, incluindo durante os governos do PT.

O fato é que agora as poucas liberdades democráticas que tínhamos conquistado precisa ser retirada pelas classes dominantes e nossos direitos também. Essa é a única forma a burguesia tentar se salvar: explorando ainda mais a classe trabalhadora.
Só a unidade de toda classe trabalhadora é capaz de vencer esses ataques.

Precisamos organizar um encontro nacional da classe trabalhadora, para derrotar Temer, o Congresso Nacional e todas suas reformas. É preciso construir um governo dos trabalhadores.