Manobras, boicote e falsificação no Fórum Social Mundial Palestina Livre

 

Com o clima de resistência em cada olhar, apoiadores da causa palestina de todo o mundo participaram do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL) entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro. Os militantes da Esquerda Marxista (corrente do PT e seção brasileira da Corrente Marxista Internacional – www.marxist.com) intervieram no evento junto com a União Democrática das Entidades Palestinas do Brasil (UDEP) e o Movimento Palestina para Todos (Mopat).

Com o clima de resistência em cada olhar, apoiadores da causa palestina de todo o mundo participaram do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL) entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro. Os militantes da Esquerda Marxista (corrente do PT e seção brasileira da Corrente Marxista Internacional – www.marxist.com) intervieram no evento junto com a União Democrática das Entidades Palestinas do Brasil (UDEP) e o Movimento Palestina para Todos (Mopat).

O Fórum foi aberto com a marcha dos movimentos sociais, que reuniu milhares de pessoas nas ruas do Centro de Porto Alegre. Cerca de 300 debates aconteceram espalhados pela cidade. A logística desagregava ao invés de integrar os participantes.

A realização do Fórum enfrentou várias dificuldades, segundo um dos membros da comissão organizadora, Abdel Howas, que é da Sociedade Palestina de Santa Maria e da UDEP. “A discussão sobre a liberdade da Palestina não aconteceu da forma como era para ser”, explica. Em outubro o embaixador de Israel, Rafael Eldad, e o presidente da Federação Israelita (FIRS), Jarbas Milititsky, vieram ao Brasil para pressionar o cancelamento do evento.

Abdel relata que também houve problemas internos ao comitê organizador. “Tínhamos mais de 100 palestrantes para trazer do mundo. Mas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) articularam para esvaziar este fórum e a vinda dessas pessoas.” Ele afirma que, quando essas organizações não conseguiram passar suas posições sobre o que fazer, começaram a boicotar a própria realização do FSM. “O resultado foi um evento desorganizado, pulverizado e que desfavorece o debate democrático”.

A Esquerda Marxista participou com delegações de Recife, São Paulo, Joinville e Florianópolis. Na oportunidade, foi lançada a brochura “Palestina Livre”. A faixa estendida pelos marxistas na entrada do Gasômetro explicava sua posição: “Por um Estado único, laico e democrático sobre toda a Palestina histórica! Pelo Direito de Retorno de todos os Refugiados Palestinos”. Esta proposta para o conflito rivalizou com a tese da criação de um Estado da Palestina ao lado do Estado de Israel defendida pela Fepal e setores da CUT.

Na mesa do debate, que reuniu dois temas, “Um Estado democrático” e “O desrespeito ao direito internacional na questão palestina”, os palestrantes Ramadan Ali e Serge Goulart (este último, dirigente da Esquerda Marxista) contextualizaram os conflitos na região com o desenvolvimento do sionismo. Afirmaram que o inimigo dos palestinos é o Estado sionista de Israel e não os judeus.

“A criação de dois Estados não é possível, pois o sionismo continuará em Israel”, disse Serge Goulart ao público, “mas isso não quer dizer que não possa haver um Estado fantoche. Ele servirá apenas para os sionistas ganharem tempo enquanto continuam o massacre.”

O debate de fato no Fórum era este: De um lado, a UDEP e várias entidades palestinas, junto com o MST, sindicatos e organizações de esquerda, como a Esquerda Marxista, defendiam a posição histórica contra a existência do Estado de Israel e o direito de retorno de todos os 6 milhões de refugiados palestinos. De outro lado, representantes do Governo Brasileiro, da Autoridade Palestina, setores da CUT e a FEPAL (leia-se, PCdoB) defendiam “Estado Palestino Já!”, que na prática significa reconhecer como legítimo o Estado Sionista de Israel e estabelecer um Estado Palestino títere ao seu lado, completamente submisso política e militarmente, ocupando apenas 18% do território histórico da Palestina. Ou seja: não resolve nenhum dos problemas dos palestinos, além de inviabilizar completamente o retorno dos refugiados às suas casas, das quais foram expulsos desde 1948.

Na Assembleia Geral dos Movimentos Sociais que encerrou o Fórum, manobras por parte de dirigentes da CUT, da FEPAL e do Governo Brasileiro, levaram o MST e outras entidades a se retirar (leia abaixo carta-denúncia do MST). Em nome do Mopat, o camarada Caio Dezorzi, da Esquerda Marxista, teve 2 minutos para falar: “Se este Fórum Social Mundial Palestina Livre quer fazer jus ao nome que leva, se de fato quer uma Palestina Livre, então deve expressar em sua declaração final, de maneira clara e objetiva, que repudia a existência do Estado de Israel. E para ser coerente com isso, não pode reivindicar um ‘Estado Palestino Já’ aceitando que o Estado religioso-sionista de Israel permaneça. Só um Estado único, laico e democrático sobre todo o território histórico da Palestina permitirá que todos possam conviver com direitos iguais, independente de sua religião ou origem. Só um Estado como esse garantirá o direito de retorno de todos os palestinos refugiados.”

Apesar desta fala expor claramente a falta de consenso entre os membros participantes do Fórum, os setores que detinham o controle econômico do Fórum manobraram para que aparecesse como “posição consensual” a política defendida por eles, que é a linha defendida por setores do Imperialismo e do Sionismo, de dois Estados.

Ao final do evento um golpe

Abaixo segue a nota do MST que denuncia um golpe dado contra os palestinos por setores da CUT e CTB, governo e outros órgãos que romperam o acordo realizado para a elaboração da declaração final do FSM Palestina Livre e divulgaram um documento que não corresponde ao que havia sido produzido em acordo com os organizadores do evento.

Uma vez mais a política de conciliação de classes confirma-se como nociva e desagregadora. Esta acaba por dar sustentação à defesa incondicional do governo Dilma e à sua política internacional de colaboração com o imperialismo, que está na origem do golpe ao que seria a declaração final do evento.

Repudiamos e condenamos esse golpe, nossa solidariedade aos camaradas palestinos! Por um único estado laico e democrático em todo o território histórico da Palestina

Esclarecimento do MST sobre o FSMPL

Aos camaradas do Comitê Palestino do FSMPL

2 de dezembro de 2012

Nós gostaríamos de nos desculpar pelo que aconteceu no final do FSMPL, quando um membro do MST foi usado para legitimar um golpe contra o heroico povo palestino e suas organizações.

Nós já conversamos com esse companheiro que se deixou iludir  por algumas pessoas/organizações  que a declaração final que ele iria apresentar era o documento acordado anteriormente entre os comitês brasileiro e o palestino.

Algumas entidades providenciaram passagens de avião e pagaram estada em hotel para ele, tentando conquistá-lo para suas posições , quando, em verdade, a posição da Direção Nacional do MST era não apoiar um golpe contra o Comitê Palestino. Nós estamos investigando para saber se ele foi enganado ou se ele estava consciente sobre esses fatos.

Durante o FSMPL, o Comitê Brasileiro não manteve seus compromissos e um grupo de entidades sequestrou a direção política do Fórum, se autoproclamando como o Comitê Brasileiro. Nós deveríamos ter um encontro com o verdadeiro Comitê Brasileiro no dia 28 de novembro para analisar eventuais problemas, tarefas e processo (o andamento do processo de construção do Fórum), mas essa reunião nunca  se realizou.

O MST sempre condenou a falta de respeito aos membros do Comitê Palestino.

Nós estamos envergonhados e indignados com o comportamento desse grupo de entidades que se autoproclamaram como Comitê Brasileiro, excluindo os legítimos representantes do Comitê Palestino das decisões principais.

E como um momento final de desrespeito e humilhação ao Comitê Palestino, eles leram a carta que eles escreveram e não a declaração final consensual.

Nós queremos esclarecer que Joaquim Pinheiro que foi trazido à Mesa para ler a carta, e que se apresentou como encarregado das questões internacionais pelo MST e pela Via Campesina,  nunca recebeu qualquer autorização da Direção Nacional do MST e da Via Campesina, (seja do setor) brasileiro ou internacional, para representar qualquer uma dessas organizações no FSMPL. Ele estava lá representando a ele mesmo, por uma decisão pessoal ou por decisão de outras organizações  que não o MST.

Os líderes do MST que estavam presentes na Assembleia dos Movimentos Sociais com a tarefa de representar a Direção Nacional do MST e da Via Campesina eram Cedenir Oliveira, da Direção nacional do MST, e Marcelo Buzetto, membro do Comitê de Relações Internacionais do MST, e responsável perante o MST das relações com a Palestina  e responsável também por acompanhar  a construção da Via Campesina na Palestina e no Mundo Árabe.

As informações anteriores são públicas e podem ser confirmadas pelas pessoas e organizações que acompanham o MST diariamente bem como suas atividades no FSMPL.

Algumas pessoas de organizações que se autoproclamaram como direção do Fórum fizeram um trabalho desonesto estimulando a ruptura dentro do movimento e não perguntaram aos representantes políticos do MST sobre a leitura do documento.

Esse problema está sendo resolvido internamente no MST.

Ontem, às 13:15 horas, Joaquim Pinheiro nos informou que a carta que deveria ser lida  resultava de um acordo entre o comitê Brasileiro e o Comitê Palestino, portanto um documento consensual.

Os membros do MST autorizados a falar sobre o movimento (Cedenir e Marcelo) disseram a Joaquim que o MST não poderia ser usado  num golpe ou numa traição ao Comitê Palestino e seus legítimos representantes, portanto o MST não aceitaria falar na Assembleia dos Movimentos. Nosso silêncio expressa nosso repúdio ao comportamento desleal e desonesto daqueles que usaram o FSMPL para  se projetarem ou para projetarem organizações, quando deveriam ter construído a unidade palestina contra a ocupação de Israel.

Essa pessoas excluíram da lista de convidados do Fórum nomes como Noam Chomsky, Ilam Pappe, Tariq Ali, Leila Khaled e tantos outros  certamente receando que o Fórum fosse, realmente, um lugar para um debate crítico da questão palestina.

Nós esclarecemos que Joaquim Pinheiro não representou o MST ou a Via Campesina na Assembleia dos Movimentos Sociais e condena a tentativa oportunista e divisionista de jogar esse membro do MST contra a posição oficial do MST no FSMPL. Tais métodos deveriam desaparecer das atividades da esquerda anticapitalista e anti-imperialista.

Este esclarecimento é necessário porque muitas entidades, bravas e honestas, que querem, em verdade, reforçar  a luta do povo palestino como uma luta anti-imperialista estão publicando nos espaços da mídia  fotografias e Joaquim lendo a declaração final do Fórum.

Sempre defendemos a construção do documento como um acordo entre os dois comitês, que  foi lido após Joaquim deixar o palco. Aquele documento foi o que nós concordamos perante o Fórum depois de reuniões com o representante do Comitê Palestino dr. Taha Rifae e representantes do Comitê Brasileiro, Secretaria e Comitê do FSMPL.

Pedimos desculpas pela falta de respostas, a falta de maturidade política e a desonestidade de alguns setores no processo, mas nós garantimos que este não é um comportamento da esquerda brasileira como um todo.

O MST e a Via Campesina permanecem com o povo palestino na construção de um caminho de esperança , resistência e solidariedade que um dia tornará as Palestina Livre.

Nós reafirmamos nosso compromisso de intensificar a luta  contra a ocupação israelita e já estamos construindo, dentro do nosso movimento, uma campanha de doações de bolas de futebol para as crianças palestinas, bem como sementes para os agricultores palestinos. Em outubro de 2013. Em outubro de 2013 estaremos na colheita das azeitonas com um grupo de 50 membros  da Via Campesina Internacional. Quem semear a resistência, colherá a vitória.  Nós estaremos juntos nessa batalha  pela justiça e pela liberdade  do povo e da pátria palestinos.

Nós também intensificaremos no Brasil e na América Latina, em 2013, a campanha para a libertação dos prisioneiros políticos palestinos que acreditamos ser um instrumento fundamental para estreitar a unidade de todas as forças de esquerda, democráticas e progressistas que querem uma Palestina Livre.

MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES SEM TERRA – MST BRASIL