Manaus: revolta e repressão no 7º dia da greve dos rodoviários

Os motoristas e cobradores de ônibus de Manaus entraram em greve no último dia 29 exigindo, entre outras coisas, melhores salários e a regularização do repasse do INSS, que há dois não é realizado pelas empresas.

Ontem (04/06), os jornais mal haviam terminado de noticiar o fim do movimento quando centenas de ônibus pararam nos terminais de integração ou voltaram às garagens. Furiosos, trabalhadores e estudantes incendiaram ônibus, fecharam algumas das principais vias da cidade e enfrentaram a tropa de choque da PM.

Durante a repressão, policiais militares chegaram a disparar bombas de gás lacrimogênio em frente a uma escola municipal, pegando crianças e funcionários de surpresa e fazendo dezenas de pessoas passarem mal.

Ao fim do dia, as empresas informaram que 61 ônibus foram destruídos e sete pessoas foram presas acusadas de vandalismo.

A ira popular não é injustificada. Há anos a população manauara sofre com a péssima qualidade do transporte coletivo na cidade, operado em regime de concessão. Faltam veículos, os que existem estão em más condições e sofrem panes mecânicas a todo momento, a superlotação é cotidiana e as empresas alteram linhas e trajetos de acordo com seus interesses e sem consulta aos usuários.

Como se não bastasse, o preço da passagem tem subido anualmente e já alcançou o valor de R$ 3,80. Isso em uma cidade onde a taxa de desemprego está em 19%, a 3ª maior entre as capitais.

A Prefeitura de Arthur Neto (PSDB) e o Judiciário jogam ao lado da associação patronal e chegou-se ao absurdo de decretar multa de R$ 1.000 por hora aos motoristas caso 75% da frota não estivesse circulando na última segunda-feira.

Na sexta-feira (01/06), uma reunião entre as empresas, o sindicato e o Ministério Público do Trabalho (MPT) firmou um acordo com os seguintes pontos.

  • Aumento de 3,5% para 2017/2018 e 1,69% para 2018/2019, valor abaixo da inflação acumulada de 2,06% em 2017 e 3,7% para 2018 (previsão dos próprios economistas burgueses).
  • Contratação de quase 8 mil horistas, intermitentes e trabalhadores de tempo parcial, o que representa um aprofundamento da precarização das condições de trabalho.
  • Em caso de acidente de trânsito, os trabalhadores “culpados” devem pagar até R$ 1.500, o que demonstra adaptação ao sistema imposto pelos patrões.
  • O intervalo entre jornadas, que deve ser de uma hora, pode ser reduzido a até 10 minutos – mais precarização.

No dia 30, a associação patronal avisou que estaria recebendo currículos para vagas de motorista e cobrador, levando muitos a temer demissões em massa tanto como punição pela greve quanto para contratação em regimes ainda mais precarizados de acordo com a nova legislação trabalhista.

Parte dos trabalhadores não aceitou os pontos do acordo durante a assembleia e a greve foi mantida. Há relatos de que a direção do sindicato estaria fiscalizando a saída dos veículos das garagens, mas os próprios motoristas estariam decidindo parar nos terminais de integração. Diante das lideranças do movimento que se apelegam e deixam de representar de fato os trabalhadores, a base passa por cima da direção e age por conta própria.

Em meio ao tumulto, uma nova reunião foi realizada e o acordo formalmente assinado com os pontos acima citados. Além disso, sindicato e patrões acordaram que as multas que tramitam contra o movimento grevista serão tratadas em suas respectivas ações judiciais e os dias de falta durante a greve não serão abonados, mas compensados em fins de semana e feriados.

A direção do sindicato dos rodoviários, embora realize paralisações e greves ao menos uma vez por ano, não dialoga com a população em busca de apoio e não ataca um problema fundamental: enquanto o sistema de transporte coletivo de Manaus estiver sob a iniciativa privada, os interesses dos usuários ficarão sempre no final da fila.

Uma panela de pressão

Revoltas populares como a que se vive hoje em Manaus tendem a se tornar cada vez mais comuns na situação política e econômica em que se encontra o decadente sistema capitalista. A ilusão de crescimento sólido da década passada se desmanchou no ar e a memória da bonança está cada vez mais distante da mente dos trabalhadores.

O desemprego ascendente, a alta constante dos preços dos alimentos e outros itens básicos e o total descrédito à política burguesa levam as tensões a se acumularem até o ponto em que são liberadas de maneira explosiva.

Em meio a tal crise, é preciso construir um partido de massas da classe trabalhadora e da juventude para transformar quantidade em qualidade, organizando o movimento e orientando a revolta para canais revolucionários. Os militantes da Esquerda Marxista combatem por esse objetivo nas escolas, nas universidades, nos bairros e nos locais de trabalho, assim como explicando isso para a vanguarda que busca no PSOL um ponto de apoio para transformar radicalmente a realidade que vive.

Somente assim a luta contra os patrões pode resultar na elevação da consciência de classe dos trabalhadores, ajudando-os a concluir que somente a derrubada completa do sistema pode resolver de fato seus problemas.

Todo apoio à greve dos trabalhadores!

Pela estatização do transporte coletivo sob controle dos trabalhadores!

Transporte público, gratuito e para todos!

Abaixo a repressão!