Juros, dólar, inflação e desemprego

O que está por trás de todo o falatório dos analistas burgueses e da imprensa comercial sobre o crescimento econômico e as medidas fiscais adotadas por Dilma e agora por Temer?

A burguesia brasileira e seus analistas e economistas encontram-se em dificuldade para explicar a economia. Batiam seguidamente no governo do PT, dizendo que o problema era o “dever de casa” mal feito, que tudo ia melhorar se fosse feito o “ajuste fiscal”. Dilma caiu (e ela, coitada, bem que tentou fazer o “dever de casa”, mas não conseguiu) e Temer segue fazendo, mal feito ainda, o “dever de casa”. Mas a inflação desceu muito pouco e o desemprego só faz aumentar. A única coisa que comemoram é o dólar ter caído. Vamos explicar um pouco tudo isso.

Sua majestade, o dólar

Antes de tudo é preciso voltar a explicar que a moeda é muito mais que uma “relação de confiança”. Ela é a representação dos valores reais em economia. Inflação é o termo que se usa quando o conjunto dos preços aumenta, em linguagem popular. Em termos mais precisos, a moeda perde valor frente às outras mercadorias. A questão é que esta “derrubada” de valor (ou aumento dos preços) não é uniforme. Ela reflete desde uma situação real na produção quanto algum fato de curta duração, que pode influenciar os preços naquele momento exato.

A promessa de anistia para aqueles que têm dinheiro no exterior caso ingressassem com os recursos no Brasil, além de pagar um baixo valor do IR (menos de 20%), fez com que mais de 100 bilhões de dólares ingressassem no Brasil no último período. Isto se encerrou em 31 de outubro. O valor que entrou nos cofres públicos (algo em torno de 20 bilhões de dólares, mais de 60 bilhões de reais) é um dado da situação.

Agora, essa entrada rápida de recursos que tiveram que ser convertidos em reais teve um resultado prático: jogou o valor do dólar para baixo. Mas esse efeito é de curta duração e até o final do ano deve ser revertido (se outros fatores não entrarem no jogo). Isto barateou monotonamente os preços de produtos importados e influiu na queda da inflação.

Em outras palavras, a baixa da inflação que tivemos no último período é transitória, assim como o rebaixamento do dólar.  Se olharmos o gráfico de inflação e do valor do dólar, de 2015 até agora, veremos que a inflação está seguindo aproximadamente o movimento do dólar. Se o dólar aumenta, o valor da inflação aumenta, se cai, cai a inflação.

Porque? Antes de tudo porque os insumos para agricultura (sementes, defensivos agrícolas, etc.) são importados. O mesmo para os insumos consumidos nas fábricas. Assim, quando o dólar aumenta, os valores do produto final aumentam. Quando cai, cai o valor do produto final. A relação não é direta (um aumento de dólar pode demorar alguns meses para refletir nos preços agrícolas). Mas existe uma relação entre os dois valores. E os juros?

Juros e inflação

As altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central brasileiro, procuram conter a inflação através de uma “contenção ao consumo”. Esta teoria prega que o consumo excessivo leva a uma alta de preços (“demanda maior”) e que precisamos derrubar esse consumo para evitar os altos preços.

Qual o problema? No mundo inteiro a aplicação desta teoria é feita com sinal contrário. Baixam os juros para incentivar o consumo e a produção. A questão é que, nos dois casos, nem a alta dos juros nem o seu rebaixamento está dando certo. A inflação continua em alta no Brasil e tanto a inflação quanto o consumo continuam baixos no resto do mundo. Afinal, o que está acontecendo?

Por trás de tudo, a crise do capital

Lembramos: a crise atual do capital é uma crise de superprodução. O mundo produz mais do que pode consumir, em termos capitalistas. Temos carros demais, celulares demais, tudo demais. E o resultado disso? Não se pode vender, cai a taxa de lucros, cai a produção. E os capitalistas, para manterem o seu lucro, para manter a taxa de lucros, aumentam o ataque aos trabalhadores.

O gráfico da queda do PIB brasileiro, mostra como está a situação:

A procura dos capitalistas é jogar a crise nas costas da classe trabalhadora. Hoje, no Brasil, ainda não conseguiram medidas que permitiriam levar isso num nível bem maior – como a reforma da previdência e a reforma nas leis trabalhistas. Mas algumas coisas já estão sendo feitas – desemprego, rebaixamento dos salários com acordos salariais que sequer repõe as perdas salariais, redução dos serviços públicos, etc.

A tabela abaixo mostra a situação do emprego no Brasil. Além da queda do número de trabalhadores empregados, uma questão também é a substituição da mão de obra “formal”, contratada com direitos trabalhistas, pela “informal”, sem direitos trabalhistas.

Esta situação ainda é uma situação transitória. A manutenção da alta taxa de juros, por sua vez, leva a que sejam mantidos os investimentos de bancos e financistas nos títulos brasileiros, que estão hoje sem muita credibilidade. Afinal, a dívida interna brasileira chegou a três trilhões de dólares e o governo Temer além de uma medida constitucional de eficácia duvidosa (A PEC 141, atual PEC 55 do Senado) não conseguiu ainda mandar a sua proposta de reforma da previdência para o Congresso. Tal qual Dilma, ele “sabe” o que tem que ser feito, mas teme a reação social.

Assim, resta ao Banco Central uma única política – manter os juros altos, financiar regiamente aqueles que “investem” no Brasil. Afinal, um pais que paga 400 bilhões de reais de juros por ano (mais de 130 bilhões de dólares) merece alguma consideração.

Quanto tempo os trabalhadores e jovens aguentarão a exploração para fazer estes pagamentos, é a equação que todos temem. O apito na panela de pressão toca alto nas escolas secundaristas e a explosão dos operários em luta chegará, mais cedo ou mais tarde.